Bixiga vai, por Vera Lucia Dias

Bixiga vai

por Vera Lucia Dias

Se você não encontrou no mapa é porque não existe mesmo. Consta apenas Bela Vista. Assim é a invisibilidade do bairro do Bixiga. Falou sobre a presença negra também não encontrou, é italiano? Um bairro com ruas chamadas 13 de Maio e Rui Barbosa! E o Conselheiro Ramalho um paulistano abolicionista. Um quilombo urbano esteve por lá.

A forte e importante presença dos calabreses acrescentou esta cara italiana, assim como portugueses, belas, ingleses e espanhóis somaram deixando o charme das raças todas prevalecendo para gerir amizades e tradições. Veja que as ruas se chamam dos Ingleses, dos Belgas, dos Franceses…

Uma fazenda havia desde 1559, era o Sítio do Capão. No início do século XVIII, o lugar pertenceu a Antônio Bexiga. Lá havia também uma estalagem e gente chegando sempre.

E frequentadores interessantes cantaram o lugar como fez Adoniram Barbosa. Muitos teatros, casas noturnas com música e gastronomia variada se instalaram.

Um viaduto sangrou seu chão. Mas o Vai Vai está firme no pedaço, é tradição. Foram-se os tempos dos Cordões com seus balizas de sapato branco, de meia branca até o joelho, calça colorida, capa bordada e um bastão no antebraço. A presença firme de apitadores habilidosos. O maior foi “Pato N’Agua”, Walter Gomes de Oliveira, que nadava no riacho Saracura. Sua paradinha, incrível som. E, muitas gafieiras haviam por lá até o sol raiar.

Bixiga de rituais e batuques. Da tradicional Rua Santo Antônio. Da Festa de Achiropita, da solidão da Yayá.

O Vai Vai é o samba do lugar. Não tem quadra fechada pois o samba é na rua. Agora tem por lá o Bloco Fluvial do Peixe Seco e assim paulistamente eu vou cantar. Sempre.

 

Vera Lucia Dias

[email protected]

 

Referências:

Domingues. André e Osvaldinho da Cuíca. Batuqueiros da Paulicéia. Barcarolla, 2009

Ponciano. Levino. Bairros Paulistanos de A a Z. Senac, 2002.

Músicas

Tradição. Geraldo Filme.

Praça 14 Bis. Eduardo Gudin

 
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