Filme argentino mostra perspectiva infantil sobre ditadura argentina

Sugerido por Tamára Baranov

Do Opera Mundi

Novo filme argentino sensibiliza público com perspectiva infantil sobre ditadura

Baseado em fatos reais, “Infância clandestina” mostra vida de garoto que muda de nome e acompanha os pais na luta armada

Mais um filme argentino toca a sensibilidade histórica do país, seriamente afetada pela ditadura militar que tantos estragos causou entre os anos 1973 e 1986. Trata-se de Infância clandestina(2011), candidato da Argentina a uma vaga no Oscar 2013, coproduzido com Brasil e Espanha e que estreou nesta sexta-feira (07/12) nos cinemas brasileiros.

Infância clandestina diz respeito, no entanto, também à sensibilidade de seu diretor, Benjamin Ávila, que se baseou na própria vida para contar a história de um menino de 12 anos, filho de representantes da luta armada, que vê de perto os pais recém-regressados à Argentina e uma perigosa vida na clandestinidade. Ávila, que dirigiu em 2004 o documentário Nietos: identidad y memoria, foi testemunha do desaparecimento da mãe, por militares, em 1979. Esse é seu primeiro longa-metragem de ficção.

 

Nesse ciclo de emoções aguçadas, é esperado que o filme amoleça, inclusive, os corações da Academia de Cinema dos Estados Unidos, historicamente suscetíveis a filmes políticos sobre direitos humanos. Essa é a visão, pelo menos, da Academia de Cinema e Arte Audiovisual da Argentina, que fez aposta parecida em 1986, ano em que A história oficial, de Luis Puenzo, garantiu ao país seu primeiro Oscar de melhor filme estrangeiro.

Afinidades

Luis Puenzo, não por acaso, é o produtor de Infância clandestina, um projeto que ele considera de forte apelo para o público, segundo entrevistas que deu à imprensa argentina e também brasileira. De fato, é.

O roteiro escolhe o ponto de vista infantil para interiorizar e, ao mesmo tempo, suavizar a violência da época. Ele nasceu de uma aproximação entre o diretor e o coroteirista, o brasileiro Marcelo Müller, que estudaram juntos na Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños de Cuba – um espaço conhecido por promover muitas cooperações latino-americanas no cinema, que, como nesse caso, se dão de maneira natural.

Segundo Müller, “muitas coproduções nascem pelo aspecto financeiro, para completar orçamentos, mas esse filme é um exemplo de como elas são possíveis também do ponto de vista cultural, especialmente entre vizinhos latinos”. A declaração foi feita durante a pré-estreia brasileira do longa em São Paulo, no dia 26/11, que também contou com a presença do diretor, do elenco e de representantes da Academia de Filmes, a casa produtora no Brasil.

Ditadura e crianças

As injustiças das ditaduras – em especial, as da ditadura argentina, uma das mais violentas da região – costumam comover diferentes tipos de plateias quando a perspectiva do relato é infantil. Foi o caso de “Infância clandestina”, que conquistou o público do Festival de Cannes, onde estreou, na Quinzena de Realizadores, e que por outro lado vem atingindo números satisfatórios de bilheteria na Argentina, onde foi lançado comercialmente em 20 de setembro.

O jovem Teo Gutiérrez Romero faz o papel do protagonista Juan, que tem o nome alterado para Ernesto durante sua vida clandestina

A escolha pelo olhar de uma criança para guiar a trama, na verdade, não é original, considerando filmes como o argentino Kamchatka (2002), de Marcelo Piñeyro, o chileno Machuca (2004), de Andrés Wood, e o brasileiro O ano em que meus pais saíram de férias (2006), de Cao Hamburger, além de outros exemplos América Latina afora.

Mas o diferencial, neste caso, é sem dúvida a elogiada interpretação do jovem Teo Gutiérrez Romero no papel do protagonista Juan (que é chamado de Ernesto durante a sua vida clandestina). Debutando nas telas, Teo atua ao lado de atores veteranos, como os uruguaios Natalia Oreiro e César Troncoso e do argentino Ernesto Alterio.

Redação

1 Comentário

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  1. Boa dica, Tamára

    Esse filme é  muitíssimo bom, o título é perfeito dá a idéia dos limites da vida do garoto.  E os hermanos continuam fazendo cinema.

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