Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Algoritmos, novos aliens e psicologia reversa por trás do filme “Bird Box”, por Wilson Ferreira

Por Wilson Ferreira

Há algum algoritmo do Netflix por trás do filme “Bird Box”? – pergunta-se a crítica especializada. Se algum tipo de Inteligência Artificial elaborou a narrativa do filme baseado em livro homônimo de Josh Malerman, certamente seus algoritmos devem estar bem atualizados com a nova tendência do subgênero “apocalipse alien”: Agora esses seres surgem furtivamente, com estratégias ambíguas que exploram, principalmente, as fraquezas humanas – medo, desconfiança, traição, ambição etc. Dessa vez, o gênio maligno alienígena veio explorar o maior ponto fraco sensorial humano na atual sociedade das imagens, do espetáculo e das mídias: a visão. Como se salvar anulando a visão numa sociedade que nos exalta a ver? “Bird Box” apresenta o ponto fraco da psicologia humana: a psicologia reversa – quando o aviso “não olhe!” torna-se uma persuasiva arma alienígena.

Desde que Bird Box (2018) foi lançado na plataforma de streaming Netflix, duas ironias surgiram na crítica especializada: (a) assim como vários outros filmes populares do Netflix, o filme parece que foi escrito a partir dos algoritmos da empresa pelo inchaço de subtemas logo nas primeiras sequências; (b) que Bird Box poderia tranquilamente se chamar “A Blind Place”, num trocadilho com o filme A Quiet Place (2018) com uma temática muito próxima – em Um Lugar Silencioso (2018) todos devem ficar mudos a qualquer custo. E em Bird Box, todos devem ficar de olhos vendados…

No final, o filme seria apenas uma variação engenhosa dos algoritmos Netflix. Mas, na verdade, Bird Box é baseado em um romance pós-apocalíptico homônimo por Josh Malerman, de 2014.

Mas se há algum tipo de ação da Inteligência Artificial que coleta dados das preferências dos usuários da plataforma de streaming, certamente esses algoritmos devem estar bem atualizados com as novas tendências dos subgêneros “invasões aliens” e “pós-apocalipse”.

Em postagens anteriores viemos destacando que produções como a série Colony (2016-17), o curta Final Offer (2018) e o filme Await Further Instructions (2018) vêm criando uma guinada nas narrativas pós-apocalípticas sobre aliens invadindo nosso mundo: não há mais invasões em massas como máquinas de extermínio nas quais os alienígenas imediatamente mostram seus rostos e intenções. Eles surgem furtivamente, com estratégias ambíguas que exploram, principalmente, as fraquezas humanas – medo, desconfiança, traição, ambição etc.

 

 

Sentidos humanos 

Ao lado disso, a sondagem dos sentidos humanos como força temática nos temas pós-apocalípticos (de aliens a pragas zumbis ou virais) vem ganhando força desde Fim dos Tempos(2008 – a percepção do vento soprando como ameaça de contaminação) passando pelo surpreendente Pontypool (2014 – no Dia dos Namorados, certas palavras inexplicavelmente estão contaminadas por alguma forma-viral-linguística – quando inadvertidamente faladas, o emissor vira um zumbi), até chegarmos a Um Lugar Silencioso (audição) e Bird Box (visão).

Se os algoritmos estão de fato por trás de Bird Box, então juntaram tudo isso como sugestão narrativa. Confirmando essa nova tendência da abordagem aliens + pós-apocalipse.

Dessa vez, o gênio maligno alienígena veio explorar o maior ponto fraco sensorial humano na atual sociedade das imagens, do espetáculo e das mídias: a visão. Como se salvar anulando a visão numa sociedade que nos exalta a ver? – além das telas da TV, qualquer ação telemática ou multimídia em nossos dispositivos móveis ou computadores sempre são mediados pelos ícones que devem ser vistos e tocados.

Aproveitando-se dessa peculiaridade de uma sociedade que elegeu a visão como o topo da hierarquia dos sentidos, os aliens inserem uma praga que enlouquece as pessoas, levando-as ao suicídio com aquilo que estiver mais próximo. Mas nada a ver com disseminação viral por sangue, ar ou corpos. Apenas a visão: enxergar para alguma coisa perdida no vazio que, na sinistra tática alien, mostraria os nossos medos mais profundos. Para então, levar a vítima a dar cabo de si mesma.

 

 

O Filme

Bird Box intercala duas linhas de tempo: a primeira que abre as primeiras cenas do filme cinco anos depois do apocalipse e num flashback dos primeiros dias quando tudo desmoronou.

Sandra Bullock é Malorie – de forma dura e direta, passa recomendações para um casal de crianças se manterem vivas numa viagem que farão através de um rio: jamais tire as vendas dos olhos para ver! Apressados e trôpegos, contando os passos previamente calculados, chegam a um barco e iniciam uma perigosa jornada.

Corta! Encontramos agora Malorie como uma expectante, ao mesmo tempo insegura e com um processo de negação com a própria gravidez. Com sua irmã Jessica (Sarah Paulson) dirigem-se a um exame pré-natal. Acompanham notícias na TV sobre relatos de suicídios em massa nas ruas que parecem ter surgido na Romênia, Rússia e Sibéria (Uhmmm!!!!! Sempre o perigo parece vir do Leste Europeu, dentro da lógica dos vilões RAVs – Russos, Árabes e Vilões em geral).

Retornando para casa, repentinamente pessoas começam a saltar de janelas ou dirigem velozmente na contramão. Caos absoluto e aterrorizante nas ruas – uma mulher bate insistentemente a cabeça em uma janela de vidro e outra calmamente se senta num veículo em chamas.

Até Jessica, ao volante, olhar fixamente para o nada e começar a ter um comportamento suicida na direção do carro. Malorie sobrevive e se reúne com um pequeno grupo de sobreviventes em uma casa. Lá encontra o rabugento e desconfiado Douglas (John Malkovich), Olympia, outra mulher grávida; o inevitável par romântico de Malorie, Tom (Trevante Rhodes), um veterano da Guerra do Iraque. Além de Sheryl (Jacki Weaver), Lucy (Rosa Salazar) e Felix (Colson Baker). 

 

 

Logo o grupo descobre o mecanismo por trás da loucura coletiva, fechando todas as janelas para que não possam olhar para o mundo exterior. Porém, batem à porta sobreviventes pedindo para entrarem para que possam se proteger. Mas descobrirão, da pior forma possível, que na verdade são espécies de “testemunhas” das maravilhas das imagens que os aliens reservam para nós – agentes duplos, mantido vivos, para arrastar ainda mais humanos ao suicídio em massa.

Numa engenhosa estratégia narrativa, as duas linhas de tempo (passado e presente) vão avançando até se encontrarem no período atual – a busca de Malorie, levando aquelas duas crianças através de um rio cheio de armadilhas, a um suposto último abrigo que sobreviveu ao fim do mundo.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

1 Comentário

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  1. O filme é muito bom!

    E a comparação com Um Lugar Silencioso é realmente inevitável.

    Outro filme sobre a (falta de) visão é Ensaio Sobre a Cegueira.

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