A constituição de 1988 e o papel de Mário Covas

Prestes a completar 90 anos, o jurista José Afonso da Silva é uma instituição brasileira. Considerado o mais importante constitucionalista brasileiro, José Afonso teve papel central na Constituição de 1988, a “Constituição Cidadã”, que lançou o país definitivamente na era civilizatória, ao reconhecer direitos fundamentais da população à saúde, educação e alimentação, entre outros temas, ao avançar nos direitos dos consumidores, das crianças, das mulheres, a temas como meio ambiente, casamento homoafetivo.

O grande papel de José Afonso foi um pouco antes, na coordenação da Comissão Afonso Arinos, constituída logo após a eleição de Tancredo Neves para propor uma nova constituição ao país. Montou dezenas de grupos de trabalho, convocando as principais lideranças e movimentos brasileiros para a empreitada.

Os trabalhos acabaram arquivados pelo presidente José Sarney, quando avançaram na proposta de um sistema parlamentarista. Algum tempo depois, quando a Constituinte foi convocada, as propostas da Comissão Afonso Arinos serviram de fio condutor para os trabalhos.

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Em um Congresso eminentemente conservador, esses avanços foram possíveis graças ao trabalho do senador Mário Covas, coordenador dos trabalhos.

Jogador de xadrez, estrategista brilhante, Covas montou uma estrutura em que, na presidência de cada grupo foram colocados políticos – a maioria de cunho conversador – mas na relatoria e na sub-relatoria pessoas identificadas com o que se chamava na época de ideias progressistas.

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Na ocasião, a política vivia impasses. A ditadura militar fora definitivamente abolida com a eleição de Tancredo. Mas os primeiros movimentos do novo governo já prenunciavam o desastre do presidencialismo de coalizão. Houve grande leilão de cargos que desmoralizou o novo regime.

Foi essa dupla desmoralização – da ditadura e do fisiologismo – que abriu espaço para o avanço das propostas sociais.

José Afonso lembra de participações inesquecíveis, como a do deputado federal paraibano Antônio Mariz, responsável pela vitória dos progressistas na redação do Capítulo 1 da Constituição. Ou do “coronel” Virgílio Távora, cuja secretaria sugeriu a inclusão do mandado de injunção – pela qual pode-se provocar os tribunais para a aplicação de direitos reconhecidos na Constituição, mesmo que não tenham sido regulamentados.

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Foi um período de apostas na utopia democrática. Chegou-se até a tratar da questão da mídia, com o jurista Tércio Sampaio Ferraz defendendo o acesso dos diversos segmentos sociais aos meios de comunicação. A proposta foi torpedeada por Saulo Ramos, o consultor Geral, depois Ministro da Justiça de Sarney, que atuava como lobista da Rede Globo.

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O trabalho de Covas refletiu-se nos anos seguintes na modelagem do seu partido, o PSDB, no início um partido progressista, com visão social democrata.

A morte de Covas, a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência, descaracterizaram totalmente a proposta inicial do partido.

Hoje em dia, quando se assiste José Serra, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso apoiando manifestações do grupo Revoltados Já, vem a memória Covas e o partido que deixou de ser.

 
Luis Nassif

40 Comentários

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  1. De fato, nessa época era

    De fato, nessa época era outro partido. Começou a descambar quando incorporou, na época, um partido que se chamava Partido Popular, que de popular só tinha o nome.

  2. O que sobrou.

    Quem ouve FHC e aqueles que por ventura o lêem sabem que dois nomes não aparecem nos seus discursos, Covas e Montoro.

    Para FHC, o PSDB não existia antes dele.

    Quem viveu essa época sabe que FHC só se tornou um “líder” após os líderes morrerem.

  3. OFR

    Meu caro Nassif,

    você consegue entender por que rotineiramente é dada tão pouca importância para o que na CF1988 resulta da expressão conjunta dessas 3 palavras tão prenhas de sentido: OBJETIVO, FUNDAMENTAL, REPÚBLICA ? Eu não consigo.

    “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

    I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

    II – garantir o desenvolvimento nacional;

    III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

    IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. “

    Há inclusive, você sabe, quem considere que a Lei Complementar 101 tenha precedência sobre tudo e qualquer coisa.

    Boas festas !

    Abraço,

    Nilson

     

  4. Pena

    Nassif,

    Foi um grande azar histórico perder a bandeira da social-democracia… que deveria ser sinônimo de avanço.

    Hoje nenhum partido luta por ela…que se tornou sinônimo de retrocesso.

    Miope

  5. MARAVILHOSA

    É difícil se ver em todo o mundo uma CF mais completa e bem feita do que a nossa, os caras sentaram na mesa e colocaram lá todo um aparato protetivo contra ditaduras, colocaram tudo que fosse mais moderno e completo para proteger o republicanismo, a democracia e o estado de direito.

    Mas hoje em dia essa horda de fanáticos ( escondidos sob o manto da modernização das normas) lutam dia e noite para convencer incautos de que a nossa CF é precária e necessita de “reformas” urgentes e úteis como por exemplo: volta da censura, acabar com o anonimato das fontes jornalísticas, reduzir o poder do legislativo……… Mas isso é apenas o reflexo dos ciclos históricos que ocorrem em todo o mundo, parece que as pessoas cansam das ditaduras e depois cansam das democracias, precisam viver intercalando esses dois regimes para poderem serem felizes.

    1. É uma questão de opinião,

      É uma questão de opinião, muitos acham a pior constituição da Historia da humanidade, tornou o pais INGOVERNAVEL com 28 partidos no Congresso e gerou a “BASE ALIADA” mãe de todas as corrupções.

  6. MARAVILHOSA

    É difícil se ver em todo o mundo uma CF mais completa e bem feita do que a nossa, os caras sentaram na mesa e colocaram lá todo um aparato protetivo contra ditaduras, colocaram tudo que fosse mais moderno e completo para proteger o republicanismo, a democracia e o estado de direito.

    Mas hoje em dia essa horda de fanáticos ( escondidos sob o manto da modernização das normas) lutam dia e noite para convencer incautos de que a nossa CF é precária e necessita de “reformas” urgentes e úteis como por exemplo: volta da censura, acabar com o anonimato das fontes jornalísticas, reduzir o poder do legislativo……… Mas isso é apenas o reflexo dos ciclos históricos que ocorrem em todo o mundo, parece que as pessoas cansam das ditaduras e depois cansam das democracias, precisam viver intercalando esses dois regimes para poderem serem felizes.

  7. Prezados,
    A Constituição

    Prezados,

    A Constituição Brasileira não reconhece o casamento homoafetivo. 

    Faz-se apenas interpretação extensiva do conceito de família. 

  8. centro esquerda

    Mario Covas, Franco Montouro, dois homens dignos, líderes que bem representavam as posições políticas defendidas pela centro esquerda brasileira. Depois deles, as novas lideranças de um partido que prometia uma participação proficua, louvável na política brasileira, renegaram as suas próprias origens, descambando pelos caminhos da total falta de compostura.

    Pobres criaturas políticas os tais Fernando Henrique, Serra, Aloysio e tantos e tantos outros renegados…    

  9. “O trabalho de Covas

    “O trabalho de Covas refletiu-se nos anos seguintes na modelagem do seu partido, o PSDB, no início um partido progressista, com visão social democrata.

    A morte de Covas, a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência, descaracterizaram totalmente a proposta inicial do partido.”

     

    Deserdado do PT em 1986 por questões de coronelismo local, eu fui um dos fundadores do PSDB em minha cidade. Pareceu-me a verdadeira social-democracia; com foco, sem a confusão de propostas reinante no PT, que ia do comunismo de Enver Hoxha ao estado de bem-estar de Roosevelt (e não de Attlee), que acabou no fim das contas prevalecendo no partido.

    Sobre a descaracterização do PSDB por FHC & Cia, FHC ansiou enormente em ser “o Felipe Gonzales” da América Latina. As velhas manias de vira latas e seu traço maior: a macaquice. Só isso. Homens sem personalidade; “apequenados”.

    1. Eu também já acreditei em

      Eu também já acreditei em Papai Noel. Lá pelos idos da década de 80 cheguei a me considerar simpatizante do PSDB, que achava ter uma proposta viável de social-democracia, enquanto o PT era muito festivo, radical e inviável.  

      Hoje o PT é esse PSDB que eu imaginava, e aquele PT é o Psol e o PSTU. O PSDB é ….bem, é o que a gente está vendo aí

      1. Perfeito seu comentário.
        Perfeito seu comentário. Passei por este processo também. Mas quando o chefe da PF ligou para FHC dizendo que tinha uma dinheirama da Roseana Sarney (candidata à época) e que estava apreendendo, para mim o psdb acabou. O delegado ou qualquer outro agente policial telefonar para o presidente quando um correligionario seu que é candidato será beneficiado pela denúncia/prisão de um concorrente é de uma baixeza sem fim. Além disso, este mesmo candidato se tornou o que todos conhecemos – um déspota (esclarecido). Não havia mais como votar no psdb, nem para estaduais/municipais. Ficou neo demais, me atendo apenas à questão conceitual, sem abordar os aspectos morais. A esta altura o PT já tinha feito seu alinhamento ao centro. Desde então é Lula e Dilma. E não me arrependo.

  10. A nossa Constituição é boa,

    A nossa Constituição é boa, quem não presta são os Politicos e seus Partidos que torcem o direito e praticam o suborno e a corrupção.

  11. Um elogio que esconde o rancor!!!

    Um elogio nos faz crer que seguimos um trilha correta, mas nem sempre um elogio é sincero. Há elogios que escondem a mágoa e o rancor demonstrado no comentário sempre ácido. O fato encerra a discussão simplesmente porque o receptor não tem capacidade de absorver o que se fez de bom. Digamos que elogiar, criticar ou atacar é apenas um reflexo do receptor por estarmos interferindo no seu aprendizado. Conclusão: “Se houver algum partido que presta neste Brasil dê o primeiro elogio”.

     

  12. A morte de Covas, a eleição

    A morte de Covas, a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência, descaracterizaram totalmente a proposta inicial do partido.

     

    Que é isso, Nassif ? 

    Covas morreu no final do governo FHC.

    Participou pró-ativamente de todo o processo neo-liberal e privatizante. Lembra do PED ? Só para lembrar, entregou todo o sistema energético de São Paulo ( Eletropaulo, CESP, COMGAS, etc ).

    Privatizou as rodovias estaduais com contratos amarrados que até hoje fazem os paulistas pagarem pedágios caríssimos.

    Entregou a FEPASA para o governo federal privatizar e participou ativamente da entrega da COSIPA.

    Na questão do parlamentarismo, o PDSB de Covas e Zé Richa, trabalhou como quinta coluna, a começar começar com a antecipação do plebiscito de setembro para abril, para inviabilizar a frente parlamentarista que Ulysses estava montando.

    Aliás, já é sabido que Ulysses voltaria de Angra para fundar seu novo partido, parlamentarista, e que teria de cara mais de 80 deputados. Providencialmente, para tucanos e petistas, o helicóptero caiu. 

     

    1. Sim, acredito também que se o

      Sim, acredito também que se o Covas vivo fosse, seria adepto do neoliberalismo. Acho que seus assessores em economia seriam esses aí mesmo do tucanto, tipo Armínio, Gianetti e etc. Talvez com abertura para “um pouco de Bresser”.

      Mas na política seria uma diferença enorme. Não o vejo caindo nesse golpismo “revoltado já” do lado de um Lobão, de jeito nenhum. Estaria a quilometros de distância dessa gente. Essa então de pedir que o TSE diplome o Aécio no lugar da Dilma, o deixaria vermelho de vergonha e o faria passar um sabão no playboy. Jamais deixaria o partido ser conduzido por esse Sampaio aí

    2. A morte de Covas

      Ainda bem que o PSDB privatizou tudo, senão o PT estariam com seus contratos superfaturados igual a Petrobás. Quem paga o pedágio é quem usa a rodovia. Quem paga impostos somos todos nós

      1. Já que vc gosta de falar de
        Já que vc gosta de falar de corrupção, me diga somente onde foi parar o dinheiro das empresas privatizadas (Vale, Telebras e etc…) realizada peli governo tucano. Entre corrupção e corrupção, é muito melhor que as empresas continuem públicas.

      2. Papo furado de tucano alienado…
        Só quem usa a rodovia paga pedágio? Tem certeza disso? Voce sabia que todos os pedágios são embutidos nos preços das mercadorias que você consome? Do arroz com feijão ao computador, tem uma porcentagem que pagamos que está relacionada ao custo de transporte? Sabe nada inocente, precisa estudar mais hein amiguinho, veio comentar no blog errado não acha não?
        Os resultados das privatizações são horríveis, temos um serviço de telefonia caro e de péssima qualidade (ainda monopolizado), temos pedágios caríssimos e estradas ruins (já andou na Via Dutra alguma vez?), a energia é cara e cobra preços e taxas abusivas, isso pra não falar da Sabesp que não cuida da água, enfim, se para você foi bom, acho que para grande parte das pessoas foi péssimo. Ou você é sem noção ou você é mal intencionado mesmo…deve ser mais um leitor das folhas e vejas da vida…fraquinhos seus argumentos!

  13. Franco Montoro, o último

    Franco Montoro, o último GOVERNADOR do Est. de SP. Um dos políticos que mais admirei, cuja única acusação contra ele, era ter 2 aposentadorias.

  14. Nassif
    Outro progressista que

    Nassif

    Outro progressista que jamais devemos esquecer é do paulista/cearense Ciro Gomes.

    Que é uma pena estar fora da política.

  15. Nassif, creio que a chave

    Nassif, creio que a chave para entender o que aconteceu com o PSDB está na visceral cumplicidade entre o FHC e a grande mídia.

    Acho que voce já falou sobre isso. É um fenômeno interessante, o movimento de um alimentou o do outro, criando uma dinâmica que “por inércia” leva a oposição ao petismo em direção ao Tea Party 

  16. A CONSTITUIÇÃO PARATODOS tem

    A CONSTITUIÇÃO PARATODOS tem um rosario infindavel de direitos, ninguem foi esquecido, indios, quilombolas, aposentados, mães, tias e cunhados, só falta uma ideia na Constituição : O BRASIL. A Constituição da Felicidade esqueceu de apontar o destino do Brasil como Nação, criou incontaveis ILHAS DE PODER que não se enlaçam para criar um Pais viavel, gerou um dos raros, se não o unico Pais, onde poderes paralelos ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES, como a Policia Federal, o Ministerio Publico e a Justiça Federal governam como POTENCIAS SOBERANAS, desligadas do Estado que pode ser acuada por qualquer um desses PODERES, onde só falta o Rei sentado no trono.

  17. Covas ter perdido

    na eleição de Collor foi um atraso enorme ao processo político brasileiro..infelizmente a esquerda não vislumbrou o avanço que seria se a chapa Cova + Waldir Pires tivesse sido se viabilizada e ganho aquela eleição..para a conjuntura da época  essa chapa era muito mais palatável à uma boa parte da direita que Brizola e Lula, infelizmente deu no que vimos..Waldir embarcou na aventura de ser Vice de Ulisses Guimarães, Brizola ficou pelo caminho e Lula foi traçado pelo debate da Globo..perdemos uma grande chance de avançarmos mais..na época das articulações eu estava em Brasilia, trabalhava na Bahia com um Deputado Federal do PMDB com proeminência na Mesa da Constituinte e vi muita gente o jornalista Bob Fernandes era um deles, torcendo para que essa dobradinha vingasse..deu no que deu; o desastre Collor..

  18. Tem um belo aspecto da

    Tem um belo aspecto da Constituição: ela dura apesar das acusações de “engessamento” que o pessoal do FHC fazia sem parar. Mesmo naquele período adverso, da predominância absoluta do mantra neoliberal, ela nos salvou de um prejuízo que poderia ser bem maior. E hoje mais e mais seus bons aspectos começam a aparecer.

    1. Mas isso nem é para causar surpresa

      Covas era do PST, partido golpista. 

      O PST, prá quem não sabe, era daqueles partidos que o Getúlio chamava de partidos da Sloper. Algo como se referir a algum tempo atrás a um partido da Daslu.

  19. como seu Nassif baniu do post

    como seu Nassif baniu do post constituinte cidadã e do painel de imagens brasil ilustrado em manchete a figura emblemática de doutor Ulysses, fica sendo então mais um elemento suspeitíssimo da conversa complô de boteco casa do norte da esquina, na periferia periférica de sampa, que debati, na tarde modorrenta de quinta-feira última, com um cidadão articulado do mundão de deus e do diabo, nascido em valença do piauí, terra de doutor Petrônio Portella, que me provou por a+b+c que doutor Ulysses, cujo corpo nunca foi encontrado no fatídico acidente aéreo em Angra, foi assassinado e seu corpo desaparecido na solução de ácido sulfúrico, porque contrariava interesses políticos poderosos de muy amigos muy ricos de mesmo partido “protodemocrático” naquela geopolítica negociada nas sombras pelos de sempre velhos donos do poder… naquele entreato político-militar do ocaso da ditadura e nascimento da abertura… e que, por questões juris burocráticas de sigilo da fonte etílica, não posso desenvolver aqui a inteireza da conversa sinistra de boteco fim de mundo…

  20. O mito da educação coreana

    O mito da educação coreana

     

                    Sempre quando vamos discutir o atraso do Brasil, a questão da educação vem à tona e o exemplo educacional coreano é colocado como argumento, de um caminho que poderíamos ter trilhado, mas por miopia dos governantes nos foi negado.                O exemplo coreano não pode ser negado, deve ser aceito como verdade absoluta. Mesmo quando poucos dados, quando são apresentados, sejam colocados como argumento.

    Durante as eleições, o economista e apresentador de TV Ricardo Amorim colocou em sua página do Facebook o exemplo coreano de investimento na educação como principal tema a ser debatido no segundo (https://www.facebook.com/video.php?v=710266692386150&pnref=story). Apesar de não apresentar fontes dos dados, os coreanos fizeram pesados investimentos em educação básica desde os anos 70 e hoje investem 6 vezes mais por aluno no ensino médio do que nós, brasileiros. 

    No entanto, os dados do Banco Mundial nos mostram o quanto de idealização e fantasia existe neste tipo de argumento. O investimento médio na década de 70 foi de apenas 2,95% do PIB na Coréia, tendo chegado a irrisórios 2,12% do PIB em 1975. O pico de investimento na educação foi de 3,75% do PIB em 1971.

    Para termos uma base de comparação, o INEP apontou que investimos 6,1% do PIB em educação em 2011, portanto, mais do que o dobro do que os coreanos investiram em educação nos anos 70. Em 2011, o Banco Mundial mostra que os coreanos investiram “apenas” 5,24% do seu PIB em educação.

    Os dados da Unesco também refutam a tese de que Ricardo Amorim de que os coreanos investem 6 vezes mais por aluno do ensino médio do que o Brasil. Enquanto, os coreanos investisram US$ 7,1 mil dólares PPP por aluno do ensino médio em 2011, o Brasil investiu US$ 2,39 mil dólares PPP. Desta forma, a diferença de investimento por aluno é completamente explicada pelo maior PIB per capita da Coréia, não havendo um maior empenho dos coreanos em investir na educação secundária.

    Outro mito é que diferença estaria na priorização que o Brasil dá ao ensino superior. Os números da Unesco mostram que o governo brasileiro investiu 0,92% do PIB em suas universidades, o que não deixaria nenhum coreano boquiaberto, uma vez que seu governo investiu 0,82% do seu PIB no ensino superior. Cabe também mostrarmos que a situação brasileira não é nenhuma excrecência tropical: Áustria (1,56%), Argentina (1,22%), Canadá (1,92%), Chile (0,95%), Dinamarca (2,42%), França (1,29%), Alemanha (1,38%), Índia (1,26%), Suiça (1,37%) e Estados Unidos (1,39%) retiram qualquer culpa de investirmos em universidades.

    Na educação primária, o Brasil investiu 1,82% do PIB em 2010, um exemplo para a Coréia do Sul que destinou apenas 1,58% para tão importante fase na educação de uma criança. 

    O exemplo educacional coreano estranha o mais importante economista daquele país, o professor de Cambridge Ha-Joon Chang. Segundo este iconoclasta professor coreano, a arrancada coreana e de Taiwan ocorreram em momentos que a educação desses países era pior do que a de Filipinas e Argentina, países que ficaram claramente para trás no processo de desenvolvimento econômica.

    O premiado professor coreano questiona até mesmo a importância da instrução formal nos processos de desenvolvimento, pelo menos na escala que tem sido recomendada. Segundo Chang, o mais relevante da produção do conhecimento não se dá nas escolas, mas dentro das empresas e de forma coletiva. Por isso, o mais relevante é a capacidade dos países de organizarem produtivamente as potencialidades dos seus cidadãos.

    Chang mostra que uma das sociedades mais produtivas e inovadoras do mundo, a Suíça, possuía até meados dos anos 90 taxas de matrícula universitária de 16%, número muito próximo dos nossos 13% criticados por Ricardo Amorim.

    A crítica de Chang avança para a forma como a educação está organizada em todo o mundo. Qual a importância de toda a matemática ensinada para o trabalho de um grande designer? E qual a importância do aprendizado de biologia para a produtividade de um banqueiro?

    Durante o processo eleitoral, Dilma apontou para a necessidade de repensarmos os currículos. Uma discussão muito mais profunda e relevante do que a proposta por Amorim. Mas o cavalo passou encilhado e ninguém montou, pois ainda estávamos presos a velhos mitos.

    Fontes:

     

    Unesco: http://www.uis.unesco.org/Education/Pages/education-finance.aspx

    Banco Mundial: http://data.worldbank.org/country/korea-republic

    Chang, Há-Joon: 23 Coisas que não nos contaram sobre o capitalismo. Editora Cultrix (2013) 

    1. O problema no Brasil é que a

      O problema no Brasil é que a cada R$ 10,00, R$ 9,00 são desviados pela corrupção. O sistema político e a classe política brasileiros estão visceralmente imbricados numa engrenagem perniciosa de corrupção que emperra o desenvilvimento desta nação. 

  21. é bom lembrar que essa

    é bom lembrar que essa constituição foi elaborada

    com a maior participação popular que já vi.

    praticamente todos os segmentos participaram.

    acho que foi um show de democracia.

    sobre o antigo psdb, dá até vontade de ser saudosista.

    na época dava para dialogar perfeitamente com os tucanos…

    depois do governo fhc, descambou pra violencia direitista.

  22. Covas real

    A atuação de Covas em 1987 é decisiva para os avanços alcançados na CF88. Mas suas votações finais, em 1988, apresentadas  pela avaliação dos constituintes feita pelo DIAP,  mostram as mudanças que ele e seu grupo sofrem neste período e o deslocamento contínuo rumo a se legitimar como interlocutor perante os setores reais de poder no país, na transição para a democracia, substituindo progressivamente o então PFL e o então PDS. O grande marco desse processo é o discurso de lançamento de sua candidatura à presidência em 1989. O Covas líder do MDB em 1968, prefeito biônico de São Paulo, traidor de Quércia em 1986,que apoiou Lula constrangido em 1989 no segundo turno,  fragorosamente derrotado em 1990 por Fleury e Quércia, se mostrou real no governo paulista a partir de 1995, lançando as bases da estrutura de poder comandada por Alckimin (seu vice) que persiste por 20 anos, o mais longo período de poder de um partido no Brasil democrático.  Covas fez um governo de liquidação da estrutura de estado e nada colocou no lugar. Sua ação de provocação na greve dos professores estaduais, em 01 de junho de 2000, mostra que, caso vivo, estaria na mesma postura de FHC, Aécio e tantos outros que incensam o golpismo. As ações de Bruno Covas mostram um pouco disso.   

  23. Diz o meu pai, que sempre
    Diz o meu pai, que sempre gostou do Covas político, que há um erro imperdoável em sua trajetória: ter impedido que FHC aceitasse ser Chanceler do Collor. Quem sabe a história hoje, principalmente para o PSDB, fosse outra caso FHC tivesse ido em frente e tivéssemos nos livrado, lá mesmo, do sociólogo arrependido e equivocado com o que escreveu.

    A questão da Mídia e FHC – esta simbiose – resulta do encontro da causa com o efeito, do organismo com o alimento, do vetor com a doença: vaidade. Retroalimentam-se, há sintonia, há dependência.
    Basta ver o que a proeminência de Lula fez aos brios de FHC: “como pode o chão que eu pisei receber menos que um outro príncipe, como pode sua conquista equiparar-se à minha ? Intolerável”.(Melhor não declinar os adjetivos em respeito ao presidente Lula – todos nós sabemos da adjetivação usada pelos tucanos, sempre depreciativa e desrespeitosa).

  24. Uma coisa é aplicar 1%

    Uma coisa é aplicar 1% efetivamente e outra é aplciar 6% quando a corrupção leva 5,9%  de todo o gasto, faazendo até como que parece efetivamente gasto, como como o libro didático, é apenas gasto inútil.

  25. Seria bom se fosse feita uma

    Seria bom se fosse feita uma reportagem que esclarecesse qual foi o papel do ex-governador Mario Covas no escandaloso caso do metrô de São Paulo.

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