A guerra entre XP e BTG e a concentração no mercado de fundos, por Luis Nassif

Figura 1Guilherme Benchimol da XP, e André Esteves, do BTG

A recente disputa judicial entre a XP e o BTG Pactual é apenas a ponta do iceberg dos problemas que vêm afetando a indústria dos fundos de investimento, fruto da enorme concentração do mercado.

Nos últimos anos, muitos bancos estrangeiros fecharam as portas, corretoras nacionais encolheram e o mercado ficou preso em três níveis de instituições.

Entre os bancos comerciais, o Bradesco, o Itaú, o Banco do Brasil e o Santander, mais o XP e o BTG Pactual. Na segunda linha, o Safra e o ABC. Na terceira linha, uma série de corretoras e bancos menores espremidos pelos gigantes.

A XP acusou o BTG de ter se valido de informações confidenciais – o banco teve acesso a dados internos, como integrante do consórcio que lançou seu IPO – para tentar cooptar agentes autônomos. Conseguiu uma liminar em primeira instância. Ontem, saiu a informação de que o XP conseguiu autorização do Banco Central para montar seu próprio banco. Duas grandes vitórias em pouco tempo, como coroamento de uma história de sucesso invejável. 

A XP investiu pesadamente em plataformas digitais, cativando os investidores com aulas didáticas e ferramentas de investimento e corpo de analistas. E avançou no mercado dos corretores autônomos – consultores que mantém uma carteira de clientes e, em geral, compartilhavam mesas de operações de alguns bancos de investimento.

O XP oferecia como atração sua plataforma digital e um número cada vez maior de investidores pessoas físicas. A XP não vende e não opera. Apenas expõe os produtos de terceiros na vitrine, para os investimentos individuais ou dos corretores autônomos. Estima-se que tenha um cadastro com 450 mil investidores.

Tempos atrás vendeu parte de seu capital para o Itaú, aumentando exponencialmente a concentração do setor. Inicialmente o Itaú ficou com opção de compra do controle. A tentativa foi brecada pelo CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico) e pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A XP chegou no topo por mérito próprio. Conquistado o mercado, no entanto, passou a se valer de práticas que configuram abuso de poder.

Afirma não cobrar comissões sobre investimentos. De fato, não cobra de quem aplica. Mas cobra de 3 a 4% dos bancos que pretendem colocar seus CDBs (Certificados de Depósito Bancário) em suas gôndolas. Faz parte do negócio. Também exige que, para vender cotas de fundos, o gestor o coloque sob administração do Itaú.

Uma outa forma de pressão é através do Infomoney, o informativo online de informações financeiras criado por ela. Há vetos a notícias que relatem sucesso de concorrentes, para não elevar o valor das cotas. A alternativa é contratar a Empiricus, uma concorrente da XP no mercado de informações, pouco criteriosa e especializada em notícias de pânico.

Para um fundo ser aceito pela XP, tem que se comprometer com contrato de distribuição de um ano, com repasse de 50% da receita de gestão e com a criação de um fundo espelho na própria XP.

O fundo começa com poucos clientes. Quando já tem uma massa considerável de cotistas, convoca os agentes autônomos para conseguir procuração de clientes para convocação de assembleia visando trocar a gestão dos fundos. Os mais bem-sucedidos são premiados com bônus.

De qualquer forma, é um mercado ainda em formação, que vem sendo acompanhado com cuidado pela CVM e pelo Banco Central.

Luis Nassif

12 Comentários

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    1. André, gostaria de ouvir sua

      André, gostaria de ouvir sua análise dos fundos 401K nos EUA….na minha visão, é entregar o dinheiro de uma futura aposentadoria a administradores de fundos privados, e que a grande maioria das pessoas que os possuem não tem noção da onde está sendo aplicado……um exemplo da vulnerabilidade destes fundos foi a crise de 2008, muitos perderam mais de 20% do dia para a noite, tendo que adiar suas aposentadorias……este fantasma está reaparecendo com as quedas recentes da Dow e Nasdaq.

       

  1. mercado?

    Isso é o que chamam de mercado ou deveria ter outro nome?

    Empiricus? Sério? Além da lamentável militância ideológica a publicidade digital (ou seria marketing?) deles, não se parece com aqueles anúncios, “links patrocinados” de produtos para se emagrecer 15 quilos por mês sem dietas nem exercícios?

  2. XP – A mais bem sucedida plataforma digital brasileira (?)

    Para muitos, o mais bem sucedido empreendimento digital brasileiro. Mas trata-se de algo inédito no mundo? Não. Não se espera da XP algo inovador como uma americana Vanguard, com seus fundos mútuos. Em linhas básicas, segue um modelo inspirador: ser uma Charles Schwab à brasileira. De inovador só se for em relação ao modus operandi das tradicionais corretoras e assets dos anos 90, além de maciços investimentos em propaganda com atores globais e em contratações de “grifes” do mercado, como a economista Zeina Latif.

    Incrível ainda escutar na mídia de que existam “start-ups inovadoras” no Brasil, se a esmagadora maioria nada mais segue importando conceitos e inovações estrangeiros, aplicando-as no Brasil. Instigador nesse perspectiva é aquilo que certa ocasião disse um ministro da Ciencia & Tecnologia, ao enaltecer o “salto tecnologico” de o Brasil ter recebido uma maquila taiwanesa chamada Foxconn, para montar iPads em Jundiaí. Verdadeiras start-ups inovadoras brasileiras são de nicho, de especialização, já entrando em mercados estrangeiros, prescindindo dos holofotes das conhecidas agências de publicidade e seus canais midiáticos artificializados. 

  3. O q vejo é q logo logo a
    O q vejo é q logo logo a invasão estrangeira irá dominar os setores financiadores e operadores do golpe como as comunicações (tvs,rádios) e os bancos,bye bye Brazil!(em inglês, expressão oportuna)o setor da aviação já está encaminhado e … CHICOTE NAS COSTAS DOS BRASILEIROS(o povo e empresários pequenos e médios já estão levando chicotadas só falta os grandes empresários(questão de tempo)!)
    Obs:Nassif não faz consultoria,desse jeito vou colocar uma estátua dele na minha sala!

  4. Foram e são muito bem

    Foram e são muito bem sucedidos porque há uma grande classe média estilo Miami nas metropoles e cidades médias do interior que é fascinada por essas plataformas moderninhas, a publicidade XP tem esse tom “não estou nem ai para o Brasil”

    usam o mais feio garoto propaganda da historia da publicidade brasileira desfilando um texto absurdo “não vejo porque voce não vir para a XP” e tem gente e muita gente que deve achar tudo isso muito lindo, elas acertaram na veia, identificaram essa nova classe media iditiocizada viciada em outlets e escolas bilingues que hoje é a base do Brasil moderno e ve na XP a sua contraface financeira, aquela que vai garantir a proxima viagem do casal para fazer um enoturismo chique em Portugal.

  5. A imprensa colocou a classe-média de 4 para o mercado financeiro

    A classe média brasileira está totalmente despreparada e vulnerável ao ataque dos pilantras do mercado financeiro. Eles misturam opinião política, religiosa e até time de futebol… com patrimônio e finanças.

    A imprensa brasileiro colococou a classe média de 4 para o mercado financeiro terminar o serviço:

    1-O POBRE É IGNORADO PELO MERCADO FINANCEIRO

    2-O RICO ESTÁ ACOSTUMADO A MANIPULAR O CAPITAL E NÃO CAI NESSE PAPO FURADO

    3-A CLASSE MÉDIA ESTÁ DEPENDE DE INFORMAÇÕES DA IMPRENSA E YOUTUBE…. AÍ JÁ ERA…

     

    Vocês conhecem uma tal Prudential???

    Ela faz “blindagem” de patrimônio. Simplesmente inventam um papo furado alarmista para convencer o cidadão a enfiar toda sua reserva em um fundo que rende menos que a própria poupança. Eles se dão a liberdade de inventar todo tipo de asneira, basta consultar o “Reclame Aqui” da empresa para ver que eles fazem de tudo para arrumar cliente.

    É óbvio que a Prudential, assim como os bancos… pegam todo capital do sujeito e enfiam em títulos de longo prazo da dívida… depois repassam uma parte mínima para o trouxa.

  6. Ótima matéria, mas podemos acrescentar mais!
    Apesar de sermos responsáveis pelo sucesso de muitas Corretoras de Valores econtribuirmos bastante para o aumento da concorrência, o fortalecimento e apopularização do mercado de capitais, nossa profissão, considerada uma das 6melhores nos EUA, é pouco difundida no Brasil. Fundada em 2015 a ABAAI (Associação Brasileira dos Agentes Autônomos deInvestimentos) tem como principal objetivo o fortalecimento e o reconhecimento danossa profissão. Atualmente temos cerca de 110 escritórios filiados, já somos reconhecidos pela CVM,pela B3, pelas principais corretoras e nossas 4 principais pautas em andamento juntoaos órgãos de regulamentação são:(1) a possibilidade de termos sócios não AAIs;(2) o fim da exclusividade para distribuição de valores mobiliários;(3) a mudança do nome da nossa profissão para assessor de investimentos (que teveapoio de mais de 90% dos associados em pesquisa realizada) e(4) a redução dos custos de observância (taxa CVM). Para o futuro próximo queremos fazer mais, como:(1) dar assessoria jurídica para filiados;(2) contratar um superintendente para desenvolver a área comercial e se relacionaros demais participantes do mercado e(3) sermos os certificadores e fiscalizadores da nossa atividade, assim como acontececom advogados, engenheiros e médicos. Para que tudo isto e muito mais seja possível, é fundamental sua contribuição naforma de participação, nos passando suas ideias e desafios diários, e também sefiliando à ABAAI pelo link: http://abaai.com.br/seja-um-associado/ Ficamos à disposição! ABAAI – Associação Brasileira dos Agentes Autônomos de Investimentos.Telefone (11) + 55 11 3385-5637 / e-mail: [email protected].

  7. Argumentos pelo fim da exclusividade na distribuição de valores imobiliários!

    A atividade de assessoria de investimentos no Brasil, cujo nome legal é Agente Autônomo de Investimentos (AAI), é regulada pela instrução CVM 497, que está bastante defasada, estimula a formação e monopólios, dá insegurança jurídica e foi elaborada para um outro momento da nossa atividade, quando trabalhávamos dentro das Corretoras de Valores, o que já não ocorre mais.

    Atualmente cerca de 7.700 brasileiros são certificados pela CVM como Agentes Autônomos de Investimentos, aprovados em um teste com nível técnico bem elevado e cuja exigência de acerto mínimo é de 70%. Também somos certificados pelo PQO da B3 e a grande maioria de nós possui CPA-20.

    Entre as 11 principais pautas defendidas pela ABAAI – Associação Brasileira de Agentes Autônomos de Investimentos – está o fim da exclusividade para distribuição de valores imobiliários exigida instrução CVM 497.

    Hoje em dia cerca de 85% dos AAIs são vinculados à corretora líder do mercado, acabando com a exigência de exclusividade vamos (1) estimular a concorrência, (2) melhorar as taxas para os clientes e (3) fortalecer o mercado de capitais brasileiro, reduzindo os monopólios.

    Destaco abaixo uma proposição parlamentar apresentada pelo deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança, um parecer do CADE e argumentos jurídicos e sugestões enviadas para a CVM, todos eles contrários a exclusividade na distribuição de valores imobiliários.

    1- Proposição apresentada pelo Deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança.
     Alerta que a exigência de exclusividade é extremamente nociva, na medida em que viola os princípios constitucionais da livre iniciativa e da livre concorrência, fazendo com que haja uma excessiva concentração no mercado financeiro.

    Link de Acesso > https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1737258&filename=INC+519/2019
    2- Parecer do CADE contra a exclusividade na distribuição de produtos de investimento por ocasião da compra de 49,9% da XP pelo Itaú.
     Impõe que a XP não poderá exigir exclusividade em relação a agentes autônomos de investimentos, para facilitar a entrada de outras plataformas à rede de distribuição.

    Link de Acesso> http://www.cade.gov.br/noticias/cade-autoriza-com-condicoes-participacao-do-itau-no-capital-da-xp
    3- Parecer apresentado pelo escritório por Bocater, Camargo, Costa e Silva, Rodrigues Advogados na Audiência Pública SDM no. 06/17.
     Fala da livre concorrência, que pressupõe a liberdade de que os agentes econômicos ou potenciais têm para entrar, permanecer e sair do mercado.

    Link de acesso> http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/audiencias_publicas/ap_sdm/anexos/2017/sdm0617CECORE__OABSP_18012018.pdf?fbclid=IwAR0uEEJtc3wN253kQgtsZ1Z7vMIL9C_Sh9FKoGt2g53PZ6bepl0fwhod1gc
    4- Parecer apresentado pelo advogado Matheus Humberto Migliari Ramalho na Audiência Pública SDM no. 06/17.
     Ressalta que a exigência de exclusividade em relação aos AAIs constitui barreira de entrada significativa para novos entrantes ou mesmo para o crescimento das concorrentes de menor porte.

    Link de acesso> http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/audiencias_publicas/ap_sdm/anexos/2017/sdm0617Matheus_Ramalho_18012018.pdf?fbclid=IwAR0tzB0gTXP1KbtSvQNJ0NMfyXC1Fi6CgpgZDSo2Hq4KfEF2_SWjNZXVNGw
    5- Sugestão apresentada pelo AAI Alfredo Sequeira Filho na Audiência Pública SDM no. 06/17.
     Pondera que exclusividade para operações em bolsa é inexplicável e prejudica o Cliente/investidor.

    Link de acesso > http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/audiencias_publicas/ap_sdm/anexos/2017/sdm0617DNA_Invest_20122017.pdf

    Quem defende a manutenção da exclusividade geralmente usa dois argumentos fracos facilmente refutáveis.

    1- É mais fácil fiscalizar o AAI se ele só operar valores imobiliários por 1 Corretora.
    Resposta: Não é possível que uma Corretora fiscalize melhor um AAI do que duas e que duas fiscalizem o AAI melhor do que três.

    2- De quem o investidor deverá cobrar a responsabilidade se o AAI cometer um erro ou uma fraude.
    Resposta: Do AAI, como já é atualmente, e posteriormente da corretora onde este erro ou fraude for cometido, como acontece com um médico que trabalha em mais de um hospital ou com um corretor de seguros que vende seguros de mais de 1 seguradora.
    Fico à disposição para maiores esclarecimentos e conto com sua ajuda para avançarmos nesta questão, fundamental para o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.

    Atenciosamente;

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