As estatísticas do setor automobilístico ainda não mostram fundo do poço, por Luis Nassif

Por enquanto não há condições de definir o momento do fundo do poço e o ritmo de recuperação da economia. Mesmo porque não há ainda sequer informações sólidas sobre a segunda rodada da pandemia, que se seguirá ao relaxamento do isolamento social.

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Desde o ano passado, o Ministro da Economia Paulo Guedes tem uma necessidade agônica de procura notícias positivas. Manipula estatísticas, destaca detalhes sem relevância para anunciar a recuperação da economia. E os fatos acabam desmentindo-o, como ocorreu com as pesquisas do IBGE sobre o prendo pré-pandemia.

Agora, voltou à mesma cantilena, em cima dos dados de vendas da indústria automobilística. Houve uma grande recuperação em julho. Mas em relação aos meses anteriores. Foi o que bastou para o anúncio da retomada.

Vamos por partes.

Automóveis são bens de consumo durável. Custam dinheiro. Justamente por isso, periodicamente ocorre o fenômeno do represamento de vendas, durante certo período, que resultam em vendas acumuladas no período posterior. Criam-se barrigas de venda que não significam mudança no patamar do mercado, mas apenas a reposição das vendas represadas anteriormente.

É o que está acontecendo com a indústria automobilística. Houve uma paralisação completa do mercado interno e das exportações devido à insegurança com o Covid-19. Concessionárias se mantiveram fechadas, consumidores não tinham segurança sobre seu nível de rena nos meses seguintes, exportações foram paralisadas. Parte da demanda represada é desovada no prendo seguinte. Para se ter uma idéia completa dos efeitos do Covid-19, portanto, tem que se medir todo o período.

Vamos a algumas estatísticas sobre o setor.

A comparação com o mês anterior

Simples se compara um mês de total paralisação das vendas e da produção de autoveículos com o mês seguinte. 

Para efeito de exemplo: se minha produção normal é 100, caio para 1 e subo para 10, o aumento foi de 900%, o que não significa nada. Confira no gráfico abaixo.

Dividiu-se a produção total em dois índices o licenciamento (que mede a venda para o mercado interno) e as exportações. Meramente comparando mês a mês, a curva ficaria assim.

A comparação com o trimestre anterior

É uma outra forma de medir, um pouco mais precisa, mas nem tanto. Somando o trimestre, há uma diluição das “barrigas” de vendas. Mesmo assim, existe uma sazonalidade no mercado – meses em que, historicamente, as vendas são maiores ou menores. Essa medida não capta a sazonalidade.

A comparação trimestre acumulado com trimestre ano anterior

É o indicador que mede o mercado propriamente dito, as vendas internas e exportações. O gráfico mede o acumulado mensal de três meses, comparado com o ano anterior. Por ele, se percebe que o mercado começou a desabar ainda em janeiro de 2020, mesmo com as exportações em alta. Aliás, mas um indicador desmentindo as afirmações de Guedes, de que, sem o Covid, a economia se recuperaria.

A única recuperação ocorria nas exportações (linha azul), ainda assim insuficiente para alavancar a produção interna (barra amarela)

Vamos analisar essa métrica em período mais curto, para ficar mais nítida a curva. Aqui, o período de 2.000. Duas das colunas (exportações e licenciamentos de carros nacionais) começam a desabar antes do Covid. E, continuaram desabando no acumulado até junho (abril-jun), em relação ao mês anterior (março-maio) que pegava, também, integralmente o período de Covid. Os dados indicam que o fundo do poço não foi alcançado.

Esse tipo de comparação vale para bens de consumo durável, que tem uma sazonalidade mais definida e cujo processo de decisão de compra é mais maturado.

Por enquanto não há condições de definir o momento do fundo do poço e o ritmo de recuperação da economia. Mesmo porque não há ainda sequer informações sólidas sobre a segunda rodada da pandemia, que se seguirá ao relaxamento do isolamento social.

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. O rapaz do BC também pegou o vírus OSN-20(otimismo sem noção), parece que é mais contagioso que corona…
    “Em entrevista à Record News, Campos Neto também voltou a avaliar que a economia já iniciou processo de retomada e a um ritmo acelerado, e frisou que, assim como as projeções para a atividade devem começar a melhorar, as estimativas para a inflação também podem subir.”
    https://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKBN24731Q-OBRBS

  2. Fundo do Poço?! Indústria Automobilística?! Somos assim tão Lunáticos? Não Somos tão burros. A burrice é a doutrinação. O pária GV, na projeção de seu Estado Ditatorial Caudilhista Absolutista Assassino Esquerdopata Fascista entrega a Potência e Mercado Continental da Industrialização ao AntiCapitalismo de Estado e Desindustrialização de Eugênio Gudin. JK na sua Abertura Econômica com Dinheiro Internacional enterrará definitivamente a Indústria Brasileira, dando continuidade à Politica e Estado de seu mentor. Mercado Astronômico para Automóveis e Caminhões entregue para algumas MultiNacionais, seus ‘Restolhos e Carroças’ e Preços Extorsivos. Promovemos o Desenvolvimento, Tecnologia, Conhecimento e Industrialização Mundiais, principalmente da destruída Europa com Nosso Mercado Cartelizado entre Monopólios e Oligopólios, que controla produção e demanda, impondo Lucros e Lucratividade inigualáveis no restante do planeta. Enquanto Nos enterramos em Atraso e Favelas, endeusando um Ditador Fascista, sua Obra e seus Lacaios. Pobre país rico. Isenções de Impostos e Fortunas do BNDES garantindo Lucros e Lucratividade Fenomenais. Somos Surreais. Mas de muito fácil explicação.

    1. “…A revolução brasileira será anticapitalista, anti-imperialista, patriótica, socialista e radicalmente democrática e popular.

      A hipocrisia deve ser enterrada sob a mortalha do ingênuo republicanismo que marcou as últimas décadas…” Hoje, neste mesmo Veículo. Esta Conversa Fiada que vem desde Gudin e Vargas, o Brasil foi sendo enterrado. Mas alguns dizem não saber como chegamos até aqui em 2020. É a Pátria da Surrealidade.

      1. MEC. Indústria do Analfabetismo. Você acertou em cheio. Excepcional resultado. 90 anos produzindo 200 milhões de Analfabetos preservando o QuintoMundismo da República Bananeira pós 1930.

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