A ata do Copom e o mundo irreal do Banco Central brasileiro, por Luis Nassif

Com seus últimos comunicados, o Banco Central em demonstrado os vícios do pensamento especializado.

Nos Estados Unidos, há o FED nacional e FEDs estaduais. Em todos eles, há um conselho constituído por economistas de diferentes formações, empresários de diversos setores, permitindo uma visão múltipla da economia.

No caso brasileiro, desde o Plano Real acabou essa diversidade. Atualmente, o CMN (Conselho Monetário Nacional) é composto pelo Ministro da Fazenda, o presidente do Banco Central e o Secretário Especial de Fazenda do Ministério da Economia. Há um órgão de assessoramento, a Comissão Técnica de Moeda e do Crédito (Comoc), integrada pelo Presidente do Banco Central, Presidente da Comissão de Valores Mobiliários, o Secretário-Executivo do Ministério da Economia , o Secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, o Secretário do Tesouro Nacional do Ministério da Economia e Diretores do Banco Central do Brasil.

Por tudo isso, há uma resistência invencível a pensar fora da caixa, em uma quadra da história em que todas as crenças anteriores estão sendo revisadas por economistas de vários países e do próprio Fundo Monetário Internacional (FMI).

Com a coronavirus, o ponto central de qualquer avaliação é a capacidade dos países de saírem da recessão provocada pelo isolamento. Desde 2008, a visão do arrocho fiscal para vencer recessão foi desmoralizada pelos fatos. Em países submetidos a arrochos fiscais, os estragos foram muito maiores do que aqueles causados pela própria crise.

Com a economia brasileira derretendo, é evidente que qualquer arrocho fiscal adicional aprofundará mais ainda a crise, com implicações sociais, econômicas e fiscais – na medida em que queda de atividade significa queda de arrecadação.

Tem-se um quadro em que os estados estão à beira de uma catástrofe fiscal, sem condições sequer de pagar o funcionalismo; de empresas quebrando em série; de cadeias produtivas se desmanchando e de uma crise sanitária que vai explodir na periferia e se alastrar pelo interior.

Nesse quadro, o que diz a ata do Copom:

Políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco e gerar uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

É fantástico! Desde o ano passado houve uma fuga de capitais externos, ante as perspectivas pouco animadoras de crescimento da economia. Atualmente, os pontos centrais de análise de risco do grande capital são as crises políticas e sociais (decorrência da recessão), o crise na balança comercial (com a redução do comércio internacional), o fracasso em deter a pandemia e os estragos que a crise produzirá na economia real. Apenas com um mês de crise, houve uma queda de 9,2% na indústria.

Em qualquer país racional, haveria dezenas de luzes vermelhas induzindo a uma mudança no diagnóstico, na necessidade de aumentar a emissão monetária, de recuperar a atividade econômica e de conseguir alguma sustentabilidade fiscal por tabela, pela recuperação da economia.

No entanto,

O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

E coloca em dúvida até o prolongamento dos estímulos econômicos, que dependerão “ da trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, serão decisivas para determinar o prolongamento do estímulo”.

E, finalmente, fechando com chave de ouro:

Foi preponderante a avaliação de que, frente à conjuntura de elevada incerteza doméstica, o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e pode ser pequeno. Assim, o Copom optou por uma provisão de estímulo mais moderada, com o benefício de acumular mais informação até sua próxima reunião.

É um clássico da planilha! A única certeza que se tem é o de uma recessão profunda, com taxas recordes de desemprego. A dúvida é sobre o tamanho da recessão. E, por não saber qual será o tamanho da recessão, o Copom optou por uma queda mais moderada na taxa de juros, até que tenha mais informações sobre a economia.

Em que país moram esses cabeções?

Sergio Moro é a pauta do novo projeto jornalístico do GGN.
Saiba mais clicando aqui

 

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Melhor seria perguntar em qual Planeta de qual Universo!
    Impossível haver inflação de demanda com tanta capacidade ociosa.
    A única coisa que essa ata revela são ódio e desprezo pelo país e pela população.

    • Recessão? Estamos nem na beira do abismo, já estamos caindo numa DEPRESSAO econômica que dificilmente pode ser comparada a qualquer acontecimento na História moderna. Superaremos a Grande Depressao de 1929. Em termos sociais (mas não políticos), talvez entremos numa convulsão social semelhante a uma revolução russa.

  • Isso é pra dar tempo para os mercadores encontrarem saídas para seus tesouros, carteiras e portifólios. O primeiro mandamento dessas ideologias antissociais é proteger a riqueza financeira privada, depois o resto - e olhe lá!

  • Eles moram no país dos ricos!!!
    Engano achar que o descolamento deles, da realidade, é apenas mental.
    É físico, é prático.
    Essa gente vive em outro mundo, isolados da realidade e da qual nem tomam conhecimento.
    Condomínios fechados, cheios de segurança e isolamento, empregados para o contato com o mundo. Legiões de bajuladores sôfregos.
    Onde é que a realidade, qualquer uma, entra nesta fórmula.
    Eles agem de acordo com seus interesses e dos que os sustentam.
    Mundo real.
    Inútil.

    ps: e se tudo der errado eles saem para viver com o seu dinheiro no exterior. Ele já está lá.
    Em qualquer lugar. Dinheiro não tem ideologia...

  • A redução do imposto sobre o lucro dos bancos é uma pista do tamanho da lua para entender o que pretendem os genocidas da economia. A lucinei Lucena já explicou em seu comentário. Tempo é dinheiro, não é mesmo, é o tempo que o sistema financeiro precisa para vazar a riqueza para fora do país. A conta, para variar, será paga por milhões e milhões de brasileiros, desta vez com sangue, suor e lágrimas, muito mais sangue infelizmente.

    • E por que a oposição não entrou com ação para deter esse sangramento dia cofres públicos?!?!? No mínimo são omissos, ou cúmplices.....

  • Dessa ata:

    "Políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco e gerar uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária."

    Achei fantástica essa expressão: "... trajetória para a inflação acima do projetado ..." !!!

    Como diz o Chapolim Colorado, eu já suspeitava desde o princípio que esse organismo no governo é apenas uma espécie de "fábrica de inflação"; agora a tal ata parece confirmar isto.

    Talvez fosse interessante juntar todas essas atas em um único arquivo e passar por um programa de contagem de palavras. Certamente as palavras e/ou expressões campeãs seriam: incertezas, reformas, inflação, juros.

    E, curioso, parece que essas reformas nunca veem, as incertezas nunca são eliminadas, os juros sempre possuem um comportamento selvagem (em contraposição a civilizado), mas sempre sobem para combater incertezas, mas sem ganhar a parada.

    E os membros deste órgão se acham.

  • Em que pais moram? No país dos brioches. Mas felizmente pra eles, sem opinião pública e povo para derrubar a Bastilha. E la nave va em direção ao abismo. O que eu conheço de pequeno empresário que estava pendurado em banco e agora nem banco tem pra pendurar... Mas para alguns deles, felizmente, com o Bolsonaro no poder tudo vai melhorar, é só deixar o “homem” trabalhar. Não é à toa que o caipora Toffoli, vivandeira de quartel, saiu do interior do estado de São Paulo para presidir o STF. A realidade política para chegar aqui passa antes pelo crivo das igrejas e do mundo do entretenimento do jornalismo da Globo, edires, ratinhos e datenas. E te olham como se você fosse maluca quando te veem no supermercado e farmácia de máscara e luvas. É que o covid 19, assim como o golpe de 64 e a incompetência do atual governo não existem.

  • Essa matilha é escolhida pela turma do quanto pior, melhor. São aqueles do GREED IS GOOD! Quanto mais o barco afunda, mais eles ganham em curto prazo. O médio e o longo prazo que se ajustem.

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