Excesso de poluição pode mudar frequência cardíaca do corpo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Uma pesquisa feita pelo fisioterapeuta Daniel Alveno no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) revelou que a poluição pode alterar a frequência cardíaca das pessoas. O efeito é mais intenso em trabalhadores expostos à poluição durante um período de tempo maior, como funcionários da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e taxistas da cidade de São Paulo.

Alveno e seu orientador, Celso Ricardo Fernando Carvalho, descobriram que o aumento da frequência cardíaca é uma resposta do corpo a pequenas variações das concentrações de poluentes no ar. Em pessoas menos expostas, os efeitos da poluição devem ser sentidos apenas durante o exercício físico.

A pesquisa analisou 75 homens, em torno de 45 anos. Desses, 57 pertenciam ao grupo de trabalhadores do tráfego. Já os outros 18 eram funcionários do Horto Florestal de São Paulo (a mais de 12 quilômetros do centro da cidade) e faziam parte de uma espécie de grupo de controle. Todos foram avaliados quatro vezes, em quatro semanas diferentes, com avaliações uma vez na semana, sempre em um dia diferente.

Medidor de poluição

Para que a análise fosse feita, os trabalhadores ficavam 24 horas com um medidor de poluição. No dia seguinte, passavam por uma avaliação de frequência cardíaca em duas fases: repouso e exercício, momentos controlados de maneiras diferentes pelo Sistema Nervoso Autonômo (SNA), responsável por regular as funções involuntárias do organismo, como os batimentos cardíacos.

O SNA é dividido em dois sistemas: o Sistema Nervoso Simpático (SNS), que estimula respostas do corpo a situações de estresse, como exercícios físicos, o que acelera respiração e batimentos cardíacos; e o Sistema Nervoso Parassimpático (SNP), que responde a situações calmas, o que desacelera coração, respiração e diminui pressão arterial. A interação e equilíbrio dos dois sistemas são chamados de variabilidade da frequência cardíaca (VFC), que mede a diferença entre as frequências dos batimentos em situações estressantes ou calmas.

Uma pessoa com sistema cardiovascular saudável tem a VFC alta. Já a redução da VFC indica alteração das funções autônomas do organismo, quadro presente nos trabalhadores do tráfego durante o repouso. “Esses trabalhadores podem estar cronicamente mais sujeitos ao aparecimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, como hipertensão, diabetes e outras doenças cardiovasculares”, diz Alveno.

Os funcionários do Horto Florestal são expostos a menos da metade da poluição a que o outro grupo é submetido diariamente. Mesmo assim, ainda estão sujeitos a quantidades significativas de poluição acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para baixo risco de doenças cardiovasculares (10 microgramas por metro cúbico de ar).

Poluição e estresse 

Os trabalhadores de tráfego são expostos, em média, a quatro vezes os valores recomendados pela OMS. O grupo do Horto Florestal está exposto a 22 microgramas, aproximadamente. Isso significa que, independentemente de onde as pessoas estejam na cidade, a poluição pode contribuir para variações cardiovasculares. “Todos que vivem na cidade de São Paulo estão expostos a índices consideráveis de poluição. Não temos o que fazer”, afirma Alveno.

A diminuição da VFC não indica a presença de alguma doença, mas uma resposta do corpo ao aumento da poluição. Porém, pessoas com problemas de hipertensão, diabetes e obesidade fazem parte do grupo que teve respostas ainda mais intensas ao aumento da concentração de poluentes. “Isso mostra uma gravidade ainda maior do aumento da poluição na população”, afirma Alveno.

Segundo o pesquisador, os cientistas ainda não sabem se a poluição causa ou agrava as doenças cardiovasculares. Apenas se sabe que as pessoas muito expostas à poluição podem ter maior tendência ao aumento e agravamento dessas enfermidades. “Não podemos colocar a poluição como o único causador com a vida estressante que levamos, com a má alimentação, sedentarismo, entre outros fatores, como a obesidade. Mas é uma das coisas que pode contribuir gravemente”.

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Lourdes Nassif

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