Costa-Gravas desnuda o 11 de setembro chileno

do Blog de Jota A. Botelho no GGN
FILME ‘DESAPARECIDO, UM GRANDE MISTÉRIO’ de Costa-Gravas, 1982


 

 
CRÉDITOS:
Título Original:
Missing
Título no Brasil: Desaparecido, um grande mistério
País/Ano: EUA, 1982
Direção: Costa-Gravas
Roteiro: Costa-Gravas e Donald Stewart
Elenco: Jack Lemon, Sissy Spacek, Melanie Mayron, John Shea
Gênero: Drama, 117 min
Idioma/Legenda: Espanhol

SINOPSE: 


Fotos: 1- Costa-Gravas no set de filmagens; 2- Costa-Gravas, Jack Lemon e Sissy Spacek. 

Missing (Desaparecido, um grande mistério ), filme de 1982, produzido nos EUA e dirigido por Costa-Gavras. 
O roteiro é baseado no livro The Execution of Charles Horman: An American Sacrifice, lançado em 1978 por Thomas Hauser, que conta história verídica de Charles Horman que vivia no Chile na época do golpe de 1973 que depôs o presidente Salvador Allende. O filme narra a história de Charles Horman, um jovem escritor e jornalista americano que vive com a esposa Beth em Santiago durante o governo da Unidade Popular. Charles vive à custa dos artigos de jornais como The New York Times e The Washington Post que traduz para uma publicação considerada subversiva e, assim como todos os membros da redação desta, é levado para interrogatório durante o golpe de estado liderado pelo então comandante das Forças Armadas chilenas, general Augusto Pinochet. Mas Charles não retorna para casa. Ed, o pai de Charles, desloca-se para o Chile e, junto com Beth, retoma os passos do filho antes de desaparecer. Ambos buscam o apoio de órgãos governamentais tanto dos Estados Unidos quanto dos chilenos, mas não o recebem de forma adequada e, pelo contrário, o que deveria ser um ponto de apoio se torna um obstáculo. Assim sendo, Ed, até então alienado sobre a política externa, começa a perceber que existem fortes indícios de que o governo de sua nação contribuiu para o golpe e, consequentemente, para o desaparecimento de seu único filho. Em uma discussão com os membros da embaixada dos EUA no Chile, Ed se lamenta por não ser cidadão de um país cuja embaixada ofereceu asilo aos perseguidos políticos. Por fim, Ed e Beth descobrem que Charles foi assassinado no Estádio Nacional e enterrado numa parede, uma maneira comum da repressão chilena esconder os corpos dos torturados. Revoltado, Ed tenta inutilmente processar Henry Kissinger, o então Secretário de Estado de seu país.

COMENTÁRIOS 

DESAPARECIDO, Um grande mistério (Missing)

O CINEASTA COSTA-GRAVAS


 

Os filmes de Costa-Gavras são como uma aula de história. Uma vez que o diretor domina todas as técnicas de montagem e edição, suas obras ganham força e permanecem como verdadeiros instrumentos documentacionais. Com “Desaparecido”, de 1982, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, não é diferente. O roteiro é baseado na história de um jornalista americano que é dado como desaparecido após um golpe militar em um país da América Latina. Seu pai, conservador cristão, e sua esposa, envolvida com as questões sociais, partem em busca da verdade por trás do desaparecimento. Passando por cima de burocracias, interesses políticos e cadáveres espalhados pelas ruas, a busca vai se tornando cada vez mais complicada. Não há referência ao local, mas é sabido que o fato aconteceu no Chile, durante o regime ditatorial de Pinochet. Talvez, a opção do diretor em não deixar nomes explícitos tenha sido pela universalidade do tema. O enredo se repetiu em quase toda a América Latina, e poderia ser a história de qualquer regime ditatorial apoiado pelos Estados Unidos.  Apesar disso, o filme foi filmado no México, na escolha, porque o conteúdo dito subversivo iria desagradar os produtores hollywoodianos que apostavam e aguardavam ansiosos o primeiro filme “americano” de Costa-Gavras.  A trilha sonora do Vangelis, que assina também a de “Blade Runner”, dá o tom de suspense necessário para manter o espectador grudado na tela, com tons graves e longos. Jack Lemmon ganhou a Palma de Ouro de Melhor Ator e Sissy Spacek já era, naquela época, uma excelente atriz. O resultado foi tão arrebatador que, durante muito tempo, em muitos países, “Desaparecido” foi proibido. Inclusive no Brasil, por ter mandado ao Chile soldados especialistas em tortura e ajudado a financiar o Golpe de Estado. Os produtores de Hollywood, provavelmente muitos deles, não devem ter ficado nada satisfeitos.

A BRUTALIDADE DO GOLPE DE ESTADO – UM VERDADERIO GENOCÍDIO
 


 
Em Desaparecido, um grande mistério, filme baseado em fatos reais, Sissy Spacek vive Beth, a mulher de um americano, Charlie, um escritor e jornalista americano, que desapareceu no Chile durante o período de um golpe que fez com que Augusto Pinochet subisse ao poder e Salvador Allende fosse deposto na década de 70. Durante esse período conturbado, a população do país sofria com toques de recolher, humilhações, tortura, censura e muita violência. 

 
No filme, Jack Lemmon interpreta o pai de Charlie, Ed, que sai dos EUA para o Chile para procurar o filho que desapareceu num dia depois de se desencontrar com a mulher. A personalidade do pai, ranzinza, nem sempre casa com a sensibilidade da esposa – e o pai quase sempre entra em atrito com a mulher, uma vez que vê o filho como um fracassado e idealista barato – mas é incapaz de reconhecer que não conhece o próprio filho a fundo. Para completar a tormenta pela qual passam, descobre-se que Charlie contribuía para um jornal político de esquerda e que este pode ter sido o motivo pelo qual ele está desaparecido. Ed e Beth esbarram nos políticos americanos e representantes dos EUA no Chile, que deveriam manter a integridade física de todos os americanos, mas podem estar envolvidos com o golpe também: parecem esconder tudo o que aconteceu com medo de escândalos nos EUA e mais atrapalham do que ajudam com tanta má vontade. Sem ter a quem recorrerem, os dois começam a refazer os passos de Charlie, na tentativa de encontrá-lo, vasculhando pistas, hospitais, ruas e todo tipo de lugar por onde Charlie poderia ter passado.

O pai tenta primeiro entender o que aconteceu e pior – acreditar no que está acontecendo – até ter noção da dimensão da situação em que estão envolvidos. O roteiro do diretor grego Costa Gavras então vai contando aos poucos, na forma de flashbacks, o paradeiro de Charlie, até o final. Paralelo a isso, a esposa de Charlie, que começa o filme se mostrando sensível e desprotegida, aos poucos vai se tornando uma mulher forte e determinada, mas desesperançosa com o paradeiro do marido. Tamanho empenho da dupla principal rendeu indicações merecidas ao Oscar. 
Com a direção de Costa Gavras, Desaparecido Um grande mistério é feliz em sua reconstituição de época e na forma como aborda a violência deste período. A população sofre com a falta de comunicação. Todos os que são contra o regime são assassinados friamente, seja no meio da rua ou em lugares próprios para fuzilamento. Os militares dão sumiço nos corpos, jogam em rios, abordam mulheres nas ruas e exigem que elas usem roupas como eles querem.

A câmera do diretor choca – o filme é cru, seco, mas sem ser apelativo. Em determinado momento, o espectador sente na pele o desespero dos dois personagens, ao procurarem por Charlie no meio de uma quantidade absurda de corpos enfileirados no chão, nas escadas e até no teto, sem identificação alguma. Nada, contudo, é gratuito. A força do roteiro, adaptado do livro The Execution of Charles Horman: An American Sacrifice, lançado em 1978, rendeu um Oscar de Melhor Roteiro Adaptado para Gavras.

 
O filme também tem um excelente ritmo, fotografia e toda a técnica possível, o que garante metade do seu êxito. Nada, contudo, seria possível sem dois atores e calibre como Jack Lemmon e Sissy Spacek conduzindo a produção, ambos em grandes momentos. São detalhes na construção dos personagens, mas que não passam desapercebidos do público, que garantem o envolvimento com seus personagens. Detalhes como a aflição do pai Ed, que exige que seu filho seja devolvido de qualquer forma em qualquer condição, e na persistência da esposa Sissy Spacek, em permanecer no meio dos cadáveres tentando encontrar seu marido, só poderiam fazer deste longa-metragem um grande filme.

Referências:
Assista a Entrevista de Costa-Gravas: “O Dinheiro é a nossa nova ditadura” :
http://www.publico.pt/multimedia/video/entrevista-a-costagavras-20130506-202759
http://ohorror-ohorror.blogspot.com.br
http://www.cinefiloeu.com

 

 

Luis Nassif

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