Enviado por Felipe A. P. L. Costa
Lugar da Barra, ou Quando Manaus tinha 200 habitantes
por Aziz Ab’Sáber [1]
Enquanto Belém é o entreposto da fachada atlântica de toda a Amazônia brasileira, Manaus é a verdadeira capital da hinterlândia amazônica. Colocada exatamente entre a Amazônia Ocidental e a Oriental, num ponto do principal eixo de navegação fluvial do Brasil, é uma espécie de elo entre a navegação fluvial, rudimentar e extensiva, e as grandes rotas marítimas de cabotagem. Possui, por essa razão, uma situação geográfica absolutamente privilegiada em face das extensões amazônicas e do gigantesco quadro de drenagem da bacia hidrográfica regional.
Meio século após a fundação de Belém (1615-1616), os sertões amazônicos do Rio Negro passaram a ser objeto das incursões portuguesas provenientes dos núcleos atlânticos pré-existentes (São Luís e Belém). Mormente a partir de 1657 e 1658, algumas expedições preadoras – réplica do bandeirismo paulista ao longo dos caudais amazônicos – incursionaram pelo Rio Negro, cruzando sem maiores reparos o sítio que um dia iria conter a grande cidade. Na região, as preferências iniciais estiveram ligadas à boca do Tarunã, situada a 30 km da barra do Rio Negro, aproximadamente a três léguas a montante de Manaus.
A estatística mais antiga que possuímos do lugarejo remonta a 1774: o Lugar da Barra possuía a esse tempo 220 habitantes, contando-se os soldados da guarnição e os índios. Uma estatística de 1778 acusa 256 habitantes, distribuídos da seguinte forma: 34 brancos, 220 índios e dois escravos negros.
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Nota
[1] Aziz [Nacib] Ab’Sáber (1924-2012). Extraído do blogue Poesia contra a guerra, o excerto acima – de artigo originalmente publicado em 1953 – integra o livro Amazônia: Do discurso à práxis (Edusp, 1996).
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