Cinema: Pantera Negra, o serviçal do Capital

 

Enviado por Antonio Ateu

do Diário da Causa Operária

Pantera Negra – Um super-herói contra a luta do povo negro

por Afonso Teixeira

Fui ao cinema assistir ao Pantera Negra, filme baseado em uma antiga personagem dos quadrinhos da Marvel Comics. Havia uma enorme fila de negros aguardando uma sessão especial e exclusiva. Estavam ali para ver um super-herói negro. Não sei o que passou na cabeça daquela gente depois de ver o filme, mas deve ter sido decepção.

Pantera Negra não é um filme que representa a luta do negro. Ao contrário: é um filme que mostra que o negro tem de baixar a cabeça, sem lutar por seus direitos, e contar que, algum dia, venha alguém tão benevolente quanto o Pantera Negra para ajudá-lo.

Mas, comecemos pelo próprio filme. Apesar dos efeitos especiais e das cenas de ação bem trabalhadas, a história é uma xaropada. Parece luta-livre. O mocinho apanha no começo para bater no final. Os espectadores sabem que é isso o que vai acontecer no próprio momento em que a luta começa. É o chavão mais manjado do cinema.

E o vilão que bate no mocinho é um negro que quer usar a tecnologia de Wakanda – um reino superdesenvolvido na África – em favor da luta dos negros do mundo inteiro contra a opressão. Mas o mocinho, o Pantera Negra, é contra. Wakanda tem de ficar oculta do mundo, defender as suas fronteiras e não partir para uma luta, que, segundo ele, faria de Wakanda um império.

Mas quando o “vilão” toma o poder e começa a pôr em marcha seu plano de emancipação, o Pantera Negra volta e, com ajuda da CIA (norte-americana – só para enfatizar) põe abaixo os planos do vilão.

E, ao final, para se redimir, o Pantera Negra construirá uma entidade filantrópica para ajudar os negros. Afinal, a única solução para os negros oprimidos é esta: contar com a benevolência dos ricos e verdadeiros donos do poder para ajudá-los caridosamente.

A mensagem do filme é clara. Chega dessa história de querer tomar o poder, lutar por direitos. Isso é coisa de gente do mal. O negócio é viver da esmola dos ricos e das migalhas de seus banquetes.

Afonso Teixeira  Formado em Letras na Universidade de São Paulo, é tradutor, e colunista do Diário Online Causa Operária e do Semanário Nacional Causa Operária. Milita há mais de 30 anos no PCO.

 

Redação

11 Comentários

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  1. Não vi o filme, mas algumas

    Não vi o filme, mas algumas criticas francesas vão nessa direção. Alias, um critico disse que o vilão tem mais empatia com a plateia do que o heroi… Essa visão do que o negro e o pobre precisam ser — sempre — assistidos senão não conseguem sair de sua condição é mais uma fabula de como os bons brancos são generosos neste mundo sem Historia.

    1. não….

      E dá-lhe Patrulha da Gestapo Ideológica. O filme realmente é um ‘pastelão’. Como todo filme de super heróis. Mas sinaliza o Mundo que virá. Não o que ficou para trás. O passado só serve como lição. Mas existe um Fanatsimo Ideológico Tupiniquim que não consegue abandoná-lo.  

  2. “ao final, para se redimir, o

    “ao final, para se redimir, o Pantera Negra construirá uma entidade filantrópica para ajudar os negros. Afinal, a única solução para os negros oprimidos é esta: contar com a benevolência dos ricos e verdadeiros donos do poder para ajudá-los caridosamente”:

    Eu vi, meninos.  Eu vi essa benevolencia todinha.

  3. Apenas decepção

    “Não sei o que passou na cabeça daquela gente depois de ver o filme, mas deve ter sido decepção.” Você essa que após décadas ser ter a oportunidade de ver um elenco composto por sua maioria de negros, protagonistas e com a enorme evidência que a obra foi colocada, o único sentimento seria a decepção? Talvez caiba uma reflexão, mas nesta obra a mais em jogo. Percebo que há nesta crítica há um desejo de por no lixo sentimentos que apenas  quem nunca se sentiu representado na grande tela pode sentir

  4. Apenas decepção

    “Não sei o que passou na cabeça daquela gente depois de ver o filme, mas deve ter sido decepção.” Você essa que após décadas ser ter a oportunidade de ver um elenco composto por sua maioria de negros, protagonistas e com a enorme evidência que a obra foi colocada, o único sentimento seria a decepção? Talvez caiba uma reflexão, mas nesta obra a mais em jogo. Percebo que há nesta crítica há um desejo de por no lixo sentimentos que apenas  quem nunca se sentiu representado na grande tela pode sentir

  5. Uma das piores críticas que
    Uma das piores críticas que eu já vi. Em nenhum momento do filme o herói é auxiliado pela CIA… O animal que escreveu a crítica esqueceu de falar da discussão sobre colonialismo, imperialismo e identidade negra, que o filme se propõe a fazer… Estou cansado desse hate. Essa gente racista que não aguenta um filme protagonizado por negros fazendo sucesso… deve ser bem incômodo… Representatividade negra veio para ficar…

  6. Colega, se ver no cinema sem ser bandido é revolução.

    Caro Afonso

            Inicialmente gostaria de agradecer a sua branquitude por explicar o filme, eu mulher preta jamais teria chegado a esta conclusão sem sua alva ajuda.  Mas gostaria de me atrever em desenrolar um pouco este debate:

     1 – sociedade que tem como norma a branquitude, masculinidade e heterossexualidade, ter um filme pipoca com uma temática preta, feminina (apesar de ser um herói), e diversa já rompe paradigmas.

    2- Só quem é preto em uma sociedade que acha e supra sumo da beleza é a Xuxa, consegue viibrar com os cabelos apresentado pelas heroinas deste filme, várias alunas minhas estão adotando o visual natural e isso reforça, porque é um filme da Marvel.

    3- Fique calmo com que eu vou falar agora, respire fundo. Nós pretos também temos diversidade de opiniões o movimento negro não é uniforme, TChala é um personagem de origem nobre que foi educado para o discussão racial ser apenas didática e diplomática, é uma figura apaziguadora, inúmeros preto são assim. 3a-  Killmonger não foi educado pra ser diplomático é emocional e age desta forma quando lembra que suas dificuldades e privações que marcaram a sua vida por ser preto e periférico, para combater o racismo é radical, inúmeros pretos são assim. 3b- M baku por este personagem  branco nem falava porque não vive nossas dores, não entende o contexto, não é capaz de ser empático sobre esta questão por medo de perder as rédias da narrativa. Inúmeros pretos são assim.

     

            Enfim mais uma vez quero agradecer a sua incrivel opinião alva, pálida, branca e desbotada, porque a revolução está no pátio da escola onde dou aula, no recheio agora existe vários heróis e heroinas, de inúmeras cores

    Obrigado 

     

        

  7. Vaia de chato não vale

    Gente de mal-humor não deveria escrever crítica de cinema, nem de qualquer tipo de manifestação artística.

    O filme é um roteiro pastelão como todo filme da Marvel. Se as pessoas negras que assistiram ao filme fossem decepcionar-se por isso, todos os ditos “brancos” deveriam odiar os filmes – mais pastelões, previsíveis e melodramáticos de todos – sobre o Capitão América, aquele suprassumo da arrogância loira estadunidense.

    Pantera Negra diz muito mais do que apenas socos, disparos e explosões. Fala sobre como uma nação – seja qual for, e qual regime de governo adote – pode (e deve) resolver seus conflitos internos sozinha, sem interferência externa. O fato de esta nação estar escondida no coração da África é um respiro poético para nos dizer: há outros mundos possíveis, a história não precisa(va) ser essa tragédia que é.

    Não reparou que, mesmo sabendo das intenções de Killmonger, TChala aceita combater pelo trono, respeitando a tradição de Wakanda, e nesse combate, mesmo na iminência de ver seu rei ser morto, o povo se abstém de intervir, e alguém – não lembro qual personagem – ainda questiona: não há nada que possa ser feito?, e o silêncio é a resposta, pois todos aceitam e respeitam as regras de conduta em que foram criados? E que se Tchala retorna para retomar o trono é porque, segundo essas regras, não foi morto nem se rendeu? Bem diferente de alguns outros “vingadores” que se acham no direito de burlar as leis em nome de um “bem maior”.

    Não vou nem falar sobre as críticas aos séculos de assassínio, sequestro, estupro, escravidão… pelas mãos da Europa, que já ficam bem óbvias para quem assistiu ao filme, nem sobre o discurso de Tchala à ONU, que tem mais a dizer que todos os atuais estados-membros juntos.

    Não fosse tudo isso, só a fala final de Killmonger – como de costume a Marvel põe os melhores ditos na boca do vilão – já paga o ingresso. Mas talvez você tenha deixado a sala antes.

     

    1. Resposta àquele que não é chato

      Há que fazer alguns reparos aos teus comentários. Em primeiro lugar, gente de mal-humor pode sim fazer crítica de cinema; não pode é ler crítica de cinema. Se assim fosse, grandes artistas, como Bernard Shaw e James Joyce, grandes críticos com o Dr. Johnson e filósofos como Schopenhauer e Nietzsche não poderiam se manifestar. Mas, por outro lado, assiti ao filme de muito bom humor e até comi um pouco de pipoca.

      Quando dizes que “o fato de essa nação estar escondida no coração da África” ser “um respiro poético”, quero lebrar-te que o céu também é. É o lugar imaginário criado pelos opressores para que os oprimidos não lutem pelos seus lugares no mundo.

      E, se, como dizes, T’Chala aceita combater pelo trono, apanha feio e, depois, retoma o trono, não por meio do mesmo desafio que o tirou, mas por meio de uma conspiração e do assassinato de Kilmonger. O engraçado é que ninguém questionará T’Chala sobre isso.

      E, para concluir, eu também gostei da fala de Kilmonger, e até a teria levado a sério, não fosse ela um estereótipo, pois a verdadeira mensagem do filme não são os anos de escravidão nem tampouco e opressão aos negros, mas sim que os negros devem abaixar a cabeça e aceitar o mundo como ele é.

      A propósito, assisti ao filme até o final e, depois, assisti a ele outra vez.

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