A hora de discutir as metas inflacionárias

No controle da inflação, as expectativas desempenham papel central. Se todos os agentes acreditam que a inflação poderá aumentar, passarão a reajustar seus preços transformando a profecia em realidade. E vice-versa.

O sistema de metas inflacionárias surgiu para permitir ao BC articular as expectativas de uma forma clara e eficiente. Especialmente depois que o avanço das transações eletrônicos e a sofisticação das operações financeiras acabou com os diversos conceitos de meio circulante.

Consiste no seguinte:

  1. Primeiro, o BC define uma meta para a inflação a ser alcançada – com uma margem para cima ou para baixo.
  2. Se o mercado acredita que a inflação futura ficará acima da meta, o BC aumenta os juros básicos da economia. Se acredita que ficará abaixo, o BC diminui os juros.
  3. Teoricamente, aumentando as taxas básicas de juros, o BC conseguiria interferir em toda estrutura de juros da economia, encarecendo o crédito e, por consequência, reduzindo a demanda, ajudando a derrubar os preços; e vice-versa.

***
Havia vários inconvenientes na adoção do sistema pelo Brasil.

O primeiro, a própria estrutura de juros da economia. As taxas de juros na ponta são tão elevadas que  mudanças na Selic mal fazem cócegas no custo final do dinheiro.

O segundo, a cartelização do processo de formação de expectativas. Em economias desenvolvidas, há vários agentes influindo nas expectativas do mercado – o maior dos quais é o próprio Banco Central. No caso brasileiro, as expectativas são formadas por uma cobertura jornalística concentrada, cartelizada, baseando-se em poucos canais de informação alimentados por fontes com interesses objetivos na alta de juros.

Cada decisão do Copom sobre nível de juros movimenta apostas pesadíssimas  – seja entre comprados e vendidos, no mercado futuro, seja nas próprias expectativas de rentabilidade das tesourarias de empresas.

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O BC sabe, qualquer economista de bom senso sabe que, contra o excesso de demanda, há medidas muito mais eficazes que a taxa Selic. O BC pode instituir tributos sobre o crédito, aumentar o compulsório (parcela dos depósitos bancários que é recolhido), reduzir prazos de financiamento, exigir parcelas maiores à vista etc.

Sabe, também, que quando ocorrem choques de oferta (frustração de safra nos EUA, seca no Brasil etc.) aumentos de juros são ineficazes.

Teoricamente, portanto, bastaria o BC acenar com qualquer dessas medidas para derrubar as expectativas de alta da inflação.

Ocorre que, pelo sistema atual, aceita-se apenas um único tipo de atitude do BC para rebater expectativas inflacionárias: o aumento da taxa básica de juros. A única prova que os lobistas exigem é alta nos juros.

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Com isso, as discussões técnicas passam a ser ferozmente contaminadas por interesses pessoais de operadores se posicionando no mercado de taxas – tanto os altistas quanto os baixistas.

No dia em que as expectativas inflacionarias puderem ser rebatidas com medidas no compulsório ou impostos no crédito, acaba a frescura de certos analistas com taxas de juros neutra e outros conceitos vagos.

É hora de começar a se discutir a sério o fim ou a reformulação radical do sistema de metas inflacionárias.

Luis Nassif

18 Comentários

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  1. Pode desenhar

    Pode desenhar !?!??

    “Especialmente depois que o avanço das transações eletrônicos e a sofisticação das operações financeiras acabou com os diversos conceitos de meio circulante.”

  2. Nada irá mudar. Dos três

    Nada irá mudar. Dos três principais candidatos, Eduardo Campos e Aécio N. Cunha têm compromissos de aprofundar essa situação, provavelmente com a definição legal de independência do BC, uma razoável independencia blindada, inclusive, quanto a nudanças na condução do país. Dilma tem o compromisso de manter esse sistema. Sua tímida tentativa de mudá-lo, com a queda das taxas, não foi acompanhada de medidas que mudassem efetivamente o modelo de financiamento da economia do país. Além disso, um governo incompetente em comunicação não tem capacidade de realizar mudanças de fato. 

  3. Nestes parágrafos Nassif disse tudo

    O primeiro, a própria estrutura de juros da economia. As taxas de juros na ponta são tão elevadas que  mudanças na Selic mal fazem cócegas no custo final do dinheiro.

    O segundo, a cartelização do processo de formação de expectativas. Em economias desenvolvidas, há vários agentes influindo nas expectativas do mercado – o maior dos quais é o próprio Banco Central. No caso brasileiro, as expectativas são formadas por uma cobertura jornalística concentrada, cartelizada, baseando-se em poucos canais de informação alimentados por fontes com interesses objetivos na alta de juros.

    Quem conseguirá dominar os monstros da inflação: Os bancos, os rentistas, a mídia? O PT não conseguiu ou não teve forças para isto sem levar o país a uma convulção política. O Nassif tem sugestão por que aí está a raiz do problema. Minha sugestão para o próximo governo PT. Pare de ser republicano. Use as mesmas armas do PSDB. Arme-se políticamente e juridicamente com pessoas que realmente lutem pelo PT. Colocar estes pilantras na PGR (em pleno início de camapanha eleitoral novamente com mensalão, que o rombo é de mais de 300 milhões e quer que seja paga??????????????? Como? Ainda não sabem quanto foi o total que saiu da VISANET? Ou quer prejudicar ainda mais o PT?), o STF, os ministros da Justiça e da Comunicação? O Banco Central? Apanhar calada dá margem a opinião dizer que ela é culpada. Quem cala consente.

  4. A selic nunca deveria ser mais que dois por cento acima da infla

    inflaçao. o dia que o “mercado” souber que o Banco Central nao lhes oferecerá renda  a economia brasileira  entrará nos eixos

    Os grandes Empresários tem renda financeira e de seus produtos ou serviços.

    Quando as margens estao apertadas acontece o terrorismo pelo aumento de juros.

    Há um complô contra o cidadao brasilero comandado pelas Mídias e seus clientes “o mercado”.

    Ainda nao ví  nenhum candidato a Presidente da República reclamar do pagamento dos juros escorchantes de mais de duzentos bilhoes anuais.

    Pior o “mercado” está exingindo dos candidatos a promessa de arrocho, diminuiçao de gastos com previdencia publica e reduçao dos gastos sociais, alteraçao da lei de aumento real do salário mínimo. desvinculaçao do salario minimo do

    beneficio minimo da previdencia social etc.

  5.  
    A Dilma cometeu um erro

     

    A Dilma cometeu um erro crasso, achou que a taxa de juros era só querer que baixaria, a taxa de juros até diminuir por um período, mas estamos colhendo o descontrole inflacionário.

    1. Descontrole???
      Há quase 12

      Descontrole???

      Há quase 12 anos a taxa de inflação está dentro da meta.

      Isso é descontrole?

      Quando FHC entregou o “brasil” em frangalhos a Lula a inflação estava em 9%…

      1. É por negar a inflação, que a

        É por negar a inflação, que a Dilma está perdendo popularidade. Ficar lembrando de FHC não resolver o problema inflacionário. 

  6. Cabe a presidenta da

    Cabe a presidenta da República escolher melhor seu ministro da Fazenda e presidente do Banco Central: um ministro da fazenda e um presidente do Banco Central que impõem respeito ao mercado. No momento, o mercado está ganhando de 10 a O do governo Dilma, infelizmente, que tem mostrado um pânico total para cada nota de jornal que vem com a seguinte manchete: “inflação acelerou para 0,20%”. Faltam Estadistas no Brasil.

  7. Porque a SELIC não funciona

    Nassif, leia por favor esse trecho abaixo. É do Leandro Roque, do mises.org.br. A tese é  interessante, e explicaria a suposta ineficiência da taxa de juros no Brasil. 

     O endereço completo em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1854 Ele já escreveu artigos muito interessantes (apesar da linha radicalmente diversa em relação ao blog). Seria interessante publicar este na íntegra.  (  )A segunda e principal causa da carestia  Poucos sabem, mas, no Brasil, por determinação do governo federal, praticamente metade dos empréstimos feitos pelos bancos cobram juros menores do que a SELIC.   Em outras palavras, isso significa que metade dos empréstimos feitos pelos bancos praticamente não são afetados por aumentos da taxa básica de juros da economia, a qual, supostamente, deveria servir de baliza para todas as outras taxas de juros da economia.   Ou, falando ainda mais claramente, isso significa que o Banco Central pode subir a SELIC o quanto quiser — as taxas de juros destes empréstimos praticamente não serão afetadas. (   )Outro exemplo: o Banco do Brasil está oferecendo empréstimos para a aquisição de imóveis a juros de 6,22% ao ano, uma taxa que também é menor do que a inflação de preços.  Um banquete para os especuladores imobiliários.  E há também o inefável BNDES, cujos empréstimos para o grande baronato industrial cobram juros de ínfimos 5% ao ano.  E então, você sabia que, para a metade do seu crédito, o Brasil tem um dos menores juros reais do mundo?  A taxa SELIC influencia apenas o chamado “crédito livre” ou “crédito com recursos livres”.  Como o próprio nome diz, trata-se dos empréstimos que os bancos podem fazer para quem quiser, cobrando juros de mercado.  Eis aqui a tabela com os juros desta modalidade.  Bem mais altos e variando de acordo com a SELIC.(. ) 

     

  8. Como se quer combater a

    Como se quer combater a inflação se não a conhece de todo?

    A taxa de juros é uma atrocidade do Banco Central, porque pouco se importa com o déficit fiscal, imanente ao valor da inflação pelo preço do dinheiro (Selic), como uma espécie de desequilíbio histórico

    Criaram juros ao renunciar a própria existência do valor do trabalho, porquanto amputam uma parte da força essencial do país, para transferir bilhões de dólares aos especuladores. 

    Quando se sabe que a inflação é objetivamente inverificável pela realidade? 

    Forçoso reconhecer que, ao mesmo tempo, essa instituição do Brasil se mostra cada vez mais incompetente em conseguir uma prova simultânea da acumulação econômica.

  9. A sequência horária dos

    A sequência horária dos comentários antigos, que agora ficam no topo, obriga a gente ler tudo de novo quando chega um comentário novo; e a página antiga fica sendo a capa do post.

  10. Imprensa Abutre x Taxas de Juros

    A imprensa abutre oligárquica que manipula a formação de expectativas através de uma “cobertura jornalística concentrada, cartelizada” é uma das principais interessadas na alta dos juros, por vários motivos:

    Comercial: vende sua cobertura jornalística manipulada às fontes com interesses objetivos na alta de juros

    Investimentos: a informação privilegiada sobre a alta de juros no médio prazo permite posicionar-se como “vendido” nos vários mercados de ativos, aguardando a oportunidade de “ir às compras” quando for sinalizada a estabilização da taxa de juros ou um processo de reversão da alta.

    Político: coloca-se como um dos principais atores no jogo do xadrez político, bombardeando o governo trabalhista de plantão, através da chamada guerra psicológica que inibe a decisão de investimento dos empresários, vinculados à economia real. ajudando a impedir, por decorrência, o crescimento do PIB, gerando as consequências nefastas quanto ao emprego e a renda do trabalho. Com isto, chantageia o governo, desgastando-o, não somente visando captar sempre mais verbas de publicidade governamental mas, também, ameaçando a governabilidade e a continuidade da governança através da reeleição ou de um novo mandato para o mesmo grupo político.

    Daí o desespero em derrotar a Presidenta Dilma a qualquer custo, para impedir qualquer ação do governo no sentido de democratizar a mídia, pois não se pode correr o risco de perder a verdadeira “mina de ouro” que se constitui a mídia concentrada nas mãos de oligarcas.

    As pesquisas eleitorais também se inserem nesse contexto de “ganhos de oportunidades gerados pelo domínio da mídia”, só que são úteis no curto prazo, no período de seis meses que antecede a eleição para Presidente da República, enquanto a alta da taxa de juros se coloca numa perspectiva de médio a longo prazo.

    Até as pedras sabem que a perspectiva de derrotar o governo trabalhista provoca volatilidade nos mercados. Daí a contratação de pesquisas eleitorais que indique uma tendência de queda das preferências eleitorais na Presidenta da República.

    Entretanto, só serve aos especuladores pesquisas eleitorais que apresentem resultados de tendência de queda da Presidenta intercalados por altas, de tal forma que antes da publicação de uma queda na pesquisa, o especulador esteja na posição de “comprado” e, antes da publicação de uma alta, o especulador esteja na posição de “vendido”.

    É o que acontece com as pesquisas eleitorais manipuladas contratadas pela imprensa abutre.

    Haja otário. Haja lucro.

  11. Indexação

    Duvido removerem esse entulho neoliberal tão cedo.

    O Francisco Dória chama de “média aritmética metida a besta”. Eu chamo de indexação; indexação pela taxa de lucro média do “mercado”.

    Foi só o atual governo levar as taxas de juros aos níveis mais baixos depois de décadas que a campanha de ódio se acirrou.

    É assim que funciona no estamento rentista como um todo. Com os imóveis é a mesma coisa: os aluguéis compõem o indice de inflação e são reajustados por esse mesmo índice.

    Nos estamentos burocráticos mais altos, seja no setor público quanto no privado, os reajustes de salário para manter o “estilo de vida” são sempre mais fáceis de se obter.

    Só o salário mínimo é que não pode aumentar senão o “caos” se instala.

  12. Regime de Metas é o que há de melhor no combate à inflação

     

    Luis Nassif,

    Primeiro reafirmo que a inflação não é um problema econômico mas sim um problema político. Analisar a inflação sob o aspecto econômico para justificar o combate da inflação é, em entendimento, que reconheço, é de leigo em economia, um grave equívoco que os economistas conseguiram repassar para todos os analistas.

    Não haveria equívoco se os economistas analisassem a inflação sob o aspecto econômicos para com o conhecimento adquirido construir instrumentos econômicos de combate à inflação. E talvez nesse sentido o Regime de Metas de Inflação seja o instrumental mais avançado de combate à inflação. Tão avançado que é o método que os políticos estão preferindo utilizar para combater a inflação.

    Junto aos posts “Brasil 2015: o desafio de mudar o tripé econômico” de sexta-feira, 18/07/2014 às 06:00, e “Brasil 2015: rumos da política industrial” de terça-feira, 15/07/2014 às 06:00, todos dois aqui no seu blog e de sua autoria, eu escrevi um pouco sobre estes dois aspectos, o caráter político da inflação e o caráter econômico evolutivo do Regime de Metas de Inflação como instrumento de combate à inflação. O endereço do post “Brasil 2015: rumos da política industrial” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/brasil-2015-rumos-da-politica-industrial

    E o endereço do post “Brasil 2015: o desafio de mudar o tripé econômico” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/brasil-2015-o-desafio-de-mudar-o-tripe-economico

    E nos comentários que eu deixei nos dois posts eu indiquei alguns links importantes para mais bem entender toda a minha argumentação. Há, entretanto, quatro links que eu não indiquei e que penso que bem vale os mencionar aqui. Na verdade só será possível indicar três links, pois em relação a um quarto eu só tenho dele minhas reminiscências. Este link para o qual eu só tenho as minhas reminiscências diz respeito ao post “Preparando o álibi para o aumento de juros” de domingo, 23/12/2007 de sua autoria e publicado no seu antigo blog Projetobr. Só tenho as minhas reminiscências a este link porque você o apagou da internet. De todo modo, há este link a seguir que transcreve o seu post “Preparando o álibi para o aumento de juros”, mas infelizmente sem o acréscimo dos comentários. O link para o post “Preparando o álibi para o aumento de juros” a seguir indicado encontra-se junto ao site Amor, Ordem e Progresso e é o seguinte:

    http://amorordemeprogresso.blogspot.com.br/2007/12/preparando-o-libi-para-o-aumento-de.html

    Nas minhas reminiscências há dois comentários meus que eu gostaria de transcrever aqui, fazendo correções para os tornar mais claros uma vez que no seu blog antigo Projetobr, dada a sempre grande extensão dos meus comentários, eu quase sempre tinha que eliminar palavras e frases para o comentário ficar dentro dos limites de 1500 caracteres e assim o comentário perdia um pouco a clareza.

    Antes de o transcrever faço três observações. Primeiro, as minhas opiniões são opiniões de leigo e no caso dos comentários que eu vou transcrever eu estava envolvido com uma discursão com um comentarista que se intitulada “Economista” e que, pelo menos para um leigo, parecia ter bom domínio desta ciência. Segundo, eu relembro que a minha opinião sobre o caráter político da inflação é de mais de 30 anos e devido a minha teimosia eu nunca fui demovido deste entendimento.

    E a terceira observação diz respeito a coincidência numerológica do post “Preparando o álibi para o aumento de juros” de lá do ano de 2007 com o comentário de Alexandre Weber –Santos-SP, enviado sábado, 19/07/2014 às 10:57, e que ele intitulou “Numerologia” e no qual ele apresenta vídeo com a Christine Lagarde, diretora presidente do FMI, em que ela fala bastante sobre a numerologia de 7.

    O primeiro comentário que transcrevo foi envidado domingo, 30/12/2007 às 18:57, portanto ainda em 2007 e você era o destinatário. No meu comentário eu dizia o seguinte:

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    “Luis Nassif,

    Meu comentário é para abordar outro de número 99 feito pelo Edward Chaddad com críticas e elogios ao “Economista’, comentarista frequente neste blog.

    Bem, em comentário meu anterior (um dos quinze primeiros) menciono a dificuldade dos economistas para tratarem sobre a inflação, pois esse não é assunto da área deles (eu não sou economista). A inflação é problema sob o aspecto político. No campo econômico não há uma crítica consistente à inflação. Sem entrar nessa seara sem fim, vale lembrar que a estabilidade da inflação é do índice de preços, os preços com ou sem inflação podem estar subindo ou caindo.

    Mas o meu assunto é sobre o Plano Real [e ele é endereçado a Edward Chaddad]. Edward Chaddad, poucos criticaram o Plano Real no nascedouro. O Luis Nassif não foi crítico de primeira linha. Criticou-o até muito antes, ao perceber que ele viabilizaria a candidatura do FHC em detrimento da do Serra que ele admira. Isso em 93. No primeiro semestre de 94, o Luis Nassif defendia do Plano Real como revela a passagem recontada a seguir. Em oposição à lógica, embora defendendo o interesse público (digo que o governo Itamar e FHC eram incompetentes, mas não corruptos) estabeleceu-se que o índice de inflação de julho seria calculado pela URV. Critério que a FGV recusou. No programa de televisão em que o Luis Nassif participava ele censurou essa postura dos técnicos dizendo que se tratava de uma vingança contra o fato do governo ter cortado as verbas da FGV”.

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    Não interessava muito aqui este último parágrafo, mas eu o transcrevi também porque este foi um comentário que você me respondeu e na sua resposta enviada domingo, 30/12/2007 às 19:47, você diz:

    “Critiquei-o por ter abandonado todas as reformas. Em nenhuma hipótese estava colocada a candidatura de Serra”.

    As suas respostas são muitas rápidas e imprecisas. Você criticou quem ou o que? Criticou o Plano Real por ter abandonado todas as reformas, diria você. Só que o Plano em si já era a reforma. E a crítica que eu havia feito era específica em relação a uma defesa que você fazia de um dos mecanismos do Plano Real e mecanismo economicamente equivocado e que teve repercussão no momento seguinte, pois o mecanismo que eliminava o “carry over” da inflação, e que era no curto prazo uma medida benéfica para os cofres públicos, no longo prazo pressionaria o investidor a não aceitar juro vinculado a taxa de inflação e assim exigir taxas de juros maiores de tal modo a evitar os riscos de uma medida semelhante do governo no futuro.

    É claro que para quem aplicou nas vésperas da troca da URV pelo Real fazer uso do carry over não fazia sentido, mas para quem teve aplicações na época em que a inflação era baixa, os 20% que foram retirados do índice de correção foram perdas reais.

    A bem da verdade há uma resposta sua logo em seguida, enviada domingo, 30/12/2007 às 19:50, em que você esclarece o seu posicionamento crítico em relação aos técnico da FGV, e diz o seguinte:

    “O mecanismo de cálculo não era fraudulento. O que ocorria foi que o GP entrou com uma ação, fundada em um parecer tecnicamente falho do Affonso Celso Pastore, querendo um bilhão de reais de indenização do governo. Mostrei, em vários artigos, que na passagem da URV para o real não houve perdas para os credores”.

    O mecanismo de cálculo não era fraudulento porque fora previsto na lei, e mais ainda ele preservava o interesse público imediato, pois reduzia o tamanho da dívida pública vinculada a índices inflacionários, mas ele tinha efeitos econômicos deletérios pois exigiria no futuro taxas de inflação mais elevada. Sua argumentação, entretanto, só fazia sentido em relação a aplicadores de última hora. Em relação a antigos aplicadores sua argumentação era insustentável. A inflação escondida de 20% que seria escamoteada com o mecanismo de cálculo da inflação apareceria nos índices inflacionários se a inflação fosse derrubada vagarosamente sem a utilização de mecanismos como o URV. Então os investidores quando aceitavam o índice de inflação para corrigir os seus investimentos aceitavam também juros menores.

    De todo modo fiz este desvão no meu comentário apenas porque foi um assunto que apareceu no post “Preparando o álibi para o aumento de juros” e de certo modo, problemas que vieram desde o lançamento do Plano Real guardam relação com a dificuldade atual de controle do processo inflacionário.

    E volto agora ao segundo comentário que eu mencionei com o intuito de transcrever aqui neste post “A hora de discutir as metas inflacionárias”. Foi um comentário já enviado em 2008, na quarta-feira, 02/01/2008 às 23:22, e nele eu dizia:

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    “Luis Nassif,

    Em continuação aos comentários sobre o Palno Real faço a questão: sem o Gustavo Franco, o plano Real teria dado certo? Foge-se da pergunta negando que o Plano deu certo. É o meu caso, que defendo para o Brasil a opção [ou melhor, a opção, como prioridade,] pelo saldo na balança comercial para se libertar da dominação estrangeira [e não pelo combate à inflação], considerando-o [o Plano Real] uma lástima. Mas funcionou bem para aqueles que beberam na fonte de teóricos americanos de esquerda segundo os quais países em desenvolvimento não devem possuir o saldo. Mas meu interesse é outro. Pretendo esclarecer ao “Economista” o que eu quis dizer com a frase: “a inflação não é problema econômico, mas sim político”. [Antes de fazer o esclarecimento eu apresento uma espécie de desculpa caso eu não consiga esclarecer e assim disse o que se segue] Não sei se o economista escreveu o que pensou, nem se eu li o que ele escreveu, nem se o que entendi foi o que eu li. Trata-se de dificuldade na comunicação humana. [E então parto para o esclarecimento]

    Suponhamos que haja vários métodos filosóficos de combate ao diabo. O método aristotélico, o hegeliano, o sartriano, etc. Bem, um dia um gaiato pergunta: por que combater o diabo? Ninguém sabe, até alguém responder, ora, o diabo aumenta a produção de CO2 que provoca o aquecimento do planeta. Sendo assim, o diabo deixa de ser um problema filosófico e passa a ser um problema ecológico. Assim é a inflação. Os métodos de combate: aumento de receita tributária, aumento de endividamento público, aumento do juros, valorização da moeda, etc são métodos econômicos. Mas o objetivo de a combater é político. A inflação é portanto um problema político.

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    A intenção em transcrever este comentário prende-se ao fato de nele eu ter explicitado de modo bem enfático um ponto de vista há muito defendido por mim. A inflação é estudada pelos economistas e os métodos de a combater são de natureza econômica, mas a inflação é essencialmente um problema político.

    Bem, uma segunda lembrança que eu trago aqui e para a qual eu já não vou precisar de minhas reminiscências é para o post “A força do mercado no meio acadêmico” de quinta-feira, 29/09/2011 às 10:06, aqui no seu blog, mas que não contem a sua assinatura, embora pareça originado de uma introdução sua para comentário de Marcos Nunes em que ele apresenta em tom crítico o artigo “O BC e a subversão dos fatos – a mais longa marcha” saído no site do Estadão em 29/09/2011 às 08h 24, de autoria de Lourdes Sola, ph.D em Ciência Política pela Universidade de Oxford, professora aposentada da USP, e membro da Academia Brasileira de Ciências. O post “A força do mercado no meio acadêmico” pode ser visto aqui no seu blog no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-forca-do-mercado-no-meio-academico

    A indicação do post “A força do mercado no meio acadêmico” é muito em razão de vários comentários que lá deixei com muitos links para posts importantes.

    E a terceira lembrança é para o post “A inflação distante do umbigo da blogosfera” de sexta-feira, 04/03/2011 às 09:41, aqui no seu blog e constituído de análises de Gunter Zibell-SP a respostas suas ou de análises suas à respostas deles em debate que vocês tiveram sobre inflação e câmbio. O endereço do post “A inflação distante do umbigo da blogosfera” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-inflacao-distante-do-umbigo-da-blogosfera

    O que mais interessa-me no post “A inflação distante do umbigo da blogosfera” é um comentário de Alexandre Weber – Santos – SP enviado quinta-feira, 03/03/2011 às 17:25, e que se encontra na página 3 do post.

    No comentário Alexandre Weber – Santos – SP diz o seguinte:

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    “Falta considerar o tempo nas análises do Gunter, este tempo, em um mercado fechado onde quando um perde sempre um ganha. Neste tempo de oportunidades, os que comandam o mercado ganham quando a bolsa sobe e ganham quando a bolsa desce, não tem perdão, é sempre a mesma ladainha, o dinheiro correndo do bolso dos otários para o bolso dos espertos.

    Não considerar o tempo torna iníqua qualquer análise, pois está dissociada do mais importante fator em mercado de capitais.

    Só por curiosidade, com a dívida pública preponderantemente em Reais, uma inflação que diminua a taxa de juros reais, diminui, sobre qualquer ponto de vista, a transferência de dinheiro do povo para os rentistas. É lógico que os rentistas, a mídia e seus funcionários vão pregar uma redução da inflação e maliciosamente pedir ainda um aumento dos juros nominais para prevenir uma futura inflação que corroeria os seus ganhos.

    Esta estratégia é interessantíssima e seu eu fosse rentista ia mover os Céus e a Terra para implementá-la, como não sou, observo o que acontece”.

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    O terceiro e quarto parágrafo do comentário de Alexandre Weber – Santos – SP dizem tudo que interessa aqui neste post “A hora de discutir as metas inflacionárias”. Enfim, o Regime de Metas de Inflação é o instrumento mais poderoso para assegurar inflação menor do que a taxa de juro, ou seja para assegurar que os rentistas possam se constituir naqueles que mais se beneficiem de inflação baixa. De certo modo, o comentário de Alexandre Weber – Santos – SP, que, diga-se de passagem, semelhantemente a mim, também é leigo em economia, mostra bem qual o interesse que há por trás do Regime de Metas de Inflação. O Regime de Metas de Inflação por se constituir no instrumento mais moderno de combate à inflação é mais eficiente no combate a inflação e por isso mesmo é do interesse do rentista.

    E ainda vale a pena destacar aqui uma consequência importante de se ver a inflação baixa como algo de interesse do rentista. Se uma inflação baixa mais beneficia os rentistas (Os aposentados com baixo salário tem a aposentadoria corrigida pela taxa de inflação) é bem questionável a frase que diz que a inflação é o mais injusto dos impostos por prejudicar mais os pobres.

    Aliás a crítica à ídeia de que a inflação é o mais injusto dos impostos é também antiga e foi bem demonstrada por Inácio Rangel em debate que ele travou com o ex-diretor do Banco Central do Brasil José Júlio Senna nas páginas do jornal Folha de São Paulo no final da década de 80. Nesse sentido eu deixo a indicação de minha quarta lembrança e que é para o post “Mestre Ignácio Rangel e a importância do mercado financeiro” de quarta-feira, 17/08/2011 às 15:46, aqui no seu blog e que embora sem a sua assinatura parece ser de sua autoria. O endereço do post “Mestre Ignácio Rangel e a importância do mercado financeiro” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/mestre-ignacio-rangel-e-a-importancia-do-mercado-financeiro

    Em comentário que enviei quarta-feira, 17/08/2011 às 22:33, para você junto ao post “Mestre Ignácio Rangel e a importância do mercado financeiro” eu menciono dois dos artigos que compuseram o debate sendo um primeiro de José Júlio Senna intitulado “A inflação brasileira e a teoria da inércia” publicado no jornal Folha de S. Paulo de 30/10/1988 e o segundo, o de Ignácio M Rangel, intitulado “Inflação e distribuição da renda” e publicado no jornal Folha de S. Paulo de 08/11/1988. O artigo de Ignácio Rangel e que eu transcrevi as partes pertinentes tinha como objetivo exatamente criticar a idéia que José Júlio Senna quis transmitir de que a inflação era o pior inimigo da classe trabalhadora.

    E por fim deixo duas indicações de posts mais recentes e publicados no seu blog e que penso serem úteis trazer aqui junto ao post “A hora de discutir as metas inflacionárias”. Primeiro chamo atenção para o post “Os vinte anos do Plano Real” de quarta-feira, 02/07/2014 às 06:00 e de sua autoria não só porque ele é pertinente aqui neste post “A hora de discutir as metas inflacionárias”, como também por haver comentários meus contendo vários links de interesse aqui no post “A hora de discutir as metas inflacionárias”. O endereço do post “Os vinte anos do Plano Real” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/os-vinte-anos-do-plano-real

    Não dá para analisar o Regime de Metas de Inflação no Brasil desvinculado do Plano Real. O Regime de Metas de Inflação adquiriu validade no Brasil porque os problemas que o Plano Real causou para a economia brasileira só podiam ser enfrentados no que diz respeito à política monetária se se pudesse contar com um instrumental muito forte de combate à inflação. E o Regime de Metas de Inflação é este instrumental muito forte.

    E menciono ainda o post “A teimosia (quase) insuperável de Dilma” de quinta-feira, 26/06/2014 às 06:00, onde também considero que lá há muitos links nos comentários que enviei de relevante aqui para este post “A hora de discutir as metas inflacionárias”. O endereço do post “A teimosia (quase) insuperável de Dilma” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-teimosia-quase-insuperavel-de-dilma

    Há muitos outros posts que ajudariam em uma análise mais detalhada do Regime de Metas de Inflação. Volto a comentar aqui se surgir uma oportunidade e espero trazer as indicações de alguns dos posts que eu tenho em conta como importantes para que se possa mais bem compreender a utilização do Regime de Metas de Inflação.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 19/07/2014

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