Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A alma está entre a luz e a matéria em “Anti Matter”, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

O que nos torna humanos? Personalidade? Memória? A existência da Alma? “Anti Matter” (2016) é mais um filme de ficção científica que busca essa especificidade humana, ao lado de uma tradição que vai da série de TV clássica Jornada nas Estrelas (o episódio “Mirror, Mirror” de 1967), passando pelo drama dos replicantes mais humanistas do que os humanos em “Blade Runner” (1982) até chegarmos ao gnóstico “Cidade das Sombras” (Dark City, 1998) no qual aliens tentam encontrar a alma humana. Poderá um dia a Ciência, através da mecânica quântica, encontrar a alma em algum ponto entre a matéria e a luz numa dobra do contínuo tempo-espaço? Esse é o tema de “Anti Matter”, uma narrativa minimalista, cerebral e com baixíssimo orçamento sobre jovens doutorandos em Química, Física e Computação se deparam com um estranho efeito colateral em um experimento com eletrólitos para baterias: a existência da alma.

Qual a essência humana? O que define a “humanidade” do animal chamado homem. O que nos torna animais distintos dos outros sobre a face da Terra? Individualidade? Personalidade? Memória? Alma? Emoções, Sentimentos? Inteligência?

Embora a Ciência seja um produto direto da inteligência humana, ironicamente esvaziou sua “humanidade” ao defini-la como a capacidade de um ser vivo se adaptar ao meio ambiente – de microrganismos até o “colaborador” em uma corporação que usa sua “inteligência emocional” para se adaptar aos cenários profissionais mutantes para ser eficaz e eficiente.

Ao mesmo tempo, o projeto das cartografias e topografias da mente (levado a cabo pelas neurociências, Inteligência Artificial e ciências computacionais) resume a memória, emoções e sentimentos a sinapses neuronais quantificáveis e localizáveis em regiões do cérebro. Processos bioquímicos quantificáveis através do código binário.

Enquanto a individualidade e a personalidade são diluídas e niveladas por outro produto da inteligência humana: os meios de comunicação.

Resta a alma, elemento irredutível, impossível de ser medido ou pesado. Por isso, a Ciência despacha a alma para o campo da fé e da religião. Nem a Filosofia lida bem com ela, preferindo trabalhar com a noção dúbia de “espírito”.

Mas na medida em que a Ciência se aventura nos paradoxos quânticos do universo subatômico, os mistérios dos interstícios da matéria são cada vez maiores. Talvez aí se encontre o fenômeno da alma e da própria humanidade. 

Esse é o tema do filme Anti Matter (2016), uma ficção científica cerebral, minimalista, com baixíssimo orçamento e ritmo lento, seguindo a trilha de filmes como Primer, Ex Machina e Cube

 

Três jovens doutorandos em Física, Química e Computação na Universidade de Oxford, envolvidos em uma pesquisa sobre eletrólitos para baterias, descobrem um estranho comportamento de elétrons: negando o princípio de Lavoiser de que na natureza nada se perde, tudo se transforma, atônitos os pesquisadores descobrem que partículas estão desaparecendo em experiências com baterias num pequeno laboratório. Ou estão se movendo? Mas para onde?

Dentro do paradigma da mecânica quântica, a resposta é irresistível: abriram um wormhole (“buraco de minhoca”) em escala microscópica no qual partículas são descolocadas por uma dobra do espaço-tempo.

É nessa campo de intersecção entre a Ciência experimental e a Metafísica que Anti Matter irá nos mostrar como cientistas se confrontam com a questão da existência da alma.

O Filme

Anti Matter acompanha a pesquisadora em Química Ana (Yaiza Figueroa), uma norte-americana de origem hispânica, os companheiros de experimentos Liv (Philippa Carson), uma especialista em computação e o físico Nate (Tom Barber-Duffy). 

Após o grupo descobrir o misterioso efeito colateral do experimento de eletrolise, Ana tenta não apenas estabilizar o buraco de minhoca. Ela pretende leva-lo para a escala macroscópica com o tele-transporte de pequenos objetos. De pequenas peças de mármore, passando para vasos de plantas passando para seres vivos como lagartas, pequenas aves e gatos.

Num pequeno laboratório sujo e bagunçado nos porões da Universidade, o grupo percebe que para estabilizar o wormhole terão que ter uma capacidade computacional muito maior do que os servidores da Universidade.

 

Liv, com seu conhecimento de hacker, configura um vírus para poder roubar o poder de processamento de outras máquinas e servidores ao redor do mundo, colocando-os à serviço da estabilização do pequeno buraco de minhoca do laboratório, capaz de tele-transportar objetos e pequenos seres vivos a poucos centímetros.

Nesse ponto o filme lembra o clássico O Homem do Terno Branco de 1951 (no qual um cientista descobre uma fibra indestrutível e que não suja, deixando em pânico a indústria têxtil com a durabilidade das roupas): os jovens pesquisadores acreditam que revolucionarão a história do transporte, das metrópoles e da matriz energética do planeta – imagine o pânico da indústria petrolífera e automobilística com o tele-transporte quântico…

 Porém o filme não desenvolve esse potencial tema político, preferindo uma guinada metafísica – ambicionando um potencial comercial para descoberta e a necessidade de conseguir investimento empresarial, sentem a necessidade de enviar um ser humano com sucesso através do wormhole.

Os jovens tiram a sorte no palito e Ana ganha a oportunidade de ser a cobaia humana para o experimento. A partir o pequeno tele-transporte quântico de Ana, Anti Matter dá uma guinada metafísica, abandonando a temática política que se desenhava.

Memória e Paranoia

Vemos Ana acordando no dia seguinte em sua casa. Aparentemente  tudo está normal no day after da histórica experiência. Mas percebemos algo diferente, a começar pela fotografia do filme que muda – tonalidade de cores mais fortes e contrastantes. Além disso, Ana percebe uma progressiva perda de memória de curto prazo.

O filme revive os insights de Memento (2000) de Christopher Nolan: Ana leva um bloco de anotações com lembretes e espalha cartazes com mensagens para si mesma.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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