Deuses de um Egito muito chato, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

O filme que estreou hoje é apenas mais um exemplo de colonização do passado pelo americanismo. Em alguns momentos as tomadas feitas com auxílio de computação gráfica conseguem disfarçar a pobreza do roteiro e dos personagens. Deuses do Egito quase consegue ser pior que Boneco do Mal.

De fato, o único personagem interessante do filme de Proyas é o ladrão. Mas nem mesmo ele chega a ser uma inovação. O cinema norte-americano tem sido povoado por ladrões sinceramente apaixonados que, apesar de todos os riscos, conseguem ascender socialmente e realizar todos seus sonhos amorosos. 

Ao chegar em casa fiquei tentado a comparar Deuses do Egito com  A Múmia (1932, estrelado por Boris Karloff). Mas então me dei conta de um detalhe importante. No Egito de Alex Proyas não existem múmias. Também não existem sacerdores. As duas coisas que definem a mais antiga civilização humana foram simplesmente removidas da trama pelos idealizadores do filme estrelado por Nikolaj Coster-Waldau, Brenton Thwaites, Gerard Butler, e Geoffrey Rush.

Em compensação, os deuses e os homens dividem o mesmo espaço urbano. O espaço social de ambos os grupos, contudo, é absolutamente distinto. Como ocorre nos filmes da série Harry Potter (bruxos são bruxos; trouxas são trouxas) a interação entre os imensos deuses egípcios e os minúsculos egípcios é marcada por devoção (ou submissão) de um lado e por indiferença (ou brutal exploração) por outro. O sangue dos deuses é dourado.

O ouro sempre foi um símbolo de riqueza e de poder. Fonte de perdição para uns e objeto de desejo para outros, o ouro transformado em sangue curiosamente não desperta a cobiça dos novos egípcios. Num “mundo cinematográfico normal”, gangues de homens ambiciosos raptariam um daqueles Deuses do Egito para fazê-lo sangrar até a última gota de ouro. No mundo idealizado por Alex Proyas isto é simplesmente impensável.

A moralidade quase divina dos seres humanos deste estranho Egito Antigo, contudo, não despertou a atenção do diretor. Quase toda a ação se concentra na disputa entre os deuses. Uma pueril tragédia familiar provocada pelo ressentimento de um filho preterido impulsiona a trama para o abismo no fim daquele mundo chato. O Egito de Proyas é tão chato que acaba sendo salvo de maneira convencional, por um herói convencional que mais parece um deus grego americanizado do que um deus egípcio.

Após desempenhar papéis inesquecíveis (o Marques de Sade em Quills, sir  Francis Walsingham em Elizabeth: The Golden Age e Lionel Logue em The King’s Speech) Geoffrey Rush conseguiu finalmente interpretar um personagem absolutamente ridículo. Rá, rá, rá… é a única coisa que podemos dizer do ator e do deus que ele representou.

Sugiro aos interessados que esperem o lançamento da versão pirata. Deuses do Egito não vale nem 1/2 entrada. Se aguardarem uma ou duas semanas, o DVD pirata estará sendo vendido a dois reais em qualquer esquina.

Fábio de Oliveira Ribeiro

7 Comentários

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  1. Ei vi “+1” ha poucos dias,

    Ei vi “+1” ha poucos dias, Fabio.  Descobri, meia hora depois de assistir, que literalmente nao conseguia me lembrar do fifm do filme!  Tem cenas interessantes (a mulher se beijando, o cara se matando, os duplos pra todo lado) mas eh um filme tao mal escrito que da pena!  e olhe que quase nao tem cena feita por computador.

    Dos filmes q ue se escoram parcial ou inteiramente em cenas geradas por computador, vi Gravidade e Avatar excelentes…  o resto era tudo por ca ria.

    Me conte entre os que nao vao assistir esse “Deuses”.

  2. Gente, qualquer outrofime em

    Gente, qualquer outro filme em cartaz no cinema hoje é melhor do que esse Filme, classe Z.

    Recomendaria Spotliight (sobre a investigaçao de jornalistas nos casos de pedofilia da igreja católica em Boston).

    Quanto ao filme em destaque não há o que comentar. Mais uma aberração hollywoodiana feito de encomenda para pessoas com sérias dificudades de raciocínio.

    Nesse “Egito” californiano, os deuses são interpretados por gente branca, nórdica. A coisa foi tão bizarra que os próprios produtores pediram desculpas por isso.

    Restará aos atores do filme arrumar uma forma de esconder essa produção de seus currículos. Já embolsaram o dinheiro, agora é partir para outra.

    Que os Deuses do Egito possam mumificar os produtores desse lixo e enfiá-los em uma tumba inacessível no Vale dos Reis….

     

  3. Trollando o Fábio.

    Depois que o Fábio soltou recentemente essa aí embaixo, já fico de pé atrás com as postagens do cara.

    “O fascismo não foi derrotado com argumentos e sim com peças de artilharia fixa, tanques T-34, foguetes Katyusha e aviões Ilyushin Il-2 (Sturmovik).”

    [Fábio, se você fosse um artilheiro antitanque soviético teria vida curta. Rokossovsky, ao saber que o tenente Fábio – comandando uma guarnição AT de 76.2 –  destruiu um Sherman “lend-lease” pensando que os americanos tinham se aliado a Hitler, mandá-lo-ia direto pro fuzilamento.

    E se algum T-34 rodou pela Itália, pode ter certeza de que era veículo capturado pelos alemães.

    Durante a Operação Cidadela, a “Das Reich” até utilizou muitos T-34; mas, pelo que me consta, ela nunca operou no teatro italiano.]

    …Sei não…De repente, “Deuses do Egito” pode ser um filmaço.

    “Sugiro aos interessados que esperem o lançamento da versão pirata.”

    Não obstante toda crítica negativa, Fábio inda sugere perdermos tempo com os Deuses…

    Fábio, falando sério: deixe de lado esse seu masoquismo cinefílico que mascara inconfessável paixão por Hollywood e pare de assistir a esse cinepipoca pra adolescentes.

    Pra começar, espero ansioso resenhas fabianas sobre O ENCOURAÇADO POTEMKIN, OUTUBRO, A BALADA DO SOLDADO e VÁ E VEJA.

    1. Você é incapaz de criticar o
      Você é incapaz de criticar o filme ou de apresentar argumentos racionais contra meu texto. Logo fez a unica coisa que sabe fazer: um ataque pessoal idiota.

      PS: Seus amados nazistas alemães foram derrotados meu caro. Os nazistas serão derrotados uma vez mais. Voce estará entre os mortos ou entre aqueles que se tornarão traidores do American Reich para sobreviver?

      1. nazistas

        Muitos nazistas se deram muito bem – encontraram emprego tanto do lado ocidental quanto oriental. Gehlen é provavelmente o mais famoso.

        Mesmo a chamada desnazificação da Alemanha foi, em grande medida, um me-engana-que-eu-gosto – sugiro a leitura de “Pós-Guerra – Uma História da Europa desde 1945”, de Tony Judt.

        Fábio, parece que pra você qualquer um que mostre alguma informação sobre a Wehrmacht e as Waffen-SS é obviamente nazista.

        Assim fica difícil leva-lo a sério.

        1. Em breve veremos se você

          Em breve veremos se você levantará a suástica na rua ou a jogará fora com medo dos Spetsnaz que irão visitá-lo.

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