Cinema: O Informante

Resenha Crítica de Filme: O Informante 

 

 

Quando a verdade é inconveniente para um jornalismo mascarado Existe uma relação extremamente tênue entre o jornalismo televisivo e o cinema. Ambos são partes fundamentais dos meios de comunicação de massa que informam e entretêm. Há, no entanto, alguns pontos relevantes que os distinguem. A diferença entre ambos está, principalmente, na maneira como chegam ao público. O jornalismo tem como característica informar e propagar os fatos da realidade, o cinema existe para entreter, como principal função. O que muitas pessoas não sabem, ou mesmo não param para pensar, é que jornalismo televisivo e cinema, não raramente, mesclam-se de forma tão discreta, que acabam um tomando o lugar do outro, ou cumprindo ambos os papéis. Por isso, sempre defendo que o público precisa tomar mais cuidado ao acreditar piamente nos fatos jornalísticos, especialmente no jornalismo televisivo, que é o de maior credibilidade do público; assim como, em alguns casos, levar mais a sério a mensagem por trás das cenas dos filmes.
No filme O Informante existem algumas mensagens para as quais gostaria de chamar a atenção. Você se lembra do enredo ou o conhece? Conta o trecho da vida de um ex-cientista de alto cargo, Jeffrey Wigand (Russell Crown), que trabalhava em uma gigantesca empresa de tabaco dos Estados Unidos, e com receio, foi convencido pelo produtor Lowell Bergman (Al Pacino) a dar entrevista ao famoso e crível noticiário 60 Minutos, da empresa CBS, sobre um segredinho que os donos da empresa escondiam: além de saberem sobre os males que causa a nicotina aos fumantes, eles ainda manipulavam as propriedades para aumentar ainda mais o vícioDepois de questionar os donos da empresa e ser demitido, Jeffrey entra no dilema de contar ou não o segredo ao público. Reluta por um tempo, e passa por ameaças, mas por fim decide, que pelo bem da sociedade e de sua própria consciência, deveria quebrar o contrato de sigilo que assinou enquanto trabalhava na empresa, enfrentar as ameaças que vinha recebendo e conceder a entrevista. O que não imaginou Jeffrey é que, depois de tudo por que passou, ameças, discórdia no lar, medo, um dilema infernal e, por fim, a perda da família, a produção decidiria não veicular a entrevista, por ordens de “cima”, que alegou que por segurança e “ética”, já que havia um contrato de sigilo, a CBS News deveria deixar pra lá, o que evitaria que a CBS Corporation enfrentasse processos jurídicos que poderiam prejudicá-la seriamente. Lowell, extremamente contrariado, não deixou quieto e fez de tudo para que a CBS veiculasse a notícia, afinal, pelo que eles estavam trabalhando ali? Lowell estava defendendo os fatos bombásticos que havia descoberto, mas sozinho, pois ninguém mais queria se dispor a arriscar a pele pelo bem de milhões de pessoas, inclusive as viciadas em cigarro, que assistiriam ao programa. Essa produção é, quem sabe, a que mais mostra as faces do jornalismo quando a verdade não é conveniente para a própria imprensa. Por isso, repito, o público precisa ter mais cuidado em confiar tão cegamente nela. Mesmo assim, não se pode ignorar a complexidade do assunto, afinal, deve ser difícil ter que escolher entre ser fiel a uma fonte, que arruinou a vida pelo bem da sociedade, ou simplesmente ignorá-la para não correr o risco de acabar com uma das maiores empresas jornalísticas do mundo. Claro que na teoria a maior parte dos leitores escolheria ser ético à verdade e fiel à fonte, mas na prática, todo mundo, no caso retratado pelo filme, ficou numa saia justa e minúscula. No final, a verdade ainda venceu e a CBS mostrou as caras da empresa de tabaco. Mas Lowell não se conformou com a covardia da equipe de jornalismo e pediu demissão. Quantos de nós, jornalistas, faríamos isso? O cinema mostrou o que ocorre em off nas empresas jornalísticas. Não se pode nem estimar quantas dessas situações já aconteceram em cada redação no mundo todo. A verdade ‘verdadeira’ não se dita pelo jornalista. Apenas fragmentos dela estão nas páginas dos jornais, nos noticiários da TV ou nas ondas do rádio. E muitos fatos importantes estão de fora. Esse é um de muitos casos, em que o cinema tomou para si o papel de informar, o papel que seria da imprensa. E as informações viajaram longe. Em muitos casos semelhantes, em que a empresa jornalística recebeu ameaças para coagi-la a não expor a realidade, o jornalismo ficou de fora, já que o motivo pelo qual existe foi ignorado, e outros se sobrepuseram ao que era mais importante, os fatos de extrema relevância social.  O filme em si é maravilhoso. Um dos que valem a pena assistir várias e várias vezes. Não somente pela brilhante interpretação dos atores, mas porque em cada repetição, é possível se observar algo novo, que possa contribuir para o caráter. Uma das falhas foi, sem dúvida, o tempo prolongado da produção, por se tratar de uma história real, enrolada e, um tanto monótona. Não que o tempo tenha me incomodado, pois pra mim tudo ficou ótimo, perfeito, mas já ouvi e li várias críticas em relação ao excesso de tempo do filme. Afora isso, tudo no filme ficou redondo, atrativo, emocionante e inteligente. 

 

 

http://marciadenardi.blogspot.com.br/2011/09/minha-critica-de-cinema-o-informante.html

Redação

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