Tornando-se mulher: 20 filmes para quem se ferrou no ENEM 2015

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Thiago Rabelo

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Navegando sem muito compromisso, encontrei na internet uma divertida analogia a respeito do que foi o Exame Nacional do Ensino Médio 2015, realizado em todo o Brasil no último fim de semana.

Nela, a autora, chateada por não ter participado da prova, dizia que o ENEM:

“É como uma daquelas festas chatas das quais você sempre participou e que, na única vez em que não pôde ir, foi sensacional”

Exageros à parte, a inspiração da frase, como você já deve saber, foi a riqueza temática do teste.

Abordando desde o básico para os seus próprios parâmetros até temas inerentes à variedade cultural do país, havia no exame questões que discorriam sobre as tradições e valores da comunidade afro-brasileira, conceitos básicos relacionados ao movimento feminista, indagações sobre diferenças sociais em território nacional e tantas outras que desafiavam aqueles com dificuldade de enxergar o todo com a devida atenção.

Ou seja: essa sim foi uma baita prova educativa!

Mas em plena era na qual muitos jovens trocam a profundidade dos livros pelas duvidosas pílulas de conhecimento receitadas pelas redes sociais, acabou faltando a muita gente a bendita capacidade de discernimento.

Pois o que pude perceber nas últimas horas é que a inacreditável reação de muitos ao comentado tema de redação (“A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”) é uma mistura de analfabetismo político e ódio ao atual governo que trouxe à tona aquele que é o óbvio e maior problema de quem precisará repetir o exame em 2016: a pura e simples falta de estudos. Ou desinteresse, pra ser mais exato.

Mas o problema não se resume a isso: ao conferir as questões presentes na prova, notei, ao contrário do que os mais exaltados afirmam, apenas uma bela seleção de fatos históricos que deveriam fazer parte do repertório de qualquer aluno que tem como objetivo entrar numa faculdade. No implausível frigir dos ovos, a situação culminou numa inacreditável leva de reclamações que tratavam necessidade de acesso à informação como… doutrinação.

Vamos abrir o jogo, queridos revoltados: pouco interessa se vocês são incapazes de compreender a importância do Feminismo para os avanços sociais da mulher. O movimento existe e ponto final. Quem o fundamentou, quais seus principais desdobramentos e quais foram suas principais conquistas são informações que precisam fazer parte da preparação de todos os participantes. E o mesmo pode ser dito sobre as crenças e costumes alheios, ainda que haja quem não acredite ou concorde com eles.

Mas a ignorância comeu solta no pós-exame, tratada a partir de bilateralidades infantis até mesmo para o mais dengoso dos bebês.

Assusta, por exemplo, saber que para muitos estudantes frustrados e até políticos (extremistas, vá lá) Simone de Beauvoir é apenas uma “esquerdista” qualquer, tradições próprias da comunidade afro não passam de “macumba” e violência contra a mulher virou “coisa do PT”.

“A gente pode comparar o Enem a um fórum de debates sobre direitos e deveres dos cidadãos. É como se o Enem convocasse 7 milhões de estudantes para discutirem uma questão, e uma questão social pertinente como a violência da mulher. Acredito que foi uma escolha muito feliz do tema porque ainda não conseguimos vencer essa chaga tão horrorosa. A aplicação da lei ainda não se efetivou” — Maria Aparecida Custódio, do Colégio Objetivo, em entrevista ao G1.

Dessa forma, também cabe a mim contribuir com a importância do debate iniciado pelos professores responsáveis pelo ENEM e, dentro das minhas possibilidades, indicar obras bacanérrimas para aqueles que precisarão passar mais alguns meses estudando para 2016.

Mas é claro que não vou indicar livros, já que muitos devem ter sido mencionados durante os meses de estudos dessa galerinha desatenta, optando, ao invés disso, pelos meus queridos filmes como forma de dar aquela força aos reprovados.

O contexto da breve seleção que fiz — e que pode ser complementada por você com inúmeros outros exemplos — é a história dos movimentos sociais destinados à igualdade entre gêneros, claramente o calcanhar de Aquiles de muita gente.

Nesse sentido, procurei reunir obras de várias partes do mundo e, em sua maioria, posteriores às décadas de 60 e 70, períodos fundamentais para a revolução sexual e também para a compreensão do universo feminino hoje em dia.

E lembre-se: por mais que você, por motivos obscuros, indecifráveis ou risíveis como os de Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, não concorde com o Feminismo, já deve saber que achismos são irrelevantes para a causa e, claro, não são pauta do exame, certo?

Pois bem, vamos ao que interessa. Abaixo, 20 filmes essenciais para quem se ferrou no ENEM 2015.

1. Jeanne Dielman

2. Uma Canta, a Outra Não

3. O Casamento de Maria Braun

4. Women Without Men

5. Female Trouble

6. A Question of Silence

7. Tete-a-Tete (2013)

8. Daughters of the Dust

9. Princesa Mononoke

10. Três Mulheres

11. A Última Amante

12. Um Tiro para Andy Warhol

13. Thelma & Louise

14. Smithereens

15. A Mulher Sem Cabeça

16. Anjos Rebeldes

17. Female Misbehavior

18. I Was a Teenage Serial Killer

19. Crisântemos Tardios

20. Dyketactics

Confira detalhes sobre cada filme aqui.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. O grande problema dessas

    O grande problema dessas listas é que sempre ignoram o cinema brasileiro. Nosso primeiro filme importante, Ganga bruta, do pioneiro Humberto Mauro, de 1931, já trata do machismo. Na primeira sequência, um engenheiro mata a mulher na noite de núpcias por ela não ser virgem, é absolvido, e depois a história continua… Para citar outro filmaço brasileiro recente, sobre a condição feminina: O céu de Suely, de Karim Ainouz.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=55pkZpXr2R8%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=O7Rl5y7dOcQ%5D

  2. Muito boa coletânea. E tem,

    Muito boa coletânea. E tem, também, “Shirley Valentine” (Lewis Gilbert, 1989) que, parafraseando o Gandhi, decide ser a revolução que gostaria ver no mundo.

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