As transformações de São Paulo e dos paulistanos

Jornal GGN – A cidade de São Paulo, como tantas outras metrópoles do país, tem problemas sérios de abandono, pelo poder público e a iniciativa privada, do centro antigo.

Nos últimos anos, no entanto, alguns empresários enxergaram, nos aluguéis baixos e na atmosfera sombria da região central, oportunidades para atrair novos públicos.

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Foi o caso de Facundo Guerra, que apostou na casa noturna Vegas Club, entre prostíbulos e terrenos baldios, no Baixo Augusta.

O que se deu foi uma reação em cadeia, de pequenos empresários que viram a viabilidade do local para o entretenimento.

A isso, se seguiu a valorização da região e um interesse renovado do grande capital, de grupos imobiliários, que acabou por elevar os aluguéis e expulsar a primeira linha de investidores.

O assunto foi tema de discussão no 66º Fórum de Debates Brasilianas.org

Lá, Facundo Guerra falou sobre o caso do Baixo Augusta, mas também sobre o Mirante 9 de Julho e as mudanças recentes da relação do paulistano com a cidade.

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A reapropriação e a gentrificação do Baixo Augusta

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“Quando eu pensei em entrar na Rua Augusta em 2005, o que eu estava pensando era em aluguel barato. Isso propiciou que a gente instalasse um negócio ali que acabou criando uma reação em cadeia. Eu mesmo fui vítima do preço do metro quadrado da Rua Augusta, eu saí e estou muito bem, obrigado. Não falta área ainda com aluguel possível em São Paulo e que são interessantes do ponto de vista cultural”.

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Cartão postal invisível: O Mirante 9 de Julho

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“O túnel da Nove de Julho era encimado por um mirante, que foi derrubado na década de 70, naquele desenvolvimento malufista que a gente teve na cidade, que foi quase uma metástase. Ele foi derrubado para a construção da Bernardino Tranquese para desafogar um pouco a Avenida Paulista. Eu fui checar as reportagens de época e não teve nenhum tipo de impacto no fluxo da Paulista. Obras superdimensionadas e superfaturadas, enfim. Depois que o Maluf passou a Bernardino Tranquese, ele decapitou o mirante. E para vocês terem ideia, o mirante não tinha nem logradouro público mais. Se você não tinha logradouro público, você  não tinha luz, água, esgoto. Então, o lugar praticamente não existia”.

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A relação clássica do paulistano com a cidade

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“Todo paulistano tem em si um ‘amo e odeio São Paulo’. Quando você começa a pensar em todos os fatores que nos dimensionam e que nos identificam como paulistanos, são sempre relações de repulsa com a cidade. A minha geração foi criada com medo. Pelo viés do medo da rua. A gente não tem muito o costume de praticar empatia aqui nessa cidade. Exatamente por esse modelo inicial de identidade que a gente tem que é o Non Dvcor Dvco: eu não sou conduzido, eu conduzo. Então, a gente foi clamado a criar uma espécie de batalha constante, tanto com a cidade quanto com os habitantes dela”.

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A nova geração de paulistanos

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“Meu público tem 18 anos. Então, eu estou em contato constante com essa geração e eu estou percebendo que essa geração não aceita mais o ethos do trabalho como dimensão principal de relação com a cidade. Ela não aceita o carro como o ethos principal de relação com a cidade. Ela não aceita a separação, ela não quer mais o shopping center. Ela quer rua. O centro hoje está virando um eixo psíquico de identidade. E se antes a gente tinha uma identidade que passava pelo bairro, hoje em dia a gente está começando a desenvolver uma ideia de São Paulo, que passa pelo centro”.

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Redação

3 Comentários

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  1. Comments dois em um…

    A revolução das metrópoles: como prepará-las para serem cidades agradáveis

    coisa mais feudal das antigas… e está errado dar oportunidade as cidades médias tudo no mesmo “saco de ratos e barões”; o certo é dar oportunidade “as cidades boas na média”, como fez o rei-santo São Luís, rei de França (1226-1270):

    O rei e as cidades

    “O reinado de Luís IX representa um momento essencial na história das cidades francesas e a importância do rei parece ter sido grande. O meado do século XIII foi, particularmente na França, o ponto culminante do importante movimento de urbanização do Ocidente.

    […]

    Uma nova etapa, decisiva, se produz com Luís IX. As cidades mais importantes do reino se constituem, em parte espontaneamente, em parte sob pressão do poder real, numa espécie de comunidades objetivas. É a rede das “boas cidades”, expressão surgida na virada do século XII para o XIII e cujo uso se torna corrente nos atos da chancelaria real e nos textos do próprio rei sob Luís IX. “É boa cidade”, como com toda a clareza se formulou, “aquela que apresenta um interesse para o rei”. Luís foi o primeiro rei das “boas cidades”. Como ainda disse o mesmo historiador com razão, ele “vê simultaneamente, em suas boas cidades, um verdadeiro agente administrativo, uma comunidade que convém desde sempre controlar e também uma força política incomparável, que deve, em todas as circunstâncias, ser tratada com atenção […]. São Luís as considera como um dos elementos essenciais do pacto que tenciona ajustar com o país. As cidades são, a seus olhos, comunidades privilegiadas às quais convém dar a palavra mas que é preciso também […] submeter a seu controle”. São Luís, rei das cidades, elemento da modernidade. Essas cidades, conservou-as para si firme, mas também amigavelmente. […] “Lembro-me bem de Paris e das boas cidades de meu reino que me ajudaram contra os barões quando fui novamente coroado.” 

    […]

    Pode-se também pensar que uma consideração de ordem social e moral interveio no espírito de Luís IX. O rei é sempre cuidadoso em proteger os fracos, como recomenda ao filho em seus Ensinamentos: “Se ocorrer uma disputa entre um pobre e um rico, apóia de preferência o pobre contra o rico até que saibas a verdade, e, quando tu a conheceres, faze justiça.”  Também deve ter se chocado com a frequente atitude dos ricos que governam em relação aos pobres. Pouco depois da morte de Luís IX, o bailio real Philippe de Beaumanoir escreve, no capítulo L de seus célebres Costumes de Beauvaisis (cuja redação termina em 1283), observações que parecem diretamente inspiradas no rei defunto: “É preciso vigiar para que não se cometa injustiça com as cidades e com seu povinho (li communs peuples) e respeitar e fazer respeitar suas cartas e privilégios. O senhor das cidades deve a cada ano verificar ‘as condições da cidade’  e controlar a ação dos prefeitos e daqueles que governam as cidades para que os ricos sejam advertidos de que serão severamente punidos se cometerem malefícios e não deixarem o pobre ganhar seu pão em paz. Se há conflitos nas cidades, pobres contra os ricos e ricos entre si e eles não venham a eleger o prefeito, os procuradores e os advogados, o senhor da cidade deve nomear por um ano uma pessoa capaz de governar a cidade. Se os conflitos influírem sobre as contas, o senhor deve convocar todo aquele que teve receitas e despesas e eles devem prestar-lhe contas. Há cidades em que a administração é confiscada pelos ricos e suas famílias, excluindo-se os pobres e os remediados. O senhor deve exigir deles contas em público, na presença de delegados comunitários.”

    O que grava as finanças urbanas, segundo os levantamentos, são as viagens abusivas dos oficiais municipais, a falta de formação de empregados entretanto bem pagos, a prodigalidade para com os visitantes de prestígio e o peso do endividamento que está na origem das práticas usurárias, um dos pesadelos do rei. A principal medida decidida pelas ordenações de 1262 é a obrigação do prefeito de toda boa cidade, acompanhado de três ou quatro pessoas, ir a Paris na festa de São Martinho (18 de novembro) prestar conta à administração real da gestão financeira da cidade no ano que se está vencendo. As doações, despesas e salários são estritamente limitados, as operações usurárias proibidas e o dinheiro da cidade deve ser mantido no tesouro comunal.”

    São Luís – Biografia, de Jacques Le Goff. Trad. Marcos de Castro. Ed. Record, 1999.

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