A ameaça maior é o Ministério de Brancaleone, por Luis Nassif

Guedes até agora não conseguiu tomar conta sequer da tartaruga do repasse de recursos aos vulneráveis, mesmo tendo no Estado brasileiro os maiores especialistas mundiais na matéria. Enrolou-se por duas semanas com o tema, escondendo-se atrás de falsas questões – o lero-lero de que haveria a necessidade de uma Medida Provisória para liberar os recursos.

A maior ameaça ao Brasil, neste momento, não são nem os arroubos de Jair Bolsonaro no Twitter e suas declarações contra o confinamento obrigatório, mas o Estado-Maior que ele trouxe para combater as duas maiores crises da história, a sanitária e a econômica.

Os desafios econômicos são enormes:

* um aumento crescente no déficit em transações correntes, que se ampliará com a redução do saldo comercial, já que a crise atual reduzirá o mercado de produtos manufaturados e as cotações de commodities. No acumulado de 12 meses até fevereiro, o déficit em transações correntes foi de US$ 52,9 bilhões. A balança comercial, mesmo antes do coronavirus, vinha registrando queda no saldo comercial. E não se terá o colchão dos investimentos externos para tapar o buraco. O país salva-se pelas reservas cambiais, que precisarão ser utilizadas com parcimônia.

* principal motor do crescimento mundial, e principal mercado para as commodities brasileiras, a China patina em incertezas. As estimativas é que, se não houver um desempenho notavelmente melhor até junho, há riscos da China enfrentar um desemprego de dois dígitos e o a primeira recessão oficial desde 1976. Algumas instituições, como a ANZ, da Austrália, chegam a estimar uma queda de 9,4% no PIB da China no primeiro trimestre, outra de até 2,1% no segundo.

* principal destino das exportações de manufaturados brasileiros, a economia dos EUA afunda.

* há revisões diárias do crescimento do PIB brasileiro em 2020. Algumas instituições chegam a estimar queda de 5%.

* as previsões mais otimistas indicam um aumento da taxa de desemprego para 13,3%.

Há  o enorme desafio de preparar a economia para o baque que vem pela frente. Haverá a necessidade de reconversão da indústria, de identificação dos setores que puxarão a economia daqui para frente, dos setores críticos que precisarão ser amparados, do uso sincronizado dos instrumentos de apoio ao setor, da melhor maneira de utilizar as reservas cambiais, de tornar eficientes as políticas de crédito.

Guedes até agora não conseguiu tomar conta sequer da tartaruga do repasse de recursos aos vulneráveis, mesmo tendo no Estado brasileiro os maiores especialistas mundiais na matéria. Enrolou-se por duas semanas com o tema, escondendo-se atrás de falsas questões – o lero-lero de que haveria a necessidade de uma Medida Provisória para liberar os recursos.

Até agora, coube ao Banco Central tomar algumas medidas para enfrentar o fogo imediato. O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) está amarrado, nas mãos de um presidente inepto, companheiro de farras de Eduardo Bolsonaro. O antigo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços é comandado por um assessor de Guedes, Carlos Costa, envolto em suspeitas na sua passagem pelo Inmetro. No site do MDIC, a última notícia é de 22 de janeiro, sobre uma reunião em Davos. O Ministério da Cidadania está com Onyx Lorenzoni, de uma mediocridade acachapante. O Banco do Brasil está nas mãos de Rubens Novaes, que só aparece quando endossa as asneiras de Bolsonaro.

E o que se tem pela frente, no pós-coronavirus, é um furacão.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, classificou a epidemia de Covid-19 como “a pior crise mundial desde a fundação da ONU”. A combinação de uma doença ameaçadora, com o impacto econômico amplia o risco de maior instabilidade, aumento da violência, aumento de conflitos.

É imperiosa a saída de Bolsonaro, não apenas por seu desequilíbrio patente. Há a necessidade de uma reestruturação no comando da crise, um conselho que junte os diagnósticos dos técnicos do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), BNDES, MDIC, Apex (Agência de Promoção das Exportações), dos economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e de associações de classe representativas, como a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas), os setores especializados em tecnologia e na economia da saúde, como a Coppe, Poli, Fiocruz e outras universidades, e as instituições que podem atuar na ponta, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Não se vence a guerra com um Estado Maior medíocre e sem uma estratégia clara.

Luis Nassif

11 Comentários

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  1. Acompanhe as publicações das entidades empresariais e verá que todos seus economistas são mais ortodoxos do que Paulo Guedes. Esqueça, desse mato não sai coelho.

  2. Juro por Deus que não entendo o espanto do Nassif. Não mesmo.
    Pra mim é mais do que óbvio que esse governo de imbecis não tem nenhum interesse em salvar a economia, defender os interesses do Brasil, preservar os empregos ou seja lá o que for. Tá na cara isso. Sempre deixaram claro que consideram o brasileiro um lixo e o Brasil uma cloaca imunda.
    Porque agora fariam algum esforço em sentido contrário?
    E tem outra: também tá mais do que na cara que FFAA, STF, Congresso, PMDB, DEM, PSDB, PF, MPF et caterva apoiam com unhas de dentes essa posição do governo. Nunca vi tanto essas instituições reunindo tanto esforço para defender canalhas, portanto. são cúmplices.
    Não devemos ter ilusões: Bolsonaro foi eleito por essa gente para arruinar o país e, pelos resultado, está fazendo um EXCELENTE trabalho.

  3. A demora em liberar recursos para os mais necessitados não tem nada a ver com a (in)competência do ministro e sim com uma ação orquestrada no desgoverno para assumir definitivamente a ponta nas discussões da pandemia.
    Jogo arriscadíssimo a menos que disponha de informações super privilegiadas acerca de uma possível descoberta sobre alguma droga que possa conter o avanço da doença.
    Quanto ao desgoverno, é chover no molhado sobre a necessidade da saída do sujeito que ocupa a presidência da República. Isto foi feito ainda na campanha eleitoral e esta proposta foi perdedora.
    Achar que muita coisa mudou desde então não é engano.
    Mudou. Mas mudou a favor do sujeito.
    Hoje,além das milícias virtuais onde nada com lerda vantagem,possui,pelo poder do governo, várias emissoras de TV onde fala a hora que quer e uma legião de incautos evangélicos.
    Assim,o caminho para a sua remoção não é este mamão com açúcar que se pensa.
    A situação precisa piorar muito para os enfeitiçados deixarem de segui-lo

    1. Cara, concordo ipsi literis com tua opinião. Acrescento apenas que a nosso imprensa deveria sistematizar um bloqueio referente à cobertura das ações de Bolsonaro, ou informar o mínimo, sem se ater ao que ele fala ou faz, centrar-se no conteúdo institucional, para arrancar dele o palanque o confronto. É de lamentar o nível e falta de estratégia, ou pelo menos uma estratégia equivocada aparentemente, pois o Bozo se alimenta do confronto e quando a imprensa entra nesse jogo, entra para perder.

  4. E o Tarcísio neste imbróglio todo. Eu, de cada e leigo, acredito estar se desempenhando bem. Suponho que esteja em estreita colaboração com os governadores.

  5. “O Exército de Brancaleone” é um belo e mágico filme. Não é possível usar este nome para nomear o atual ministério. É, literalmente, um sacrilégio estético e ético isso o que Nassif fez.

  6. Nassif,
    Uma coisa que percebi: Bolsonaro é tão inconsequente que não tira as pessoas do cercadinho do Alvorada. Assim, todas as pessoas que estão lá correm riscos.

    Um idiota.

  7. Duas coisas a serem olhadas: a Localiza e a Estapar.
    As duas possuem participação bilionária dos fundos geridos pela Bozano, do Paulo Guedes, e foram beneficiadas por medidas recentes
    A localiza pela compra, pelo governo, de créditos inadimplidos de financiamento de automóveis. A Estapar pela licitação da Zona Azul de SP.

  8. Desde o início, Bolsonaro disse que não veio para construir e, sim, para destruir tudo o que a esquerda fez no País, nas últimas décadas, em especial, as políticas públicas. Paulo Guedes e sua equipe são da escola de Chicago e têm como mantra, privatizar, privatizar, privatizar… O discurso de “mais Brasil e menos Brasília” resumem isso. Enfim, dar auxílio para pobre é algo que não existe na sua cartilha e soa como heresia para ele. É coisa de comunista. Por isso, Paulo Guedes fica colocando obstáculos para implementar as medidas emergenciais. Além de nem ter expertise para essa empreitada, ele certamente deve estar preocupado em não manchar o seu currículo ultraliberal.

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