Estudo mapeia perfis e carências de jovens paulistanos

Da Unicamp

Mapeamento traça perfil da juventude paulistana
 
Trabalho elaborado pelo IE e Nepo identifica áreas mais vulneráveis
 
A pedido da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (SDHC) da Prefeitura de São Paulo, a Unicamp produziu um “mapa da juventude” da capital paulista, apontando os perfis e as principais carências da população de 15 a 29 anos pelos distritos e subprefeituras da cidade. O trabalho foi conduzido pelo Instituto de Economia (IE) e pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo), sob coordenação dos pesquisadores Marcelo Weishaupt Proni, então diretor associado do IE, e Estela María García de Pinto da Cunha, na época coordenadora do Nepo.
 
“Uma excelente contribuição deste projeto foi ter disponibilizado as informações de forma georreferenciada”, disse Cunha. “Porque o mapa permite ao gestor observar cada um dos indicadores e identificar áreas de maior ou menor vulnerabilidade num aspecto específico. É uma visualização rápida muito valiosa para subsidiar o seu trabalho. Acredito que isso seja uma excelente contribuição do projeto para a secretaria”, disse. “O que motivou a pesquisa foi a necessidade de reunir informações, montar bancos de dados, para subsidiar as políticas públicas em várias áreas, mas com foco nas questões que afetam diretamente os jovens”, acrescentou Proni.

 
“São 96 distritos no município de São Paulo”, lembrou o pesquisador. “A prefeitura quis contar com uma base de dados ampla, que permitisse ver tendências, porque a ideia era perceber os movimentos mais gerais: quais são os distritos em que cresce mais a população jovem, onde houve melhorias mais expressivas do ponto de vista do emprego, da saúde… Com essa finalidade foram definidos oito eixos temáticos”.

O mapa congrega dados de perfil sociodemográfico, habitação, educação, trabalho, saúde, violência, proteção social, cultura e cidadania digital dos jovens, extraídos de fontes secundárias, como o censo demográfico do IBGE. 

“A ideia da Coordenação da Juventude era primeiro montar esse mapa com base nos dados disponíveis”, disse ele. Esses dados permitiram a construção de uma série histórica para os indicadores, indo de 2000 até, em alguns casos, 2013. E essa série poderá ser atualizada de forma permanente.

“Entregamos à secretaria uma proposta de metodologia e um banco de dados”, disse Cunha. “Tendo essa metodologia e o banco, organizado em planilhas, é possível incorporar dados novos e atualizar os indicadores. Ou seja, a secretaria já tem independência técnica para fazer a atualização permanente do mapa”. 

“Jovens”, na definição usada para a elaboração do mapa, são as pessoas de 15 a 29 anos, subdivididas em três faixas etárias: de 15 a 19, 20 a 24 e 25 a 29. 

“Na bibliografia internacional e nas estatísticas divulgadas pelas Nações Unidas, a faixa etária da juventude geralmente compreende pessoas entre 15 e 24 anos”, disse Proni. “No Brasil, as políticas públicas do governo federal ampliaram essa faixa, então a gente tem as políticas para jovens alcançando de 15 a 29 anos”.

Nesse intervalo mais amplo, explicou ele, é importante a distinção entre grupos etários. “É diferente a situação de um jovem de 25 anos que já é pai de família, e outro de 15 que mora com os pais”.

RESULTADOS

O mapa da juventude mostra um crescimento da população jovem em alguns distritos e diminuição em outros; e uma melhoria nas condições de vida dos jovens paulistanos desde 2000. “Na zona sul e na zona leste há uma maior porcentagem de jovens com diferentes carências”, disse Proni. “E há uma sobreposição de carências: os mais vulneráveis são aqueles que residem em moradias precárias, têm renda familiar per capita baixa, chance menor de completar o ensino médio, inserção informal no mercado de trabalho…”. Em geral, os distritos da área central do município apresentam os melhores indicadores, mas as melhorias são mais perceptíveis na periferia da cidade.

“Na zona leste reside uma população enorme, mas durante muito tempo o crescimento da cidade foi desordenado, as políticas públicas não alcançavam aquelas pessoas. Em 2015, fomos fazer o lançamento do mapa, junto com outros produtos da Secretaria, na Cidade Tiradentes, que é lá no extremo da zona leste. Dá para perceber uma mudança visível: para quem conheceu o que era Cidade Tiradentes dez anos atrás e o que é hoje, é nítido que melhorou bastante, houve uma urbanização, agora existem escolas equipadas, postos de saúde, programas sociais. Mas, em comparação com outros distritos da cidade, continua com uma série de carências comparativas”, relatou o ex-diretor associado do IE. 

Ao mesmo tempo em que o mapa permite ver a mudança que houve desde 2000, disse Proni, mostrando que os indicadores melhoraram em vários aspectos, também revela que os contrastes permanecem muito grandes. “As desigualdades dentro da cidade continuam, embora possam ter diminuído em vários aspectos. A redução das desigualdades depende da combinação de crescimento econômico com políticas sociais universais e programas de redistribuição de renda. É importante que a geração de empregos seja acompanhada de uma oferta ampla de bens e serviços públicos, contribuindo assim para reduzir a pobreza e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Mas, isso não basta. É preciso manter políticas focalizadas nos grupos mais vulneráveis, nas carências mais graves”.

Nos indicadores mais básicos, a melhora foi maior entre aqueles que tinham condições piores. “Os jovens, até o começo da década passada, até 2003, mais ou menos, sofriam muito com o desemprego. Isso mudou com a possibilidade do jovem continuar estudando e ter um emprego formal, mesmo que fosse para ganhar um salário mínimo. Isso melhorou muito a condição de vida de jovens de baixa renda”. 

“Agora, sobre essa crise econômica atual, o mapa também pode ser útil. A crise afeta mais as populações vulneráveis socialmente, então é importante ter um mapa para saber onde essas populações estão. É nesses momentos que os jovens mais precisam de políticas focalizadas, de uma rede de proteção social”, ponderou.

MÉDIAS E DADOS

Tanto Proni quanto Cunha destacam que o objetivo do mapa não foi produzir um retrato, ou perfil, do jovem paulistano, mas sim revelar as especificidades da juventude em cada distrito da capital.

“Não estávamos atrás desse perfil. Não é o que a secretaria solicitou”, disse a ex-coordenadora do Nepo. “Queríamos saber onde estavam localizados, espacialmente, os adolescentes mais vulneráveis, isso sim nos importava. Queríamos saber como a Secretaria de Saúde, segundo nossos indicadores de saúde, teria de atuar em programa de assistência à gravidez adolescente, ou onde há mais registro de mortes violentas, ou onde se localizam os mais vulneráveis dos domicílios com chefia feminina e renda comparativamente menor”, exemplificou.

“Geralmente, as médias enganam muito”, afirmou o ex-diretor associado do IE.  “A ideia do mapa é mostrar as diferenças. Porque os dados agregados, para o município, a prefeitura já tinha. A riqueza do mapa está exatamente no contraste, por exemplo, entre um distrito de mais alta renda, onde o perfil é mais do jovem branco que mora com os pais, e algumas áreas da periferia onde a população negra é muito maior. A riqueza do mapa está justamente nisso, em localizar onde existe uma probabilidade maior de ter um jovem que não estuda nem trabalha, o chamado nem-nem, onde é mais provável você encontrar mulheres jovens com mais carência de assistência médica, onde a violência afeta mais os homens jovens, e assim por diante”. 

Cunha recordou o trabalho cuidadoso de desagregação de dados feito no Nepo, para transformar os registros agregados divulgados pelo censo demográfico ou disponíveis nas secretarias municipais em indicadores mais desagregados e localizados geograficamente.

“Esse estudo requeria uma primeira etapa de levantamento das fontes de dados disponíveis, a atualização dessas fontes, ou seja, em que período temporal dispomos desses dados, e uma consolidação. Para isso, primeiramente, foi feito um mapeamento do que já se tinha divulgado, para que período temporal, com que abrangência territorial, já que nos foi pedido desagregar nos 96 distritos do município”, relatou. “E assim, poder afirmar que mesmo precisando de uma determinada estimativa desagregada por distrito, a consistência e/ou a cobertura não nos permitiria realizar uma inferência científica”. 

“Sabíamos que havia dados que tinham limitações para serem utilizados”, disse. “Por isso, tivemos o cuidado de analisar estas dimensões”. No relatório final do mapa (disponível online na páginawww.portaldajuventude.prefeitura.sp.gov.br/noticia/mapa-da-juventude-de-sao-paulo/) constam, por exemplo, as dificuldades no levantamento de dados sobre violência, apresentando alta subnotificação de crimes contra a mulher assim como a dificuldade em acessar as bases de dados oficiais da Secretaria da Segurança Pública do Estado, referentes à população jovem.

 

Redação

2 Comentários

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  1. Prezados, notícia super

    Prezados, notícia super legal. É imprescindível um mapeamento da realidade das juventudes para que se possa construir políticas públicas de/com/para a juventude. Haddad <3.

    O único problema da notícia é que vocês utilizaram “Cunha” para referenciar a Estela María García de Pinto da Cunha. Seria interessante se vocês mudassem para “Estela” ou qualquer outro nome que não seja “Cunha” tendo em vista que sempre que alguém lê esse nome a primeira coisa que imagina é o Eduardo Cunha, o inimigo n.1 da juventude.

    Att,
    Alexandre.

     

  2. Lamentavel a postura do governo Alckmin

    Bom saber que o prefeito tem pensado a juventude carente. Se o o governo Alckmin tivesse um minimo de interesse em fazer algo para essa juventude, ao invés e fechar escolas e continuar essa politica de chacina nas periferias, acho que São Paulo teria uma outra via para essa juventude, quase sempre abandonada a si mesma.

    Chama atenção a afirmação de que ha dificuldades em acessar as bases oficiais da Secretaria de Segurança Publica do Estado.

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