O Top 10 dos filmes mais estranhos de 2019 no Cinegnose, por Wilson Ferreira

A estranheza produz necessariamente distanciamento do espectador em relação aos protagonistas, bloqueando o prazer escópico (voyeurístico)

por Wilson Ferreira 

A lista dos filmes estranhos de 2019 começa com uma Teoria Unificada das Conspirações (códigos, simbolismos e mensagens subliminares misteriosas em músicas e publicidade) até chegarmos a um clube exclusivo formado pela elite cearense que conjuga de inúmeras maneiras e sentidos o verbo comer – comer os dominados, transformando na literalidade a desigualdade e exploração: na canibalidade. Confira a lista dos 10 filmes mais estranhos analisados pelo “Cinegnose” em 2019. Além dos filmes gnósticos, o “Cinegnose” está em busca do chamado “filme estranho”, no qual a familiaridade usual se reverte em algo não-familiar, “estranho”, acontecimentos que fazem a realidade repentinamente fugir à conformidade cotidiana.


Convém relembrar aos leitores o conceito de “Filme Estranho” – “Weird Movie” – palavra inglesa “weird” (estranho) deriva da palavra germânica “wyrd”, que significa “destino”. Essa palavra encontrou o seu significado atual de “estranho, surreal” através de Shakeapeare com as “Weird Sisters” que prediziam o destino de Macbeth, ao mesmo tempo “weird” (“estranhas”) no sentido moderno quanto “wyrd” no sentido pagão.

Portanto, “weird movie” é muito mais do que um filme “estranho” no sentido dado em português (do latim “extraneum” – o que é de fora, estrangeiro), mas a combinação das ideias do maravilhoso e do fantástico com aquilo que é excêntrico, estranho ou incomum.

Dessa maneira, esse conceito aproxima-se do “gnostic movie” ou filme gnóstico: narrativas cinematográficas onde mostram protagonistas em situações onde a familiaridade usual se reverte em algo não-familiar, “estranho”, acontecimentos que fazem a realidade repentinamente fugir à conformidade cotidiana.

Dessa maneira, o filme estranho rompe com o princípio da verossimilhança e identificação, tão caros ao cinema comercial – De um lado, embora saibamos que tudo que assistimos é ficcional, o roteiro deve ser “realista” ou “verossímil” o suficiente para que suspendamos a incredulidade e aceitemos a ficção.

E do outro, ver e sentir a narrativa a partir dos olhos do protagonista é talvez a condição fundamental para que sejamos absorvidos pela história e sintamos empatia, alegria, medo e torçamos para o herói.

A estranheza produz necessariamente distanciamento do espectador em relação aos protagonistas, bloqueando o prazer escópico (voyeurístico) – prazer primário incorporado ao próprio dispositivo fílmico que reforça o ego do espectador.

Ao contrário, o filme estranho força o distanciamento e produz desestabilização, é perturbador.

Um exemplo tirado da nossa lista de dez filmes de 2019, é o filme Border – contando com um roteiro prá lá de inverossímil (de uma aparente história policial de caça a pedófilos, de repente tudo se transforma em um conto fantástico nórdico), ainda é protagonizado por um casal de aparência monstruosa, recluso e sociopata. Nada cativantes, forçando o nosso distanciamento para observarmos a narrativa por um ponto de vista mais racional.

1. Under the Silver Lake

Um jovem desocupado tenta investigar o mistério do desaparecimento de sua vizinha para mergulhar no submundo das subcelebridades aspirantes a atores e atrizes em Hollywood e na subcultura de HQs e fanzines que tentam construir uma Teoria Unificada das conspirações. O fio da meada pode levar o espectador a conspirações ao melhor estilo Hitchcock e David Lynch.

São duas horas e meia de acúmulos de elementos narrativos estranhos – um serial killer de cães, a morte de um bilionário extravagante… apresenta uma espécie de vitrine dos medos persecutórios de uma geração: dos supostos códigos, simbolismos e mensagens subliminares misteriosas em músicas e publicidade, até chegarmos a seitas, serial killers e lendas urbanas. E por trás, a mídia, a indústria e o “sistema” que fabrica a realidade. Mas quem é o “sistema”? – clique aqui.

2. Climax

Os filmes do diretor argentino Gaspar Noé são disruptivos: ou você ama ou odeia. Tal como Irreversívelou Enter The Void, o filme Climax (2018) nos apresenta um verdadeiro assalto à nossa percepção através de imagens alucinatórias, música techno implacável, pesada, e movimentos de câmera vertiginosos, tomando nossos sentidos e embaralhando o cérebro. Confronta-nos com uma experiência imersiva na qual acompanhamos uma trupe de dança após audição preparatória para uma turnê na América. Depois, todos comemoram com uma festa na qual, repentinamente, as coisas começam fugir do controle. E de maneiras cada vez mais perturbadoras – prazer e morte se confundirão, transformando o jogo artístico, de instrumento civilizatório, em bomba de autodestruição. Gaspar Noé quer nos mostrar que apenas uma fina casca protege a civilização de si mesma – clique aqui.

3. Greener Grass

 

Um clássico exemplo de filme estranho: é capaz de explorar o universo familiar de um típico subúrbio de classe média para encontrar o estranho e o non-sense – um acúmulo de carrinhos de golfe, sorrisos perfeitos que exibem aparelhos dentários, tons pasteis combinando com rosa-choque que resultam em absurdos, sátira, surrealismo e distopia.

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Redação

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