Doria contrata OS de gestor de Alckmin para internar usuários

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Foto: Eduardo Ogata/Secom

Da Rede Brasil Atual

Doria contrata OS de gestor de Alckmin para internação de usuário de crack
 
Gerido pela Organização Social SPDM, Hospital Cantareira fornecerá 91 leitos para desintoxicação. OS é presidida por Ronaldo Laranjeira, que coordena o Cantareira e o programa estadual Recomeço
 
por Cida de Oliveira

A ação casada do prefeito João Doria (PSDB) e Geraldo Alckmin (PSDB) na região da Cracolândia, iniciada no último dia 21, que tem entre seus principais eixos a internação compulsória de usuários de crack, aponta para a possibilidade de conflitos de interesses entre a política e a iniciativa privada, conforme acreditam especialistas e entidades.

No último dia 27, sábado, o secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara, publicou despacho em que autoriza a contratação de leitos de desintoxicação e de intervenção na crise para pacientes com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas junto ao Hospital Cantareira e Casa de Saúde São João de Deus.

Quatro dias depois, em reunião do Comitê de Coordenação Conjunta do Redenção, programa da prefeitura, e do Recomeço, do governo estadual, Pollara e o secretário estadual da Saúde, David Uip, anunciaram a criação de 290 leitos para desintoxicação, que se somarão às 3 mil vagas oferecidas pelo Estado. 

O contrato firmado com o Cantareira, com duração de um ano, prevê 91 leitos, ao custo diário de R$ 230. O valor global do contrato é de R$ 7.452.012,00. O objetivo, segundo despacho publicado na página 73 do Diário Oficial do Município, é o gerenciamento e execução de ações e serviços de saúde em unidades da Rede Assistencial da Supervisão Técnica da Vila Maria/Vila Guilherme.

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O valor do leito/dia, é 35% maior que o previsto no contrato com a Casa de Saúde São João de Deus. Conforme despacho, o custo é de R$ 170 para cada um dos 90 contratados pelo período entre 1º de junho de 2017 a 20 de abril de 2018. O valor total do convênio é de R$ 4.957.200,00 e o serviço previsto é de tratamento a portadores de dependência de substâncias psicoativas.

Cantareira

O Hospital Cantareira é gerido pela Organização Social SPDM, que tem como presidente do conselho administrativo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira. O médico é ainda consultor técnico do Cantareira e coordenador do programa Recomeço, vinculado ao governo de Geraldo Alckmin. Além disso, Laranjeira é proprietário da Clínica Alamedas, em São Paulo.

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Desconstrução

Presidenta do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (Sinpsi) e dirigente da Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi), Fernanda Magano afirma que há diversos conflitos de interesses por trás da ação na cracolândia. O primeiro deles, segundo ela, é são os interesses comerciais e imobiliários de empresários com interesses na área, com quem Doria assumiu compromisso.

Outro viés da privatização, para ela, é do atendimento, que deveria ser público. “Nós defendemos que a prefeitura investisse no fortalecimento da rede CAPS e valorizasse o Programa de Braços Abertos, que tinha uma relação inter-secretarias. E, de novo, Doria privatiza o público ao contratar essas clínicas, indo na contramão das políticas de saúde, do SUS e da construção da Rede de Atenção Psicossocial”, disse.

O agravamento dessas relações entre o público e o privado, segundo a dirigente, que tem em Ronaldo laranjeira um nome responsável pelo programa Recomeço e agora por trás do Redenção, esbarra no objetivo da abordagem terapêutica.

“Para nós, essa correlação é muito nefasta porque retira o atendimento do meio aberto, em liberdade, retira as famílias da participação do tratamento e desconstrói a rede de atenção psicossocial. E vem ainda a surpresa desse valor 35% maior no caso do Hospital Cantareira”, disse Fernanda. “A prefeitura deveria explicar melhor essa contração, e não se limitar a dizer que a diferença de preço é a diferença no atendimento. Isso tudo tem de ser comprovado”.

Fernanda ressalta outro aspecto: O fato de Laranjeira e sua equipe defenderem um processo de tratamento baseado na internação e sem a construção da redução de danos, em que o indivíduo se conscientiza do processo de tratamento. “Laranjeira defende a internação e abstinência, que a gente sabe que não funciona”.

Outra demonstração do interesse privado na política para o setor, segundo ela, é a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social ser comandada por Filipe Sabará, que há cinco anos criou a “fazenda terapêutica” Arcah, no interior de São Paulo. E o programa Redenção ser coordenado pelo psiquiatra Arthur Guerra, que também tem clínica psiquiátrica com tratamento baseado na internação.

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4 Comentários

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  1. Organizações Abutres

    Situações de crise se tornam oportunidades.

    É desse jeito, certo?

    Quando o Datapalha publica uma pesquisa (sic) em que a maioria da população considera – dentro dos seus parâmetros nem sempre bem informados, mas precoceituosos e temerários, diga-se – que a internação deve ser obrigatória, abre justificativa plausível para ser enganada, roubada e usada.

    As circunstâncias e os objetos (sic) são diferentes, mas, na forma de pensar e sua dinâmica, assemelha-se ao modo como se estruturou o apoio ao golpe de Estado que ora impera no país. Desde que vá na corrente da opinião pública (ou será publicada?), tem valor de verdade.

    Quero dizer… não acho que o cidadão paulistano médio esteja em sã consciência.

  2. Custo benefício.

    Um custa R$ 230,00 o outro R$ 170,00, a soma é R$ 400,00, que dividido por 2 é =a R$ 200,00 por leito.

    Serão 181 leitos a esse custo.

    Em tese, se for oferecido esse valor para 181 dependentes quimicos, sendo que a condição para receber a grana fosse que passasse por exame médico a cada mês, para averiguação de redução dos danos, ao final de um anos os resultados seriam muito mais promissores.

    Tem neguinho levando muita grana às custas da cracolandia, que se tornou, ao que parece uma espécie de Serra Pelada para médicos/empresários aventureiros e inescrupulosos.

    Os dependentes mais uma vez são vítimas, quando não do traficante, de quem si diz “médico”.

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