Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Estranhas forças governam nossas vidas em “Harodim: Olhe Mais Perto”

por Wilson Ferreira

Paul Finelli, roteirista que nunca teve uma obra adaptada por algum estúdio de Hollywood, escreve em 2010 outro roteiro, dessa vez sobre a morte do líder da Al-Qaeda Osama Bin Laden. Roteiro que tinha tudo para ser engavetado. Até que, um ano depois, Paul Finelli assistiu perplexo na TV as imagens da morte de Bin Landen por SEALs da Marinha dos EUA no Paquistão. A narrativa dos eventos era quase um espelho do seu roteiro. A realidade imitando a ficção foi o início da produção do filme “Harodim: Olhe Mais Perto” (2012), uma produção austríaca do Terra Mater, estúdio que afinal se interessou pelo roteiro de Finelli. O líder terrorista mais procurado do mundo é capturado e levado por um ex-especialista em black-ops da Inteligência dos EUA para um lugar desconhecido no metrô de Viena. Lá assistimos a uma hora e meia de interrogatório onde serão feitas aterrorizantes revelações sobre fatos da história recente desde os atentados do 11 de setembro nos EUA. E que há forças por trás da nossa vida ordinária que estão muito além do livre-arbítrio. Filme sugerido pelo nosso leitor Romeu.

Paul Finelli é um roteirista que passou vários anos trabalhando em Los Angeles. Apesar de várias sondagens, nenhum dos seus roteiros acabou adaptado por algum estúdio de Hollywood. O que o levou a se mudar para Pittsburg, Pennsylvania. 

Lá, em 2011, Finelli experimentou um verdadeiro evento sincromístico: assistiu na TV a notícia da morte de Osama Bin Laden por forças americanas especiais no Paquistão. O que o abalou é que a notícia aproximou-se da narrativa de um roteiro escrito por ele em 2010 – era quase um espelho dos fatos relatos pela mídia. Para ele, o roteiro dos episódios traumáticos de 09/11 precisava de um fechamento emocional depois de uma década e, por isso, escreveu um roteiro sobre isso. 

Para Finelli, a coisa mais assustadora foi ver no noticiário a ficção sendo materializada através da ação dos SEAL da Marinha naquela operação de busca de Bin Laden.

Antes disso Finelli tinha feito uma ponta no filme The Breath of Heaven (2010) do cineasta austríaco Reïhold Bilgieri. O que fez conhecer o produtor Thomas Feldkicher da Terra Mater Studios. Sob esse impacto sincromístico (a “coincidência” entre a realidade e a ficção), Fedkicher topou produzir o roteiro de Finelli de 2010 e rodar o filme Harodim (2012).

O filme Harodim poderia facilmente entrar na lista de mais uma teoria da conspiração sobre os eventos que cercaram os atentados de 2001 nos EUA. Porém, o que torna o filme atual e obrigatório são as denúncias do ano passado feitas pelo jornalista ganhado do Prêmio Pulitzer Seymour Hersh de que a morte de Bin Laden não foi alvo de uma operação arriscada e secreta, mas de uma execução fria com a colaboração entre EUA e Paquistão, país onde o terrorista estava escondido há cinco anos – sobre isso clique aqui

O que se aproxima da narrativa de Harodim: Bin Laden teria sido útil no “trabalho Interno” de 09/11 para reconfigurar a política internacional pós-Guerra Fria – a implementação em escala global da ameaça do “terrorismo internacional” com o fim do bicho-papão da URSS e do Comunismo. Sadam Hussein teria sido um ensaio dessa nova estratégia durante a Guerra do Golfo, em 1991. Quando Al-Qaeda e Bin Laden deixaram de ser úteis, foram friamente eliminados. Hoje temos a ameaça do ISIS.

O Filme

Para evitar que Harodim terminasse como mais uma obra na lista das teorias da conspiração, Finelli evitou seguir a linha documental com uso exclusivo de notícias e imagens de arquivos. Para a ideia do filme funcionar, a narrativa deveria ser convincente de outra maneira. Em uma linha que apagasse a fronteira entre realidade e ficção e acusar a mídia utilizando o seu próprio material jornalístico. 

Por isso, Finelli preferiu a linguagem live action, uma forma mais humana e ao mesmo tempo metafórica. A narrativa se desenrola como fosse uma peça de teatro, confinado em um local (uma sala no subterrâneo do metrô de Viena), onde os personagens interagem criando uma sensação de intimidade. Mas, ao mesmo tempo, mediado por imagens documentais e midiáticas da história recente.

Lazarus Fell (Travis Fimmel) é um ex-SEAL da Marinha, um expert em operações secretas (black-ops) e que busca vingar o seu pai, Salomon Fell (Peter Fonda) que pertencia a Inteligência militar dos EUA, presumivelmente morto no atentado ao WTC em 2001. 

Lazarus abandonou a Marinha, filhos e esposa, simulando sua própria morte, para dedicar a sua vida na busca do líder da Al-Qaeda que planejou os atentados: o Terrorista (Michael Dessant) – a narrativa sugere implicitamente que o Terrorista seria o próprio Osama Bin Laden, após submeter-se a uma cirurgia plástica, tornando-se irreconhecível para os seus propósitos de fuga.

Após mais de dez anos de busca, Lazarus consegue capturar o Terrorista para leva-lo a um quarto subterrâneo em algum lugar no metrô de Viena. Lá o interrogará para descobrir toda a verdade, gravar um vídeo desse interrogatório enquanto torce para que seu prisioneiro fuja para ter o pretexto de matá-lo.

Mas se a agenda de Lazarus é a vingança, para o Terrorista é tentar convencer ao seu algoz que ele nada mais foi do que um peão sem vontade nas mãos de sociedades secretas cujo poder emanaria da política e do mundo das finanças internacionais, responsáveis  por eventos desde o incêndio no Reichstag de 1933 (que levou Hitler ao poder) passando pela Guerra Fria, Al-Qaeda e aquecimento global.

Para o Terrorista o tempo está esgotando: se a sua morte não for pelas mão de Lazarus, será pelas mãos dessa elite que constrói a Nova Ordem Mundial. Por isso o espectador assiste a uma hora e meia de diálogos intimistas, argumentações, exercício de lógica e retórica onde Lazarus perplexo ouve as revelações e as comprova ao hackear arquivos da Inteligência norte-americana em seu laptop.

A jornada pela busca da Verdade

O que torna a narrativa do filme interessante é que a jornada em busca da verdade de Lazarus é também a viagem do próprio espectador. Ele representa uma espécie de pureza e inocência (bom filho e obediente que busca vigar a morte presumida do pai e revelar a verdade ao mundo através da sua gravação) diante da terríveis revelações de uma elite onde os fins justificam os meios.

A queda das torres gêmeas sacrificando milhares de almas, guerras bélicas e biológicas com o propósito de eliminar 80% da população mundial para proteger o planeta da explosão populacional (para a elite, a verdadeira causa do aquecimento global e da crise energética é a explosão populacional) etc. , demonstram que os maiores males da História foram perpetrados por homens que viram um suposto bem maior. E que por trás de cada ação para realizar esse bem, estava a violência, o hediondo e o cruel.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

2 Comentários

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  1. Que lado escolher?

    Mas não é tão fácil. 

    Quantos lados há?

    Seguir o dinheiro ou o poder aqui não resolve, que compasso moral seguir?

    São oito os lados, by design.

    Velhas perguntas:

    Para onde vou? 

    Quem sou?

    O que posso conhecer?

    Se desse para escolher ficaria na nona posição neutra…. rsrsrsrs…

  2. “Para Finelli, a coisa mais

    “Para Finelli, a coisa mais assustadora foi ver no noticiário a ficção sendo materializada através da ação dos SEAL da Marinha naquela operação de busca de Bin Laden”.

     

    Vai ver que foi a obra de ficção dele que serviu de base para a encenação da morte de Bin Laden, que provavelmente já havia sido morto havia muitos anos, na época da invasão americana ao Afeganistão.

    Como acreditar na estória de que ele foi morto na tal operação no Paquistão, sem que se tenha em nenhum momento sido divulgados vídeos ou fotos dele morto? Nenuma prova da morte dele apareceu, e vieram com uma estória muito mal contada, de que o corpo teria sido jogado no mar. Não teria nenhum sentido que, após uma década de perseguição ao suposto autor do maior atentado aos EUA, ao finalmente conseguir encontrá-lo e matá-lo, os soldados não registrassem imagens desse feito, e jogassem ao mar o maior “troféu” que poderiam almejar alcançar.

    Com a impressionante credulidade com que o mundo aceita as versões transmitidas pelo império americano com  seus superpoderes, se aquele governo  divulgar, e não falta muito para isso acontecer, que capturou e desintegrou por completo um ser extra-terrestre, um alienígena invasor, um fantasma ou um demônio, como faz nos filmes do cinema, ninguém vai questionar a veracidade a informação. Se já acreditaram em tantas outras estórias de ficção.

     

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