1ª Mostra de Cinema dos Quilombos acontece online com 8 filmes de temáticas étnico-raciais

Exibição é gratuita e vai até dia 05 de setembro; inscrições de novos filmes continuam abertas e podem ser feitas no site

Cena do filme “Olhar quilombola na comunidade indígena” (2018). Foto: Divulgação

Da Página do MST

1ª Mostra de Cinema dos Quilombos acontece online com 8 filmes de temáticas étnico-raciais

De 22 de agosto a 05 de setembro acontece online e gratuitamente a 1ª Mostra de Cinema dos Quilombos. A exibição é resultado parcial da pesquisa/levantamento iniciada em junho deste ano em parceria com as pesquisadoras Alessandra Brito e Maya Quilolo sobre o cinema feito nos quilombos no Brasil.

Até o mês de agosto, a Mostra recebeu mais de 40 inscrições de filmes realizados em quilombos e dirigidos por realizadores quilombolas, negros e brancos aliados às lutas antirracistas no país. As inscrições continuam abertas e podem ser feitas no site.

O objetivo do evento é mostrar a diversidade dos quilombos brasileiros existentes no campo e nas grandes cidades. A iniciativa pretende ampliar a visibilidade da pauta quilombola e dos processos de resistência dessas comunidades num cenário de crescentes ataques aos seus direitos constitucionais. “Esperamos que esse levantamento amplo da produção de cinema nos quilombos assente as reflexões sobre as vivências e resistências dessas comunidades que, juntamente com os povos originários indígenas, comportam as manifestações profundas do que chamamos de povo brasileiro”, diz Maya Quilolo, quilombola e curadora da mostra.

A 1ª Mostra de Cinema dos Quilombos contará com exibição de filmes, lançamento online do curta Nove águas (2019), de Gabriel Martins e Quilombo dos Marques, e lives com os cineastas quilombolas e realizadores dos filmes no canal do Cinecipó.

Compõem a programação do evento os filmes Sonhos de um negro (2004), de Danilo Candombe, uma das primeiras ficções dirigida por um quilombola; A Sússia (2018), de Lucrécia Dias; As contas do Rosário (2020), de Maycol Mundoca; Blackout (2016), com direção coletiva de Adalmir José da SIlva, Felipe Peres Calheiros, Francisco Mendes, Jocicleide Valdeci de Oliveira, Jocilene Valdeci de Oliveira, Martinho Mendes, Paulo Sano, Sérgio Santos, quilombolas dos Quilombos de Conceição Crioulas, Salgueiro e demais territórios do sertão brasileiro; Olhar caiçara na comunidade quilombola e Olhar quilombola na comunidade indígena (2018), com direção coletiva de Rafaela Araujo, Marina Albino, Alexandro Kuary, Patricia, Bianca Lucio, Eduardo Xexeu, Antonio Garcia, Fabio Martins e Rafael Guedes.

A escolha do mês de agosto para a realização da 1ª Mostra de Cinema dos Quilombos visa homenagear dois marcos fundamentais na discussão étnico-racial no Brasil. A criação da Fundação Palmares em 22 de agosto de 1988, principal instituição pública responsável pela promoção e preservação da arte e da cultura afro-brasileira e pela certificação das comunidades quilombolas, que em seus 32 anos de existência registrou mais de 3.168 comunidades quilombolas.

A outra data é 31 de agosto, aniversário da Conferência de Durban, ocorrida em 2011 na África do Sul e que reuniu mais 173 países e 16 mil delegados. A Conferência de Durban foi de extrema importância para o reconhecimento internacional do que hoje conhecemos como Estatuto da Igualdade Racial e Políticas  Afirmativas.

O campo do cinema ainda enfrenta dificuldades para garantir o acesso ao cinema às comunidades negras e indígenas. “Filmes como ‘Blackout’ e ‘Nove Águas’ têm em comum o fato de serem realizados em contextos de oficinas e a presença destas obras na Mostra chama a atenção para a necessidade de que se ampliem as atividades formativas em audiovisual nas comunidades tradicionais”, explica Cardes Amâncio, coordenador do evento.

A 1ª Mostra de Cinema dos Quilombos destaca o chamado em fluxo contínuo para recebimento de filmes de quilombos, abrindo caminho para mostras futuras. “Temos visto em parte dessa filmografia uma pulsão de rememoração dos tempos passados e também o desejo de denúncia em torno das ameaças que rondam o presente nas comunidades. Ampliar o debate em torno dessas imagens, por meio de mais mostras e rodas de conversa, nos permite discutir o próprio conceito de história”, afirma a pesquisadora e curadora Alessandra Brito.

Nas palavras da ativista Beatriz Nascimento (1989), “É importante ver que, hoje, o quilombo traz pra gente não mais o território geográfico, mas o território a nível (sic) de uma simbologia. Nós somos homens. Nós temos direitos ao território, à terra. Várias e várias e várias partes da minha história contam que eu tenho o direito ao espaço que ocupo na nação (…).”

Programação da Mostra de Cinema dos Quilombos

Filmes:

Sonhos de um negro (Danilo Candombe, 2004): O filme se passa nos tempos de cativeiro, com a vida sofrida dos negros trabalhando aos olhos do Feitor. Um sonho cheio de alegria e união. Um sonho de liberdade de um negro que acorda com a dor de uma chibatada, mas que ainda assim espera sua
libertação.

Olhar caiçara na comunidade quilombola e Olhar quilombola na comunidade indígena (Rafaela Araujo, Marina Albino, Alexandro kuary, Patricia, Bianca Lucio, Eduardo xexeu, Antonio Garcia, Fabio Martins, Rafael Guedes, 2018): Em 2018, em parceria SESC Cultural Paraty/RJ, foi realizada a ação “Trocando Olhares”, em que integrantes das comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas que criaram seis curtas metragens que tratam das questões ligadas ao território. Essa é a oportunidade de conferir esses diálogos cinematográficos.

A Sússia (Lucrécia Dias, 2018): Ao som de caixas, pandeiros e bumbos, mulheres e homens de todas as idades cantam, tocam, batem palmas, dançam, recriam as tradições e recontam sua própria história na Comunidade Quilombola Lagoa da Pedra.

As Contas do Rosário (Maycol Mundoca, 2020): Apresentação da trajetória do grupo de Manifestação Afro-Brasileira “Moçambique Zumbi dos Palmares”, que anualmente se apresenta na Congada, um cortejo popular
realizado há séculos por descendentes de africanos em solo brasileiro. O grupo se situa em um quilombo urbano de onde emanam narrativas contra-hegemônicas.

Blackout (Adalmir José da SIlva, Felipe Peres Calheiros, Francisco Mendes, Jocicleide Valdeci de Oliveira, Jocilene Valdeci de Oliveira, Martinho Mendes, Paulo Sano, Sérgio Santos, 2016): Quilombo de Conceição das Crioulas, Salgueiro, sertão pernambucano, nordeste do Brasil. Um filme sobre o invisível.

Nove águas (Gabriel Martins e Quilombo dos Marques, 2019): Em 1930, Marcos e seu grupo de descendentes de escravizados saíram do Vale do Jequitinhonha rumo ao Vale do Mucuri. Fugindo da seca, da fome e da violência no campo, os quilombolas buscavam um novo território para construir sua comunidade. Dos tempos do desbravamento aos atuais, a história conta a luta por água e terra protagonizada pelos moradores do Quilombo Marques, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais.

Lives:

Lançamento online do filme “Nove águas” com a participação dos moradores do Quilombo dos Marques Delei,  Dione, Maria Eunice, Wiliam, Delmiro, José de Nego, Aristóteles.
Data: 22 de agosto, às 17h
Mediação: Gabriel Martins e Cardes Amâncio

Encontro de realizadores quilombolas: Danilo Candombe, Fábio Martins, Lucrécia Dias e Maycol Mundoca
Data: 27 de agosto às 17h
Mediação: Alessandra Brito e Maya Quilolo

Ficha técnica:
Coordenação Cinema dos Quilombos: Cardes Monção Amâncio
Curadoria: Alessandra Brito, Cardes Monção Amâncio e Maya Quilolo
Produção: Cardes Monção Amâncio e Maya Quilolo
Designer: Kenny Mendes
Site: Mirela Persichini

Redação

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