Uma estrela que desafia a imaginação, por Helio Rocha-Pinto

Às vezes uma observação astronômica rende algo mais interessante e inesperado do que o objetivo inicial que a motivou. A lista de importantes descobertas acidentais é longa e data de, pelo menos, o século XVII, quando Galileu descortinou o sistema de satélites de Júpiter, as fases de Vênus, as montanhas da Lua e as manchas solares.

Uma descoberta anunciada nesta semana candidata-se a ser a mais recente adição a essa notável lista: uma estrela que teria, em sua órbita, objetos diversos cuja natureza ainda não foi possível precisar. E justamente por isso deu azo a diversas hipóteses que incluem até mesmo esferas de Dyson, uma espécie de artefato coletor de luz que se especula ser factível de construção por civilizações que dominem tecnologia extremamente superior à nossa.

A estrela em questão se chama KIC 8462852 e é uma das 150 mil estrelas monitoradas pelo telescópio espacial Kepler ao longo dos últimos 4 anos.

O telescópio Kepler foi lançado com equipamentos desenvolvidos para medir pequenas variações de brilho na luz das estrelas. A maioria dessas variações se deve a fenômenos físicos internos das estrelas, como os chamados estelemotos, os sismos estelares, análogos aos sismos terrestres. Outras variações se devem à presença de manchas estelares, fruto da atividade magnética da estrela, tais como as manchas solares. Contudo, as variações de brilho estelar mais empolgantes, tanto para cientistas, quanto para o público leigo, são aquelas produzidas pelos trânsitos planetários, quando um corpo em órbita da estrela bloqueia a luz de parte desta. Em termos mais populares, um trânsito é um eclipse — com a diferença de que apenas parte muito pequena da luz estelar é bloqueada, devido á diferença de tamanho entre estrela e corpo orbitante.

Pelo monitoramento da luz da estrela, é possível identificar a origem da variação da luz. Esses fenômenos provocam perdas de luz que podem ser bem caracterizadas e estudadas. Tanto assim que Kepler já permitiu a descoberta de 1000 planetas extrassolares e de 3601 outros candidatos a planetas extrassolares que precisam ser confirmados com observações adicionais.

Eis que KIC 8462852 estava no meio dos dados. Ela  chamou a atenção dos pesquisadores porque sua luz variou por até 20% de intensidade nos últimos 4 anos, durante períodos que duraram de 5 a até 80 dias. Algumas dessas variações de luz mantiveram periodo regular de cerca 20 dias até desaparecerem.

Os cientistas que estudaram os dados cogitaram que as medidas deviam estar erradas, talvez por falha mecânica no telescópio Kepler. Todavia, nenhum erro de medida foi encontrado.

O padrão de luz sugere que há uma grande quantidade de matéria que circunda a estrela, bem próximo de sua superfície. Isso seria esperado se a estrela fosse jovem, pois estrelas recém-nascidas têm esse disco de material que sobra da formação estelar. Porém a estrela não é jovem, mas sim de dona de uns poucos bihões de anos de vida.

A situação é muito confusa. Se a natureza tivesse depositado cegamente esta confusão de destroços em torno da estrela, tal deveria ter sido feito recentemente, do contrário, a gravidade já teria agido para dispersar o material. Seguindo essa ideia, os cientistas da Universidade de Yale publicaram recentemente um paper em que descrevem esse bizarro padrão de luz. As hipóteses propostas exploram uma série de cenários que incluem os estilhaços de um “engavetamento” no cinturão de asteróides, sobras duma recente colisão entre planetas e uma esquadrilha de cometas que poderia ter sido ativada por alguma passagem estelar próxima.

Mesmo estes fenômenos seriam uma extraordinária coincidência, pois teriam de ter acontecido no curto espaço de tempo em que desenvolvemos a técnica de enviar telescópios ao espaço e fomos capazes de observar o acontecimento. Em termos cósmicos, é uma faixa de tempo desprezivelmente curta.

No entanto, seja qual for a explicação, há de ser rara, pois apenas essa estrela mostrou tal variação de luz, em meio a outras 150 mil monitoradas.

 

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Hipotética esfera de Dyson em torno duma estrela.

 

A raridade do fenômeno instigou outro grupo de pesquisadores a hipotetizar que os objetos em órbita possam ser artefatos construídos por civilizações inteligentes e extremamente evoluídas. Seriam, talvez, artefatos como as esferas de Dyson, construções de tamanho descomunal que englobariam a estrela, coletando grande parte de sua luz para convertê-la em fonte de energia. Há muito que se especula que civilizações extremamente avançadas poderiam ser capazes de desenvolver essas estruturas e que elas, se existissem, poderiam ser constatadas por variações de luz estelar.

Essa hipótese é cativante, mas talvez seja a mais improvável de todas. Contudo, não pode ser descartada de antemão. Justamente por isso, os cientistas de Yale e da Universidade Estadual da Pensilvânia preparam uma proposta de observação com radiotelescópios, para tentar captar eventuais transmissões em ondas rádio que provenham dessa estrela. Isso poderia refutar a hipótese das esferas de Dyson ou, quem sabe, alimentá-la com novos dados cuja explicação requeira o uso de especulações adicionais.

A ver e esperar.

Redação

14 Comentários

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  1. Se é para fazer especulação tem que se ir mais longe.

    O grande problema de todos aqueles que divagam sobre a presença de outras civilizações é total incapacidade de gerar novos paradigmas para civilizações que estariam, dentro da nossa escala de tempo mil dois mil ou centenas de milhares de anos, mais evoluídas do que a nossa.

    Fazendo uma analogia com a nossa civilização, eu perguntaria qual a capacidade de um homem do paleolítico em criar alguma concepção de como seria a nossa civilização nos dias atuais. Se considerarmos que a civilização do Paleolítico ocorreu há 10.000 anos, ou seja, o equivalente a uma pequeníssima fração da existência do universo.

    Fica claro que qualquer civilização que partindo de distâncias de milhões de anos luz chegasse até a Terra teriam uma defasagem de conhecimento muito maior do que o homem moderno do homem paleolítico.

    A partir destas constatações vejo toda estas representações de ET’s baixinhos, de grandes olhos, pilotando discos voadores são uma verdadeira projeção do máximo da nossa criatividade nos dias atuais, ou seja, uma fantasia de criança sobre amigos imaginários.

    Se existe vida inteligente em locais distantes do Universo, que acho que deve existir, provavelmente se tiverem algum interesse científico em acompanhar a nossa civilização provavelmente agirão como no mínimo agem os biólogos ou zoólogos quando observam a vida selvagem, olham de tal forma que a sua presença não seja percebida e não atrapalhe a observação.

    Quanto ao avistamento de pequenos ETs, baixinhos com grandes olhos, ou mesmo disco voadores, pode até ser uma civilização avançada com grande senso de humor que coloque algo que nós pensamos e desejamos para ver como reagimos, seriam os grandes debochados do Universo.

    1. Ets

      Prezado  redmaestri, eu acredito no que disse Carl Sagan: se existir uma civilização em outro planeta muito mais evoluida que a nossa e com capacidade para se transportar até a Terra, temos que torcer ou rezar para que não nos descubram, porque fatalmente seremos eliminados da face da Terra.

  2. Para nos, espíritas, ha

    Para nos, espíritas, ha outros mundos habitados no universo. Seres compostos por materia diferente da que conhecemos. ” Há muitas moradas na casa do Pai”.  

  3. Especulações sensacionalistas

    Especulações sensacionalistas são sempre temerárias porque estimulam a crendice e o misticismo. É óbvio que também há um lado bom nas especulações, ao abrir novos horizontes para pesquisas, mas especulações em geral sempre deveriam vir acompanhadas de um alerta muito explícito sobre a pssibilidade do fenômeno ser devido a alguma causa perfeitamente natural ainda não identificada.

    1. No próprio texto

      === Essa hipótese é cativante, mas talvez seja a mais improvável de todas. ===

      === As hipóteses propostas exploram uma série de cenários que incluem os estilhaços de um “engavetamento” no cinturão de asteróides, sobras duma recente colisão entre planetas e uma esquadrilha de cometas que poderia ter sido ativada por alguma passagem estelar próxima. ===

  4. Fraco o teste da hipótese da esfera de Dyson

    A esfera de Dyson foi pensada como uma hipótese para solucionar o problema da aquisição de energia por uma civilização altamente desenvolvida, que visse escassear as demais formas de energia em seu próprio planeta. Assim ela construiria uma estrutura ao redor da estrela mãe para captar energia.

    Ora, parece lógico pensar que uma civilização desenvolvida a ponto de empreender tal tarefa teria, a muito tempo, abandonado quaisquer formas de transmissão de informações que sejam dispersivas de energia, tais como as emissões livremente difundidas do espectro eletromagnético (ex.: os nossos rádio, tv, telefonia celular, radifonia), a ponto de serem detectadas por rádio escuta aqui na terra. Reforça tal modo de pensar o fato de que, além de ter que se tratar de civilização muito além do nosso desenvolvimento, também atingiu esse  patamar em um contexto de restrição energética. Note que mesmo na terra, estamos migrando para formas de transmissão de dados mais energeticamente concentradas ou colimadas, tais como por fibra óptica ou feixes de laser.

    Ou seja, radio-escutar a estrela em busca de tais sinais seguramente não dará em nada, resultando em um experimento inconclusivo.

    Restaria, em tese, uma possibilidade: A emissão proposital pela suposta civilização. Parece hipótese igualmente remota. Primeiro porque, existindo esse desejo de comunicação tal civilização já teria sido percebida. Segundo, sendo muito mais desenvolvidos já teriam percebido que a melhor política é passar despercebido, ao invés de mandar a desconhecidos indícios da própria existência (aliás, mais um motivo reforçando o argumento contra a escuta de emissões involuntáras, pois buscariam ocultá-las). Notar que stephen hawking já criticou nossas tentativas de mandar indícios de nossa existência ao espaço exterior, pensando em nossa segurança.

    1. Em termos…

      Intra-planetariamente, até concordo com você. Temos fibra optica (que é meio) chegando até mesmo a nossas casas, carregando a luz de leds ou lasers. Mas extra-planetariamente, ainda não há um meio eficiente de se fazer tais transmissões. E até onde sei, ainda temos muitos satélites (de todos os tipos) em órbita, e inevitavelmente as transmissões a eles destinadas escapam também para o espaço.

      Por outro lado, por conta de questões puramente comerciais e de segurança, a maior parte das transmissões via rádio hoje em dia ocorre de maneira digitalizada, comprimida e, também, criptografada. Por si só a associação de digitalização e compressão já torna qualquer mensagem enviada praticamente indistinguível de ruído de fundo; a associação de criptografia a essas duas técnicas torna nossas mensagens que enviamos ao cosmos involuntariamente praticamente impossíveis de serem detectadas, quanto mais decifradas.

      Quanto à nossa segurança, qualquer civilização cientificamente muito mais avançada que a nossa poderá chegar aqui quando e como quiser, se for de seu interesse. Transmitindo (e sendo detectados) ou não, nossas chances de sobrevivência a uma civilização muito mais avançada e hostil seriam praticamente nulas.

      Finalmente, é necessário lembrar que o que quer que estejamos vendo e seja proveniente dessa estrela, é algo que ocorreu no passado; mais exatamente, a 1480 anos atrás (a distância dessa estrela ao nosso sol é 1480 anos luz, ou 14.001.984.000.000.000 km, ou aproximadamente 14 quatrilhões de quilômetros).

  5. O assunto interessou pq a

    O assunto interessou pq a forma remete a uma mandala e poderia se chamar Mandala de Dyson Sempre achei essa coisa de mandala um assunto por demais esotérico mas näo sei pq cargas dágua passei a me interessar pela constatação de mandalas e essa imagem do post me remeteu a forma de uma mandala

    Tags: Mandala, esfera, giro, teia, colméia

    [video:https://m.youtube.com/watch?v=K-ehcfp-3OI%5D

  6. Hélio, fiquei fascinado

    Hélio, fiquei fascinado quando li pela primeira vez as especulações de Dyson. Michio Kaku cita um russo que estabelece modelos para explicar o paradoxo de Fermi (sobre o porque de não estarmos lidando com multidões de turistas extra-terrestres). Na verdade, este paradoxo só existe se supormos que muitos milhares de pessoas estão mentindo ou fantasiando sobre aparições de UFOs. Não posso chancelar ou negar tais aparições, mas acho pouco científico partir da doutrina que essas coisas são necessariamente falsas. 

    Creio que tal posição tão forte derive do fato que o exclusivo modelo darwiniano de evolução estaria em dificuldades se a panspermia além de sistemas planetários não for comprovada e a vida abundar no Universo. 

  7. Pedido de informação

    Lamento, mas quando pede sua página só penso no facebook, porque é o unico meio de cominicação elém do skype e mail que eu costumo aceder.

    Gostava de contactar directamente, pois temos observado algumas coisas, mas quando procuro na net sobre elas, só encontro sites pouco crediveis a falar do assunto, gostava de expo-los para saber se aí no Brasil alguém também já constatou.

    ex: dia 01/11/2015 eu e as pessoas que estavam comigo verificamos que as estrelas se ”deslocavam de forma rápida durante um certo tempo, vivo em Braga e contactei amigo no Porto (norte de Portugal) que foi á janela e verificou o mesmo. No dia seguinte verifiquei as noticias na net, google, youtube, etc e nada só os ditos sites com o fim do mundo entre outras coisas.

    É normal não haver comentários, pois penso não sermos só nós na altura a vêr o céu.

    Se tiver disponibilidade, gostava de têr a sua opinião e expor outra situação ocorrida.

    Atenciosamente

    Paula Sousa

     

    1. 2017

      Só vi essa sua mensagem hoje. Perdoe-me, pois não imaginei que haveria comentários meses após. Não recebo notificações dos comentários, neste blog. Pode me encontrar no facebook fazendo uma busca pelo meu nome Helio Jaques Rocha Pinto.

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