Coluna Econômica: o uso inteligente das estatísticas sobre o Covid

O mapeamento demonstra a inutilidade de políticas de isolamento de cidades, sem levar em conta o entorno e o fluxo de pessoas entre elas.

Informação é essencial para o bom combate ao coronavirus.

O Consórcio do Nordeste montou um comitê científico para monitorar as ações contra o Covid. E convidou o cientista Miguel Nicolélis para supervisionar. Nicolélis agiu como cientista: convocou outros cientistas em um mutirão onde a palavra de ordem era a solidariedade – e, obviamente, a capacidade de ouvir, organizar as sugestões e os trabalhos voluntários. Deu-se o nome de Mandacaru ao projeto.

Desse mutirão saíram sugestões de indicadores muito mais consistentes do que aqueles disponíveis no Ministério da Saúde, apesar do sistema de BI (Business Inteligence) exibido pelo general Pazuello.

Nos próximos dias será lançado um Observatório de Vulnerabilidades, juntando diversos indicadores setoriais:

  1. Obviamente, os dados de notificações e de óbitos registrados.
  2. Os dados de outras pandemias e morbidades, posto que impactam diretamente a ocupação de UTIs e houve aumento de mortalidade em muitas delas devido justamente ao coronavirus. Aliás, nos primeiros tempos as estatísticas mostravam uma proporção baixa de Covid-19 nas doenças respiratórias, revelando as dificuldades iniciais de diagnóstico.
  3. Um aplicativo para identificação de pessoas infectadas. O aplicativo foi baixado mais de 200 mil vezes. Permite que a pessoa faça consultas online, descrevendo seus sintomas, e, em caso de infecção, seja atendida e ocorra o rastreamento de pessoas de quem ela esteve próxima nos dias anteriores.
  4. As rotas rodoviárias, que são as maiores propagadores de coronavirus.

Graças a um dos especialistas que se juntou ao projeto Mandacaru, montou-se um mapa do fluxo rodoviário. Constatou-se que a maior parte das cidades com picos de coronavirus estava na rota das rodovias federais.

Por aí se percebe a imensa irresponsabilidade do governo Bolsonaro, ao proibir o Ceará de montar sistemas de checagem dos passageiros de aviões que desembarcavam no aeroporto internacional de Fortaleza.

O mapeamento permitiu identificar os movimentos de ida e volta do Covid.

Por exemplo, a maioria dos óbitos ocorre nas capitais pela carência de leitos no interior. As pessoas adoecem, vão para as capitais, algumas morrem e os sobreviventes e acompanhantes voltam para suas cidades levando consigo os virus em um movimento circular,

O mapeamento demonstra a inutilidade de políticas de isolamento de cidades, sem levar em conta o entorno e o fluxo de pessoas entre elas.

Em suas incursões pelo mundo da saude, Nicolelis se impressionou com a qualidade e a reputação da Fiocruz, o respeito que infunde nos círculo científicos internacionais e no jornalismo especializado.

Aliás, se as recomendações da Fiocruz tivessem sido acatadas desde o início da gestão Mandetta, o combate ao coronavírus já teria terminado.

 

 

 

 

Luis Nassif

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