Exodus é uma onda, mano…

Por Fabio de Oliveira Ribeiro

Hoje finalmente fui assistir o filme bíblico de Ridley Scott. Não vou comparar esta obra pós-computação gráfica ao filme Os 10 Mandamentos (1957) ou ao filme homônimo que o antecedeu (1923). Os 10 mandamentos do cinema norte-americano, aliás, continuam os mesmos:

1- Fazer remakes espalhafatosos de remakes inverossímeis;

2- Adicional novos personagens a velhas histórias;

3- Usar ex-galãs e estrelas envelhecidas para valorizar a obra reduzindo seu custo;

4- Nunca pagar direitos autorais aos países onde as histórias antigas mais ou menos americanizadas serão filmadas;

5- Recorrer a ciência para burlar a religião e à religião para burlar a ciência;

6- Remunerar os extras como escravos, muito embora os escravos sejam o personagem principal de algumas histórias filmadas;

 

7- Todos os personagens (inclusive egípcios, hebreus, etc…) devem falar inglês com sotaque norte-americano, exceto quando algum personagem é irlandês ou inglês (caso em que o sotaque específico deverá ser rigorosamente observado);

8- O herói deve hesitar antes de aceitar sua missão (isto se aplica a Deus, quando ele é um personagem cinematográfico) e não pode desistir dela antes do inevitável “The End”;

9- Os efeitos especiais computadorizados devem ser perfeitos para que o cinéfilo preste mais atenção neles do que na própria história;

10- A versão em 3D deve ser lançada na mesma data que a versão 2D, para garantir que haja um lucro adicional de bilheteria.

Exodus obedeceu rigorosamente aos 10 mandamentos. Portanto, merece ser classificado como um típico produto da industria cultural norte-americana. Dito isto, farei apenas uma observação sobre o filme.

Ridley Scott criou a maior, mais bela e mais verossímil onda da última década do cinema. A parede de água virtual que vira o barco Poseidon (filme de 2006) é muito homogênea e estática, ela carece de um requisito fundamental, algo que chamarei de “aguidade”.  A onda que engole o barco antes dele conseguir atingir sua crista em The Perfect Storm (2000) é grande demais, furiosa demais, malvada demais para ser apenas um fenômeno da natureza. O cineastra que fez Exodus não cometeu os mesmos erros que Wolfgang Petersen (diretor dos dois filmes citados). O único erro de Ridley Scott foi não tirar proveito de todas as potencialidades cênicas da magnífica onda que criou.

No filme Exodus, Deus espera a situação dos escravos piorar muito antes de fazer Moisés retornar ao Egito para salvar seu povo. Portanto, podemos concluir que o Deus de Ridley Scott quer que seu líder político e militar surfe na imensa onda de dor e ressentimento que foi sendo criada pelo egocêntrico faraó. Moisés faz o que Deus lhe manda, mas o diretor do filme não permite ao seu personagem surfar na onda criada para destruir o exército do seu adversário. Isto é uma vergonha.

Uma onda virtual tão grande, bela e verossímil não poderia ter sido desperdiçada como foi. É verdade que a Bíblia, livro mais ou menos respeitado durante a criação de Exodus, não diz que Moisés foi surfista, mas também não nega que ele possa ter sido o precursor do esporte preferido dos californianos. Desgraçadamente, o diretor do filme perdeu uma excelente oportunidade estética. Quem sabe num remake, do remake, do remake, do remake possamos ver Moisés descendo a onda até a pria numa prancha de surf improvisada. Embasbacados os judeus recém libertados resolvem seguir seu líder até a terra prometida porque quem é capaz de dropar tão bem uma onda daquelas só poderia mesmo ser o escolhido por Deus.

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

12 Comentários

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  1. O Egito (Mizarim), um dos

    O Egito (Mizarim), um dos filhos de Cam, neto de Noé, proibiu a execução desse novo Exodus em seu país.

    Eles alegam que a historia não é verdadeira.

  2. Fica tranquilo, chapa.
    No

    Fica tranquilo, chapa.

    No remake do remake do re-remake quando o povo chegar do outro lado do Mar Vermelho encontrarão bandeiras americanas tremulando na praia ..

     

  3. Há pessoas que sempre

    Há pessoas que sempre criticam as novelas da Globo, mas não perdem um capítulo. 

    Criticam os filmes de Hollywood, mas deixam seu dinheiro na bilheteria.

  4. Parece que há também mais diretores amadores

    Parece que há também mais diretores amadores pelas mancadas, ou diretores de teatros que se voltam para filmes?

    Assisti “Noé” e o filme é bem ruim de enredo e ideias. Achei que seria uma certa crítica a crença do delúvio e outros, foi pior do que na bíblia.

     

    Pela sexta vez assiti o filme o senhor dos anés. Comprei a série em Blue-Ray. Muito bom em tudo, embora há atalhos estranhos e mancadas evidentes. No final, o hobbit Bilbo é ferroado pela aranha com artitre e o ferrão, adivinhem, atravessa a malha que nem uma lança conseguiu atravessar, sem deixar marcas. Se tinha que ter ferroada, podia ser na bunda do infeliz, então.

  5. Com tanto filme bom que foi

    Com tanto filme bom que foi lançado em 2014, americanos, australianos, iranianos, brasileiros, argentino, venezuelanos, coreanos, chineses e etc, mais uma vez o blog nos brinda com um post de um blockbuster . Pior! O sujeito vai ao cinema (paga) e reclama entre outras coisas que os personagens tem “sotaque americano” ….

    Tá difícil hein seu Nassif??

    Nada contra os blockbusters, mas para quê divulgá-los mais ainda? Os caras já dominam todas as salas de cinema…

    Daqui a pouco vai ter gente “criticando” filme da Sessão da Tarde

    Ontem escrevi sobre o filme australiano The Babadook. Excelente como quase todo terror australiano que se preze.

    Já falei também sobre o brasileiro “O Lobo atrás da porta”. Também do melhor do ano, na minha opinião,  que foi o inglês “Under the Skin”.

    Ainda tem o   “Only Lovers Left Alive”,  “Grand Hotel Budapest”,  o brasileiro “Quando eu era vivo”, o sensacional filme de terror venezuelano  “La casa del fin de los tempos” , o iraniano “The Girl walks home alone at night” (história de vampirios, falado em persa e e preto e branco).

    Tem mais uma dezena, centenas, milhares de filmes mais significativos que o tal blockbuster, que aliás também já fracassou como blockbuster.

     

  6. A depender do meu escasso

    A depender do meu escasso dinheirinho jamais essa super-produções “roliudianas” terão retorno, Nessa da fase da vida procuro, procurarei ser um pouco mais requintado. Arrependo-me, sinceramente, do tempo perdido.

  7. Déja vu…

    Roteiros de filmes de aventura de Hollywood…

    1) O mocinho testemunha ou se envolve com a injustiça ou perigo

    2) o mocinho apanha, apanha, apanha e apanha ainda mais… passa 90% do tempo apanhando do vilão

    3) de tanto apanhar, ele acumula um legado vingativo, invoca o divino no momento da virada…

    4) devolve tudo em cima do vilão nos dez ultimos minutos com uma ferocidade e crueldade animalesca sem precedente, legitimado pelo tanto que apanhou na vespera.

    Pipoca por favor…

    e.g.

    Cruzada, Gladiador, Blade runner, Alien 1,2,3

    Rambo 1,2,3,

    Guerra nas estrelas 1,2,3,4,5,6,

    Rocky o Lutador 1,2,3

    Jornada nas estrelas N+1,

    Terminator 1,2,3,4,5,6…

    Jason Bourne 1,2,3

    Super herois, etc…

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