Sirenes e emoção marcam madrugada de homenagem às vítimas da tragédia de Santa Maria

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A comoção tomou conta da Rua dos Andradas quando, por volta das 3h desta segunda-feira, uma sirene alta soou na Avenida Rio Branco, a poucos metros da boate Kiss, em Santa Maria. Os familiares e amigos das vítimas que se concentravam em frente à casa noturna, na mesma hora em que o incêndio começou, há um ano, saíram em caminhada e se agruparam na esquina para assistir ao discurso dos integrantes do Movimento do Luto à Luta. 
 
Muito emocionadas, as pessoas se abraçaram, pediram por justiça e, juntas, gritaram “Acorda Santa Maria”. Em seguida, as cerca de 200 pessoas que enfrentavam uma garoa e uma dor que parecia não cessar, aplaudiram e entoaram um canto de justiça em lembrança às 242 vítimas da tragédia.
 
 
Colaboradores do movimento foram chamados ao palanque improvisado em um dos canteiros da avenida e reforçaram os pedidos de justiça feitos pelos pais e demais familiares das vítimas que falaram ao microfone.
 
—  Acredito que o nosso recado foi dado. Foi importante falar e divulgar a arte das 242 silhuetas (pintadas no chão, em frente à boate) para as pessoas terem dimensão do que são 242 corpos. Nossos filhos não são números. O que a gente quer é defender os nossos filhos. Eu nunca mais vou estar inteira. Enterraram um pedaço meu. E eu nunca vou superar. Porque superar é esquecer. E eu não posso esquecer — disse Carina Mignon, do Movimento do Luto à Luta, que perdeu a filha na tragédia. 
 
Por volta das 3h30min, a chuva apertou e a maioria das pessoas se dispersou. Alguns familiares e amigos de vítimas voltaram para a frente da casa noturna e permaneceram em vigília. No local, além dos corpos, foi pintado um coração branco, que foi contornado por velas. 
 
 
Equipes da Cruz Vermelha ajudam nos cuidados aos que permancem no local. Outro grupo foi para a tenda da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), onde permancererá concentrado. 
 
Às 8h, começou uma caminhada pelas principais ruas da cidade, para lembrar as vítimas.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. … Depois do tempo passado…. um ano….ainda falta muito

    … Depois do tempo passado….  um ano….ainda falta muito

    O sofrimento ainda é visível

    A luta ainda é um traço característico

    Uma parte (grande-imensa) do amor que havia nos corações dos pais amigos parentes conhecidos…  ainda pulsa e pulsará pela eternidade….

    E a força desta emoção/razão  pode  e deve mover forças construtivas

    E assim remover obstáculos que somente não são intransponíveis, porque nada pode sê-lo frente a  determinação de pessoas com vontade firme e objetivos puros…

    Olho as novas leis…  leio atentamente…

    E não vejo … a inserção do poder público….

    A responsabilidade…parece que não lhes cabe nas novas leis, como não lhes está sendo exigida na interpretação das antigas…

    Cabível a chamada destes órgãos a agir…e a responsabilidade por eventuais omissões….

    O Ministério Público  fez um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)…  pelo barulho… em relação aos habitantes externos e esqueceu dos milhares de frequentadores  internos da boate…e disso resultou centenas de vítimas.. mas nada constou no atual inquérito…nem no processo…

    E nada consta nas novas leis…

    O Ministério Público do Trabalho e os fiscais do trabalho….  sabiam da precariedade do labor prestado nestes locais..  garçons, porteiros, seguranças, atendentes…

    E nenhuma portaria…   nenhuma determinação neste sentido foi exarada….

    A empresa que fabrica a espuma utilizada para vedação acústica e que se mostrou letal…vende este material extremamente tóxico e.. até hoje, a ANVISA nada fez para que em letras garrafais  seja feita a advertência de que este material quando incinerado emite fumaça tóxica potencialmente  letal….

    Não foi feita ..ainda, uma campanha de esclarecimento para os servidores públicos – principalmente para os destes órgãos –  de que de suas atitudes omissivas ou comissivas  podem resultar tragédias…e alertar para suas responsabilidades profissionais éticas e morais por tais fatos….

    Nada disso está nas leis…

    E esta é a minha angústia…  a nossa ansiedade… a nossa luta e esperança…

    Falta muito…

    O que aconteceu não foi uma tragédia…  porque estas costumam ser fortuitas e esta foi resultado de nossa falhas humanas…

    O que aconteceu não foi uma tragédia…porque estas marcam somente pela dor e a fatalidade…e esta será um marco de pessoas construindo de suas vidas (todas que possam estar juntas num só indivíduo) um mundo mais humano…  

    O que aconteceu não foi uma tragédia… porque estas costumam ir para os livros de história e esta ficará lavrada em nosso corações e mentes…

    O que aconteceu não foi uma tragédia…porque tragédias não mudam o mundo …mas o riso,  a juventude, e a vontade de viver de todos que lá pereceram…e que permanece conosco…fará manter, em todos os dias, para  sempre.. um brilho em nosso olhos…uma luz diferente ..de uma luta titânica… de vozes que não se calam e não esmorecem nunca.. porque são feitas de material indestrutível…do legado que nos deixaram…desse imenso amor que lhes movia e que carregaremos junto ao nosso peito pela eternidade…

    Prossigamos…com amor.

     

    Em 27 de janeiro de 2013….

    Há tempo de emoção e tempo de razão….     mas talvez isso sirva a todos…. em todos os lugares…

    É tempo de chorar

    É tempo de abraçar os amigos

    De rezar com força, engolindo as lágrimas…

    ….. A indignação nesta hora, ainda cede ao lamento, a solidariedade, ao abraço..

    Amanhã (que também é hoje)

    …curadas as feridas (como se fosse possível)…

    De cada um de nós vem a pergunta… a cobrança…

    Não somente da falta de segurança …da ambição desenfreada… da imprudência…

     

    É tempo de tragédia…

    É tempo de responsabilidades…

    Eu quero saber do Poder Público…e de suas responsabilidades..

    Da responsabilidade do Ministério Público do Trabalho, do Ministério Público, dos Procuradores do Trabalho, do Comandante dos Bombeiros, do Prefeito e seus fiscais…    e .. de todos os que trabalham nestes órgãos..

    Em cada edifício …exigem escadas interligadas …para evitar acidentes …extintores …luzes de emergência.. e para isso são cobradas taxas e responsabilidades.. de cada um dos cidadãos…  de todos nós.. e isso cria em nós a ilusão de que os lugares em que há grande afluência de público, também serão rigorosamente fiscalizados… os funcionários serão treinados para emergências …haverá portas de saída de emergência …devidamente sinalizadas …luzes de emergência.. com funcionamento certificado… e autoridades públicas ciosas de suas responsabilidades…

    E, é destas pessoas que dependem vidas… e é destas pessoas que se exige algo mais, um pouco de humanidade (não apenas responsabilidade)…  mas, isso, não somente dos que fazem mal seu trabalho e de cujo resultado resultam vítimas… mas de todos que, tendo condições de ver.. de influir.. calam… e nessa hora…

    Choro mais uma vez também pela minha responsabilidade…

    Eu passei por ali e disse…   que absurdo… onde estarão as portas de emergência.. como será a segurança… e mais não pensei… nem disse….

    Agora me disseram…

    Se alguma responsabilidade me cabe nesta hora.(e também cabe)..  além de chorar, de rezar, de abraçar…

    É trazer à luz… todos os verdadeiros responsáveis… e dessa vez não vou me omitir.. nem mesmo em verificar uma simples intuição… que para muitos deveria ser uma certeza..

    Em mim… tem uma parte que chora …e vai chorar por muito tempo…  mas, a outra parte vai buscar algo mais…

    Nós devemos isso a todas as vítimas…

     

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