Aumentarão as pressões pela saída de Bolsonaro e Guedes, por Luis Nassif

O início da vacinação pode esperar algum ânimo no mercado. Mas não se iluda. O país está no início de uma fase de grandes definições. Nos próximos meses, o quadro político será fortemente afetado pelos seguintes fatores:

1. Ingresso definitivo em um período de estagflação. Continuam os aumentos nos preços ao produtor, devido ao câmbio e às exportações. Na ponta do consumo, o fim da ajuda emergencial derrubando definitivamente o consumo e impedindo o repasse dos custos aos produtos.

2. Crise social sem precedentes, com milhões de pessoas atrás de trabalho e de recursos para necessidades básicas. É questão de tempo para começar a pipocar saques em supermercados.

3. Agravamento da crise sanitária, pela incompetência aguda do governo Bolsonaro. Há um fato novo relevante. Conforme revelou ontem o GGN, em entrevista com o procurador da República em Manaus, Igor Spindola. O Ministério Público Federal apurou que, na véspera do dia em que acabou o oxigênio na cidade, alguma autoridade suspender os vôos da FAB com oxigênio para a cidade. Tem-se, aí, o primeiro caso objetivo de imputação de crime às autoridades da saúde. E a comprovação definitiva da incapacidade do general Pazuello em coordenar a vacinação do país.

Segundo diagnóstico do MPF de Manaus, a substituição, no Ministério da Saúde, de funcionários experientes por militares sem conhecimento da matéria, é a principal causa do caos que tomou conta das políticas de saúde.

Tem-se, então, o seguinte quadro:

O governo Bolsonaro é sustentado pelo apoio instável de três poderes: Congresso, Forças Armadas e Supremo Tribunal Federal.

A cooptação das Forças Armadas se dá com a distribuição ampla de empregos a militares da reserva e da ativa. Ao Congresso, com a distribuição de cargos. O Supremo Tribunal Federal reflete o poder de pressão do mercado e da mídia. Nesse caso, a moeda de troca são os negócios da privatização, assegurados pela permanência de Paulo Guedes no cargo de Ministro da Economia.

Mas há fatos novos no ar, capazes de abalar essa aliança.

O mais ostensivo será o agravamento da crise social, devido às políticas erráticas de Paulo Guedes e a segunda onda do Covid no mundo, impedindo a recuperação da economia mundial.

O segundo caso é a intensidade da segunda onda que, ao que tudo indica, desta vez baterá direto nas classes média e alta, com a ocupação dos leitos de UTI em hospitais privados. Tudo isso tendo como contraponto as manifestações diárias de Bolsonaro e a incrível incompetência operacional de Pazuello.

Um agravamento da crise deixará claro a incapacidade de Guedes em continuar com a agenda de privatizações. Isso, mais o caos previsível que se terá pela frente, aumentará as pressões por mudanças radicais que imponham uma freada de arrumação na crise.

Com Bolsonaro e Guedes, será impossível se pensar em qualquer reversão de expectativas

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Se alguém tinha alguma dúvida sobre a total incapacidade, a total incompetência e o total desconhecimento dos militares em administrar, desenvolver, aplicar, solucionar e corrigir assuntos de governo não militar, já passa da hora dessas pessoas reverem seus conceitos e avaliações. Os militares mostraram o suficiente, para que nunca mais sejam aceitos em cargos de governo, fora dos quartéis.

    • +almeida: contam que Nietzsche dizia --- "VerdeSauvas só sabem falar de cavalos e de mulheres; assim mesmo, mal". Quem sou eu pra desdizer...

    • m com os equívocos em dar voz a essa gente que busca desesperadamente os holofotes. Depois reclamam. Não deveriam. Ora é José de Souza, ora é Schelp, ora é Aras. E o resultado disso já conhecemos: dalanhois, castores, paludos et câmera. E fica-se, aqui, comentando a mítica "ignorância institucional". Ela não está, necessaria e exclusivamente fora, nos outros.

  • Ficou difícil, está todo mundo assustado com tamanha incompetência.
    Deixar faltar oxigênio é o fim da picada, até o bolsonaristas mais radicais, devem estar atônitos.

    Bem se a tropa(milícias e etc) vão atender a um chamado depois dessa demonstração de incompetência.

    Agora devem estar com receios de acontecer o mesmo que aconteceu com a tro de Trump nos EUA, abandonados, presos, e ainda vão gastar uma fortuna com advogados.

    No mais, se sobreviver, vai ter que disputar o espaço da direita com o Governador de São Paulo.
    Mas o mais provável é que não chegue em 2022 em condições de disputar as eleições, vai sair bem menos do que o Collor.

    • Tenho a impressão que você subestima a incrível burrice do povo brasileiro.
      E a inacreditável ganância das elites também.

      • Com a pandemia fica difícil saber posição da maioria do eleitorado, já que é um risco enorme fazer grandes mobilizações.

        Diria que a ganância das elites não tem limites, mas mesmo assim historicamente dependendo da situação, ela fica entre a ditadura ou um governo de conciliação de classe.

        Depois de 14 anos de governos do PT, uma parte significativa do eleitorado ficou sem referência para comparações com governos de outros partidos.

        E a ampliação da políticas sociais, fez com essa parte significativa do eleitorado acreditasse que os avanços econômicos que eles conseguiram, era apenas produto dos seus esforços.

        Agora com a experiência dos últimos 4 anos, esta parcela do eleitorado está percebendo que apenas os esforços pessoais não suficiente para manter e/ou melhorar a situação, e depende principalmente das ações do governo.

        Está sendo um aprendizado duro, mas faz parte, nem sempre escolhemos as alternativas mais correta.

        Todos nós temos acertos e erros, alguns erros são desastrosos, e a escolha da maioria eleitorado em 2018 foi um deles.

        Espero que pelo menos sirva lição para as proxima décadas.

  • Pode se tentar advinhar o futuro. Não faz mal algum e,como sempre,tudo pode acontecer,inclusive nada.
    Se tivesse que apostar minhas fichas,pelo andar da carruagem,apostaria no inclusive nada.
    Vejamos: A pandemia tem sido uma oportunidade de ouro para o sujeito que ocupa a presidência da república desfilar suas palhaçadas diariamente. Com isso,ele dominou e domina a pauta da mídia golpista e alternativa.
    Enquanto isso o país fica paralisado não discutindo nehuma alternativa a essa gente que só quer expropriar o país e eles,sabujos que são,vão passando o boi e a boiada conforme determinado pelos patrões do golpe.
    Agora,a apartir da aprovação das vacinas,entraremos em nova novela que será o acompanhamento diário do número de vacinados e,logo,logo,na novela da produção da vacina que,como temos visto no mundo,parece que algum problema está ocorrendo com a produção o que impactará o ritmo de vacinações e permitirá que se desloquem as atenções para isso.
    Também,não existem,até o momento,nenhum indicador que possibilite virem a ocorrer saques em supermercados ou afins. A situação brasileira já é dramática desde o golpe de 2016 mas a dominãncia da narrativa pela mídia golpista,reforçada pelos seguidores do sujeito e sua máquina goebeliaina de informações tem impedido qualquer aglutinação no sentido de possibilitar alguma reação a este golpe mortal contra a sociedade brasileira.
    Hoje,para que se tenha alguma possibilidade de racha efetivo e não figurativo no grupo golpista,parece ser necessário a completa capitulação da oposição e,principalmente do presidente Lula.
    É um cabo de guerra cujo tempo é fator preponderante para ver quem vencerá.
    Embora a maior parte da corda já esteja no território inimigo é preciso entender que eles já esperavam estar com a corda toda,o que faz da oposição,ainda que o resultado não tenha se definido,a vitoriosa até aqui.

  • Além do mais todos estão com medo, se esse cara continuar pode faltar oxigênio em outros estados, o Rio de Janeiro que se cuide, Santa Catarina também.

    Se não consegue nem manter o oxigênio em uma pandemia de doença respiratória, com vai gerir uma economia btao complexa como a brasileira.

    É assustador.

  • Penso que o Brasil está num momento crucial de amadurecimento em sua história. Ou cruzamos esse Rubicão ou teremos mais 100 anos de solidão. Mas pressinto que teremos mais 100 anos de solidão a acrescentar aos 500 anos passados. Não será desta vez que o país sairá da sua imaturidade para caminhar em direção de uma nação íntegra porque não tem lideranças ou instituições que farão a travessia.
    Na história recente vizinhos latino americanos prenderam os torturadores e assassinos das ditaduras militares. Qual o significado desse tipo de ação na história de um país e de sua formação? Com relação ao mesmo período no Brasil promovemos a impunidade e temos hoje uma figura abjeta que faz apologia da tortura governando o país, apoiado pelos militares. E que foi expulsa do exército por desobedecer uma regra crucial da instituição: a disciplina. O mesmo ocorre no Judiciário, cujo exemplo ostensivo da Lava Jato e a permissividade de todos os escalões acabaram por destruir a economia e levar ao poder politico uma malta de hipócritas, corruptos e bandidos. Na grande imprensa temos o mesmo fenômeno: nenhum respeito a "instituição" do qual seus donos fazem uso para ganhar dinheiro e poder. A elite financeira é o que é: predadora, ignorante e com um profundo desprezo pela nação e pelas instituições que se dobram aos seus desejos a cada tentativa de mudança politica e social.
    Reportando-se a crise humanitária atual: quem terá coragem de investigar, julgar e condenar os responsáveis pela morte de milhares de brasileiros pela covid na imensa campanha de desinformação que foi desenvolvida pelo governo federal e disseminada por grandes organizações religiosas e políticas?
    Qual líder político de oposição terá coragem de enfrentar todo esse sistema apodrecido de poder para atravessar esse Rubicão. O PT esteve no poder e mostrou-se completamente despreparado e acomodado para enfrentar esses problemas estruturais. Ao contrário, acentuou-o, submetendo-se a regras corporativistas do judiciário, da procuradoria, da imprensa e aceitando todas as imposições da elite econômica para não criar conflito. No plano político apequenou-se associando-se a bandidos religiosos e delinquentes políticos. E assim deixou de exercer a política em sua grandeza conquistando o Estado e não submetendo-se ao mesmo(conceito de Maquiável).
    E a travessia exige muito mais de um líder do que Ciro biruta de aeroporto ou o iniciante Boulos. E quais as figuras referenciais na direita? Indecentes FHC, Huck e Bolsodória?
    Também nas instituições do país não há nenhum sinal de resiliência com um Judiciário apartado da nação, cujo exemplo maior são os conselhos federais pró formas que mantém a impunidade de seus membros, a imprensa submetida aos interesses financeiros e as religiões propagando a ignorância e servidão.
    Na primeira vez que votei num presidente, por desinformação, deixei de apoiar o combativo e guerreiro Brizola para votar em Lula. Hoje me arrependo. Que falta faz um corajoso Brizola na história desse país.

    • Ô dona Vera que decepção!!!!!!!!.
      O arrependeminto em ter votado em Lula V,leva-me a crer que a Senhora se aproxima de forma perigosa de centenas de milhares bolsominios arrependidos,ou do partidários de Sergio Moro.
      Seus textos nunca deixaram dúvidas, que vosmecê é uma inocente útil.Quem sabe,com seu voto Ciro Pau de Fogo Gomes,que nunca passou dos 9,99 %, com seu voto emblemático,chegue aos sonhados dois dígitos.
      A senhora criou um adágio popular jamais imaginado:"Quem vê texto,não vê coração".

  • Não vai acontecer nada, se cada um que mama continuar com a teta.
    Insatisfação...mais leite!
    Para povo que reclama, por que os filhos têm fome, tem polícia, para bater ou matar.
    Se houverem revoltas que possam ser aproveitadas, como desculpa, vai ter comemoração no quartel da milícia. Se os cristais já estão na prateleira, é só quebrar...
    Mas, também pode ser um momento Reichstag, com outras consequências.
    Quem sabe.
    Acreditar que quem não se mexeu até agora, se tomará de brios é muita esperança.

  • Esse caso das vacinas é outro absurdo, que tem que ser colocado na conta do Ministério da Saúde e principslnente do Ministério das Relações Exteriores, que quem deveria iniciar as negociações para receber ou fazer convênios para produção aqui.

    As empresas não conseguem produzir tudo que é necessário, os países que chegaram primeiro leva, elas só tem obrigação com o país sede e com os governos que ajudaram a desenvolver a vacina.

    Com a Rússia era do Ministério das Relações Exteriores iniciar as negociações, foi totalmente incompetente.

  • O fator inesperado.
    O que derrubam governos são fatores inesperados.
    Quando um governo segue a linha da continuidade administrativa os seus mecanismos usuais de controle podem não evitar que o governo seja mal administrado ou percalços mais notáveis, entretanto se um governo adota uma política estrambelhada de mudar tudo de improvisar a cada dia uma solução nada convencional e na maior parte das vezes ilegais, surge o fenômeno do fator inesperado.
    Um governo como o de Bolsonaro produz um foco de incêndio por dia sendo que as centenas de oficiais militares que estão no governo vão atrás tentando apagar os focos, mas isso continua até um determinado ponto.
    Para fim de raciocínio vamos fazer um cenário imaginário mas possível de ocorrer, imaginem que das tropas profissionalizadas do exército ou marinha exista um comandante que tenha um parente bem próximo e muito querido que morra de Covid-19, vamos supor que esse comandante por motivos geográficos esteja longe da turma da boquinha e que seja um comandante que tenha apoio da tropa, nada impede que esse conversando com seus comandados resolva tomar uma atitude mais dramática, em milhares de oficiais na ativa tem muitos que ainda pensam.
    Mas não precisamos pensar neste cenário, há centenas de outros que podem criar problemas insolúveis, por exemplo todos os membros da Anvisa na suas falas deixaram claro que não há tratamento para o Covid-19, ou seja, disseram em palavras indiretas porém concretas que as ações do Ministro da Saúde e do Presidente são uma farsa e que contribuem com a mortandade das pessoas. Quem quiser ouvir é só passar de novo o vídeo da liberação das vacinas.
    Ou seja, acumulam-se fatos que tiram a estabilidade do governo, quando algo fica muito instável é só um pequeno chute e cai tudo.

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