“Horas Decisivas” e as escolhas ideológicas dos produtores de ilusões

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

O protagonista deste filme é um homem bom que acabou de marcar o casamento. Apesar disto, ele não recusa uma missão altamente perigosa para salvar marinheiros num barco cujo casco se rompeu ao meio. Nenhum outro posto da guarda costeira pode fazer o serviço, pois todos estão concentrados no resgate de sobreviventes de um outro barco que também afundou ao quebrar em dois.

Após vencer os perigos do mar revolto o protagonista chega ao seu destino, realiza uma tarefa exemplar – o resgate de dezenas de sobreviventes – e retorna ao porto onde sua amada o espera. A noiva dele é muito impetuosa e ajuda-o, com atos e pensamentos, a sair do labirinto em que ele poderia afundar após perder a bússola. O amor de ambos derrota a tempestade.

Filme de ação inspirado em fatos reais que narra de forma convencional uma típica jornada do herói. Dito isto, fica bem mais fácil compreender o desenvolvimento da narrativa composta sob influência do livro “O Herói das Mil Faces”, de Josehp Campbell.

“Horas Decisivas” vale o ingresso. A trilha sonora é simplesmente fantástica. As cenas no mar revolto, produzidas por computação gráfica, são interessantes apesar dos evidentes e costumeiros exageros.

O foco do filme é a jornada do herói norte-americano, mas no fundo a obra esconde uma verdadeira tragédia capitalista: a produção de barcos baratos, inseguros, mal projetados e porcamente construídos pelos estaleiros norte-americanos. A informação mais importante do filme – o rompimento dos cascos de dois navios durante a mesma tempestade – poderia levar à produção de dois ou mais longas metragens. A indústria do cinema norte-americano, contudo, sempre faz suas escolhas de maneira a isentar as corporações de suas responsabilidades.

A irresponsabilidade empresarial que provocou duas tragédias navais semelhantes e simultaneas não é questionada. Tudo é ofuscado pela jornada do herói bonitão que retorna para os braços de sua namorada amorosa. O fato de dezenas de tripulantes terem morrido nos dois naufrágios é irrelevante. Eles não tem direito a uma história, porque para contá-la seria preciso discutir questões dolorosas como as que foram acima apontadas.

Propaganda ideológica e cinema norte-americano já são duas coisas indistinguíveis. Nos EUA os profissionais da imagem em movimento sabem bem o que mostrar. Sabem ainda melhor o que esconder. E assim a História daquele país vai sendo constantemente mutilada para que os empresários não sejam importunados. O “respeitável público” deve apenas consumir heroísmo pasteurizado e nunca questionar as vicissitudes capitalistas que engendram as tragédias que criam os palcos para os os heróis do americanismo.

É evidente que filmes como este tem um grande poder de sedução. Eles fortalecem a ideologia capitalista removendo de cena os industriais gananciosos que devoram as vidas dos seus operários e dos empregados que trabalham nos produtos que eles fabricaram.

Suponho que até mesmo os habitantes de Flint, Michigan, ficarão emocionados ao ver “Horas Decisivas”. O problema é que quando voltarem para suas casas, barracos e barracas, a água que eles serão obrigados a consumir continuará envenenada. Quantos habitantes de Flint tem consciência de que um veneno ainda mais tóxico está sendo consumido por eles no cinema?   

Fábio de Oliveira Ribeiro

15 Comentários

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  1. Não

    entendi: segundo o autor, o filme “vale o ingresso”; mas, mesmo assim, trata-se de mais um “projeto ianque de propaganda ideológica/dominação”.

    Meu conselho: deixe de assistir “blockbusters ianques capitalistas”…

    PS: Lá vem “pedrada”…. Ninguém pode discordar….

    PS2: Na minha opinião, o filme é “bem nota 5,5″…

    1. Você é livre para não ler meu
      Você é livre para não ler meu texto. Também é livre para não comentar. Se bater não reclame ao, com justiça, levar pauladas. Será um prazer revidar.

  2. “bom” (homem bom) é muito vago, depende da ótica

    Ilusões todos temos, de uma forma ou outra: é essencial na vida.

    E é difícil tarefa ou pretensão julgarmos as ilusões alheias.

    Como às vezes ponho como assinatura automática, “Os homeme não querem o conhecimento, mas a certeza” ( * )

    Parabéns a quem chegou a certeza e verdade absoluta.

     

    1. Resumindo, desgraçadamente
      Resumindo, desgraçadamente voce não estava num daqueles barcos que se partiram. Se estivesse você entenderia a necessidade de questionar o capitalismo e de minimizar o heroísmo pasteurizado dos filmes gringos.

    2. Galera, eu não disse? ! 🙂 ) ) (e o GGN bloqueou publicações)

      O GGN bloqueou a publicação das mensagens do cara pra Nickname e vice-versa (o GGN disse que ia ter uma conversinha com o pseudorevolucionário”).Mas se esqueceu de bloquear a previsível e espumante manifestação pra eu receber no meu e-mail específico. Veja-se  :”Título do comentário: “Resumindo, desgraçadamente “”Resumindo, desgraçadamente voce não estava num daqueles barcos que se partiram. Se estivesse você entenderia a necessidade de questionar o cpitalismo e de minimizar o heroísmo pasteurizado dos filmes gringos.”  ”    🙂 ) )

      1. Recebi outra (mas não vou reproduzir ).

        as barbaridades da figura.Um colega o tem como antisemita, isso não sei pq são raros os comentários e títulos que me dão vonta- de de ler – questão de gosto pessoal – Mas até poesia o cara esbravejou com outra pessoa por ser de poeta “gringo”) . Homofóbico é (o GGN pode acessar aquela postagem,se já não o tiver feito quando eu pedi providências).Mal resolvidos, agitadores pseudore-volucionários são um perigo.Agitadores “de esquerda”,em greves,entrando em agrupamentos políticos,há na História(todos os gru- pos da luta armada foram assim desbaratados).Não nasci ontem,fechamos os olhos pra ver até onde vão.Teve um q até erguemos busto na praça da vila de periferia onde morava. Numa outra capital.

        1. Quanto mais ódio você
          Quanto mais ódio você destilar por mim melhor você será conhecido. Nada disso porém o ajudará me conhecer. Sou impermeável às suas análises amadoras feitas com base nos seus preconceitos de classe.

          Continue, please? Sua Pátria gringa foi atacada e você é pago para defende-la.

  3. A inconsequência e a

    A inconsequência e a irresponsabilidade do capital… fazendo vítimas desde Titanic. Ou até antes.

    É só prá gente ir se acostumando, Fabio, e não reclamar de que não foi avisado antes.

    Quando será que vai passar aquele filme sobre como Aécio Neves da Cunha e patotas jornalística e judiciária conseguem f*der com o Brasil e ainda ficarem “bem na foto”? Sabe aquele? Que a gente sai do cinema com raiva mas dizendo…

    “É… o mundo é dos grandões mesmo, melhor eu me recolher à minha insignificância”?

     

    Apesar disso, a revolução está em pleno curso…

    1. será que você foi compreendido, Lazzari?

      eu acho que não. Logo te deram 5 estrelinhas. É costume dos revolucionários mal resolvidos com alguma coisa ficarem acopanhando e retrucando a cada vez que alguém se manifestar um milímetro de discordância com eles.

      1. Ao invés de argumentar você
        Ao invés de argumentar você faz ataques pessoais.

        Seus ataques dizem pouco de mim e muito de você.

        Continue destilando seu ódio de classe contra mim e seu amor pelos capitalistas norte-americanos.

        Nada do que você disser vai me impedir de seguir escrevendo e publicando meus textos sobre os venenos distribuídos nos cinemas brasileiros pela sua pátria gringa.

    2. Verdade.
      Os estaleiros

      Verdade.

      Os estaleiros gringos são tão inconsesquentes que até os novos barcos de guerra dos EUA correm o risco de afundar antes de dar o primeiro tiro:

      http://wtkr.com/2016/01/25/breakdowns-leave-2-of-navys-newest-ships-stuck-in-port/

       Não posso dizer que estou triste com esta notícia. Barco de guerra norte-americano bom é barco de guerra norte-americano naufragado sem ter produzido naufrágios. Ha, ha, ha…

  4. ( * ) ( certeza no sentido de crença na certeza, fé, ilusão)

    ( certeza no sentido de crença na certeza,fé,ilusão),em espanhol,”certidumbre”, q veio numa das newsletter poéticas ou provocantemente filosóficas,de um antivírus espanhol,tradução q me parece refletir o original inglês,do pouco q conheço do autor B. Russel,a que,nesta frase,confesso não ter tido acesso – Talvez haja nesses sites de frases de pensadores, pra enfeitar blogs e facebooks,mas há tantas falsas atribuições a autor X ou Y, e frases açucaradas, p ex, ao poeta Mário Quintana, q eras mordaz com as convenções sociais e morais,bem como a terrível versão brasileira da Wikipedia).Dispenso previsível “observa- ção” e “explicação”, q podem dar IBOPE pra blogosfera,audiência,clap-clap-claps,e platéia.Tô noutra.

  5. geralmente, apenas por hábito, não volto a minhas postagens

    porque não quero rever bobagens que posto. Tem um monte que eu deleto, quando volto. No Multimídia do Dia eu deleto frequentemente pra não mais ficar dono do campinho. (Pra não ficar somente Nickname –  Humberto Cavalcanti – e uma outra pouquíssima pessoa visitante, fui, e detesto modéstias, quem divulgou incansavelmente, aquela seção, até que enfim, bastante visitada ou pra visitar, apreciando ou não – cada um com seu gosto particular – ou colaborando pra gente). Há pérolas atualmente , esporádicas poesias, crônicas, músicas. A vida é curta. E só pensar num tema estritamente político (por exemplo ) corremos o risco de só pensar naquilo, como Dona Beija, de Chico Anysio. Precisamos respirar e voar. Até pra Política.

    1. Comentário irrelevante que

      Comentário irrelevante que não guarda qualquer relação com o texto publicado.

      No fundo o autor do mesmo é apenas um Troll desesperado tentando desviar a atenção do leitor da crítica ao filme “Horas Decisivas”.

       

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