Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Sete filmes que anteviram a crise da segurança no Espírito Santo, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

O cinema e o audiovisual parecem ter o estranho poder de prever cenários futuros: a eleição de Donald Trump, o atentado ao WTC em 2001, o atentado na Maratona de Boston em 2013, a hegemonia econômica da China etc. em filmes e séries como “”Os Simpsons, “Americathon” ou “Lone Gunmen”. No auge do neoliberalismo de Reagan e Thatcher nos anos 1980, filmes como “Robocop” e “Max Headroom” apresentavam futuros distópicos, efeitos colaterais das políticas de austeridade e privatizações que agora acompanhamos ao vivo nas ruas do Estado do Espírito Santo – no vazio do poder público sucateado, as ruas são dominadas por crimes, saques e assassinatos. O Exército chegou para ocupar as ruas. Mas será que o próximo passo, seguindo a cartilha neoliberal, é a privatização das forças de segurança, assim como a OCP (“RoboCop”), MNU (“Distrito 9”), Tetravaal (“Chappie”) ou a NYPC (“From The Future With Love”)? Acompanhe a lista de sete filmes que anteviram cenários futuros nos quais o Brasil está entrando.

Cidadãos presos nas suas casas, estocando comida diante dos monitores de TV acompanhando as declarações do governador e ministros perplexos e aparvalhados. Lá fora, nas ruas, os mortos já ultrapassam quase uma centena, enquanto supermercados são saqueados à luz do dia. Vê-se famílias de classe média empurrando nas ruas carrinhos de supermercado apinhados com produtos dos saques – alimentos e eletrodomésticos. Ao mesmo tempo, pessoas são arrancadas de dentro dos seus carros. Automóveis que serão usados para a próxima ação de grupos armados.

O Exército chega para tentar controlar o caos. Soldados armados podem ser vistos fazendo blitz aleatórias. Tanques e veículos blindados surgem nas ruas para tentar manter a lei e a ordem. Demonstram estar tão perdidos quanto a população.

Parece que estamos descrevendo alguma sequência de um filme catástrofe como Guerra dos Mundos ou pós-apocalíptico como Mad Max. Mas tudo isso está acontecendo nesse momento no Estado do Espírito Santo, efeito do aquartelamento da polícia militar, impedidos de sair dos batalhões pelas suas famílias que protestam pelo não pagamento de salários e benefícios.

O Espírito Santo era uma Estado que seguia à risca a cartilha neoliberal da “austeridade” (eufemismo para cortes de investimentos para tudo que tenha a ver com saúde, segurança, educação e cultura), um exemplo de responsabilidade fiscal vendido para o restante do País. Mas agora está imerso numa espécie de guerra civil. 

Familiares de policiais de outros estados, como Rio de Janeiro e Pará, começam a seguir o exemplo capixaba e protestam diante dos quartéis, ameaçando estender o caos para o restante do País.   

 Ao vivo acompanhamos as consequências do neoliberalismo que, mesmo os países que deram origem a essa doutrina econômica (o thatcherismo britânico e os chamados “Chicago Boys” nos EUA), estão relativizando a implementação ao pé da letra das suas políticas. 

Os “Chicago Boys” nos anos 1950: nem eles imaginavam sua cartilha aplicada ao pé da letra

A cartilha literal e selvagem

Enquanto isso no Brasil, querendo ser mais realista que o próprio rei, aplica-se a cartilha de forma selvagem e irrefletida.

A partir dos anos 1980, em pleno auge da doutrina neoliberal com Ronald Reagan nos EUA e Margareth Thatcher no Reino Unido, Hollywood produziu muitos filmes que apresentavam uma crítica a essa ortodoxia econômica: futuros distópicos nos quais as corporações eram mais fortes do que o próprio Estado, enquanto nas ruas a polícia privatizada tentava manter o caos em cidades que caiam em pedaços pela ausência do poder público.

Robocop (1987) e Max Headroom (1985) são exemplos de filmes que já antecipavam o futuro que estamos apenas começando a experimentar. O pior é que no nosso caso brasileiro, como país periférico, é onde a receita neoliberal será aplicada de forma mais literal e selvagem como começamos a acompanhar com coisas como “PEC do fim do mundo” e toda uma geração que será condenada a morrer sem jamais ver benefícios trabalhistas e previdenciários.

Como já discutimos em postagem recente, o cinema e o audiovisual parecem ter uma incrível capacidade para antecipar cenários futuros como, por exemplo, atentado de Nova York (The Lone Gunmen, 2001), eleição de Donald Trump (Os Simpsons, 2000), atentado na Maratona de Boston (Family Guy, 2013), o colapso do Comunismo e a atual supremacia econômica da China (Americathon, 1979) entre outras produções – sobre isso clique aqui.

Esse humilde blogueiro preparou uma lista de sete filmes que anteveem as visões distópicas que começam a se materializar no Brasil. Estamos às portas das distopias neoliberais previstas por (pasmem!) Hollywood e a indústria audiovisual dos EUA.

1. Robocop (1987)

O filme é uma dura crítica ao urbanismo neoliberal. Numa pós-industrial e decadente Detroit, o poder público cai aos pedaços, criminalidade e drogas dominam as ruas e policiais são assassinados, trabalhando sobrecarregados e com parcos salários mantendo forças de segurança sucateadas pelo Estado. Policiais ameaçam greve depois do assassinato de outro oficial.

Mas a corporação Omni Consumer Products (OCP) tem outros planos: substituir o poder público e, sob os escombros da velha Detroit, construir “Delta City”, uma comunidade com segurança, limpeza e ordem para aqueles que disponham de dinheiro para pagar. 

Mas a pedra no sapato da OCP são as forças policiais e sua irritantes exigências por direitos trabalhistas. Um jovem executivo yuppie tem a solução: privatizar a segurança através do programa RoboCop com autômatos fortemente armados que substituirão a velha força policial. Afinal, robôs são mais confiáveis – não têm famílias, não fazem greves, não têm sindicatos e nem direitos como a exigente força de trabalho humana.

RoboCop é a metáfora entre o policial humano público e a máquina corporativa privada. Numa velha Detroit dominada por gangues, traficantes e saqueadores enquanto o poder público é propositalmente desmantelado para que a OCP reconstrua a cidade. Para aqueles que têm dinheiro. Bem vindo ao futuro brasileiros!

2. Max Headroom: 20 Minutos no Futuro (1985)

Novamente o urbanismo neoliberal da era Reagan-Thatcher: uma cidade distopica com ruas apinhadas de lixo, sem tetos, gangues punks e traficantes sob céus poluídos. A única coisa que se distingue imponente no skyline de ruínas á o prédio da emissora de TV Rede 23.

Amedrontados, os cidadão não saem de casa. Com o altíssimo desemprego, os cidadãos passam seus dias assistindo à hegemônica Rede 23. Até que misteriosamente um telespectador morre: sua cabeça explode diante da TV. 

O repórter Edson Carter descobre que a poderosa Rede 23 está testando um invento subliminar chamado “blipvert” para evitar troca de canal ou, simplesmente, impedir que o telespectador desligue a TV. Com as ruas dominadas pelo caos, já que não se vê a mínima atuação de algum poder público, os cidadãos estão vulneráveis aos terríveis efeitos colaterais dos blipverts. 

Qualquer semelhança com a aliança entre o sucateamento do poder público brasileiro e o sistema de comunicação hegemônico da TV Globo não será mera coincidência. Max Headroom anteviu a perversa aliança entre neoliberalismo e mídia. Sobre o filme clique aqui.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

1 Comentário

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  1. Infelizmente só assisti

    Infelizmente só assisti Robocop. E na época nem entendi bem a metáfora. Hoje me encorajo, claro que com possibilidade de erro, a interpretar até os que não assisti: Não há final feliz para ninguém em nehum deles. No mesmo balaio estarão chicagos-boys e manos-periféricos, hartungues e peemes, temeres e angorás, pobresricos e sópobres, juizes-de-teto e juizes-de-piso. E a mensagem é, ou deveria ser: “O inferno é grande, cabemos todos”. Ou, “Na falta de Justica, ninguém escapa da Vinganca”.

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