Não adianta a retórica inflamada de Lula, isoladamente. A armadilha dos juros é muito mais complexa.
O grande mercado rentista, formado nas últimas décadas, exige altas taxas da Selic. E vai exigir cada vez mais, por um moto contínuo. Altas taxas de juros mantém a economia estagnada. Juros altíssimos reduzem o mercado de consumo e a possibilidade de crescimento das empresas do setor real da economia.
Para manter a rentabilidade, o capital financeiro recorre à compra de estatais por valores depreciados. Quando esse processo começa a se esgotar, apela-se, agora, para privatização de gestão de escolas, vendas de companhias de saneamento. Mas o estoque está se esgotando. Então, restam os ganhos proporcionados pela dívida pública.
Mais que isso.
Grosso modo, pode-se dividir o país entre tomadores de crédito e detentores de capital. O modelo atual sangra consumidores e empresas com as mais altas taxas de juros do mundo. Mas conseguiu-se o feito inédito das vítimas endossarem o discurso dos opressores. É só conferir a manifestação de associações empresariais, alertando para os rumos da situação fiscal – em um momento em que se discute meio ponto de resultado nominal.
Em 2023, segundo o Banco Central, cada ponto percentual de elevação do resultado nominal representava, em média, R$ 24,5 bilhões em impacto anual nas contas públicas. Meio ponto a mais de resultado nominal – os 0,5 em torno dos quais armou-se esse cabo de guerra – representa R$ 12,25 bilhões. Esse montante e é o mesmo valor correspondente a 0,2 pontos percentuais na taxa Selic. Ou seja, se a Selic caísse de 10,5% para 10,3%, a economia seria equivalente a tudo o que se pretende de resultado nominal. E os idiotas da objetividade vem falar de insegurança fiscal a partir da receita nominal.
Só há um nome para isso: loucura coletiva! E aí entra a cartelização do mercado de taxas no Brasil. Ele se move exclusivamente pelo efeito manada. Todo o trabalho dos analistas consiste em prever para onde vai a manada. E a manada vai para onde acredita que o Banco Central vai.
Até semanas atrás, o clima era de otimismo com a economia, fundamentos fortes, inflação sob controle. A discussão era se a Selic continuaria caindo 0,5 ponto ou 0,25 ponto por reunião. Aí, Roberto Campos Neto dá um sinal em direção contrária. A manada começa a inverter a direção. E, graças ao poder de cartel, consegue amarrar completamente o Banco Central, a ponto de ele manter a Selic inalterada por decisão unânime.
Coloque-se no papel do grupo indicado por Lula. Se racham a decisão, criam motivo para o mercado se inquietar, puxando o dólar e as taxas futuras para cima. Derruba-se 0,25 da Selic e, em troca, enfrenta-se um aumento das taxas futuras, que se refletem diretamente nas taxas de empréstimo. E, depois, puxam o dólar para cima, impactando os preços dos produtos comercializáveis. Há um nome para isso: chantagem.
Para evitar as turbulências de curto prazo, curvam-se então ao mercado, e mantém-se a Selic no patamar de dois dígitos. A chantagem de Campos Neto sai vitoriosa.
Esse circuito de chantagem só terminará a médio prazo, quando assumir a presidência do BC um economista respeitado e responsável que injete gradativamente bom senso no mercado. E quando Lula acordar para a necessidade de montar grupos de trabalho para preparar a nova economia, abrindo possibilidades para o capital financeiro buscar outras alternativas e deixar de pressionar a Selic.
O que se percebe é que, no andar da carruagem, o país chegará em fins de 2025 com a Selic roçando os dois dígitos ainda, a economia estagnada e a mídia alimentando o monstro do bolsonarismo de volta.
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O que Nassif chama de loucura coletiva, os bandidos de terno chamam modelo altamente lucrativo sem tirar o cú da cadeira. Não existe loucura nenhuma, existe crime de extorsao. E o Lula prestando um péssimo serviço ao povo mantendo o calhorda do BC, sendo que ele têm condições de tirá-lo. Não tira sabe pq ? PQ Lula é o comandante deste saque ao bolso do povo. Fim de carreira pra Lula !
Condições?… O verdadeiro Poder é o Poder Econômico!… É o Poder que realmente condiciona!
O mercado financeiro mantém o BC refém, pois o capitalista produtivo quer a redução da taxa básica de juros. Apenas o capital especulativo é contra a redução da taxa de juros. Em sendo assim, acho que deveria dizer-se que o mercado financeiro, e não o mercado, mantém o BC refém.
Eu não sabia que o BC tem uma ala governista e uma ala técnica. Mas acabei de aprender que o BC é formado por duas alas. Só que o Campos Neto não pertence à ala governista nem à ala técnica, mas à área financeira/especulativa e, portanto, anti-produtiva.
“O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, lembra que as declarações recentes do presidente Lula contra o Banco Central e o presidente da autoridade monetária, Campos Neto, deixaram o mercado ainda mais preocupado com a decisão desta quarta.
Em entrevista à Rádio CBN na terça-feira (18), Lula disse que o Banco Central é a “única coisa desajustada” no Brasil e que o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, “trabalha para prejudicar o país”.
“O receio era se, nessa reunião, teríamos uma divisão de ala governista contra ala técnica, se ocorreria aquele dissenso da reunião anterior. Mas não foi o que aconteceu. Então, o cenário fortalece a expectativa para novas decisões, indicando que elas vão ser sempre apoiadas em fatores técnicos e não políticos”, afirma Agostini”.
Infelizmente o que amarrava o “mercado” era o art. 192 da Constituição da República embora o stf (com supremo com tudo!) tenha sumulado de modo vinculante: “A norma do § 3º do artigo 192 da Constituição, revogada pela Emenda Constitucional 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar”. Percebe, Nassif, que o anterior § 3º do art. 192 condicionava, para punir a usura a criação de lei de usura, e não a criação de regulamentação dos juros, pois a limitação já estava inserida no art. 192. Portanto, mesmo com o mandamento constitucional de limitar os juros a 12 por cento ao ano, o stf teria esvaziado o dispositivo, de modo a bancar suas idas ao exterior com o patrocínio de “banqueiros” do mercado. Apense-se aos fatos a situação de que a emenda constitucional 40/2003 veio no bojo da eleição do Partido dos Trabalhadores, pois somente nesses moldes – e quando estudamos o encaminhamento das emendas à constituição até a “independência” do banco central – se consegue ter a dimensão do que foi concedido pela elite para a possibilidade de governo pelos trabalhadores. Depois veio a emenda e ceifou qualquer possibilidade de civilização, jogando nosso país rico e desigual, nas mãos de uma elite que adora a Europa, que, para Carlos Drummond de Andrade e Otto Lara Resende, não passa de uma burrice aparelhada de museus. Dentro dos limites democráticos, somente uma Constituinte nos salva, ou uma ruptura violenta, com a queda da Bastilha. Ágora: a unanimidade do copom revela o que Brizola dizia: 1- a Política ama a traição e odeia o traidor; 2- revela que a imprensa fala em juros reais de 6% mas não explica se são ao ano ou ao mês, onde os juros em empréstimos e cartões de crédito são aplicados, pois a limitação dos juros nos cartões ficam em 200% e dos empréstimos, inclusos consignados, não tem limite.
Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, será regulado em lei complementar, que disporá, inclusive, sobre:
I – a autorização para o funcionamento das instituições financeiras, assegurado às instituições bancárias oficiais e privadas acesso a todos os instrumentos do mercado financeiro bancário, sendo vedada a essas instituições a participação em atividades não previstas na autorização de que trata este inciso;
II – autorização e funcionamento dos estabelecimentos de seguro, previdência e capitalização, bem como do órgão oficial fiscalizador e do órgão oficial ressegurador;
II – autorização e funcionamento dos estabelecimentos de seguro, resseguro, previdência e capitalização, bem como do órgão oficial fiscalizador. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 13, de 1996)
III – as condições para a participação do capital estrangeiro nas instituições a que se referem os incisos anteriores, tendo em vista, especialmente:
a) os interesses nacionais;
b) os acordos internacionais
IV – a organização, o funcionamento e as atribuições do banco central e demais instituições financeiras públicas e privadas;
V – os requisitos para a designação de membros da diretoria do banco central e demais instituições financeiras, bem como seus impedimentos após o exercício do cargo;
VI – a criação de fundo ou seguro, com o objetivo de proteger a economia popular, garantindo créditos, aplicações e depósitos até determinado valor, vedada a participação de recursos da União;
VII – os critérios restritivos da transferência de poupança de regiões com renda inferior à média nacional para outras de maior desenvolvimento;
VIII – o funcionamento das cooperativas de crédito e os requisitos para que possam ter condições de operacionalidade e estruturação próprias das instituições financeiras.
§ 1º A autorização a que se referem os incisos I e II será inegociável e intransferível, permitida a transmissão do controle da pessoa jurídica titular, e concedida sem ônus, na forma da lei do sistema financeiro nacional, a pessoa jurídica cujos diretores tenham capacidade técnica e reputação ilibada, e que comprove capacidade econômica compatível com o empreendimento.
§ 2º Os recursos financeiros relativos a programas e projetos de caráter regional, de responsabilidade da União, serão depositados em suas instituições regionais de crédito e por elas aplicados.
§ 3º As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar.
A decisão de manter a taxa selic abusiva de 10,50% AA, jogou uma pá de cal na crença da autonomia do Bacen, Como determinado pelo deus mercado, os 9 diretores controlados pelo famigerado mercado financeiro, obedeceram integralmente o comando insano. Volto a repetir o que venho afirmando em vários comentários neste jornal: Enquanto a chave do cofre do tesouro nacional estiver nas mãos do deus mercado, o Brasil continuará Se desenvolvendo a passo de cágado.
Mouro, no governo Paulo Guedes,( Bozo era apenas animador do circo), a TX chegou a 2%, e o que melhorou? Abração.
Excelente análise, Nassif. E, como disse certa vez o velho Brizola, o inferno vai ganhando sempre.
O que poderia ser feito ?
Algum mecanismo legal para punir as manipulações no indíces?
Ou criar regras mais rígidas para negociar ativos na B3?
Mudar as regras para vendas a descoberto ajudariam? Os manipuladores vendem ações que não possuem quando se unem para derrubar as cotaçoes dos ativos.
E se a CVM cobrasse 10 reais por ordem de compra ou venda? Hoje os robôs utilizados pelas corretoras, enviam milhares de ordens de venda ou compra de lote mínimo (100 ações) já que não pagam nada pra corretora e conseguem definir o rumo da ação, na maioria dos casos.
Acho engraçado esse termo abstrato MERCADO,aplicado quando intereesa e geralmente para esconder os verdadeiros protagonistas das atrocidades, vi muito isso na Lavajato,quando condenavam alguém era a JUSTIÇA,quando era algo q contrariava interesses das elites os donos bilionários da mídia,davam o nome e sobrenome do magistrado e até a cor da cueca ou calcinha !!!
Obs.:Qq declaração q irrita os especuladores ai meia dúzia e sempre essa meia dúzia especula/chantageia na bolsa e os amiguinhos bilionários da midia fazem terrorismo com o termo Mercado dando a falsa percepção q são a grande maioria das empresas sendo q é geralmente a vale,Petrobrás e outras gigantes,a midia faz muito barulho,aliás tá tudo muito bom né?Querem só meter a mão no dinheiro e Lula e o povo q se lasque haaa esses reis medievais nos seus castelos viu !!!
Para fazer a política monetária exercida pelo BC, muito provavelmente uma IA teria mais sucesso. Não existe nenhum comprometimento daqueles que tomam as decisões, que o País siga os exemplos de outras economias que mantém por anos a inflação e os juros sob controle. Como o conjunto da obra do Brasil não sofre modificação, é um sobe e desce em que mudam números, índices porém a realidade do País permanece praticamente igual. Quando as coisas parecem caminhar, então entra em campo o piso dos juros – como relatado por Luís Nassif, a camisa de força que detém o Brasil. No momento em que o BC rebaixou a queda dos juros em 0,25 promoveu vários efeitos nesses tipos de indicadores afetados por incertezas. Colocou em tração o cabo de guerra do controle das expectativas. Se não houver maiores ambições das empresas e setores produtivos em que o País tenha outra dimensão difícilmente o cenário vai ser alterado. O estouro da boiada foi na reunião anterior do COPOM. O problema não está em o País ter uma meta, está em fazer o Brasil crescer permanecendo num quadro mínimo de alteração dessa meta. Isso que fazem uma inteligência artificial pode realizar melhor e com menos problemas fiscais.
Luis Nassif , se você achou a retórica do Lula , eu achei foi muito leve para o meu gosto. Achei que os 4 votos dos indicados por ele Votos de Traição . Porque , se eles tiveram uma opinião,de queda de 0,5 da última vez , nada mudou muito para essa guinada para 0% . Que falta de personalidade. De convicção . Tinham mais é que divergir mesmo , para firmar o lógico incontestável. Eu ainda não me conformo
Faltou comunicação, mais uma vez , e nesse caso, quem mais gabaritado que esses escolhidos para esse papel ? Foram uns frouxos e comprometeram as próximas decisões ! Fosse eu , batia de frente contra esse absurdo .
Haddad e esses caras devem sair do governo já. São todos traidores.
“O Mercado”… ou os agiotas? Mercado, para o povo é onde se compra e vende produtos necessários à sobrevivência, da mais elementar à vida de luxo e até extravagância. Mas produtos. Não o seu meio de troca. Quanto à mídia, a maioria dos evangélicos e padres “conservadores”… tudo bolsonarista. Bem antes de Bolsonaro existir. Ainda ontem minha esposa esteve para abandonar um ato com a homilía antipetista desnudada do padreco bolsonarista.
Todos estão vendo o que está acontecendo e perplexos estamos.
O mercado (“sistema financeiro”, “elite econõmica”, “elite”) domina a
narrativa dos meios de comunicação. Nas mídias do país, e são praticamente
todas. Ou seja a mídia brasileira é “parceira” do mercado e age a
qualquer custo, mesmo sem lógica no discurso, a favor deles.
Os atores são: o mercado (quem manda), a mídia (quem obedece) e o Banco
Central (controlados por eles); usando o funk “está tudo dominado”.
E assaltam simplesmente o país, e se enfurecem quem não os permite.
Pelo “direito adquirido” de roubar e saquear o patrimônio público.
Foram mal acostumados ao longo dessas décadas. E eles entendem que o
Estado brasileiro estão a disposição deles. E tem o golpe de Estado
à disposição, milhões de idiotas em apoio (bolsonarismo, militares,
e falso jornalistas). O golpe é sempre uma ameaça como solução diante
das tentativas da quebra do “establishment”.