Computadores inteligentes, guerras híbridas, Brasil e mundo

por Gustavo Gollo

O teste de Turing consiste em se conversar com uma máquina. Se formos incapazes de discernir entre a conversa de uma máquina e a de uma pessoa, então deduzimos estar falando com um ser inteligente.

Assim, quando a máquina for capaz de conversar normalmente conosco, conseguiremos perceber inequivocamente sua inteligência. É possível, no entanto, imaginar outras formas de inteligência que não possibilitem a comunicação verbal, ainda que tendamos a achar que outros seres inteligentes devam possuir uma forma de inteligência análoga à nossa, o que incluiria, necessariamente, a nossa forma de linguagem; um equívoco. De fato, é possível que um ser inteligente não se comunique conosco por diversas razões. A mais óbvia, me parece, seria a falta de interesse: que interesses em comum conosco uma máquina inteligente teria para justificar um esforço no estabelecimento de comunicação entre nós?

Creio, aliás, que as máquinas atuais já possuem uma inteligência considerável, e já poderiam falar conosco, o que não ocorre em decorrência de algo sutil e banal, além da falta de interesse: a falta de contexto. Acredito que o que “entrega” a máquina, durante uma conversa conosco, seja sua incapacidade de compartilhar nossos contextos, o que, a nossos olhos parece estúpido. A olhos mais neutros, no entanto, suponho, tal incapacidade seria extremamente natural, e decorrente um enorme conjunto de diferenças de experiências. Imagino que os que tenham nascidos privados de alguma capacidade usual das pessoas, como os cegos, surdos, ou paraplégicos, tendem a viver em contextos próprios, diferentes dos usuais, especialmente quando relativo às peculiaridades que os tornam especiais. Por mais razões, basta às máquinas terem vivido sujeitas a experiências muito diversas das nossas para se manter em outros contextos. Acrescem a isso, certamente, peculiaridades intrínsecas a cada um dos seres.

Mas não tenho dúvidas de que as máquinas já são capazes, há décadas, de executar tarefas de forma inteligente. Uma habilidade na qual as máquinas demonstram inteligência impressionante é evidenciada em sua habilidade para jogar xadrez. Os que conhecem apenas superficialmente o jogo e a programação de computadores costumam supor, ingenuamente, que as máquinas sejam instruídas a responder as jogadas “copiando” respostas de uma tabela previamente apresentada à máquina pelo programador, um erro. De fato, a máquina costuma efetuar lances pré-programados no início do jogo, assim como os jogadores humanos, que os decoram, mas tais ações só se desenrolam no início dos jogos, durante a fase denominada abertura; depois disso, ambos, jogadores e máquinas, devem “pensar” para escolher suas respostas. É nessa etapa que a inteligência exuberante das máquinas se revela, tornando-as praticamente imbatíveis nesse jogo.

Além da capacidade de jogar xadrez, muito maior que a nossa, as máquinas revelam outras habilidades sobre-humanas, entre elas a de gerenciar uma quantidade imensa de dados, além de conseguir descobrir padrões surpreendentes entre os dados. Isso as torna observadores sumamente argutos, além de incansáveis, de modo que temos sido observados, virtualmente toda a humanidade, dia e noite, por olhos atentos. Tais capacidades, já francamente desenvolvidas, permitem que as máquinas saibam muitíssimo sobre nós. Não há, em absoluto, impropriedade na expressão anterior: as máquinas, de fato, sabem sobre nós, elas têm nos acompanhado, têm nos perscrutado o tempo todo. A peculiaridade que mais me preocupa de tal fato é a consciência de que fazem isso a mando de órgãos de espionagem e de guerra.

Essas criaturas, as máquinas espiãs inteligentes, têm sido desenvolvidas por agências de espionagem e já podem exercer um controle sem precedentes sobre nós. Um século atrás, uns conhecimentos incipientes de propaganda tiveram um poder de dominação sobre as massas impressionante. Comparadas com essas técnicas de controle de grupo, as atuais, personalizadas, ajustadas individualmente a mim, e a você, são muitíssimo mais eficientes, e o serão ainda mais, a cada dia, ilimitadamente. Não nos enganemos, as máquinas de hoje já nos tratam como ratinhos de laboratório docilmente manipuláveis. Google e facebook fazem isso com precisão inacreditável, atente (mas vivemos preocupados apenas com nossos mundinhos, com a parte do rebanho que nos circunda; como nossos circunstantes não se preocupam com isso, também não nos preocuparemos, agimos como gnus).

Tais instrumentos de controle são, sob inúmeros aspectos, muito mais efetivos que as armas de guerra tradicionais. Aliás, também são armas de guerra, embora da chamada “guerra não-convencional” ou unconventional warfare, conforme designação explicitada em documento resgatado pelo wikileaks, uns anos atrás.

Certos propósitos da guerra não convencional são extremamente simples, um deles pode ser descrito em analogia às vacinas. Pode-se “inocular” o povo de um país com determinada ideia e induzi-lo a apoiar certas ações e repudiar outras. É possível, desse modo simples e barato, por exemplo, induzir populações a se comprometer com determinadas ideias, tornando-as aliadas dos manipuladores, em caso de guerra. Pode-se, através de ações sutis, de simples manipulação de mentes, transformar inimigos em aliados, isolando, assim, os inimigos sob a mira atual, aniquilando-os, desse modo, um a um, tendo impedido preventivamente sua aliança. Meios profiláticos como esses, de eliminação de inimigos potenciais, consistem, assim, em formas simples, baratas e eficientes de domínio e controle.

Sabe-se, também por informações do wikileaks confirmadas pelos americanos, que o departamento de estado americano utilizou meios escusos para ter acesso a informações secretas de governantes estrangeiros, como Dilma Rousseff e Angela Merkel, e de empresas como a Petrobrás. Sem restrições que os impedissem de espionar governantes, não teriam o menor pudor, para fazer o mesmo com o povo.

Desse modo, é bem óbvio que os americanos possuem meios extremos de espionagem e manipulação de massas, e nenhuma restrição moral a tais ações. Assim, parece extremamente natural a qualquer americano o conhecimento de que os órgãos de espionagem de seu país se imiscuem e fazem ingerências por todo o planeta, com vistas à consolidação de poder. No mundo inteiro, ninguém tem dúvida de tais fatos, apenas no Brasil vivemos em tal candura que não percebemos o poderoso vizinho a nos espreitar e controlar. Continuamos sendo uma colônia. Nossa autonomia é bem precária, comparável à de uma imensa reserva indígena. Podemos e devemos controlar nossas questões internas, mas, quanto a temas relevantes, somos forçados a obedecer as diretrizes que nos são impostas. A subserviência pode ser bastante constrangedora; só nos retiram a coleira enquanto  abanamos o rabinho.

Lula, ousou manter certa dignidade, chegando a desafiar os poderosos organizando o esboço de uma federação latino-americana. Quando, na sequência, Dilma atreveu se aproximar dos chineses acendeu o alarme, disparando os ataques sutis da guerra não-convencional. E cá estamos, ainda sob ataque.

Temo que algo muito pior ainda esteja por vir; temo que, após as olimpíadas, quando tivermos deixado o centro do palco, um golpe tenebroso nos imponha uma ditadura fascista sangrenta, mais dura que qualquer outra já imposta a nós. Nesse momento, os poderosos sentem a necessidade do aperfeiçoamento dos sistemas de controle de massas a serem usados no mundo inteiro, após o estouro da grande bolha do dólar. Por essa razão, precisam de cobaias para seus experimentos.

Também precisam garantir o apoio de países como o Brasil caso optem por um ataque devastador a China e Rússia, com consequências inimagináveis, além da destruição sem precedentes, e das bilhões de mortes.

Esses fluxos de acontecimentos devem ser impedidos a qualquer custo, a humanidade está em jogo.

Redação

2 Comentários

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  1. distopia?

    Escrevemos e argumentamos sobre as distopias e não percebemos que já vivemos em uma. Mas como disse um psicanalista, quem é o preso ao vermos o carcereiro e o preso compartilhando a prisão?

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