A crise da Grécia e as armas do capital

O cerco imposto à Grécia tem antecedentes desde que o mundo conheceu a maior máquina de globalização da história: a do capital financeiro.

Esse processo se inicia ainda no século 19, sob a batuta do Banco da Inglaterra e o sistema de conversão em ouro. Um país só poderia emitir moeda se lastreada em ouro depositado em seu banco central.

Cada vez que a Inglaterra sofria algum problema de liquidez, bastava um leve aumento nas taxas da Libor para atrair ouro de outros países, obrigando os respectivos governos a enxugar a liquidez.

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De certo modo, o ponto central de distinção entre desenvolvidos e emergentes estava na maior ou menor vulnerabilidade externa.

Desde o início, um dos grandes mercados do capital financeiro foram os empréstimos a governos. E, quando os empréstimos não eram honradas, o calote justificaria até a invasão do país devedor pelo credor, conforme decisão da Corte Internacional de Haia, referendada pelo representante brasileiro, Ruy Barbosa.

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A vulnerabilidade externa sempre foi um dos grandes fatores de debilidade da economia brasileira. Ao longo da história, o país renegociou várias vezes as dívidas.

Ao longo do século, sempre houve um conflito entre prioridades nacionais e as prioridades do capital financeiro. Para este interessa o livre trânsito e a previsibilidade. Por tal, entenda-se políticas cambiais previsíveis. As grandes oscilações cambiais são aproveitadas pelos mais espertos, mas não pelo todo.

Para as nações, projetos de desenvolvimento jamais prescindiram de moedas competitivas (desvalorizadas) nas fases iniciais de desenvolvimento. É o que assegura a condição de competir, via preços, com os produtos tecnologicamente mais avançados dos países centrais.

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Ao longo de toda história econômica do século, vigoraram as tentativas de impedir a autonomia da política cambial. Em parte da história – especialmente no século 19 – através da conversibilidade do ouro.

No pós guerra, através do acordo de Bretton Woods, definindo paridades cambiais a serem obedecidas pelas nações, o Brasil entrou de pé esquerdo no acordo porque entre a definição das paridades e o início da sua implementação houve uma inflação interna que apreciou a moeda brasileira.

A cada soluço de crescimento, com Vargas, JK, Jango, Figueiredo, Sarney, FHC havia uma crise nas contas externas interrompendo a caminhada.

Depois, com a União Europeia, os países membros abdicaram da sua própria moeda.

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Hoje em dia, quando um país devedor quebra, sem dispor da alternativa de promover políticas cambiais competitivas, não é necessário a diplomacia das canhoneiras.

Basta uma agência de risco rebaixar a nota e cortar-se o fluxo de oxigênio. Antes disso, os capitais locais fogem do país sem encontrar obstáculos pela frente. Nos últimos dias, 4 bilhões de euro deixaram a Grécia. E a dívida renegociada é de 2 bilhões de euros.

Nos próximos dias, será um Zeus nos salve. E se constatará que avanços imensuráveis do setor financeiro, criação de ferramentas sofisticadíssimas, união de algumas das maiores economias mundiais… Tudo isso foi insuficiente para salvar um pequeno país, berço da civilização ocidental. Salvou apenas os capitais que afundaram a Grécia.

Luis Nassif

45 Comentários

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  1. A base do capitalismo é o

    A base do capitalismo é o risco. Só que isso não vale para os bancos. Todos os bancos que emprestaram dinheiro aos montes para o Grécia sabiam que o país não conseguiria pagá-la, pois estava gastando mais do que arrecadava. Mas como os bancos sabem que eles sempre serão salvos pelos governos, não se preocupam com isso. Meu pai tem um pequeno comércio. Se ele percebe que um cliente anda atrasando a conta, mas vira e mexe compra carro novo, vai almoçar fora, meu pai para de vender – até pra evitar que o calote seja grande. Mas os bancos podem fazer o contrário = afinal, se fazem de mocinhas que sabem que serão salvas pelo herói. Enquanto nós, pobres mortais, qualquer vacilo e somos mais um a tombar na mão do vilão. 

    1. Um país não é igual a um

      Um país não é igual a um cliente devedor e gastador. Essa é uma falácia na qual se apóia a visão ultra-ortodoxa da economia, aquela que manda cortar gastos para entregar o excedente (o tal superavit primário) para o credor.

      Imagine um pai cobrando do seu bebê as fraldas e mamadeiras. Como o bebê não consegue pagar (nem falar), manda consumir menos para com essa poupança devolver o dinheiro. Dá pra imaginar o resultado.

      Até o bebê não crescer, ir na faculdade e ganhar um bom dinheiro (25-30 anos),  o pai não verá a cor do dinheiro.

      Com os países não desenvolvidos, a coisa é mais ou menos parecida.

      O déficit fiscal é financiado por alguém, que transforma esse déficit em poupança. Veja o caso (extremo e não recomendável, dito seja) do Japão. Tem uma relação dívida/ PIB de 270%, fora de qualquer norma internacional (a Grécia viu crescer seu ratio dívida/ PIB até 180% nos últimos anos por causa da depressão econômica a qual foi submetida pelas medidas de austeridade da troika).

      Quem financia o déficit, e o quê o estado faz com esse déficit, é o nó gordio a ser resolvido pelos economistas do mundo inteiro, para desvendar a falácia do desenvolvimento com poupança externa, ou pelo caminho da austeridade fiscal.

      1. Então por favor me esclareça.

        O nassif disse que nem vai tentar.

        O Brasil contraiu uma dívida externa promovida pelos governos militares, dentre outros, que foi julgada impagável, sem contar com inúmeros pedidos de auditoria desta dívida, onde muitos diziam que a dívida foi paga mais de uma vez. Mas querendo ou não, não entrando no mérito dos motivos ou se foi a atitude correta, de alguma forma foram governos constituídos que assinaram os papéis contraindo a dívida. Quem tinha o dinheiro emprestou. As condições eram conhecidas.

        A pergunta é: a culpa é exclusiva de quem emprestou? Não haveríamos também de culpar os que contrairam a dívida?

          1. Eu li

            E sei que neste metier não há vestais. A bem da verdade, como diria a regina duarte, eu tenho medo desses caras. Desculpe o termo, mas é evidente que eles, se puderem, estupram a vítima e entem-se recompensados. mas continuo insistindo que os governantes gregos têm sua parcela de culpa. Aliás, os gregos viram que Portugal e  Irlanda comeram o pão que o diabo amassou. Será que acharam que os credores seriam boninhoa agora?

        1. A dívida pública não é como a

          A dívida pública não é como a dívida de particulares, um país negocia títulos da dívida, que compradores compram por sua conta e risco. O que ocorre é que o capital financeiro costuma manipular mercados para aumentar seus lucros às custas de nações inteiras, principalmente as mais vulneráveis. Quer dizer, a manipulação fraudulenta do capital financeiro é malandragem é o jogo, mas a resistência das nações é desonestidade?

          E normalmente essas tramóias são feitas com a cumplicidade de governantes corruptos, o que foi o caso da Grécia.

          O trabalhador contraiu esses empréstimos?

          Tome como exemplo o aumento da dívida externa brasileira decorrente da política cambial irresponsável do governo Fernando Henrique, que manteve o câmbio aritificalmente valorizado para se reeleger(o Populismo Cambial). O aumento da dívida externa se deu via a desvalorização cambial, devido à irresponsabilidade do governo.

          Quem deveria pagar essa dívida?O Fernando Henrique?O trabalhador que não se beneficiou em nada das molecagens cambiais do governo?

          É uma questão política, é certo que FHC e seus amigos foram os principais beneficiados por sua irresponsável política econômica, e, no fim, ainda se tornam credores dos trabalhadores?

          Você acha mesmo que isso nem deve ser discutido?O trabalhador deve pagar por uma dívida que não criou?

          E veja como, nesses casos, os credores são justamente os que se beneficiaram dessas políticas. Eles ganham sempre, na bonança e na crise.

           

        2. É isto ai Evandro. E o mais

          É isto ai Evandro. E o mais importante o que os governos fizeram com o dinheiro. Antes de falar em auditoria da divida, deveriam falar em auditoria do gasto da divida. Ai sim iria faltar cadeira para colocar os responsaveis pelo mal uso deste dinheiro.

      2. Então paises ditos

        Então paises ditos desenvolvidos são obrigados a financiar déficits de paises em desenvolvimento ? Baseado em que ?

        Nâo tem como comparar o Japão com a Grécia, voce comparou a relação dívida/pib mas e os juros, e o serviço da dívida, por que não comparou ?

         

        1. Prezado Daniel,
          primeiro que

          Prezado Daniel,

          primeiro que eu não disse que países desenvolvidos são obrigados a financiar déficits de países não desenvolvidos. O que sugerí é que déficits fiscais são muitas vezes necesários para alavancar o crescimento de uma nação, se esse diferencial entre a arrecadação e o gasto é investido em infraestrutura, por exemplo. E um país pode sustentar anos de déficits financiados por poupadores que emprestam ao governo se o governo investe bem esse dinheiro (não é o caso brasileiro, onde o déficit nominal é por causa dos juros pagos). E que os déficits, sendo financiados com emissão de bonos, viram poupança para os donos desses bonos. E é o que acontece no Japão, onde são os próprios japoneses os que financiam os déficits do governo. Por isso a relação dívida/PiB lá é de 270% e o país (ainda) não estourou.

          Ao mesmo tempo, são os países não desenvolvidos os que financiam o déficit dos desenvolvidos! Veja que Grécia pagou desde 2010 ao FMI EU4B de juros, e o calote agora é por conta de EU1,6B. Os EUA aumentaram sua dívida em USD8T desde 2009, a dívida lá é de mais de 100% do PIB, enquanto o mundo recicla T-bonds. Eles gastaram em apenas 1 buque de guerra, USD13B. Quem financia quem?

          Abraços

          1. Mas financiam porque querem.

            Mas financiam porque querem. Vão atrás dos títulos destes paises mais desenvolvidos porque supostamente são mais confiáveis.

            Não é o caso da Grécia.

            Também não creio que o simples investimento significa alguma coisa, deve-se investir com retorno razoável, não adianta só jogar dinheiro em infra estrutura sem nenhum plano, que não acarretará em crescimento.

      3. Japão não é Grécia

        Bom dia, Ale.

        A dívida pública japonesa é realmente muito alta (240% do PIB) e continua crescendo, pois o déficit público é de uns 8% do PIB. Com certeza ela terá de ser enfrentada sem muita demora. Mas é importante realçar algumas características da economia japonesa de aspectos muito positivos.

        1) O custo de rolagem da dívida é muito baixo, pois os juros pagos são ínfimos. Com inflação de 2%, almejada pelo governo, o custo seria negativo. O custo de rolagem da dívida é o que interessa, não o seu montante. O Brasil, por exemplo, gasta uma fábula para rolar um dívida bem modesta.

        2) Quase toda a dívida pública do Japão é interna. 35% dela está de posse dos fundos de pensão. Receber juros baixos, ou até negativos, não é qualquer problema para esses fundos, pois são riquíssimos. Os japoneses são os maiores proprietários de títulos do tesouro emericano. Têm US$1,22 trilhões nesses títulos.

        3) Parte da dívida pública foi usada para instalar a melhor infraestrutura do planeta no país. Outra parte sgnificativa foi usada para reconstruir os danos causados pelo tsunami de 2011.

        4) O Japão tem a mais alta qualidade de vida do mundo. Tem o povo mais saudável e mais longevo. Na verdade, o enorme envelhecimento da população é parte do problema econômico do país. A distribuição de renda no Japão é melhor do que na Suécia. Nesse caso, um ajuste fiscal no país não geraria nenhuma tragédia para o povo.

        Enfim, o governo está com problemas, mas a população vai muito bem. 

         

        1. Daniel,
          Bom

          Daniel,

          Bom comentário.

          Fiquei intrigado com o fato dos fundos de pensão japoneses não se preocupar com o rendimento negativo, porque são “riquíssimos”.

    2. Está em todo lugar que a

      Está em todo lugar que a Grécia vai dar calote, então não vai pagar.

      O dinheiro que saiu do País é de depositantes que não querem deixar seu dinheiro em um País quebrado. Voce deixaria ?

      Nâo tem nada a ver com a dívida do Governo.

       

  2. O que nunca entendi é por que

    O que nunca entendi é por que governos podem pegar dinheiro emprestado, se recusarem a pagar e querer dizer que possue razão. Lá na minha terra, isso era roubo. Mas como fui criado no interior não entendo muito bem essas coisas.

  3. Qual a novidade Nassif? O

    Qual a novidade Nassif? O capital financeiro é predador. É como um parasita, alimenta-se sugando a vida da vítima. Os países sedes das grandes financeiras globais se viram, mesmo a parte mais fraca, os 99% acabam atentidos. Mas o resto dos países que se f…..

    Talvez chegue um dia que a unica solução será a revolução do colchão. O cidadão passa a guardar seu dinherinho debaixo do mesmo.( e os empresários da indústria também)

  4. Nós nao estamos apenas diante de uma crise financeira,

    mas claramente diante de uma crise do sistema democrático. O financismo não convive bem com a democracia por que o povo uma hora diz basta, por isso um referendo na Grécia assusta tanto os poderosos europeus. A União Europeia e a Zona Euro conseguiram montar uma estrutura cheia de representantes não eleitos que são, em grande parte, os responsáveis por arrastar essa crise por um tempo tão longo em benefício de poucos. Os “resgates” derrubaram os governos locais, mas a estrutura e os objetivos da troika, do ECB e da comissão europeia foram sempre preservados. A hipocrisia é tratar os planos de “resgate” como ajuda para a Grécia, Chipre, etc. Os “resgates” serviram para salvar bancos alemães e franceses as custas das populações do sul que foram obrigadas, através de seus governos, a assumirem as dívidas de seus bancos locais. Além disso, os “resgates” trouxeram enormes benefícios comercias para poucos, afinal fazer união monetária sem união fiscal e impor aos países sobre resgates aumentos cavalares de impostos é uma forma óbvia de aumentar as vendas de produtos alemães, holandeses, etc. A saída da Grécia da zona euro, se ocorrer, é simbólica não apenas por escancarar que o projeto da União Europeia foi apenas mais um mecanismo de exploração, mas também para dar um basta no controle do sistema financeiro sobre as populações.

  5. politica é coisa séria demais para políticos

    Preliminarmante, manifesto o meu inteiro repúdio à inacreditável desenvoltura com que o capital financeiro voa mundo afora na ecnoomia globalizada, causando enormes danos aos países mais fracos. Falado isso, olhemos para a situação da Grécia.

    Não há dúvida de que sucessivos governos gastaram bem além da conta, e para ingressar na UE o país teve que maquiar pesadamente seus dados financeiros. Ao abrir-se a caixa preta, vu-se que havia um défict público de cerca de 15%  do PIB, o que acumula um débito de 100% do PIB em menos de 7 anos. A dívida pública já era de 120% do PIB, o que levaria ao precipício em muito pouco tempo. Negar que o país precisava de ajustes é algo próximo à alienação.

    A economia do país é muito singular. O turismo responde por 16,5% do PIB, bem mais que os 12% da indústria. A mrinha mercante responde por algo equivalente ao turismo e é a maior do mundo. 

    Os salários são altos comparados à produtividade do trabalho, por isso a Grécia não foi capaz de atrair indústrias dos EUA e da região do Euro. Os salários altos levaram ao ingresso de trabalhadores imigrantes, que respondem por 20% da mão de obra. 

    O dinheiro que o BCE emprestou à Grécia é uma exorbitância comparado ao PIB do país. Mas como este PIB é apenas 1,5% do PIB da UE, não é nada para o BCE. A queda de braços entre Grécia e UE tem um claro viés moralista. Os países ricos do bloco, principalmente Alemanha, não acham justo sustentar um país em que o governo insiste em dar à população regalias inexistentes na própria Alemanha. Embora a expectativa de vida nos dois países seja quase igual, os gregos se aposentam 10 anos mais jovens.

    O plebiscito convocado pelo governo populista é quase uma piada. No fundo, ele pergunta às pessoas se elas querem abrir mão das regalias vigentes. Claro que elas vão dizer não. A resposta à provocação era previsível. A saída da Grécia da zona do Euro será uma tragédia para o país. Levará também a uma crise na UE, cuja dimensão é imprevisível. 

    Realmente, política é coisa séria demais para ficar nas mãos de políticos! 

  6. Sabe tudo!!!

    Rapaz, vou dizer uma coisa para vocês: Esse sujeito sabe tudo. Sabe política, sabe história, sabe geografia, sabe matemática, sabe português, sabe ingRês, sabe francês, sabe japonês, sabe tudo. Sabe até de economia desde o início do século XIX. Com um sujeito assim, vocês não precisam de mais nada.

    Parabéns a vocês!!!

  7. A Crise da Grécia

    Se hoje as nações estão escravas da moeda = sistema financeiro internacional, o que falar do que vem aí: TISA.

  8. Há outras considerações, Nassif

    Um alemão se aposenta com mais de 62 anos. Um grego, em média, com 50 e poucos.

    Aparentemente a empresa de eletricidade grega é estatal. Tanto faz pagar ou não a tarifa, o resultado é o mesmo. Tá na cara que ninguém paga.

    Não existe um sistema eficiente de concursos/gestão no setor público, o grau de loteamento da máquina estatal faria um brasileiro corar de vergonha.

    Li em um artigo do editor do Die Zeitung na CNN expondo que, se um café grego abre as portas em uma esquina, recolhe tributos e obrigações trabalhistas, não consegue concorrer com o competidor na mesma rua que não paga ninguém (lembra algum lugar que a gente conhece?)

    O mecanismo de arrecadação é inoperante/inexistente, paga imposto quem quer.

    É evidente que tudo isso já existia quando do ingresso do país no MCE. Mas os países centrais do MCE foram muito mais generosos com a periferia do que o Sudeste/Sul do Brasil (por exemplo) com o resto do país, pergunte a qualquer português sobre a infraestrutura de Portugal hoje e a existente há 40 anos atrás.

    Aí a pergunta fica simples, a Grécia quer todas as benesses do Euro, mas absolutamente nenhuma obrigação? Outra coisa, alguém encostou um revolver na cabeça dos gregos, obrigando-os a entrar no MCE? Lembro que a velha raposa Inglaterra manteve a moeda/política monetária doméstica. Ainda na década de 90 uma discussão semelhante justamente formou um consenso de que o Brasil não deveria entrar na Alca, que os potenciais riscos eram maiores que os benefícios.

    Não tem santo nesta história não, de nenhum lado, os gregos também pisaram muito na bola…

    1. Mas os alemães (e sócios menores) que são tão competentes

      não sabiam de nada, até a crise de 2008 estourar a tal eurozona?

      Se acham que os gregos, por desmérito moral ou outro sub-entendido, não merecem os empréstimos, por que os caras tão competentes e moralmente superiores ofereceram os empréstimos.

      A historia toda pode ser resumida assim:

       1 – a loja da BMW da Grécia manda seu vendedor na casa do grego, e lhe oferece um 328 com crédito de 4 anos a taxa de 0,28 % ao mês. O carro é fantástico, a mensalidade alta em relação ao salário, mas dá para arriscar,

      2 – o grego perde o emprego em outubro 2008, e não paga mais as prestações do 328.

      3 – o dono da loja da BMW chama o grego de F.D.P. por que não paga, e 

      4 – o grego entende finalmente que o comportamento eticamente aceitável era na etapa 1, chamar o vendedor da BMW de F.D.P. por que queria lhe vender um carro a crédito.

      1. Na linha que não tem santo

        É nessa linha Q terminei meu comentário de que não há santo na história. Certamente não os alemães, mas a Grécia tb adorou enquanto o banquete era gratuito…

    2. Ninguém obrigou a Grécia a entrar… Ela entrou assim mesmo…

      Não é muito diferente do que acontece aqui no nosso país…

      Ninguém obrigou o Brasil a vender a Vale… Nós vendemos assim mesmo….

      Quando estorou a crise de 2008 os Financistas precisavam de algum lugar para depositar seus “ativos tóxicos” ( Nas palavras da Fattorelli “títulos desmaterializados e não comercializáveis”). Se avaliou a situação e o lugar mais propício era a Grécia pois estavam com dificuldades desde a cara Olimpíadas de Atenas e tinham no governo uma grupo que seria possível o acordo. O governo grego assinou o acordo contra os interesses do próprio país! Sim! Isso existe em outros lugares do mundo… Ocorre que o grupo foi trocado e os atuais não concordam com os termos do contrato…

      Eu também não aceitaria…

      É ilegítima, odiosa, ilegal, inconstitucional e insustentável!

       

      É tudo um assunto só!

       

       

      1. Confusão.

        Você confunde um país com seu governo, que chama de “grupo”. Quando um governo com outro alinhamento político-ideológico assume um país, o faz com todos os ônus e bônus, de outra forma viveríamos em eterna anarquia, ademais quem quer assumir o governo de um país falido e endividado? Não há santos nessa história.

        Imaginem como seria se uma empresa parasse de pagar seus fornecedores, empréstimos e salários a cada mudança de diretoria.

        É a Grécia que deve, não o partido ou o governo atual, a quem cabe apenas agir politicamente para defender os interêsses do povo grego, prejudicado por decisões de governos anteriores mas que devem ser honradas. A dívida deveria ser negociada como estava sendo feito, apenas dar um “calote” nada resolve. Ora, então saia da UE e ande com as próprias pernas, e não se submeta novamente. O passe-livre já conseguiram.

        De qualquer forma o cenário foi muito bem descrito por você, e tudo foi aceito pela Grécia, porque será? E estes links… por favor… Cordialmente.

    3. Quem manda

       LC,

      A UE sabia da aposentadoria aos 50 anos na Grécia, e de outros problemas, antes de 2008 mas não reclamou. Porque? Porque os bancos alemães e franceses estavam obtendo rendimentos na Grécia maiores do que teriam obtidos em seus países. Enquanto estavam ganhando não convinha reclamar.

      Outra: porque impor uma política de austeridade que iria aumentar, não reduzir a dívida pública, prolongando o sofrimento dos gregos? Talvez por razões políticas, para servir como exemplo para outros países.

      Ou simplesmente para demonstrar que quem manda na UE é a Alemanha. 

  9. Uma lição franciscana:

    “A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia” – Laudato si 189, 4. Política e economia em diálogo para a plenitude humana

     

    1. Muito atual para o memento em

      Muito atual para o memento em que vivemos:

      “69. Ao mesmo tempo que podemos fazer um uso responsável das coisas, somos chamados a reconhecer que os outros seres vivos têm um valor próprio diante de Deus e, «pelo simples facto de existirem (…)[41], porque «o Senhor Se alegra em suas obras» (Sl 104/103, 31). Precisamente pela sua dignidade única e por ser dotado de inteligência, o ser humano é chamado a respeitar a criação com as suas leis internas, já que «o Senhor fundou a terra com sabedoria» (Pr 3, 19). Hoje, a Igreja não diz, de forma simplicista, que as outras criaturas estão totalmente subordinadas ao bem do ser humano, como se não tivessem um valor em si mesmas e fosse possível dispor delas à nossa vontade; mas ensina – como fizeram os bispos da Alemanha – que, nas outras criaturas, «se poderia falar da prioridade do ser sobre o ser úteis».[42] O Catecismo põe em questão, de forma muito directa e insistente, um antropocentrismo desordenado: «Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. (…) As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, reflectem, cada qual a seu modo, uma centelha da sabedoria e da bondade infinitas de Deus. É por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura, para evitar o uso desordenado das coisas».[43]

      70. Na narração de Caim e Abel, vemos que a inveja levou Caim a cometer a injustiça extrema contra o seu irmão. Isto, por sua vez, provocou uma ruptura da relação entre Caim e Deus e entre Caim e a terra, da qual foi exilado. Esta passagem aparece sintetizada no dramático colóquio de Deus com Caim. Deus pergunta: «Onde está o teu irmão Abel?» Caim responde que não sabe, e Deus insiste com ele: «Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim. De futuro, serás amaldiçoado pela terra (…). Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra» (Gn 4, 9-12). O descuido no compromisso de cultivar e manter um correcto relacionamento com o próximo, relativamente a quem sou devedor da minha solicitude e custódia, destrói o relacionamento interior comigo mesmo, com os outros, com Deus e com a terra. Quando todas estas relações são negligenciadas, quando a justiça deixa de habitar na terra, a Bíblia diz-nos que toda a vida está em perigo.”

      Precisamos resgatar estes valores de Deus para nossa existência ou estaremos mortos em nós mesmos.

  10. Dois Pitacos. Ou Três. Quatro.

    – Permita-me citá-lo. “…aumento nas taxas da Libor para atrair ouro de outros países…”. E de qual forma estes supostos países eram “obrigados” a fazer isso? Seria algum tipo de magnetismo áurico desconhecido até hoje? Não, o nome é ganância, faziam isso para ganhar dinheiro, capital, faziam a mesma coisa, jogavam o mesmo jogo.

    – Quem obrigou a Grécia a fazer parte da União Européia, e depois quem obrigou-a a abrir mão de sua moeda?

    – Faria muito bem aos dois lados que a Grécia deixasse definitivamente a União Européia, já que são tão explorados. Poderiam como país independente se desenvolver à vontade sem serem “roubados” pelos malvados capitalistas.

    – A dívida TOTAL da Grécia com a UE é de 2 Bilhões de Euros? Não!

  11. melhor que roubar um banco é fundar um

    os bancos sangram as pessoas três vezes. super exploram e demitem os funcionários. extorquem com juros altos e taxas abusivas os clientes. chantageiam através de ataques especulativos os Estados levando países à falência.

    nenhuma destruição social de propriedade pública é comparável a causada pelo vandalismo do sistema.financeiro.x  

    então devemos nos perguntar: que tipo de sistema político é este que se mostra incapaz de colocar contra a parede quem destrói não apenas a propriedade, como a própria vida?

    .

  12. A culpa é da Grécia?

    Concordo  com a afirmação do Joel Lima de que  os bancos que emprestaram dinheiro à Grécia o fizeram sabendo dos riscos, mas contavam com o socorro do governo Grego, voluntariamente, ou abrigado pela UE.

    Por isso, se for preciso achar um culpado pela crise da Grécia, eu diria que os maiores culpados são os bancos privados que emprestaram o dinheiro, e a Troika, que impôs um programa de austeridade contraproducente, com a única finalidade de pagar os credores, sem muita preocupação com o sofrimento do povo.

    Mas entendo também os vários comentários culpando a Grécia, por ter gasto mais do que podia, como o do Evandro Condé de Lima, que diz “a culpa é exclusiva de quem emprestou? Não haveríamos também de culpar os que contrairam a dívida”?

    Também não iria tão longe para dizer, como disse o Julianos Santos, que “O capital financeiro é predador. É como um parasita, alimenta-se sugando a vida da vítima”.

    A palavra “dívida” tem uma conotação negativa entre  maioria das pessoas porque ter dívida é normalmente, considerado ruim para um indivíduo ou família. Mas o fato é que, no nosso sistema capitalista, devedor e credor (capitalista) são face da mesma moeda, ambos são necessários para o funcionamento da economia. Não pode haver poupança sem que haja o tomador da poupança (devedor).

    Por isso, não adianta reclamar contra o capitalista (rentista). O que é preciso entender é a lógica do funcionamento do capital financeiro.

    O enorme volume de capital financeiro acumulado mundialmente, principalmente em países mais desenvolvidos, requer:

    ·         Livre circulação de capitais

    ·         Países com necessidade de capitais, principalmente para financiar dívidas públicas

    ·         Controle do câmbio

    ·         Controle da inflação

    Essas funções são exercidas, normalmente, pelos bancos centrais. Não é difícil entender porque os países desenvolvidos, e instituições como o FMI, defendem bancos centrais independentes, isto é, fora do controle dos países receptores dos empréstimos.

    Com a desregulamentação a partir do governo Regan, e a nova engenharia financeira, o setor se expandiu enormemente, em prejuízo da economia real. As economias de países receptores do capital financeiro podem ser desestabilizadas com a facilidade com que enormes volumes de capital especulativo podem ser rapidamente desviados de um país para outro. Sem contar com a influência das agências classificadoras de risco.

     

  13. Viagem

          Na época dos grandes filósofos gregos aquele que trabalhava não era considerado um cidadão, não votava inclusive.

    Cidadão era aquele que contemplava a natureza , as artes, que filosofava e que vivia. Creio que esta  época irá voltar ,

    parabéns aos gregos e chega de sermos escravos do capital financeiro.

     

  14. Os bancos montam a ardilha,

    Os bancos montam a ardilha, como estão querendo aprontar para o Brasil: emprestam o dinheiro para infraestrutura como se fosse para uma empresa que investe no aumento da produção.

    Assim acontonceu com Portugal que colocou os investimentos em melhorias nas estradas, hospitais, etc; mas o PIB ficou do mesmo tamanho.

    Ai vem o FMI com a TROIKA e quer a recessão para fazer privatização.  

  15. Grécia: The Guardian

    IMF: austerity measures would still leave Greece with unsustainable debt

    Greece would face an unsustainable level of debt by 2030 even if it signs up to the full package of tax and spending reforms demanded of it, according to unpublished documents compiled by its three main creditors. The documents, drawn up by the so-called troika of lenders, support Greece’s argument that it needs substantial debt relief for a lasting economic recovery.

    http://www.theguardian.com/business/2015/jun/30/greek-debt-troika-analysis-says-significant-concessions-still-needed

  16. As armas do capitalismo

    As armas do capitalismo realmente são um assalto, e mais precisamente toda sua ciência é uma coisa arcaica em que cabe o direito de o Estado se definir como queira; não porém, como objeto escolhido pelo mercado financeiro.

    Para falarmos de um país (a natureza dele), de um povo (suas propriedades de origem e atividades) precisamos fazer uma demonstração de valor que leve a qualificar a quantificação que merecemos no direito nacional, mas adquirimos o hábito de justificar uma definição global arbitrária, que exclui o valor interior do objeto para ter sua exterioridade. 

    O capitalismo (capitar valor) não examina a questão de razão da natureza com a história, como elas estão no espaço, para o maior mérito de residir as criações da realidade. Mas contra essa maneira de ver o valor da natureza pelo preço do capital como uma grande arte do domínio mundial, julgo que podemos afirmar que o valor se apreendido no espaço, nos ajudaria na organização da natureza, por ser um produto do espírito – com um modo de verdade – que é superior a natureza.

    Quando considerarmos neste espaço exterior o método da natureza, os produtos do espírito solicitam intrudução na planta, como é com o sistema do sol, do ponto de vista de sua necessidade para os momentos absolutos da nossa existência; eles poderão, então, desempenhar o conjunto de funções de valor no tempo e espaço, que estamos deixando vagos na natureza para oferecer gratuitamente ao capital especulativo.

    O conjunto de definições com relações entre as variedades que concretizamos para criar a forma que se torna objeto de representação do dinheiro, assim como o acaso que desperta para intuição da consciência, rapresentará a vinculação de laços da nação com o Estado, em virtude da moralidade que não pode recusar o modo privado e subordinação ao espírito. Ou seja, de dois pontos: um, o valor do dinheiro é de um objeto que existe, e, outro ponto, é de quem informa aquilo que ele é.

  17. Começou bem antes
    Só discordo de uma coisa, este processo não se iniciou no século XIX, mas antes (com suas raízes mais remotas no final da Idade Média). O que aconteceu foi o aperfeiçoamento da movimentação financeira (sempre crescente), mas é bom lembrar que antes não havia papel moeda, e sim, moeda mesmo (em ouro, prata, cobre ou bronze, por exemplo). Neste sentido, a Grécia clássica já tinha mecanismos financeiros com as moedas de prata (grande parte da Atenas clássicas que conhecemos foi construída com as moedas de prata que tanto levantaram o Parthenon, quanto equiparam a maior e mais eficaz frota marítima dos gregos, sob o comando de Atenas, para enfrentar os persas).

  18. A Grécia tem décadas de

    A Grécia tem décadas de esculhambação fiscal, com raros momentos de sanidade, mas o Nassif acha que “os capitais” afundaram o país. Ok.

    Agora o primeiro ministro vai propor um plebiscito para ver se o povo quer que ele faça aquilo que ele se comprometeu a fazer se fosse eleito. É ou não é uma figura de coragem ímpar?

  19. o sistema da dívida e a grande mídia

    Grande Mídia: A Engrenagem Fundamental do Sistema da Dívida

    somos todos a Grécia!

    Quando analisamos o sistema da dívida, um elemento é fundamental para compreender como se perpetua tão facilmente um sistema tão injusto e corrupto sem despertar a indignação dos cidadãos do mundo todo.

    A Grande mídia, através da reprodução de uma única leitura da realidade, visa garantir e perpetuar a dominação do Capital Financeiro no sistema econômico mundial. E é isso que será visto em todos os canais de distribuição da Grande mídia daqui em diante, com relação ao impasse na Grécia.

    Destacamos a seguir o trecho de um artigo esclarecedor onde uma cidadã portuguesa contrapõe suas impressões sobre o clima vivido em Atenas e sobre o que é apresentado na Grande Mídia:

    “um canal privado de televisão fazia uma reportagem nas ruas de Atenas, depois da uma da manhã, a anunciar grandes filas de pessoas a sacar dinheiro de máquinas multibanco e motins de anarquistas em Exarchia. Na verdade, eu passeava-me nas ruas a essa hora e o ambiente descontraído e calmo reinava, em Exarchia, muitos jovens reunidos conversavam, ouviam musica, tranquilamente. Hoje, poder-se-ia esperar por filas nos supermercados, ou novamente filas na máquinas dos bancos, mas longe disso. No entanto, esta reportagem é indicativa da estratégia que vai ser usada pela burguesia grega e europeia: a estratégia do terror.”

    Confira, no link a seguir, o texto completo!
    http://bit.ly/1HvvKW9

     

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