Pesquisadores da USP desenvolvem “capacete-respirador” para tratar pacientes com a covid-19

Sistema é menos invasivo e será mais seguro aos profissionais que atuam na linha de frente contra a doença

Equipamento impede a contaminação no ambiente de uma UTI, já que o ar é filtrado e possíveis partículas da covid-19 não serão dispersadas no ambiente hospitalar. O capacete poderá ser reutilizado em outros pacientes depois de descontaminado, reduzindo custos e descartes. Fotomontagem: Vinicius Vieira

do Jornal da USP

Pesquisadores da USP desenvolvem “capacete-respirador” para tratar pacientes com a covid-19

por Antonio Carlos Quinto

Uma parceria da USP com a iniciativa privada deverá resultar, em breve, em mais uma arma na luta contra a covid-19. Uma equipe multidisciplinar da universidade formada por pesquisadores da Escola Politécnica (Poli), Faculdade de Medicina (FM) e da Faculdade de Odontologia (FO) está desenvolvendo um capacete que, adaptado ao respirador artificial, dispensa o uso do tubo endotraqueal em pacientes internados nas UTIs. O protótipo está em fase final de desenvolvimento e deverá estar concluído ainda neste mês de maio.

“Trata-se de uma opção menos invasiva, já que em muitos casos pode ser uma alternativa para evitar a necessidade de utilização do tubo endotraqueal introduzido no paciente”, descreve o professor Raul Gonzales Lima, coordenador da iniciativa que vem sendo viabilizada no âmbito do Projeto Inspire – Ventilador Pulmonar de Baixo Custo, que é mantido na Poli. De acordo com o professor, o projeto vem sendo desenvolvido a pedido dos pesquisadores da Faculdade de Medicina e além de seu desenvolvimento tecnológico, “há os trâmites junto à Anvisa e comissões de pesquisas, que já estão também em andamento”.

 

O protótipo do capacete está em sua terceira versão. “A cada protótipo vamos aperfeiçoando e melhorando as funções. Desta vez estamos trabalhando para reduzir a complacência no equipamento, que resulta da movimentação do capacete de acordo com a entrada e saída do ar. “Denominamos ‘complacência’ o espaço morto instrumental que acaba armazenando o CO2 que é retirado dos pulmões. Se isso ocorrer, parte desse CO2 acaba retornando ao órgão, o que é prejudicial ao paciente que utiliza o respirador. Por isso é importante utilizar materiais mais rígidos para que o volume do capacete varie pouco”, explica Gonzales.

“Escafandro”

Foto: Divulgação

O equipamento, batizado inicialmente como “Escafandro” − por parecer a vestimenta usada por mergulhadores −, é composto de uma cúpula redonda de acrílico, por uma membrana de látex que se ajusta ao pescoço do paciente, uma almofada inflável sobre os ombros, e filtros e válvulas de acesso. “O acrílico é um material translúcido que pode ser higienizado até mesmo com bactericidas”, descreve Gonzales.

O capacete possui dois tubos que são ligados ao respirador artificial que funcionam como entrada e saída de ar. O sistema precisa ser conectado a um respirador artificial que faça com que o ar que entra tenha concentração e pressão controlados para melhorar a oxigenação sanguínea. “Outra vantagem do equipamento é que ele impede a contaminação no ambiente de uma UTI, já que o ar é filtrado. Assim, possíveis partículas da covid-19 não serão dispersadas no ambiente hospitalar, e isso resultará em mais segurança aos que atuam diretamente com esses pacientes”, lembra o pesquisador. “Além disso, como a estrutura permite a higienização poderá ser reutilizada para outros pacientes depois de descontaminada, reduzindo custos e descartes”, explica Gonzales.

De acordo com Gonzales, os próximos passos do projeto consistem em otimizar ainda mais a complacência e avaliar o uso de outros materiais. “Estamos na etapa que podemos chamar de física e biomédica que deve ser concluída nesta semana para, assim que aprovado pela Comissão de Ética, passarmos aos testes clínicos”, diz Gonzales, lembrando que a produção, após o projeto definitivo, poderá ser rápida e em larga escala pois utiliza materiais e infraestrutura de fabricação disponíveis no mercado nacional.

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Os pesquisadores preferem não estimar custos, mas segundo informações já veiculadas na imprensa por representantes das indústrias parceiras, o equipamento poderá custar menos de R$ 400.

 

 

Mais informações: https://www.poli.usp.br/inspire/contato-projeto-inspire
Redação

4 Comentários

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  1. Muito bem. Aplausos!
    Enquanto uns lutam para salvar vidas, usando toda ciencia disponivel nas universidades federais (apesar dos cortes irresponsáveis que desgovernantes vem aplicando desde o golpe) outros teimam em empurrar a população para o risco de morte, mesmo contra toda ciência e recomendações da comunidade médica. Espero viver para acompanhar os julgamentos pós pandemia.

    https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/13/apos-teich-fazer-alerta-sobre-cloroquina-bolsonaro-defende-o-medicamento-e-pede-ministros-alinhados-com-ele.ghtml

    Em tempo: parece que teich já enxergou a merda q se meteu.

  2. Mais uma vitória da iniciativa privada! Todos sabem que as universidades privadas são responsáveis por 100% da pesquisa científica. E USP só pode significar Universidades do Sistema Privado, é claro.

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