Recordações podem tratar alcoolismo e obesidade

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Enviado por Cláudio José

da IstoÉ

Memória terapêutica

Cientistas descobrem que a depressão, o alcoolismo e a obesidade podem ser tratados com a ajuda das recordações dos pacientes

Mônica Tarantino

A possibilidade de recorrer às lembranças armazenadas na mente para ajudar no tratamento de doenças é tema de um conjunto robusto de estudos recentes. Há experimentos nessa linha visando melhorar o tratamento da depressão, do alcoolismo e até para ajudar as pessoas a planejar melhor o seu futuro.

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INFORMAÇÃO
Dalva acredita que as novas pesquisas ajudam a conhecer
melhor os mecanismos por trás da memória

 

Um dos trabalhos mais interessantes foi feito pelo cientista Tim Dalgleish, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e teve como alvo a depressão. Primeiramente, Tim e seus colegas convidaram pacientes a reunir 15 recordações positivas. Pesquisas anteriores haviam indicado que recordar situações felizes melhora o humor de quem convive com a enfermidade. Além de comprovar esse dado, os pesquisadores queriam saber qual seria a estratégia mais eficiente para facilitar o acesso a esse banco de boas lembranças e mantê-las vívidas, uma vez que a doença tende a apagar seu brilho. Por isso, o segundo passo foi pedir aos voluntários que organizassem as lembranças empregando métodos diferentes. Enquanto uma ala associou suas reminiscências a um local ou objeto que pudesse ser usado como um gatilho para trazê-las à tona (a visão de um prédio no caminho do trabalho, por exemplo), a outra as agrupou por semelhança. “Aqueles que usaram a técnica de vincular as memórias a locais ou objetos tiveram resultados significativamente melhores”, concluiu Dalgleish.

Autora de pesquisas polêmicas, a psicóloga Elizabeth Loftus, da Universidade da Califórnia (Eua), estuda de que modo a criação de falsas memórias pode ser útil no controle do alcoolismo e da obesidade. Com esse objetivo, recrutou 147 universitários que se dispuseram a responder a um questionário sobre os seus alimentos e bebidas preferidos antes dos 16 anos. Foram também estimulados a relatar se alguma vez passaram mal após tomar muita vodca ou ingerir rum e questionados se isso realmente aconteceu.

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Uma semana depois, receberam seus perfis traçados pelos pesquisadores. Embora a maioria dos textos se restringisse às informações dadas pelos jovens, alguns continham relatos falsos de enfermidades sofridas na adolescência por causa de consumo excessivo de rum ou vodca. Após recontar o que tinha acontecido e preencher outro questionário, cerca de 20% dos participantes realmente assumiram essas memórias inventadas como verdadeiras. A maioria deles reduziu o consumo da bebida associada ao mal-estar. Em trabalhos anteriores, a cientista havia constatado que pessoas que acreditam ter ficado doentes na infância por ter ingerido determinado alimento passavam depois a evitá-lo. “Imaginamos que usar essa engenharia da mente pode direcionar as pessoas para uma vida mais saudável”, disse a pesquisadora.

A estratégia de criar falsas memórias desperta críticas. Mas a cientista ressalta que esse pode ser um recurso para usar a maleabilidade da memória a nosso favor. “O que é preferível: um garoto saudável com um pouco de falsa memória ou com diabetes e obesidade?”, questiona Elizabeth. Experimentos como esse despertam a atenção da comunidade científica. “São pesquisas valiosas para se conhecer melhor os mecanismos da memória”, diz a neurologista Dalva Poyares, da Universidade Federal de São Paulo.

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SEM TRAUMA
Izquierdo realiza experimentos, em animais, para fazer com
que eles não se recordem de lembranças ruins. No futuro,
o método pode auxiliar contra o estresse pós-traumático

Na Universidade de Harvard (Eua), o cientista Daniel Schacter investiga as semelhanças entre o que se passa no cérebro quando lembramos de acontecimentos do passado e o que imaginamos para o futuro. Com exames de imagem, ele constatou que as duas situações mobilizam as mesmas áreas, como o hipocampo e o córtex pré-frontal. “Portanto, não é surpreendente que alguns desses eventos imaginados possam realmente se transformar em falsas memórias”, disse Schacter à ISTOÉ.

O cientista também estuda maneiras de fazer com que as pessoas comecem a usar o banco de lembranças para que consigam planejar o futuro e tomar as melhores decisões. “Quando usamos as informações guardadas na memória, ficamos mais propensos a ser menos impulsivos e mais ponderados nas decisões a longo prazo”, garante o pesquisador. No Brasil, o cientista Ivan Izquierdo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e mundialmente reconhecido por suas investigações sobre a memória, testa, em animais, métodos para impedir que lembranças traumáticas subam à tona. “No futuro, essas técnicas poderão ser aplicadas no tratamento de males como estresse pós-traumático, no qual é imprescindível lidar melhor com o evento que causou o problema”, explica Izquierdo.

Fotos: Rafael Hupsel/Ag. Istoé; Gilson Oliveira/Divulgação PUCRS 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. PROJETO: BOLSA ACADEMIA
    PROJETO: BOLSA ACADEMIA Caros amigos (as) a obesidade é um grande problema para muitos brasileiros, está na hora do governo fazer campanhas e investir numa qualidade de vida melhor, para essas pessoas, que sofrem na fila do SUS, para serem tratadas. Pensando nisso, gostaria de sugerir um projeto, que pode mudar para melhor a vida de muitos obesos. Seria O BOLSA ACADEMIA, onde depois de um tratamento médico no SUS, o obeso, que conseguir perder peso, seria premiado com um cartão, para se matricular numa academia de ginástica, para continuar o seu tratamento e ficar em forma. As Academias, que participarem do projeto, poderiam ter descontos de impostos, todo mundo ganharia com esse projeto e o Brasil diminuiria o seu gasto com as doenças da obesidade. Com um pouco de criatividade e boa vontade, nos podemos salvar muitas vidas, basta ter vontade política. Pois, fazer o bem, faz bem.  

  2. Memória Terapeutica

    Gostei de haver tido a oportunidade de acesso a esses estudos. Não tinha conhecimento do interesse e/ou avanço das pesquisas nesse campo.

    Sou engenheiro e portanto, o que opino é apenas resultado de leituras, algumas pesquisas pertinentes e intuição relacionadas à minha própria experiência. Tenho amigos Parapsicólogos, lí um pouco sobre hipnose, regressão de memória, participei de alguns experimentos,etc… e temos oportunidades de conversar a respeito, pois tenho particular interesse em tais assuntos / temas.

    Acredito mesmo haver bastante fundamento nas pesquisas ora em andamento, creio ser correto o “caminho” buscados pelos pesquisadores cujos resultados poderá vir a ajudar muito no tratamento de várias doenças, entre as quais, “claustofobia”, “esquisofrenia”, “depressão”, etc.

    Parabéns aos especialistas, fazendo votos que prossigam nas pesquisas e alcancem resultados que possam vir a ser aplicado no menor espaço de tempo plausível. 

  3. Já existe um método de

    Já existe um método de psicoterapia chamado EMDR que processa as memórias traumáticas, com resultados efetivos e duradouros em poucas sessões. Esta abordagem foi criada pela psicóloga americana Francine Shapiro há cerca de 25 anos, com aplicação em mais de 70 países e com fundamentação científica.

    Foi recomendado pela OMS como método de referência para tratamento de transtorno de stress pós-traumático. Suas aplicações, entretanto, vão muito além, e existem trabalhos publicados sobre resultados impressionantes não apenas com grandes traumas, mas também em problemas como depressão, síndrome do pânico, drogadição, fobias, luto, obesidade, compulsões, etc.

    A base do trabalho é justamente o processamento das memórias que ficaram “congeladas” no momento do trauma ou de vivências dolorosas ao longo da vida.

     

    Mais informações em : http://www.emdrbrasil.com.br

  4. Academia de Ginástica

    Uma grande ajuda no tratamento que vejo é a academia de ginástica. Malhar ajuda no metabolismo. Não sou especialista, mas é muito bom quando se faz um exercício com frequencia.

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