Em vez de se vestir de gari, que tal… por Mara Gama

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Rivaldo Gomes/Folhapress

Jornal GGN – Não é com marketing que se resolve a demanda de soluções complexas para uma cidade como São Paulo, alerta a colunista da Folha, Mara Gama. A cidade produz cerca de 20 mil toneladas de resíduos, diariamente, e as ações propostas pelo prefeito eleito não se mostram promissoras. A jornalista lembra, e bem lembrado, que limpeza pública não é questão de zeladoria, necessita de mais, muito mais, como planejamento, educação, coleta, transporte, tratamento, administração de mão de obra e destinação final dos resíduos sólidos. Não basta se fantasiar de gari, é preciso mais. A  Secretaria de Serviços, que cuidava da administração da limpeza urbana, foi extinta, e foi tida como peça fundamental para os avanços da administração de Haddad neste tema. É preciso dar continuidade ao que estava surtindo efeito positivo na gestão passada, e manter o processo em constante aprimoramento.

Leia a coluna a seguir.

da Folha

Em vez de se vestir de gari, que tal…

por Mara Gama

Em vez de se vestir de gari de vez em quando, como fez no dia 2 de janeiro, para posar para fotos fazendo de conta que pega no pesado, o prefeito João Dória (PSDB) poderia se comprometer a manter as conquistas que São Paulo teve nos últimos anos na gestão dos resíduos e avançar onde é preciso.

Não é com marketing que se resolve a demanda de soluções complexas para uma cidade que gera aproximadamente 20 mil toneladas diárias de resíduos do comércio, indústria e domicílios –e que tem de destinar diariamente 12 mil toneladas vindas da coleta porta a porta. Podem fazer mutirões todo dia. Não é disso que se trata. E os primeiros sinais da nova gestão nessa área, no discurso e nas ações, não são promissores.

No discurso, além da cena dos falsos garis fazendo que conta que limpam o que já foi limpo pelos garis de verdade, o sistema de limpeza foi chamado de zeladoria pela operação Cidade Linda. Limpeza pública não é questão de zeladoria.

Planejamento, educação, coleta, transporte, tratamento, administração de mão de obra e destinação final dos resíduos sólidos exigem investimentos, pesquisa, logística, soluções adequadas para cada local, engajamento contínuo e negociação política.

No plano das ações, foi extinta, entre outras, a Secretaria de Serviços, que cuidava da administração da limpeza urbana, fazia a interface do governo com as empresas concessionárias, implantou as centrais de reciclagem, o programa de compostagem, defendeu a inclusão das cooperativas de catadores e foi peça fundamental para os avanços da administração de Fernando Haddad (PT) nesse tema.

Um dos principais marcos do governo passado foi o processo de criação do Plano Municipal de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos (PGIRS) em 2014, resultado da 1ª Conferência Municipal do Meio Ambiente de 2013, que contou com participação de um grupo de 800 pessoas, entre técnicos e representantes da sociedade.

Seguindo as diretrizes do PGIRS, nos anos Haddad, a coleta seletiva foi ampliada para os 96 distritos da cidade, com a participação de 22 cooperativas de catadores e foram colocadas em operação duas centrais mecanizadas de triagem de materiais, com capacidade de processar 250 toneladas diárias. Foram aumentados de 53 em 2013 para 107 em 2016 os pontos de entrega voluntária de recicláveis. Foram criados dois pátios de compostagem de restos de feiras. Foi feita uma experiência pioneira com compostagem domiciliar.

Dar continuidade às ações para a implementação do PGIRS é uma das sugestões de Gina Rizpah Besen para o novo prefeito. Doutora em Saúde Pública pela USP, com larga experiência em planejamento urbano, indicadores de sustentabilidade e gestão de resíduos, Rizpah defende também “estimular o consumo consciente, por meio de programas permanentes de educação e estabelecer metas de redução de disposição de resíduos recicláveis em aterros sanitários”.

Na cadeia da reciclagem, ela sugere fiscalizar os sucateiros irregulares e estabelecer um diferencial para aqueles que oferecem boas condições de higiene e de trabalho para os catadores e pagam um preço justo pela compra dos recicláveis.

A especialista também defende a valorização e o fortalecimento do trabalho dos catadores de materiais recicláveis, com a manutenção de remuneração desse catadores pelos serviços prestados na coleta seletiva.

“Seria fundamental que o prefeito radicalizasse a participação da população principalmente na adesão à coleta seletiva domiciliar”, afirmou em artigo o ex-secretário Simão Pedro. Ele defende também a “participação mais efetiva do setor privado no processo de logística reversa que contribuiria imensamente na reutilização e reciclagem de resíduos secos principalmente de embalagens. A conta da geração de resíduos não pode ficar apenas no colo do consumidor e do poder público”, escreveu.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Mais uma hipocrisia tamanho família da FSP:

    trabalhou dia e noite por 4 anos para destruir a imagem do Haddad, e agora vem com um bla-bla-bla saudosista para se fazer passar por equidistante dos partidos…

    A FSP é uma versão em português da PRAVDA soviética.

     

  2. O andar de cima respira aliviado

    Agora que os pobres não representam mais ameaça ao orçamento , e vão retornar ao seu devido lugar histórico – a senzala – pode-se voltar a brincar com eles , como se fosse um paizão acolhendo os filhos . 

    Mas no auge das conquistas sociais , o ódio do andar de cima aos desfavorecidos era incontido e aflorava em manifestações como esta : 

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=_Ji6iMhhNPI align:center]

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