Pancho Villa: o primeiro ator mexicano famoso em Hollywood


Pancho Villa posa para as câmeras – Arquivo El Diario de El Paso 

Pancho Villa e seu contrato com o cinema

O livro intitulado ‘Pancho Villa – a construção do mito’, cheio de fotografias, de Miguel Angel Berumen, relata como a mídia dos EUA e mundial ficaram fascinados, entre 1913 e 1914, com o herói popular, entre o puro bandoleiro deliquente e o benfeitor defensor dos pobres, dando-lhes manchetes e coberturas jornalísticas. O livro também conta como Pancho Villa firmou um contrato com a Mutual Film Corporation para filmar suas batalhas. Nos termos do contrato, negociado por seus advogados, o revolucionário receberia 20 por cento do lucro da distribuição dos filmes e uma antecipação de US$25.000, uma quantia nada desprezível para a época, se tornando assim o primeiro ator mexicano mais famoso e bem pago pela Meca do cinema na época.


O primeiro ator mexicano famoso em Hollywood se chamou Pancho Villa


Notícia das gravações da Mutual Film, nos campos de batalhas de Pancho Villa no México

Muito antes de Alfonso Cuarón se tornar o diretor mexicano com mais indicações ao Oscar e do chihualhuense (cidade de Chihuahua/México), o ator Anthony Quinn adquirir fama em Hollywood e ganhar duas estatuetas douradas, foi outro mexicano que interrompeu a todo galope a Meca do cinema para seduzir milhares de cinéfilos e espectadores. Este foi nada menos do que o Centauro do Norte, Doroteo Arango Arámbula, mais conhecido mundialmente como “Pancho Villa”. O duranguense (cidade de Durango/México), firmara em 5 de janeiro de 1914, portanto, há mais de 100 anos, um contrato com a produtora de cinema Mutual Film Corporation para gravar suas batalhas durante a Revolução Mexicana. Os realizadores não só iria filmar os combates que tiveram lugar em 1914 nos desertos de Chihuahua, mas também consideraram que Villa era uma pessoa fotogênica e decidiram gravar um filme de ficção chamado “A Vida do General Villa (The Life of General Villa)”, no qual  praticamente reinventou o líder, o que lhe deu mais motivação para ir a guerra e fazer justiça. A trama do filme – em que ele interpreta a si mesmo na idade adulta – começa quando sua irmã mais nova foi estuprada por dois federales (soldados) ainda menor de idade. Villa, para vingar a honra da família, mata um dos responsáveis e vai buscar o segundo militar, quando o encontra e também lhe mata na Batalha de Torreón. O filme foi exibido nos Estados Unidos e teve grande sucesso nas bilheterias e revelou a imagem do general que também se tornou um dos atores mais bem pagos ao receber US$25.000 por filme. Se houvessem os prêmios do Oscar naquela época, para as realizações do cinema, certamente os filmes de Villa, e quem sabe o próprio como ator, haveria competido, mas a primeira cerimônia do Oscar se daria apenas em 16 de maio de 1929, no Hotel Roosevelt, em Los Angeles, Califórnia, quando o general já estava morto há seis anos atrás.

Cinco, quatro, três, dois… um


Villa montado (talvez) no seu famoso cavalo Siete Leguas

A todo galope, mas sem perder o sombrero, o general em seu cavalo atingiu uma velocidade máxima de 90 quilômetros por hora, para depois parar intempestivamente. Quem gravou a cena, em algum lugar em Ciudad Juarez, mal conseguiu dizer “devagar” quando o cavaleiro já estava pronto para começar a sua corrida novamente. Os cinegrafistas buscavam Villa quando ele lançou seu cavalo galopante e, em seguida, parou, o que fez de novo e repetidamente sem dificuldades. O ator e diretor Raoul Walsh, que trabalhava na Mutual, mais tarde disse que Villa, quando foi filmado, deu uma “fuguetazo” no cavalo e saiu rapidamente antes da câmera. A palavra “devagar” foi a mais utilizada no filme, diz o escritor Paco Ignacio Taibo II em seu livro sobre o Centauro. A cena finalmente foi capturada e é aquela que sobrevive até hoje para mostrar a imagem do general Francisco Villa (…). Segundo relatou Friedrich Katz, Villa não só compreendia a importância de um tratamento favorável pelos jornais, mas também o impacto que as novas mídias como o cinema começaram a ter sobre o público americano. Portanto, ele não apenas permitiu que os operadores de câmeras o acompanhassem em suas campanhas, como também firmou o contrato com a Mutual. O resultado foi que procurou aumentar a sua popularidade nos Estados Unidos e que os filmes que produziram lhes rendessem dólares para armar e abastecer suas tropas. Em 5 de janeiro de 1914, antes de ocupar a Cidade de Chihuahua e assumir o controle total do estado, assinou um contrato com Harry E. Aitken, da Mutual Film. Dois dias depois, o New York Times deu a notícia:  “A tarefa do general Villa consistirá em atuar em cenas cinematográficas que se adapte aos seus planos para depor Huerta e expulsá-lo do México, e o Sr. Aitken, seu sócio, irá distribuir os filmes produzidos nas áreas pacíficas do México, Estados Unidos e Canadá”.


Nas extremidades o ator Raoul Walsh no papel do jovem Villa e uma ilustração das filmagens na época

Para efeito, a Mutual Film enviou um grupo de quatro operadores de câmeras com equipamentos especificamente concebidos para fotografar em campo de batalha. A equipe de produção teria um vagão exclusivo no trem villista e filmaria as batalhas de Ojinaga e Torreón. E em fevereiro de 1914, começaram a preparar a biografia do líder, que devia ser dirigida pelo já famoso D.W. Griffith, mas este recusou porque se encontrava realizando “O Nascimento de uma Nação”. Mais tarde, eles contrataram o diretor Christy Cabanne. Para o papel do jovem Villa, recrutaram Raoul Walsh, então apenas ator, mas que se tornaria depois um importante diretor de cinema. Sobre as filmagens, na imprensa logo circulou as versões que transcreviam o mito e a realidade para garantir que “se as câmeras não filmassem boas cenas de batalha, Villa poderia colocá-los de novo nas filmagens”, e que “o general concordou em realizar seus ataques durante o dia”, etc. O contrato original também especificava que a Mutual Film teria os direitos exclusivos para filmar as tropas de Villa em batalha e que este receberia 20 por cento das receitas de bilheterias que os filmes proporcionassem.

A Vida do General Villa


Villa em trajes da Mutual Film

Quando o chefe da Divisão do Norte ouviu o roteiro de que o filme seria sobre sua vida, ele não só aceitou a história, como também permitiu que a Mutual Film interferisse em outros aspectos, como a de oferecer o vestuário de um uniforme confeccionado pela produtora e que permaneceria propriedade desta. O ator Raoul Walsh viajou para o México para atuar como o jovem Villa na primeira parte do filme. Nas outras partes posteriores o mesmo general interpretaria a si mesmo. De acordo com Katz, o enredo do filme mudo “A Vida do General Villa (The Life of General Villa)”, era um típico filme hollywoodiano, que sacrificava a realidade em consideração ao que o produtor pensava que seria do gosto do espectador americano. Os roteiristas pensavam que os pobres “não constituíam bons heróis” e mudaram o papel da família de Villa para transformá-los em rancheiros independentes, relativamente acomodados em suas próprias terras. Os vilões, ao invés de um proprietário de terras, foram dois oficiais federales que perseguiram duas das irmãs de Villa – então uma adolescente – enquanto elas estavam sozinhas. Uma é sequestrada, violentada e abandonada moribunda. Quando o futuro general regressa e descobre o que aconteceu, busca vingança e passa a perseguir os atacantes. Um dos oficiais é alcançado e morto, enquanto o outro consegue escapar. Villa então foge para as montanhas e se une à revolução, mas promete vingança quanto ao segundo oficial envolvido no estupro de sua irmã. Villa ganha batalhas após batalhas, até a tomada de Torreón, onde se encontra com o outro soldado e o mata com suas próprias mãos. No proverbial happy end (final feliz), Villa é aclamado pelo povo e nomeado Presidente. Assim, o general havia se convertido num herói bem ao estilo do “western” americano. Uma espécie de ‘Jesse James’ mexicano.

De herói a vilão


Cartaz do filme “Villa – Vivo ou Morto”

O fascínio que despertou Villa em Hollywood nem sempre foi positiva, uma vez que após o início da manhã de 9 de março de 1916, em que as tropas de Pancho Villa atacaram Columbus, Novo México, ele passou de herói a vilão na Meca do cinema. Naquele dia, ao atacar os Estados Unidos, Villa concretizava um plano pensado por dias, em parte por vingança contra seus inimigos – entre eles um judeu, Sam Ravel, que robou o general – e por outro lado, como parte de uma estratégia de provocar o Governo Americano e afetar o curso da luta armada no México, onde o “Centauro do Norte” nesse momento era um perdedor. Os revolucionários mexicanos entraram na cidade de Palomas, localizada no noroeste Chihuahua, e se direcionaram seu objetivo para esta localidade a 3 milhas dali. No ataque, os homens de Villa confiscaram cerca de 100 cavalos e mulas, queimaram o povoado e mataram pelo menos 17 soldados norte-americanos e 10 residentes. No entanto, eles perderam 73 companheiros que morreram na invasão, e mais cinco que foram capturados e executados depois. O presidente Wodrow Wilson respondeu a esta invasão através do envio de 10.000 soldados dos EUA para o México sob o comando do general John J. Pershing, em perseguição a Villa. Em abril de 1916, após o ataque, a Engle Film Manufacturing and Producing Company, fez um filme chamado “Villa Dead or Alive” (Villa Vivo ou Morto) e o anunciou assim: “Isso foi o que disse o Presidente Wilson, e é isso que vamos fazer. Estão preparados Americanos? Venham ver as tropas do Tio Sam em ação. Veja a tua bandeira cruzar a fronteira para punir aqueles que a insultaram”. Outro filme produzido pela Feinberg Amusement Corporation, que se chamou de “Following the Flag in México (Seguindo a Bandeira no México)” : “Villa a qualquer custo, vinte mil dólares de recompensa, vivo ou morto, nas hordas do bandido mexicano em ação”. No entanto, a incursão militar americana, que se denominou de Expedição Punitiva, nunca conseguiu pegar Villa, que escapou com sucesso todas as vezes. Em vez disso, a lenda do general cresceria e produziria mais material para filmes e livros. Até hoje, e não só na indústria holliwoodiana.
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Fontes Consultadas: 
Luis Arroyo 
El Estado (por Juan de Dios Olivas / El Diario de Juárez & suas fontes consultadas: Pancho Villa, de Friedrich Katz; Pancho Villa Una biografía narrativa, de Paco Ignacio Taibo II. Pancho Villa, Retrato Autobiográfico 1894-1914; Villa y el Cine, en La Jornada.unam.mx)
Cine Silente Mexicano (por Friedrich Katz)
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Os Filmes Perdidos de Pancho Villa (Los Rollos Perdidos de Pancho Villa)

O documentário descreve a busca do filme completo “A Vida do General Villa (The Life of General Villa)”, produzido sob contrato entre o líder rebelde mexicano e a empresa Mutual Film Corporation em 1914, realizado por Gregorio Rocha, em 2003, onde o diretor narra em primeira pessoa suas dificuldades na procura das fitas perdidas sobre Villa. Finalmente, segundo Gregorio Rocha, ele as encontrou cerca de quinze rolos na Biblioteca do Congresso Americano, em Washington DC. A produção tem a participação de Ernesto Nava, Juana Maria Villa, Villa Guadalupe, Ana Maria Zapata, Diego Zapata e os veteranos da lendária Divisão do Norte. O filme conta ainda o que aconteceu na manhã de 9 de março de 1916, quando as forças de Pancho Villa chegou a Columbus, Novo México, Estados Unidos, como sendo a primeira invasão sofrida pelo vizinho do norte. No mesmo dia, nascia em Durango uma criança chamada Villa Ernesto Ramírez, filho do general Francisco Villa. Quando o líder revolucionário morreu, sua mãe levou-o para a América e lhe disse: “Nunca revele quem é o seu pai, porque eles nos matam”. Muitos anos mais tarde, o velho Ernesto retorna à sua terra natal para descobrir que seu pai é hoje um dos guias morais dos camponeses mexicanos e herói nacional.
** Para saber mais sobre Os Filmes Perdidos de Pancho Villa, leia uma entrevista com Gregorio Rocha, diretor do documentário.
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http://www.dailymotion.com/video/x2qn59r align:center]
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Fontes Consultadas:
El Siglo de Torreón 
Tiempo 
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A Vingança de Pancho Villa (La Venganza de Pancho Villa)

Durante suas investigações sobre Os Filmes Perdidos de Pancho Villa, Gregorio Rocha rastreou os descendentes daqueles que criaram na década de trinta o filme “A Vingança de Pancho Villa (La Venganza de Pancho Villa)”. A partir de cenas ficcionais pertencentes a filmes como A Vida do General Villa (The Life of General Villa, de Christy Cabanne, 1914), e de cartões postais e fragmentos de jornais da época, cujas imagens forma a origem de documentários como História da Revolução Mexicana (Producciones Julio La Madrid, 1928), nasceu este filme que recria as façanhas de Pancho Villa na Revolução Mexicana. Estes materiais foram editados pelos mexicanos Felix e Edmundo Padilla, cineastas itinerantes cujas atividades transcorreram majoritariamente na fronteira do México com os Estados Unidos, entre 1922 e 1937, onde produziram este documentário nos anos 30. A restauração deste filme, composto por sete rolos de nitrato doados para a Universidade do Texas, pela filha de Edmundo Padilla, foi realizada pelo laboratório de L’immagine Ritrovata, em Bolonha, na Itália. No início, seu objetivo era encontrar um outro material perdido, A Vida do General Villa (1914), em que o próprio Villa colaborou mediante pagamento prévio com a Mutual Film Corporation, onde os Estados Unidos ainda o viam como um herói e não como um bandido. O tesouro estava na Universidade do Texas, na fronteira de El Paso, onde continha sete latas deformadas de celulóide em um cofre projetado para armazenar coisas raras, com uma reprodução em látex da cabeça de Pancho Villa. Rocha havia encontrado os cartazes de filmes produzidos em El Paso, então ele supôs que “A Vingança de  Pancho Villa” deveria estar por perto, e em sombras quase desconhecidas da biblioteca ele o encontrou. O filme havia sido mostrado no norte do México e nos Estados Unidos, mas jamais na capital mexicana. O mais curioso do material, de acordo com Rocha é que o criador do filme conseguiu converter o material original, principalmente antivillista, “em um filme profundamente anti-ianque”. Depois de seus flertes iniciais, o líder da Revolução (1910-1917) não era mais visto como um herói por Hollywood quando atacou a cidade de Columbus, Novo México, em retaliação à  venda de munições defeituosas que lhe custou várias batalhas. Depois disso, ele se tornou o inimigo público número um para os Estados Unidos e na Meca do cinema que o plasmava como tal em suas produções. Assim, em “Liberty”,  uma superprodução de 1916, da Universal Studios, Villa passou a ser chamado de Pancho López, e pelo povo de Columbus de um aventureiro. O revolucionário era, naturalmente, o vilão do filme.

Montagem Hábil


Edmundo e Felix Padilla e uma foto de Edmundo no final de um set de filmagem

O que Hollywood não contava era com a astúcia de Felix Padilla, proprietário do filme mexicano que fora feito anos depois, com rolos deste filme e de outras películas, onde imprimiu uma virada de 180 graus para a caracterização do líder. Mediante um hábil conjunto de fragmentos de “Liberty” e “Lieutenant  Danny”, EUA (também de 1916), juntamente com documentários mexicanos sobre a Revolução e pedaços de “A Vida do General Villa”, Padilla criou o seu próprio filme. Ele mudou os rótulos da metragem americana para que o bandido Pancho López se tornasse o herói, e fez do protagonista americano da história o bandido. “Villa é visto como um vingador dos abusos com os mexicanos feitos pelos gringos americanos”, diz Rocha. A montagem começou em 1920 e levou cerca de 15 anos para Padilla, que montava e remontava, uma e outra vez, conforme o público – também de americanos – para quem o projetava. Após sua morte, seu filho Edmundo, mais focado sobre a real história, continuou a mostrá-lo. “A cópia foi praticamente desprezada”, diz Rocha. Paradoxalmente, foi o governo dos Estados Unidos, através da Biblioteca do Congresso, que financiou a restauração do filme em um laboratório italiano, e incluído em 2010 no National Film Registry, como um documento representativo de sua história. A exibição de “A Vingança de Pancho Villa” pela primeira vez na Cidade do México não foi sem ironia, uma vez que se realizou no Palácio de Bellas Artes, o suntuoso teatro encomendado pelo ditador Porfirio Díaz, contra quem Villa se lançou em armas.
** Gregorio Rocha relata aqui sobre sua descoberta de “A Vingança de Pancho Villa”  
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Em Acme & Co. (México, 2006), Gregorio Rocha descreve o filme ‘A Vingança de Pancho Villa’, dos Padillas

https://www.youtube.com/watch?v=YrawE8Xxz74 align:center]
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Fontes Consultadas: 
Cineteca Nacional México 
El Mundo 
# Saiba mais Aqui

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A Expedição Punitiva


Foto da Expedição Punitiva na captura de Pancho Villa

Dez mil contra Pancho Villa, a fracassada Expedição Punitiva Ianque

De tempos em tempos aparecem no USA os inimigos públicos nº. 1, geralmente “terroristas”, portadores de “cultura bárbara e selvagem”, irresponsáveis e sempre na eminência de atacar a população americana.

Atualmente a propaganda ianque esforça-se por nos convencer da existência de uma fictícia rede de terror, em que tudo que é antiimperalista se transforma em Al Qaeda e árabe (mesmo que no Irã vivam os persas, e não os árabes), dirigida de uma desolada caverna pelo atual inimigo público nº1, Osama Bin Laden. Mas, o que queremos mesmo contar é a história da única invasão de um exército latino-americano em território ianque e a derrota de sua retaliação ao inimigo público nº. 1 do momento, entre 1916 e 1917, Pancho Villa. Segundo o historiador Friedrich Katz, o general revolucionário Francisco Villa construiu durante a Revolução Mexicana o maior exército revolucionário da América Latina. Embora suas façanhas militares durante a Revolução Mexicana sejam notáveis, sua maior ousadia foi invadir o território ianque, atacar uma cidade e depois, perseguido por mais de 10 mil homens (alguns dirão 20 mil) com aviões e artilharia, sair com sua saúde melhor do que antes da invasão. Antes que se formasse uma expedição para capturar Villa, o USA já havia invadido o México pelo menos mais duas vezes. Primeiro entre 1846 e 1848, quando depois de inúmeras batalhas conseguiram entrar na Cidade do México, impondo um acordo onde o México perderia metade do seu território, os atuais estados do Texas, Califórnia, Nevada, Utah, Novo México, Arizona e partes do Colorado, Wyoming, Kansas e Oklahoma em troca de 15 milhões de dólares. A segunda invasão aconteceria durante o governo de Huerta, com a ocupação do porto de Veracruz. As invasões ianques deixaram um profundo espírito antigringo na população mexicana, que seria capitalizado por Villa em 1916 e 1917.

O Ataque de Villa a Columbus


Pancho Villa e seu Estado-Maior
 
Após a tomada da capital do México pelas tropas de Villa e Zapata em dezembro de 1914, é instaurado um governo provisório. As forças revolucionárias se dividem entre constitucionalistas (Obregón, Carranza e Pablo González) e convencionalistas (Zapata e Villa, que aceitaram os termos da Convenção de Aguascalientes) Os constitucionalistas, contra todas as apostas, conseguem infringir importantes derrotas a Divisão Norte de Villa e os zapatistas são obrigados a retornar a Morelos. Após uma sucessão de derrotas, traições e intrigas, Francisco Villa volta para o norte, é abandonado por alguns de seus generais e dissolve a Divisão do Norte, continuando a luta revolucionária com a utilização de táticas de guerrilha. Em outubro de 1916 o USA reconhece Carranza como governante do México e fecha a fronteira para a compra de armas por Pancho Villa. A Revolução Mexicana foi feita em um país que não produzia armas e munição, dependendo de um abastecimento frequente na fronteira ianque. Um comerciante lituano que vivia no USA havia trapaceado, recebido o dinheiro villista, mas não entregado o carregamento de armas. Outros, aproveitando das dificuldades no exército de Villa chegariam a vender munição defeituosa. Somando os problemas com a munição, o reconhecimento do governo de Carranza pelo USA, a possibilidade de tomar um banco e se vingar dos ianques pela ajuda dada aos carrancistas na Batalha de Água Prieta, Francisco Villa começa a arquitetar o plano de invasão e tomada da cidade gringa de Columbus. “Vamos bater os gringos em sua própria terra e, de quebra, pegar aquele que nos roubou a munição!” (continua Aqui…, no Site A Nova Democraciapor Felipe Deveza)
** Saiba mais AquiAqui Aqui 

Detalhe: O futuro general George Smith Patton era recruta nesta ocasião da Expedição Punitiva, comandada pelo general John J. Pershing, onde muitos historiadores afirmam que tal expedição serviu também de treinamento para as tropas americanas que entraria na I Guerra Mundial logo em seguida. Além de intervir e empastelar com a Revolução Mexicana, claro. Quanto ao recruta, muitos afirmam que ele não era um dos mais valentes coisa nenhuma, embora serviu novamente com Pershing, que fora promovido a Comandante Geral e ele a capitão na guerra europeia.
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Documentário com os sobreviventes do Exército Villista e a Expedição Punitiva

http://www.dailymotion.com/video/x2qn6j9 align:center
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O ‘sarro’ dos mexicanos com a Expedição Punitiva
Corridos – A Perseguição de Pancho Villa – Interpretações de Antonio Aguilar, Ignacio López Tarso e Los Alegres de Terán (com animações de esqueletos, possivelmente baseados nas ilustrações de Guadalupe Posada)

[video:https://www.youtube.com/watch?v=HjR51QxLJrA align:center
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John Reed no México Insurgente


John Reed no México, ao lado de Pancho Villa, e capa de seu livro México Insurgente 

(…)
Era 1914 e Villa liderava o levante de camponeses, trabalhadores e peões que depois se ampliaria pelo estado de Chihuahua, região de Juarez, Jimenez, Nieves e Nogales, todo norte do país, culminando na batalha de Torreón e abrindo caminho para Cidade do México. Então, já se afigurava “não só uma revolução militar, mas uma revolução social”, escrevia Reed. A esta altura, o movimento repercutia forte, nos Estados Unidos, com a grande mídia falseando fatos para defender interesses econômicos do governo americano no México. Uma prática de jornalismo que nos é bem familiar.

Reed simpatizava com a situação dos revolucionários e era um crítico veemente dos lobbies milionários e de qualquer intervenção norte-americana – a qual acabou chegando mais tarde. Através de documentos e sempre com Taibo in loco, o vídeo mostra a travessia de Reed pela fronteira de El Paso e a chegada a Chihuahua, reduto de “Pancho” Villa, por quem nutria grande admiração e do qual se tornou bem próximo. A série de seus artigos sobre a revolução e entrevistas com Villa foram o estofo do seu México Insurgente.

“Reed era um rebelde social”, comenta Taibo com o historiador Jesus Vargas, que participa do vídeo. “Escreveu também que esse período do seu trabalho ele considerava como um dos mais satisfatórios para si mesmo”. Vargas lembra trechos da principal entrevista do jornalista com Villa, na qual o líder revolucionário revela um sonho para a sua “nova República”: ‘Não haverá exército no México. Exército é o maior apoio a todas as tiranias’.

Há um diálogo expressivo entre Taibo e Vargas onde se pode entender, do ponto de vista histórico, o México de ontem e de hoje. Referências a algumas anotações de Reed sobre visões de “Pancho” Villa. “Ele escreveu que a luta de classes no México não era apenas dos pobres contra os ricos. Havia nela uma perspectiva racista contra negros, eslavos – a grande força trabalhadora naquele instante, no país -, judeus e italianos. Reed registrou essa visão de Villa. A de que era preciso romper o modelo norte-americano e o mito de que o futuro e o progresso deveriam ser construídos por uma sociedade branca. Pois esse era um conceito de terceiro mundo que apenas surgiu décadas depois, ao fim da segunda guerra mundial. Naquela época existia o primeiro mundo e o resto era a merda…”

Outro registro recorrente nas reportagens de Reed é comentado por Taibo. A quase obsessão de Villa pelo tema da educação. “Em Chihuahua ele criou 50 escolas em 30 dias. Mais de 40% do orçamento do governo revolucionário era destinado à educação. Isto é a revolução”. Como filho de família (conservadora) muito rica de Portland, Reed tinha sido estudante de Harvard. Sabia bem o que significava educação; uma boa educação. Uma educação de primeira linha.

“E quando você envelhecer?” Perguntava Reed ao amigo entrevistado durante um encontro entre os dois que durou dias seguidos, em Chihuahua. “Villa dizia que sua ambição era a de viver numa pequena granja, trabalhando, e entre os companheiros que tanto sofreram e a quem ele queria muito. Ele desejava continuar ajudando o México a ser um lugar feliz”.

Quando voltou a Nova Iorque, John Reed percebeu que tinha uma imensa história nas mãos: a grande crônica da revolução mexicana. Fechou-se durante meses em casa e, obstinadamente, o ‘rebelde social’ escreveu seu primeiro livro.

Depois, a história o levou a escrever sobre os cem dias em que mencheviques e bolcheviques disputaram o poder. Outra imensa história.

** Há mais dois filmes inspirados nas anotações e no livro de John Reed: o de 1973, Reed: México Insurgente, do diretor mexicano Paul Leduc (Aqui), e a coprodução em duas partes do México, Itália e URSS, Red Bells, de 1983, ambas dirigidas por Sergei Bondartchuk.

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Documentário John Reed, por Paco Ignacio Taibo II

[video:https://www.youtube.com/watch?v=3hiDxi72BIE align:center
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Fontes Consultadas: 
Portal Vermelho (por Léa Maria Aarão Reis, na Carta Maior)

# Sobre o livro México Insurgente e John Reed: Aqui Aqui 
# Fotomontagens: Jota A. Botelho
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Jota Botelho

5 Comentários

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    1. Outra imensa história

      “Depois, a história o levou a escrever sobre os cem dias em que mencheviques e bolcheviques disputaram o poder. Outra imensa história”. Estamos aguardando!!

      1. Obrigado, mas é o stress…

        Realmente eu estou muito estressado. O trabalho anda puxado demais e fico sem tempo. Aqui é bom para quem já cumpriu sua missão e hoje tem o tempo livre, está por conta do “à toa”. Quem sabe eu chego lá um dia. E eu não consigo fazer um post sem o mínimo de criatividade. O ‘traga a jato’, isto é, ir lá no youtube buscar um ou mais vídeos e postar não me dá prazer algum. O que me atrai é a criação do post em si. Sua elaboração, principalmente quando se trata de algo importante na história, na música, na literatura etc. Nesses casos, temos a obrigação de dar pelo menos um tratamento adequado sob pena de vulgarizarmos a cultura. Uma Elizeth Cardoso, um Noel Rosa são uns gigantes, portanto, requer um tratamento especial. Não é simples assim… E pensar também no público externo que nos acessa, hoje com cerca de 4 milhões/mês. O público interno é importante também, dão vida ao Blog, participam, interagem, mas aqueles que nos acessam, p.ex., pela primeira vez e vê um post sem nenhum acabamento – podemos lhes causar uma péssima impressão, enfim, “espantar a caça”, como diria os bons caçadores. Eu gosto de trabalhar com temas e divulgá-los. Neste ponto, eu procuro manter minha coerência deste o príncipio – que é o de DIVULGAR! No mais, vamos em frente. Eu até tenho uns três ou quatro posts engatilhados. Mas vamos aguardar. Isso passa. Tudo passa, não é mesmo? E os posts são tão efêmeros quanto os jornais vencidos de antigamente. Se bem que os jornais velhos tinham lá sua serventia, como o de forrar latas de lixos, o chão para os pintores de paredes, ou o seu uso na hora do aperto, lá detrás da moita, quando fosse o caso (risos).

        Um carinhoso abraço. E obrigado mais uma vez. Quem sabe voltaremos ao tema dos ‘Dez Dias Que Abalaram o Mundo’, de John Reed. Até lá… mas antes um tira gosto!

        Olha o livro aí, e o link John Reed – 10 Dias Que Abalaram O Mundo


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        E o documentário:

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=-hyzOWUSF4g align:center]
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  1. Pesquisa de fôlego

    Amigo Botelho

    Parabéns por mais essa pesquisa de fôlego. Agora eu posso dizer que conheço Pacho Villa.

    Você é um dos melhores “colunistas” do GGN, sempre abordando seus temas com profundidade e riqueza de complementos (fotos/vídeos/links…) proporcionando aos leitores uma visão macro do assunto abordado.

    Grata pelo seu trabalho de alto nível de informação e estética.

    Grande abraço da amiga Laura.

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