Não há discussão mais recorrente no país do que a falsa dicotomia entre câmbio e reformas estruturais para se alcançar a competitividade da produção nacional.
Os mercadistas são contra qualquer forma de defesa da produção interna via câmbio. Argumentam que, em vez da desvalorização cambial, a economia deveria buscar ganhos de produtividade, investindo em reformas, melhoria fiscal, infraesterutura etc.
Já os defensores de políticas industriais sustentam que o câmbio é elemento essencial para se obter a competitividade.
A lógica é simples.
Para serem competitivas, empresas necessitam de produtos com boa relação custo x benefício. Produtos de maior sofisticação custam mais caro; produtos mais simples, saem mais barato. Ambos têm espaço no mercado.
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Há casos em que empresas pequenas conseguem desenvolver tecnologias matadoras ocupando nichos de maior valor. Mas a maior parte das empresas (e países) têm uma linha de aprendizado padrão. Começam pequenos, conquistam mercado via preço. Depois, à medida que vão crescendo, ampliam os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, produzindo produtos cada vez melhores e mais caros.
Foi assim nos milagres japonês, coreano e chinês. Foi assim com empresas como a LG e a Samsung – até poucos anos atrás fabricantes de computadores pessoais de segunda linha.
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O custo final de um produto depende de uma série de fatores: custo da tecnologia, mão de obra, logística, impostos, burocracia etc. E câmbio.
Quando existe uma disparidade entre produtos internos e externos, a única saída para conferir competitividade ao produto interno é através da desvalorização cambial.
Confira o exemplo hipotético abaixo.
Situação 1 |
País A |
País B |
Matéria prima |
30,00 |
20,00 |
Salários |
40,00 |
20,00 |
Tributos |
30,00 |
10,00 |
Burocracia |
10,00 |
5,00 |
Custo final |
110,00 |
55,00 |
Moeda/US$ |
0,50 |
1,00 |
Preço em US$ |
55,00 |
55,00 |
Situação 2 |
País A |
País B |
Matéria prima |
25,00 |
20,00 |
Salários |
39,00 |
20,00 |
Tributos |
12,00 |
10,00 |
Burocracia |
8,00 |
5,00 |
Custo final |
84,00 |
55,00 |
Moeda/US$ |
0,65 |
1,00 |
Preço em US$ |
55,00 |
55,00 |
Na Situação 1, para um mesmo produto o custo de produção do País A é de US$ 110 contra US$ 55 do país B. Como competir? O único caminho é o País A desvalorizar sua moeda, de maneira a valer a metade da moeda do País B. Assim, na hora de converter em dólar (a moeda que serve de parâmetro para o comércio exterior brasileiro), os preços se igualam.
Na Situação 2, o país conseguiu melhorar o custo da matéria prima, dos salários, tributos, etc. Chegou a um custo final de US$ 84, contra os US$ 55,00 do concorrente. Nesse caso, a moeda local poderá se valorizar de US$ 0,50 para US$ 0,65 porque os demais fatores melhoraram.
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Não há tanto mistério na lógica das políticas industriais, para suscitar tantos e tantos anos de debate.
Há que se trabalhar sobre os custos internos, investir em inovação, utilizar o poder de compra do Estado para estimular setores novos e desvalorizar o câmbio para poder competir com produtos externos, investir em educação e infraestrutura.
As discussões centrais, ainda não totalmente definidas, são em relação ao modelo de inserção do país na economia global, abrindo-se cada vez mais para o mercado internacional.
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