Por Paulo F.
Da Radio Nederland Woreldomroep
Tecnologia brasileira invade arquibancada do Ajax
Parceria entre Brasil e Holanda desenvolve para estádios de futebol os ‘assentos de açúcar’ (sugar seats) como ficaram conhecidos na Europa. Feitos de etanol da cana de açúcar, o bioplástico é sustentável por possuir matéria-prima renovável, substituir o petróleo, e, durante o plantio, capturar 2,5 toneladas de gás carbônico (CO2) da atmosfera.
Por Beatriz Bringsken
O estádio do clube Ajax, Amsterdam Arena, será o primeiro a receber os assentos em maio de 2012. Inicialmente, serão apenas duas mil cadeiras durante a fase teste, e a substituição dos 54 mil assentos será completa daqui a dois anos. Nesse meio tempo, em Salvador, o estádio Arena Fonte Nova finaliza as obras e deverá ser o primeiro do mundo a ter uma completa arquibancada feita de bioplástico, a data ainda não está definida. Em seguida, os estádios Arena das Dunas, em Natal, e Arena Pernambuco, em Recife, também já sinalizaram o interesse pelos assentos sustentáveis.
O grupo Amsterdam Arena é responsável por desenvolver o plano empresarial para as arenas de Salvador e Natal. É cada vez mais comum o termo arena para se referir a um estádio de futebol. A diferença é que o estádio concentra suas atividades num único esporte e requer uma multidão para lotar as arquibancadas, enquanto a arena tem mais atividades poliesportivas e pode realizar eventos menores. A arena em Salvador, por exemplo, terá um espaço reservado para empresas empreendedoras, algo como um ‘hub center’.
O diretor do Amsterdam Arena, Sander Van Stiphout, esclarece que no Brasil o grupo está ligado aos planos de gestão de negócios, sendo responsável pela operacionalização destes estádios depois de inaugurados – faz parcerias, firma patrocínios, gera renda e lidera todos os funcionários para que saibam o que, quando e como realizar suas tarefas.
Desafio
Desde a última Copa do Mundo, a Fifa desenvolve o programa de sustentabilidade ‘Green Goal’ pelo qual incentiva o uso de tecnologias renováveis em estádios. Já a idéia de um assento de bioplástico surgiu casualmente em Salvador, durante uma reunião de negócios em 2010. O Amsterdam Arena apresentava o seu ambicioso plano de se tornar o estádio mais sustentável do mundo a várias empresas brasileiras, quando recebeu o desafio de utilizar o bioplástico da empresa Braskem, líder na produção de resina de polietileno. “Descobrimos juntos que seria útil ter novos assentos feitos de cana de açúcar, por ser de fonte renovável, muito melhor que o petróleo. O plano foi desenvolvido e somos os primeiros, mas foi todo um processo, pois o produto não existia no mercado naquele momento”, diz.
Consultoria e lobby
A Amsterdam Arena é uma empresa de consultoria internacional que faz o planejamento e a gestão comercial de diversos estádios. No Brasil, começou a operar em 2005 e três anos depois fundou, em Brasília, a subsidiária Arena Brasil para facilitar a influência política em negócios envolvendo estádios da Copa. Este trabalho de lobby é responsabilidade do vice-presidente do Amsterdam Arena, o empresário brasileiro, João Gilberto Vaz.
Os estádios da Copa de 2014 também estão levando a sério a questão sustentável, possuem planos ambiciosos, mas que na prática não estão andando como o previsto. O holandês revela que a maior dificuldade encontrada na gestão de estádios no Brasil aparece quando algum produto internacional tenta entrar no mercado brasileiro. “O protecionismo não é bom, pois evita uma competição no Brasil, o que torna tudo extremamente caro. Eu fiquei assustado”, critica Van Stiphout.
Feito de açúcar, mas não derrete na chuva
O assento será confeccionado por uma empresa no Reino Unido, e o preço da resina brasileira é competitivo com o plástico comum, pois as propriedades físicas e químicas são idênticas. Batizado pela Braskem como ‘plástico verde’, o polietileno só existe em escala comercial no Brasil, e consumiu 700 milhões de litros de etanol anidro em 2011, o suficiente para produzir 200 toneladas de bioplástico. A empresa compra o etanol, cuja soma total corresponde a 3% da produção nacional. A expectativa para a recente indústria da resina verde é de forte crescimento, uma vez que a exportação do novo produto não sofre qualquer tipo de barreira comercial quando entra na Europa – é negociada da mesma forma que a resina convencional, oriunda do petróleo. Cenário oposto ao do biocombustível etanol, que sofre taxação alfandegária.
O diretor de marketing da Braskem, Frank Alcântara, explica que o plástico verde não é biodegradável e necessita ser reciclado para obter o ciclo completo da sustentabilidade. “O plástico não vai sozinho para os oceanos ou para a natureza, então, para ser verdadeiramente sustentável, é importante fazer um trabalho de conscientização com a população para que o descarte possa ser feito corretamente, isso é uma questão de infraestrutura de reciclagem. O fim do ciclo e a destinação dos resíduos sólidos é um trabalho de educação”, conclui. Alcântra é taxativo ao afirmar que “o destino dado a esses produtos é de responsabilidade política de cada país”. A reciclagem pode ser muito lucrativa, pois um quilo de plástico gera um litro de óleo diesel.
Verde que te quero verde
Quando questionado sobre o prazo de dois anos para completar a arquibancada verde, Van Stiphout se mostra cauteloso. “Precisamos nos assegurar que todos os requisitos de sustentabilidade estão recebendo a devida atenção e aí partimos para a grande troca. Agora, a nova negociação com a Braskem é sobre a possibilidade de termos os assentos em Salvador”, responde o diretor. O Amsterdam Arena foi o primeiro estádio de grande dimensão a solidificar o conceito de multifuncionalidade, ou seja, gerar renda através de diversos tipos de eventos. O aumento na receita ajuda a baratear o preço da entrada dos jogos.
O que fazer com os assentos antigos ainda não foi definido, mas a intenção é usá-los no museu do clube, “pois para os torcedores isso tem um valor sentimental, foi onde sentaram para ver todos os jogos”, revela Van Stiphout. Os torcedores do Ajax apóiam a campanha pelos assentos ‘verdes’, desde que eles não venham literalmente em verde, mas que tenham as cores do clube: vermelho e branco.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.