Relação de Dória com empresários rendeu R$ 286 milhões: veja o que ele ganhou

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Mauricio Lima/Getty images
 
Jornal GGN – Em três meses e meio de comando da Prefeitura de São Paulo, João Dória (PSDB) recebeu R$ 286 milhões em doações, principalmente de empresas. O prefeito divulgou os dados em sua página pessoal do Facebook, após ser alvo de críticas de falta de transparência da gestão municipal, com apontamentos de que o tucano estaria sendo favorecido por empresários. 
 
Se a tentativa do prefeito foi de contra-atacar as críticas, por outro lado, obteve o efeito contrário. Enquanto que no texto, o político destaca que os dados já estavam disponíveis pelo sistema da Transparência, na realidade, o portal da Prefeitura trazia apenas 5,8% dos milhões de doações em dinheiro por pessoas e empresas ao gestor. 
 
“Existe um trâmite legal para a publicação no Portal da Transparência. Me antecipo aqui porque parece que algumas pessoas são um pouco ansiosas e não perdem a chance de, em vez de se informar, criticar”, afirmou o prefeito, em sua página pessoal do Facebook, com as fotos das tabelas de doações.
 
Dos R$ 286 milhões doados em 100 dias de governo, a relação forte do tucano com o setor empresarial mostrou confirmações. Dória ganhou materiais e produtos de todos os tipos. Entre os principais, a indústria farmacêutica doou R$ 109 milhões.
 
Também de forma menos público e quase que privado, o prefeito recebeu doação de R$ 7 mil em tapetes para decorar a recepção do seu gabinete, no Viaduto do Chá. Ganhou ainda quadros do artista pernambucano radicado em Miami, Romero Britto, avaliados em R$ 370 mil. Também recebeu R$ 22,4 milhões em ovos de Páscoa, R$ 2 mil em materiais de escritório, e ainda R$ 1 milhão em “recursos tecnológicos”.
 
Muitas das prestações de contas não informam especificamente do que se tratam as doações, e há ainda serviços que não apresentam o valor doado, como por exemplo, a doação de 31 móveis decorativos para a secretaria de Governo, pela empresa Mobile Decoratta, e um reparo de um veículo, feito em janeiro, para a prefeitura regional do Butantã, na zona oeste da capital.
 
Dos itens elencados, o próprio tucano foi responsável por se auto-doar alguns deles: um aparelho de ar-condicionado e dois quadros do Romero Britto, que foram um presente do artista, em outubro, após João Doria ser anunciado o vencedor das eleições no ano passado. De forma menos municipal e talvez de caráter mais privada, o prefeito também recebeu uma TV de 75 polegadas da Sony, pela Fast Shop, que foi colocada na sala do prefeito. 
 
Ao todo, 10 indústrias farmacêuticas doaram medicamentos para a Secretaria de Saúde. Apenas o laboratório Eurofarma repassou um total de mais de R$ 4 milhões. Mas além dos próprios medicamentos, a relação do prefeito com o setor mostrou outros frutos: também obteve três minutos de propaganda de painéis LED veiculada no jogo de futebol entre o Brasil e Uruguai, no dia 20 de março deste ano, e outros cinco minutos na partida entre o Brasil e o Paraguai no dia 28 de março, pela Ultrafarma.
 
As construtoras também mostraram apoio financeiro à gestão tucana. O programa “Cidade Linda”, que varreu e recapeou a avenida Paulista e as ruas da região, e também o programa de remoção de grafites e pichações da Ponte Governador Orestes Quércia, foram bancadas por construtoras, como a Potenza Engenharia e Construção e a Molise Construções.
 
Ainda, dentro das doações inusitadas, está a de 800 pistolas 380 pela Glock Brasil em um custo de R$ 2,8 milhões.
 
Com as diferenças entre o que foi divulgado em sua rede social e o que aparece, efetivamente, no Portal da Transparência, a Secretaria de Comunicação de São Paulo justificou que “leva um tempo” desde que a doação é efetivada, aprovada pela Secretaria de Justiça e, somente então, é inserida no portal. 
 
Veja, abaixo, a lista inteira disponibilizada:
 

 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. Doações

    Alguém pode me explicar porque as empresas doam tanto para o Dória, mas ninguém doa para a Santa Casa, para hospitais, creches, asilos?

    1. Por que será? rsrs Alguma

      Por que será? rsrs Alguma coisa me diz que tem interesses privados envolvidos nisso… Interesse privado no dinheiro público… Mas isso é só uma suposição, por mais que ela seja mais do que óbvia.

  2. Não tem jeito… Político

    Não tem jeito… Político receber dinheiro de empresários para sua campanha política sempre acarretará em mal uso do cargo público, e do dinheiro público para fins privados e individuais… O estado deveria servir a todos de igual para igual… Se precisa de algum equipamento produzido pela iniciativa privada, deve ser feita uma licitação para que todas as empresas possam participar… O que defendem as multinacionais por meio dos políticos financiados por elas, é que até as multinacionais tenham o direito de entrar nesta licitação e levar todos os contratos, já que produzem equipamento a preço mais baixo que as empresas nacionais… POis, utiliza, muitas vezes… De mão-de-obra semi-escrava, e até escrava, pelo mundo todo… Mas ainda sim… O funcionário público deve trabalhar para todo o público, e não somente para meia dúzia de empresários que o ajudaram a se eleger pelo público… Senão, isto se trataria de uma conspiração para enganar o público em benefício do privado por parte destas empresas, como realmente está ocorrendo… É claro que nem sempre estes políticos eleitos com dinheiro privado, receberam dinheiro privado de todas as empresas em todos os ramos para haver um completo uso privado do cargo.. Ainda mais que um político ainda não vive só de licitação do exercício do cargo… E mesmo quando só faz isto, não quer dizer que em todas as licitações beneficiará empresas parceiras… Mas há um risco de que haja um beneficiamento de muitas, ou pelo menos aqueles que o ajudaram a se eleger… Com a constante privatização dos serviços públicos ancordas por estes mesmos políticos… A tendência é que este tipo de corrupção aumente… Ou melhor, será que as constantes privatizações não são resultado dos políticos receberem dinheiro privado para se elegerem, e quando chegarem lá promoverem as privatizações com sucateamento dos serviços públicos… Desvios das verbas dos serviços públicos… Relatórios suspeitos sobre estes serviços para forças uma privatização… Pois, hoje, muitos políticos não tem medo de ser julgado por estes crimes… Com o foro privilegiado isto ainda é maior… Graças a impunidade, financimento de campanha pela iniciativa privada… Próprio pertencimento a iniciativa privada… A tendência é que o estado entre cada vez mais em ruina quando as leis não funcionam, a justiça não impera e a impunidade está lá no alto… 

  3. Doria tem uma fábrica de

    Doria tem uma fábrica de relacionamentos (a Lide) que costura relacionamentos e abre oportunidades para empresários se aproximarem de políticos com influência (DCM).

    Ora, taí o seu negócio. Nada mais é preciso dizer num mundo de mercado…interesses privados, comerciais…financeiro…

    A se ver:

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/como-doria-ficou-rico-com-o-lide-sua-maquina-de-aproximar-politicos-de-empresarios-por-joaquim-de-carvalho/

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/doria-e-garoto-propaganda-de-empresas-envolvidas-em-corrupcao-uma-delas-na-lava-jato-por-joaquim-de-carvalho/

  4. Houvesse uma oposição atuante

    Houvesse uma oposição atuante na camara,

     

    isso seria motivo de investigação pesada, quase trezentos milhões em tres meses é alarmante……

  5. Bem, a partir da proibição

    Bem, a partir da proibição legal das doações de pessoas jurídicas nas campanhas políticas, agora, o doriana inaugura o caixa2 das doações ilegítimas. Nada como a criatividade dos de sempre.

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