Biólogo brasileiro destrói Zika vírus usando medicamento de hepatite C

Biólogo conseguiu 100% de sucesso em testes feitos em minicérebros criados a partir de células-tronco e em camundongos; agora testes em humanos estão sendo preparados 
 
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(Divulgação)
 
Jornal GGN – O biólogo brasileiro Alysson Muotri, que coordena o Programa de Células-tronco da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, estabeleceu junto com a sua equipe de pesquisa a hipótese de que um medicamento já existente poderia combater o Zika vírus e conseguiu descobrir que o remédio Sofosbuvir, para o tratamento de hepatite C, pode curar infecções do micro-organismo e, melhor ainda, impedir a transmissão do vírus da mãe para o bebê durante a gravidez. O trabalho foi publicado, em janeiro, na revista Scientific Reports, do prestigioso grupo Nature.
 
Os cientistas testaram o efeito do medicamento primeiro em minicérebros criados a partir de células-tronco e, em seguida, em camundongos, e a taxa de sucesso em ambos foi de 100%, mesmo em ratos no estágio terminal – pois o Zika vírus para a espécie é letal. O medicamento também foi aplicado em fêmeas e impediu que o vírus chegasse até os fetos. Agora, testes em humanos estão sendo preparados. Segundo a matéria a seguir, da BBC Brasil, o  Instituto de Ciências Biomédicas da USP também participou das pesquisas.  
 
 
 
 
Enquanto cientistas e empresas farmacêuticas corriam contra o tempo para criar, do zero, uma vacina contra o Zika vírus, o biólogo Alysson Muotri estava olhando para o outro lado.
 
A hipótese dele era de que remédios que já estão no mercado e são usados contra outras doenças poderiam também ser efetivos contra o Zika vírus, que causou alterações neurológicas em mais de 3 mil crianças no Brasil entre 2015 e 2017.
 
As evidências científicas apontam para a possibilidade de Muotri ter acertado em sua aposta. Em estudo publicado em janeiro na revista Scientific Reports, do prestigioso grupo Nature, a equipe de Muotri diz que o remédio Sofosbuvir, usado no tratamento de hepatite C, pode curar a infecção por Zika e impedir também a transmissão do vírus da mãe para o bebê durante a gravidez.
 
A pesquisa se dividiu entre a Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, onde Muotri coordena o Programa de Células-tronco, e o Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
 
Em ambos os laboratórios, os pesquisadores testaram o medicamento primeiro em minicérebros – estruturas obtidas a partir de células-tronco que emulam o funcionamento do cérebro – e, em seguida, em camundongos. Em ambos os casos, a taxa de sucesso foi de 100%, segundo o biólogo.
 
“Os minicérebros infectados com Zika responderam imediatamente ao Sofosbuvir. Nas primeiras 24 horas, as células pararam de morrer e voltaram a crescer novamente”, disse Muotri à BBC Brasil.
 
“Nos camundongos, a doença mata. Mas conseguimos que eles se recuperassem do estado terminal. E nas fêmeas, impedimos que o vírus chegasse até os fetos. Agora, estamos preparando os testes em humanos.”
 
Nos próximos três meses, a equipe deve testar o medicamento em pacientes de Zika no Equador, que enfrenta um surto da doença.
 
De acordo com o Ministério da Saúde brasileiro, desde outubro de 2015 até dezembro de 2017 foram confirmados 3.037 casos suspeitos de bebês com alterações no crescimento e desenvolvimento possivelmente relacionadas à infecção pelo Zika. Outros 2.903 continuam sob investigação.
 
A pasta afirmou que foram registrados 17.452 casos prováveis de zika em todo país em 2017 – uma queda de 92% em relação a 2016.
 
Mas especialistas ainda temem que um novo surto do vírus possa ocorrer, após a descoberta de que o vírus ataca cerca de 49% de uma população no primeiro contato – inicialmente se pensava que a taxa era de 80%.
 
Na prática, isso significa que ao menos metade da população brasileira ainda não foi exposta ao vírus e, portanto, não está imune.
 
O Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo mosquito Aedes aegypti divulgado pelo Ministério da Saúde em novembro de 2017 indicou que 409 municípios brasileiros estão em situação de risco de surto de dengue, zika e chikungunya.
 
No mundo, mais de 70 países registraram a doença e pelo menos 26 apresentaram casos de Síndrome congênita do Zika em crianças.
 
Cérebros em laboratório
 
A tecnologia dos minicérebros foi desenvolvida em 2013 por cientistas do Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia de Ciências Austríaca, e tem sido usada desde 2015 para estudar os efeitos do Zika no desenvolvimento do cérebro dos bebês afetados.
 
Os cientistas usaram células-tronco embrionárias para reproduzir, em laboratório, tecidos que se desenvolvem como o cérebro humano em um embrião.
 
As estruturas criadas, que são do tamanho de ervilhas, chegam a alcançar o mesmo nível de desenvolvimento de um feto de nove meses, mas são incapazes de pensar e realizar outras funções do órgão.
 
“A tecnologia avançou bastante, mas ainda é um modelo simplificado, cultivado in vitro. Conseguimos ver como as células se desenvolvem e se organizam”, explica Muotri.
 
Em 2016, pesquisadores do Instituto D’Or, no Rio de Janeiro, demonstraram que o Zika vírus devasta as células-tronco cerebrais e causa uma redução drástica no crescimento do córtex, a camada externa do cérebro.
 
Para conferir a possibilidade de utilizar, em caráter urgente, drogas já existentes contra o Zika, a equipe de Muotri analisou em computador o genoma do Zika comparado ao de outros vírus mais conhecidos, para buscar semelhanças.
 
“Percebemos semelhanças com o vírus da Hepatite C e, por isso, começamos a olhar para esses medicamentos. Encontramos o Sufosbuvir, que atua na RNA polimerase – a enzima que o vírus usa para se replicar”, diz.
 
“Então a droga impede que o vírus se espalhe no organismo. A partir daí, começamos os testes nos minicérebros.”
 
Bebês camundongos a salvo
 
O passo seguinte foi testar o medicamento em camundongos infectados pelo vírus – com especial atenção às fêmeas grávidas.
 
“Quando você testa a droga nos minicérebros, vê o efeito do vírus diretamente no tecido cerebral de um feto. Mas quando ele está no ambiente intrauterino, quem toma o medicamento é a mãe. A substância tem que passar pelo metabolismo da mãe e ser processada para chegar até o feto. Por isso esses testes são cruciais”, explica Muotri.
 
Os pequenos camundongos, segundo ele, foram monitorados do nascimento até a fase adulta – período de cerca de quatro semanas – com uma tecnologia sensível, “que detectaria até mesmo uma partícula do vírus em suas células”. Continue lendo… 

 

Redação

5 Comentários

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  1. Ciência

    “O biólogo brasileiro Alysson Muotri, que coordena o Programa de Células-tronco da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia”.

    Cientista brasileiro que quer fazer ciência e ajudar a humanidade é obrigado a emigrar.

    Depois da EMBRAER, Presal etc, os golpistas doarão a USP, Universidade de São Paulo.

     

    1. Fuga de cérebros…por aqui

      Fuga de cérebros…por aqui ficam os pseudomoralistas: Moros, Bretas, Dalnhóis….estamos mesmo num mato sem cachorro…

  2. Pesquisa feita no Brasil já havia demonstrado efeito

    “‘Esquecer’ que essa pesquisa começou no Rio é um desserviço”

    “O bloqueio de transmissão vertical do vírus zika em camundongos pelo sofosbuvir é um resultado interessante (Pinar Mesci e cols, 2018) que complementa o que Thiago Souza e seus colegas na Fiocruz, UFRJ e Instituto D’Or já tinham publicado no ano passado:

    The clinically approved antiviral drug sofosbuvir inhibits Zika virus replication (18/01/2017) https://www.nature.com/articles/srep40920

    Sofosbuvir protects Zika virus-infected mice from mortality, preventing short- and long-term sequelae (25/08/2017) https://www.nature.com/articles/s41598-017-09797-8

    Novas descobertas merecem sempre divulgação e celebração, sejam elas realizadas nos EUA, China ou Jamaica. Cabe entretanto o cuidado da imprensa em reconhecer a contribuição dos trabalhos de base.”

    https://stevensrehen.blogosfera.uol.com.br/2018/01/27/esquecer-que-essa-pesquisa-comecou-no-rio-e-um-desservico/

    ———–

    []s,

    Roberto Takata

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