Conceição: o fim do desenvolvimentismo e a democracia social

No apartamento em Cosme Velho (RJ), mestra Maria da Conceição Tavares se isolou um pouco dos amigos, mas não do mundo e do Brasil. Com pouca mobilidade, não deixou de lado nem o cigarro, nem a leitura nem a visão de país.

A mais importante economista da linha dita desenvolvimentista aderiu ao gradualismo. Não se trata de acomodamento trazido pela idade, mas pela própria dinâmica do crescimento brasileiro que acabou definindo um novo modelo – o da democracia social – que ela considera irreversível.

No final dos anos 60, ao lado de Ignácio Rangel Conceição foi o primeiro grande nome da economia a perceber que, após o esgotamento do ciclo de substituição das importações, haveria o ciclo do capitalismo financeiro.

Agora, o ciclo da criação do novo mercado de consumo baseado em políticas de renda impõe uma nova realidade na qual – segundo a mestra – não cabem mais os conceitos históricos de desenvolvimentismo e de industrialização.

O pêndulo do pensamento econômico

Historicamente, o pensamento econômico brasileiro oscilou entre a ortodoxia econômica e o desenvolvimentismo. Em ambos os casos, salários e renda eram variáveis secundárias do modelo.

Na ortodoxia, utilizavam-se de políticas monetária e fiscal para liberar o orçamento público para o pagamento de juros e para a acumulação de riqueza em mãos dos investidores. No desenvolvimentismo, a compressão dos salários era central para a competitividade das indústrias.

Ambos os movimentos foram fundamentalmente concentradores de renda.

Com o avanço da democracia social, Conceição constata que não há mais espaço para a compressão dos salários ou para maxidesvalorizações cambiais ou para política protecionistas – pontos que marcaram o pensamento desenvolvimentista.

Não há maneira de recuperar o espaço da indústria brasileira no mundo nem na economia brasileira, porque externamente nenhum avanço permitirá competir com os asiáticos e o crescimento interno dos serviços faz parte da própria dinâmica capitalista, diz ela.

Considera a desindustrialização como inevitável. Houve um período de maturação industrial  no 2o PND (Plano Nacional do Desenvolvimento). Agora, estamos chegando a outro corte, diz ela.

Como em toda economia industrial madura, o único espaço para crescer é o dos serviços. Se aumentou os serviços, foi à custa de outro setor. Se não foi do agrobusiness e do investimento público, foi a partir da indústria. “Este é o padrão normal de desenvolvimento histórico do capitalismo”, sentencia ela.

Crescimento acelerado? Dificilmente se repetirá, diz ela.  O “milagre econômico” ocorreu em um período de instalação da indústria. Depois de instalada, esses saltos econômicos não se repetem.

Também não defende mudanças de modelo econômico. Alguns setores desenvolvimentistas propõem choques de câmbio para devolver competitividade ao país, enquanto se ajusta o custo Brasil. Os impactos sobre a inflação não recomendariam.

O mercado interno e o ajuste ortodoxo

A ideia de abandonar a política do salário mínimo para aumentar a competitividade da indústria não a atrai. A divisão internacional de trabalho mudou. No caso brasileiro, é mais favorável ao agrobusiness que à indústria. Ninguém conseguirá concorrer com a manufatura da Ásia.

Daí porque mais que nunca é necessário preservar o salário mínimo para manter o mercado interno robusto.

É o mercado interno que não permite alarmismo com a economia. Não existe depressão à vista. O que existe é um terrorismo da imprensa mudando as expectativas empresariais, diz ela.

A falta de competitividade internacional é mais um argumento para não baixar o salário mínimo. Sem competitividade externa e sem mercado de consumo interno, a economia desabaria.

É só comparar com América Latina e Europa. Só o fato de não haver desemprego é um enorme sucesso. No Porto, amigos de Conceição assistirão famílias de classe média morando na rua.

É ridículo estar pessimista com o Brasil, comparando com a situação internacional, diz ela.

Se não resistir nas políticas sociais, não teremos mais modelo nenhum.

A busca do crescimento

O investimento em bens de consumo de massa funcionou, garantiu um mercado interno robusto.

Dá para manter alto o consumo, mas não mais como efeito acelerador de crescimento.

O caminho proposto por Conceição é o seguinte:

  1. Destravar o regime de concessões.

  2. Deslanchar os investimentos em petróleo.

  3. Reverter as expectativas do setor privado.

Destravando os dois primeiros itens, o setor privado irá atrás e nós saímos do gargalo atual. Mas para destravar as expectativas empresariais, não se pode deixar a economia afundar. E afundaria na hipótese de arrocho salarial e de um choque fiscal.

O momento não recomenda nenhuma política fiscal contracionista. Os gastos públicos são incomprimíveis. O único gatos comprimível são os juros da dívida pública.

O problema é que o modelo fiscal brasileiro é todo alicerçado em impostos ad valorem diretamente influenciados pelo PIB. Praticamente não existe imposto patrimonial. Nos anos 80 tentou-se um imposto sobre grandes fortunas moderadíssimo, proposto pelo então senador Fernando Henrique Cardoso. Não passou.

Justamente por isso, Conceição defende a flexibilização da política monetária (reduzindo o peso dos juros no orçamento) e a neutralidade da política fiscal, mantendo o que está sendo investido e agregando financiamento novo e concessões.

Revertendo as expectativas, mantém-se a trajetória de distribuição de renda com políticas sociais, e destrava-se o pacote da infraestrutura.

Sobre políticas industriais

Conceição não é a favor de grandes revoluções na política industrial, inserção das empresas brasileiras nas grandes cadeias globais e por aí afora. Considera que a siderurgia, cerveja e carnes conseguiram se inserir nessas cadeias. As demais, dificilmente conseguirão.

O caminho daqui para frente é consertar o que pode ser consertado e aprimorar o que deve ser aprimorado.

“Não estamos mais discutindo modelos, mas o que fazer com setores débeis”, diz ela.

Um dos caminhos são as políticas de encadeamento (atuando sobre as cadeias produtivas) e progressos técnicos. Defende políticas moderadas e corretas na direção certa. Aí a economia reage.

Os gargalos na remessa de dólares

Persiste o nó externo, e, segundo Conceição, por erros que se acumularam desde o governo FHC,

Fernando Henrique Cardoso tirou a tributação de 17% sobre remessas de capital, deixando (Francisco) Dornelles (ex-Secretário da Receita) indignadíssimo”, diz ela. Em quatro anos ele fez um estrago que Margareth Tachther levou 14 anos para fazer.

Não existe nenhum país do mundo que não discrimine as empresas estrangeiras, concedendo o mesmo tratamento das nacionais, diz ela. Por aqui se dá isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carro importado.

Quando se trata de remessa para pagamento de tecnologia, alíquota zero de Imposto de Renda. A multinacional contrata uma assistência técnica lá fora, dizendo que está internalizando ativo. Esse pagamento é dedutível do Imposto de Renda por ser despesa. Por ser tecnologia, tributação zero.

Depois exporta e se credita porque supostamente estaria exportando conhecimento e gerando tecnologia no país.

É uma enorme brecha, diz ela. O déficit tecnológico brasileiro saltou de US$ 1 bi/ano em 2000 para US$ 9 bi. Tornou-se remessa de lucros disfarçada.

A situação das contas externas preocupa, mas Conceição não se atreveria a propor controles de capital e imposto patrimonial por serem propostas politicamente irrealistas.

Luis Nassif

60 Comentários

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  1. Pode-se concordar ou não com

    Pode-se concordar ou não com ela, mas, sem dúvida, é uma grande economista e com um estilo de se comunicar único. 

    Realmente o lastro que mantém o Brasil bem apesar do cenário internacional ruim é o desemprego praticamente zero. Isso tem que ser mantido. E o único jeito de mantê-lo e o segundo mandato de Dilma fazer rapidamente e com competência um plano para o Brasil crescer de forma robusta. Pois se isso não acontecer, em médio prazo as contas não fecham e aí as primeiras vítimas são os planos sociais e o emprego. 

     

    O povo, assim como fez com FHC em 98, dará um voto de confiança para Dilma. Espero que ela tenha em mente que ela deverá errar minimamente, pois a cota de erros de seu primeiro mandato já estorou.

    1. MAS…

      com todos os erros e problemas, um segundo mandato DILMA certamente deverá ser  menos ruim que qualquer das outras candidaturas postas. Estas outras, é certo que nos levarão ao buraco.

      Assim, Dilma 2014, sem dúvidas!

  2. Rendimentos decrescentes

    É a tal da lei dos rendimentos decrescentes generalizada para todas as funções que sejam assintóticas como é o caso da que se aplica a desenvolvimento (pois o desenvolvimento não pode crescer até o infinito);

  3. Que aula! Uma rasteira no

    Que aula! Uma rasteira no besteirol que assalta o noticiário por aí. Algumas atividades industriais além da siderurgia, carnes cerveja e energia tem alguma chance de sobrevivência. É preciso identificá-las.

  4. Para nos mantermos mais ou

    Para nos mantermos mais ou menos estáveis precisamos menos de Dilma e mais consciência da grande mídia e do poder judiciário. E mais Marias da Conceição nas Universidades. Qualquer medida tributária que se queira implantar, aprovadas pelo poder legislativo, não faltam os Joaquins para derrubá-las. Temos muitos preços que não podem mais subir, mas os custos continuam pressionando, como a construção civil por ex. O rearranjo em todos os setores precisa de cooperação, não de terrorismo e sabotagens.

    Vejos no setor de veículos uma fonte que poderia financiar parte dos gastos e custos demandados junto ao poder público, seja em rodovias, demarcações, conservação, máquina fiscalizatória, acidentes ambientais, assistência a feridos e outros como Detrans, polícias e corpo de bombeiros. Um por cento em cada transação de veículo usado propiciaria uma razoável arrecadação que financiaria esses serviços.

    Alguns salários e vantagens precisam ser revistos. A disparidade salarial e a pouca capacidade financeira do estado não permitem que continuemos com anomalias como essa publicada na gazeta do povo 29/07/2014.

    http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1487305&tit=Juizes-do-Parana-ganham-12-vezes-mais-do-que-a-media-do-trabalhador

     

     

     

     

  5. Sábias palavras.

    Sábias palavras de nossa mestra. Embora defensora de sua linha de penamento firmada no desenvolvimento endógeno a partir de uma industria forte não deixa de enxergar a realidade que se passa nesse pais. Alcançar a industrialização plena ainda é uma utopia dado ao atraso tecnológico que vivemos. A cultura de uma economia se dá a partir de sua natureza. Uma vez primário exportador, sempre primário exportador. Já se passaram 500 anos de Brasil, tempo suficiente para mudança de cultura.

  6. Entrivista com Conceiçao

    Enfim uma economista lúcida, sem tendencia interesseira.Suas ideias são realmente muito inteligentes e merecem um aprofundamento. Realmente, depois do fim das ideologias o que está em questão é o destino da humanidade e o impasse será entre o interesse coletivo e publico e o privado. Por mais que queiram os que advogam que o interesse privado acaba sempre por atender a demanda publica, o que vemos é exatamente o contrario. O modelo atual sempre conduz ao enriquecimento desmedido de uma minoria e o distanciamento cada vez maior da renda de pobres e ricos.Os  interesses do capital privado e do trabalho serão sempre antagonicos e é indispensavel a existencia de um Estado fortalecido por leis, normas e costumes para mediar de forma pacifica e imparcial o conflito e promover o bem estar social.

  7. Conceição.

    Me incomoda bastante estas figuras que sempre erraram nas suas avaliações ao longo do tempo.

    Posam de mestres, quando na verdade são comentaristas de jogos terminados e engenheiros de obras prontas.

    O brasil precisa de um modelo só seu. É um continente, não um país. Falamos a mesma lingua e temos a mesma moeda em todo território nacional.

    Precisamos de um socialismo privado ou um capitalismo de estado.

    A China encontrou seu caminho. O nosso parece ser muito próximo ao deles.

    Vamos nos libertar do passado e pensar no futuro.

    1. A China encontrou seu modelo

      A China encontrou seu modelo numa economia altamente regulada e com salários irrisórios, quase ao ponto da escravisão. Quem ousaria propor algo semelhante a isso por aqui? Só em dizer que o SM está alto em relaçaã à produtividade já chovem pedras  e pedras sobre o Armínio, imagine propor salário de miséria?

      1. Eu disse que a China

        Eu disse que a China encontrou seu caminho e não que ele estava acabado. Os salários miseráveis não são para sempre.

        Eles encontraram um caminho e nós encontamos o nosso. Temos que vencer as eleições para dar continuidade.

         

      2. A época de baixos salários

        A época de baixos salários está com os dias contados na China.

        É o país com mais greves no mundo, o governo chinês sabiamente não reprime, numa época de protestos pelo mundo seria uma ameaça ao regime de partido único.

        Pra onde essas fábricas iriam??? Vietnã (Sem exército de trabalhadores reservas), Camboja (mão de obra pouco qualificada), Bangladesh (Sem infra-estrutura), Cingapura, Taiwan, Malásia (muito mais umbilicamente ligados aos capitais norte-americanos).

        Muitas fábricas planejam retornar ao Brasil, a solução é tirar o PSDB dos governos estaduais, já que é um partido que não aceita energia mais barata e sabota o desenvolvimento brasileiro.

        1. “Muitas fábricas planejam

          “Muitas fábricas planejam retornar ao Brasil”

          Desculpe mas você está completamente errado. Por favor não opine o que não sabe, pois os leigos podem acreditar.

          Aliás muito pelo contrário, industrias hoje preferem instalar novas unidades fabris na Colombia e Mexico ao invez de reativar unidades no Brasil.
          Produzir aqui é caro e dá muita “dor de cabeça” depois que se inicia a produção. A margem de lucro tem se ser bem alta para compensar, ou os entraves politico-economicos incontornáveis.

          Os departamentos de Recursos Humanos, Logistica e Contábil – mesmo quando terceirizados – são absurdamente “caros” comparados á outros países, isto apenas para fazer uma comparação na operacionalização pós-investimento de instalação – não vamos nem entrar no mérito de matéria-prima.

          O Brasil, do modo que está formatado o ambiente para investimentos hoje NÃO VAI atrair industrias, inovações, P&D, nem gerar empregos seja em volume (na produção) ou seja empregos com alta remuneração.

           

  8. Conto que haja um clipping

    Conto que haja um clipping que inclua este post do blog oferecido à Dilma. já que ela se empenha em contradizer o pessimismo pinguento. Por mim vai para o meu Face onde possa buscar otimismo “natural”com os destinos do Brasil na America Latina. Há recursos naturais, (cobiçados pelos povos “gastões”); que deverão ser usados para diminuir a desigualdade de renda. É inexoravel para a humanidade continuar evoluindo. America Latina, berço de uma nova civilização.

  9. Na pior hipótese um

    Na pior hipótese um raciocínio original e que faz pensar ao contrário dos mestres da obviedade que quase brotam do chão. 

    Seja como for, iria com mais calma na proposição que “mata” indústria e concentra a atividade econômica nos serviços. Para um país com estas dimensões e fosso social profundo pode simplesmente não ser suficiente. Ou seja, para Cingapura, Noruega e Finlândia é fácil.

    Sabe-se que o setor de serviços não possui tanto estratificação do trabalho, especializações. Corre-se o risco de virar um país de Callcenters com trabalhodores precarizados conforme estudo do IPEA.

    Também é certo que para estas atividades é preciso aproveitar oportunidades e criar vantagens comparativas. As maiores e mais sofisticadas companhias que atuam no país não são nacionais em setores que vão do seguro ao previdenciário.

  10. Plano Real.

    Aos economistas de plantão: afinal, por ocasião do plano Real, ela falou besteira ou não? Por favor, não atirem pedras, sou leigo.

  11. Um talento desperdiçado.

    Enquanto teve idade e tempo hábil, esta talentosa e corajosa economista, era apenas admirada pelas elites e governantes, e por estes últimos, em algumas ocasiões, consultada, nunca aproveitada como staff.

    Uma pena, pois seus conceitos economicos, e sua visão de futuro, estava kms à frente dos nossos administradores economicos, que seguiam e ainda seguem a ortodoxía norte-americana, e nunca tiveram ouzadia, quando tiveram chance de “fazer”.

    Mesmo após ter visto fracassar, tantos planos economicos, ditos “milagres” e crescimento do bôlo, para posterior divisão, cujos resultados não foram nem desenvolvimentistas nem gradualistas, ela aderiu à crença de que somente com o estímulo ao consumo interno e o estímulo à pprodução que gerasse empregos e renda, seriam os pilares, para que nossa economia, suportasse a tantos sobresaltos na economia globalizada, sem sofrer tanto, como ocorreu(e ainda ocorre) em economias plenamente desenvolvidas.

    Deixamos de aproveitar a sabedoria e a ouzadia desta professora e sábia técnica em administrar uma economia em ascendencia, e perdemos tempo, com as yuppies seguidores da cartilha neo-liberal, que não nos trouxe nenhum resultado satisfatório. 

  12. Creio que o Nassif discorda

    Creio que o Nassif discorda da visão da Conceição em relação à (des)industrialização. Aguardo a réplica. Também não se pode dizer que a mestra é chapa-branca, pois apontou um erro gravíssimo do governo, a tal remessa de lucro “disfarçada”. Aí vejo coincidência de análises, pois o Nassif vem detonando a política de desoneração, indiscriminada segundo ele, do Mantega.

    Também ouso discordar da mestra. Não podemos nos conformar que seja impossível mudar a forma de cobrar impostos nesse país. Não se pode desistir da taxação das grandes fortunas. Os bilionários brasileiros tem muita moleza aqui. Para eles, quase um “paraíso fiscal”.

    Fora isso, a Conceição é o antídoto ao Armínio 45% celic Fraga! Muito bom e necessário. Ela deveria ser ouvida pelo pig. Nem que fosse na proporção de a cada 5 Armínios, uma Conceição, pelo menos

  13. Em 2012 Conceição Tavares já previa.

    “Não acredito nessa geração espontânea nas páginas da Economist,por mais que isso combine com o seu conservadorismo. Não acredito que a motivação seja econômica e não acredito que o alvo seja o Mantega

    Pela afinação do coro vejo mais como algo plantado daqui para lá; o alvo é 2014 e o objetivo é fortalecer o mineiro (NR Aécio Neves)

    A mim não me enganam. Ah, quer dizer então que o Brasil vive uma crise de confiança, por isso os empresários não investem? Sei…

    O investimento está retraído no planeta Terra, nos dois hemisférios do globo. Bem, a isso se dá o nome de crise sistêmica. É disso que se trata….

    Ora, façam-me o favor”.

    Maria da Conceição Tavares e a “The Economist”

    1. queda no investimento

      Mais ou menos, Assis.

      A queda nos investimentos e no crescimento globais explica que as taxas de crescimento dos países tenham diminuído comparados ao que eram antes de 2008. Porém, não explica que a nossa taxa de investimento oscile historicamente nos últimos 20 anos abaixo dos 20%. Nem explica o fato de estarmos semi-estagnados desde os anos 90, exceto entre 2003 e 2010, quando crescemos puxados pela demanda às nossas commodities.

      A teoria diz que os países de renda baixa-média cresçam mais rápido que os desenvolvidos pois têm salários mais baixo. No entanto, a semi-estagnação nos tira dessa regra e nos ameaça de ficar com renda per capita baixa (como países pobres/em desenvolvimento), na faixa dos 11.000 USD PPC mas crescer pouco como os desenvolvidos. Nesse modelo, nunca atingiremos o nível sequer comparável aos desenvolvidos.

      Por isso, a explicação é que há uma estrutura perversa no Brasil que causa esse problema (câmbio sobrevalorizado, juros altíssimos, carga tributária alta e regressiva, crises externas recorrentes) desde a estabilização da moeda em 95. Na sua raiz, está a perda da nação brasileira desde a crise da dívida e hiperinflação dos anos 80. Ou seja, nossas classes se desassociaram, algumas se assosciaram aos interesses internos. Na economia, o efeito dessa perda é termos abandonado o pensamento próprio e adotado a orotodoxia do consenso de Washington, que vem de fora.

      Os anos Lula nos ajudaram a recuperar um pouco da nossa auto-estima nacional. Dilma, por sua  vez, tentou quebrar essa estrutura, mas foi sem sucesso. Sei que há um grande oportunismo político da oposição ao tentar culpá-la do baixo crescimento, decorrente de algo mais amplo, e isso é irritante. Também posso afirmar que Dilma é a única que sabe o que fazer, pois Aécio e Campos demonstram estarem alinhados com a dita ortodoxia neoliberal.

      Por outro lado, não reconhecer nossos problemas não nos trará bem algum. Pelo contrário, só desviará o debate daquilo que realmente importa e nos manterá presos e estagnados.

  14. dúvidas quanto às idéias da professora

    Nassif,

    Com todo respeito à Professora Conceição, mas ficaram algumas dúvidas em relação às suas idéias.

    1. Ela, parece-me, aceita o pensamento liberal, similar a vantagens comparativas quando sentencia que nossa indústria nunca irá competir com os asiáticos, mesmo sem considerar que os asiáticos têm estabilidade macroeconômica e os brasileiros, não.

    2. Na parte de salários, ninguém quer cortar salário mínimo ou mesmo arrochar. O que se deseja é eliminar a distorção que valoriza os salários artificialmente pela via do câmbio e perseguir sempre a eficiência do Estado. Os gastos do governo, fora juros (que devem cair prioritariamente), têm espaço sim, para serem cortados, via eliminação de ineficiências e desperdícios (estes apontados por você numa coluna de domingo, creio eu).

    2. Quando chega no assunto câmbio, tem uma reação que remete aos próprios liberais. Rejeita prontamente uma “maxi” por medo da inflação, como se nosso câmbio estivesse onde deve estar. Mas o Brasil nem precisa de uma “maxi”; o que precisamos é de uma reversão a valorização artificial que a nossa moeda sofre cronicamente desde 95 e da neutralização da doença holandesa. Note que esses são fatores internos, não vêm da Ásia. A inflação que daí viria é temporária, somente para acomodar a mudança nos preços relativos tradables/non tradables. 

    3. A parte de controle de capitais me pareceu correta, mas sozinha, sem câmbio no lugar certo (ligeiro superávit em conta corrente), sem o diferencial de juros ajustado, viraria uma corrida de gato e rato, na qual, o governo se desdobraria para coibir entradas de capital e saída de remessas enquanto o grande capital sempre se empenharia em dar nós para escapar das medidas de controle, já que câmbio e juros estariam favorecendo o contrário do que deseja o controle de capital.

    De maneira resumida, por essas questões, parece que a Professora critica a ortodoxia mas não quer mudar a estrutura ortodoxa perversa vigente no Brasil, que segue semi-estagnado por falta de investimento. Quer continuar crescendo em cima dela, como vem já fazendo Dilma, sem sucesso. Quer lançar um foguete de uma plataforma abalada.

  15. Manteiga portuguesa

    A Musa do Plano Cruzado e crítica do Plano Real.  Coitada numca acertou uma dentro. 

    Maria da Conceição Tavares tomou a defesa do pacote econômico lançado pelo governo José Sarney em um programa de entrevistas da Rede Globo e chorou diante de milhões de brasileiros ainda confusos com a novidade. “Nunca tive motivos para me orgulhar de economistas, mas a descrença transformou-se em esperança com a formulação do plano”, disse ela, com o peito inflado, ao ver na equipe do ministro da Fazenda Dilson Funaro ex-alunos seus, como João Manoel Cardoso de Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo.

     

    1. cada uma
      Por incrivel que pareca os planos todos foram numa seguencia iniciada com os seus apoiada pela ” musa” que um dia deu certo, no real. Debater as ideias politicas e economicas da Conceicao eh uma coisa e atacar a pessoa eh rastejar nos seus pes e mostrar seus fracasos na materia e sua fraqueza. Sempre acompanhei as ideias economicas e politica da MC e sempre me chamou a atencao o cuidado e a protecao que tem em preserva os salarios, os trabalhadores e no fim os brasileiros nas politicas economicas dos governos. Esta trincheira da Conceicao sempre foi um referencia. O mais que falar do seu pessoal eh pau raso. Da UFRJ e das outras escolas eh uma referencia e foi uma integridade. Nao conheco outra referencia atual. Posso ate citar Celso Furtado como do passado.

  16. Ignorância minha

    Desculpem-me se sou burro ao extremo ou se sou incrédulo ao que leio.

    Mas, o que seria destravar as concessões ? Seria algo parecido como privatizar ?

    O que é deslanchar os investimentos no petróleo ? E como fazer isso ? Como alguém vai investir em petróleo, em energia se o governo se mete a fazer política com isso e não permitir que se reajuste os preços de acordo com o mercado externo/interno ?

    FHC fez em 4(quatro) anos o que Margareth Thatcher só conseguiu fazer em 14 (quatorze) ! E, depois de 12 anos sabendo que o que foi feito estava errado, ainda permanecemos fazendo errado ? É isso mesmo que eu li ? É aquela estória do professor que pergunta ao aluno quem descobriu o Brasil e o aluno entusiasmado responde: “Alessandro Volta” ! E, todo ano, os professores perguntavam e o mesmo aluno respondendo a mesma resposta! Depois de 12(doze) anos, a resposta correta, continua sendo a mesma, independente da aluno responder que quem descobriu o Brasil foi “Alessandro Volta”.

    Eu li que não devemos competir industrialmente com a China.

    Então, tudo o que produzimos de item primário não podemos nem devemos industrializar para não termos que comprar de fora, o produto industrializado e pagar mais caro por isso ? É isso mesmo ?

    Não lembro onde eu li ou ouvi, mas lembro algo como: “Se o governo não atrapalhar, já estará ajudando imensamente”

    Outra coisa muito interessante que li. FHC tentou uma modestissima reforma sobre grandes fortunas que não passou no congresso. Naquela época, quem era a oposição ? E, por que, após 12(doze) anos e com maioria absoluta no congresso não se propos algo semelhante ou melhor ? Será que esse governo não olha para os pobres ?

    A situação das contas externas preocupa ! Interessante isso !!! Será que não é porque exportamos minério e compramos aço industrializado ? Exportamos laranja e importamos suco de laranja ? O Brasil exporta café verde e importa o café industrializado. Não devemos ter indústria para os nossos produtos primários ? Exportamos carvão e importamos carvão ativado !!!

    E a cerejo do bolo é, defender medidas moderadas e corretas na direção certa !!! Essa é de deixar qualquer burro (eu) de queixo caído, abismado !!! Se isso não funcionar, é melhor se matar, pois se der errado, é obra do capeta !! E, mais, nessa frase, ela disse que o governo está tomando medidas radicais e erradas na direção errada !!!

     

     

     

     

    1. Ignorância

      Prezado, concordo com você: é ignorância:

      FHC destroçou os fundamentos da economia nacional pôs pegou num que tinha como foco conter a inflação por meio de criação de uma nova moeda – o Real, o qual ocasionou numa das maiores sangrias de recursos públicos que já se viu, num setor que não se restruturou e continua como principal fomentador da inflação brasileira – o setor bancário.

      como o próprio FHC reconheceu, gastou no PROER 12% do PIB pra nada – algo como R$ 300 bilhões hoje!!! Uma imoralidade. Resultado quebraram uns tantos bancos com banqueiros bilionarios. 

      Não investiu nada no setor público, privatizou o patrimônio nacional a custo zero, empresas nacionais públicas foram vendidas por preço de banana e hoje, na iniciativa privada, valem bilhões!!

      isso mostra como o governo FHC era incompetente – não valiam nada e hoje, as mesmas empresas, valem bilhões,

      voce está certo, é ignorância mesmo. Você e outros que acreditam nas cantoneiras demagógicas dos neoliberais,

      O povo brasileiro não merece essa gente!!!

    2. “Nos anos 80 tentou-se um

      “Nos anos 80 tentou-se um imposto sobre grandes fortunas moderadíssimo, proposto pelo então senador Fernando Henrique Cardoso. Não passou.”

      Entendeu? Quando ele era senador. Entendeu? Entendeu?

    3. Não se desculpe por ser cético…

      Desculpem-me se sou burro ao extremo ou se sou incrédulo ao que leio.

      Tenho respeito pela opinião da Maria da Conceição Tavares e certamente ela acredita no que diz, mas obviamente isso não garante nenhuma certeza que ela esteja certa.

      Fato incontestável somente o aspecto de que a última moda entre os economistas é apregoar que a salvação da pátria é o setor de serviços. E ideologias da moda é a pior praga que acomete aos intelectuais. Ou como diria Nelson Rodrigues “toda unamidade é burra”.

       

  17. que todos os deus-incluso o

    que todos os deus-incluso o do mercado – confirmem essas avaliações da mestra conceição.

    finalmente entendi que nenhum dos dois modelos anteriores valiam – o que vale é o atual com a manutenção das políticas sociais e o pleno emprego…

    então é isso ou a volta do mais o mesmo conservador da dolorora etagnação assemelhda à da europa atual e eua ou a rincões menos conhecidos e citados

    ou sintetizando : é eros contra tânatos.

  18. Seja muito bem vinda

    Apesar da idade, ou justamente por causa dela, Maria da Conceição ainda tem muito a dizer. E diz. Vale a pena ouvir suas  avaliações corajosas e  aquela  paixão que muitos confundem com “previsões fracassadas”. Ora, não se mede a relevancia de um economista pelas suas “previsões”, mas pela qualidade, coerencia, fundamentação de suas analises. E isso  a Conceição tem de sobra.

  19. Grande Mestra!

    O comentarista Assis Ribeiro em seu comentário, deixou um link para um outro artigo em que a Profa. Maria da Conceição Tavares desanca a The Economist. Lendo tal artigo, é possível compreender em quais circunstâncias está inserida a economia brasileira atualmente. E mais, compreender porque a única via possível é a que esta que a Dilma está usando. É certo que êrros pontuais aqui e ali, podem estar sendo cometidos, mas não a ponto de comprometer a trajetória da nossa economia, cujos pilares são o pleno emprêgo, e não a rentabilidade dos que vivem às custas da viúva.

    Bem que o Nassif podia entrar no link sugerido pelo Assis Ribeiro e trazer o post – acho que do Rui Daher para cá. Aqui, a Profa. Conceição Tavares falou do que vê dentro das nossas fronteiras. No outro, fala do que vê além delas.

  20. Discordo plenamente dela e

    Discordo plenamente dela e por um motivo simples: o Brasil não possui um capitalismo maduro. Talvez ai no RJ se possa ter essa visão por estar no “eixo da riqueza” do Brasil. Mas é só vir ao Nordeste para mudar de opinião e começar a afirmar que precisamos de atividades industriais para nos desenvolver e atingir níveis altos de renda e bem-estar social. O que mudou do séc. XX para este novo milênio é que o modo de fazer isso não é mais pelo arrocho salárial e reprodução de desigualdades, agora o Brasil precisa é de um modelo que combine modernização industrial, ampliação do setor de serviços e melhoria das condições de vida da população.

    Competir com a China, claro, é burrice e é impossível. Mas tá ai os EUA e grande parte da UE para mostrar que o abandono do setor industrial não é vantajoso. E a Alemanha tbm está ai mostrando que preservar o seu setor industrial, fazendo até exportações industriais, pode te salvar das piores crises.

  21. Até Golbery já tinha previsto

    Até Golbery já tinha previsto e planejado que após o bolo econômico crescer, a esquerda que ele tinha criado poderia passar 50 anos ou mais no poder sem que precisasse mais crescer nada, só distribuindo renda.

  22. Concordo com muito do que diz

    Concordo com muito do que diz a prof ª Maria da Conceição. Discordo de alguns que aqui falaram que ela defendia a desindustrialização, não é bem isto que eu entendi. O que ela diz é que o Brasil (a Europa e EUA também) não tem condição de competir com a manufatura asiática, visto que há mais de três bilhões de pessoas na Ásia esperando para entrar no mercado de consumo. Em outras palavras liderança de ponta na manufatura em geral é coisa do passado para o ocidente! Entretanto, o crescimento da renda interna puxado pela eficiência (que resulta de mais ciência) do agronegócio, pelo ciclo completo do petróleo (neste caso, indústria inclusive), mais algumas ações de que falarei mais adiante, produzirão o consistente sustentáculo para a contínua atração das manufaturas de ponta por investir em montadoras sinérgicas com sua cadeia de produção.

     O crescimento da renda inviabiliza automaticamente a possibilidade (furada!!) de competição com a mão de obra barata e o avanço tecnológico natural da Ásia. Só para dar uma ideia: TSMC (Taiwan) e Sansung (Coréia) investem coisa como US$ 6 bilhões em uma fábrica de memórias, a outra das três maiores é a Intel. Recentemente uma empresa novinha em folha da Califórnia, com investimento na casa de US$ 1 bilhão, na área de células solares abriu o bico para a concorrência chinesa e quebrou…A única saída que nos resta é pela educação de alta qualidade (coisa que os asiáticos já estão fazendo). Vejamos.

    A educação vai nos permitir melhorar cada vez mais o agronegócio. Poderemos aumentar a eficiência em grandes propriedades. Poderemos produzir frutas, flores e especiarias, que são muito mais rentáveis, em pequenas propriedades (o que também irá melhorar muito a renda no campo). Vamos explorar melhor os laticínios, produzindo queijos mais nobres. Criar regiões demarcadas e de excelência para os vinhos. Que tal nossas pimentas? Porque não criarmos hábitos no exterior para a enorme variedade que existe em nosso país? Porque não beneficiarmos os nossos  cacau e café e desalojarmos, finalmente, os europeus desse negócio? Note-se que esse elenco de medidas gera, automaticamente, a necessidade de uma indústria, que pode ser, inclusive, original.

    Outro ponto, que já sugeri por aqui, é usar a floresta inteligentemente: fármacos, cosméticos e, mais uma vez, alimentos processados. Ninguém tem coisa parecida no mundo, é só criar os hábitos! Sugeri há algum tempo a criação de cidades universitárias isoladas (servidas apenas por via aérea) na floresta amazônica, com todo o conforto e abrigando centenas de pesquisadores e laboratórios. Ali poder-se-ia desenvolver tecnologias de uso inteligente da floresta. A política de desenvolvimento e compras, por parte do Governo Federal, na área de fármacos, ao meu ver, só merece elogios. Essa é uma área onde o Brasil tem alguma tradição de pesquisa e que pode levar o país à liderança.

    A indústria do petróleo não requer muitos comentários, pois a política implementada de aumento do conteúdo nacional me parece extremamente acertada. Sem dúvida novas tecnologias emergirão daí, caso em que o país poderá deter a liderança mundial, tendo em vista, a excepcionalidade da situação do pré-sal.

    Embora tenhamos perdido o bonde da indústria eletrônica, há um setor onde a competitividade não é de capital importância, que é tecnologia de defesa. O exemplo russo é gritante. Eles não são competitivos, nem mesmo com os europeus do oeste, entretanto, a “expertise” russa em radares, aviônicos, motores, mísseis e outros, está pau a pau com as melhores do planeta. Pequenas “foundry” de silício geram os chips dedicados para que a indústria de sistemas eletrônicos possa projetar seus equipamentos. Um sólida indústria de novos materiais dá suporte às concepções mecânicas de aviões, carros de combate, mantos de invisibilidade e etc. Na indústria de defesa poderíamos abrigar dezenas a centenas de milhares de engenheiros e cientistas que não teriam emprego criativo nas multinacionais integradas às suas cadeias produtivas. Esse corpo altamente qualificado seria então um poderoso instrumento para o grande passo: o espaço.

    A industria espacial é o último grande passo a ser dado pela humanidade. Ela reune tudo o que se sabe e saberá em ciência e tecnologia. Naves gigantescas requererão os sólidos conhecimentos de biologia e ecologia que teremos aprendido na amazônia. Novos materiais far-se-ão necessários: nanotubos de carbono, eletrônica resistente à radiação, propulsão, produção de comida, reciclagem de resíduos e etc. Esse é o último bonde, se o perdermos, seremos para sempre um povo, ou nação, ou sei lá o que, produtores de trabalho de segunda categoria…

  23. Essa mulher só tem voz pq

    Essa mulher só tem voz pq fala o que os estatistas de plantão querem ouvir, mais estado, mais emprego publico, mais controle, mais corporativismo e pq não dizer mais fascismo.

    Quem vai ter coragem de acabar com a zona franca de Manaus?

    Quem vai  ter coragem de acabar com os subsidios neste país?

    Subsidios que privilegiam uma classe empresárial em detrimento da maioria. 

    O PT que não vai ser.

    1. Se não for o PT, único

      Se não for o PT, único partido grande que admite discutir essas questões dentro de uma perspectiva de viabilidade, a Federação das Indústrias ou qualquer outro partido político grande atual é não vai ser.

  24. Economista?

    Não, é matemática. E se afasta da econometria para explicar o brasil.

    Merece nossos aplausos: clap, clap, clap!

     

    (…) eu sou apenas uma rapaz latino americano, sem dinheiro no banco”(…)

    Saudações

  25. Economistas e suas verdades.

    Sempre leio com atenção o que Maria da Conceição Tavares tem a dizer, mas devo fazer a seguinte crítica:

    Não há maneira de recuperar o espaço da indústria brasileira no mundo nem na economia brasileira, porque externamente nenhum avanço permitirá competir com os asiáticos e o crescimento interno dos serviços faz parte da própria dinâmica capitalista, diz ela.

    Por coincidência, estou envolvido com o desenvolvimento de uma tecnologia industrial visando justamente competir com produtos chineses no mercado interno e externo. E tenho certeza que muitas empresas nacionais estão tentando fazer isso nesse exato momento. E muitas conseguirão pelo simples detalhe, ignorado na análise da Maria da Conceição, de que existem produtos que não dependem de mão de obra intensiva. Mas se prevalecer essa ideologia fatalista de ser impossível competir industrialmente coma a China em tudo, todo esse esforço corre o risco de ser sabotado.

    Como em toda economia industrial madura, o único espaço para crescer é o dos serviços. Se aumentou os serviços, foi à custa de outro setor. Se não foi do agrobusiness e do investimento público, foi a partir da indústria. “Este é o padrão normal de desenvolvimento histórico do capitalismo”, sentencia ela.

    Existem tantas melhorias ainda por se fazer… Carros mais econômicos, racionalização dos transportes urbanos, cidades mais sustentáveis, energias alternativas, construção de estradas mais seguras, expansão do transporte ferroviário, abastecimento de água, etc. Enfim, existe um vastíssimo campo para inovações industriais ainda a ser explorado. É falso imaginar um “fim da história” para a expansão industrial. A expansão industrial não terminará nunca, mas de tempos em tempos ela mudará a sua base tecnológica. E essa percepçao naturalmente não é muito familiar a quem não é do ramo.

    A divisão internacional de trabalho mudou. No caso brasileiro, é mais favorável ao agrobusiness que à indústria. Ninguém conseguirá concorrer com a manufatura da Ásia.

    Pensar que o mercado de trabalho para uma população da ordem de 200 milhões pode-se resolver com um mercado voltado para produção altamente mecanizada é um contra-senso.

    Daí porque mais que nunca é necessário preservar o salário mínimo para manter o mercado interno robusto.

    Teria sido interessante explicar o porquê disso. Isto é, faltou explicar que optar pela escravidão de uma economia baseada em commodities implica em optar por um mercado de trabalho cujo valor da mão de obra tem menos participação na riqueza produzida quando comparado ao setor industrial. Ou seja, o mercado de commodities é um setor com inerente concentração de renda. É isso o que queremos?

    O caminho proposto por Conceição é o seguinte:

    Destravar o regime de concessões.Deslanchar os investimentos em petróleo.Reverter as expectativas do setor privado.

    Esses 3 itens me soam aleatórios apesar de entender perfeitamente porque foram elencados. Mas se é para elencar 3 caminhos indispensáveis para melhoria da economia eu gostaria de listar as seguintes:

    Reforma políticaReforma do Judiciário.Reforma Fiscal.

    O resto será consequência.

    1. Como em toda economia

      “Como em toda economia industrial madura, o único espaço para crescer é o dos serviços. Se aumentou os serviços, foi à custa de outro setor. Se não foi do agrobusiness e do investimento público, foi a partir da indústria. “Este é o padrão normal de desenvolvimento histórico do capitalismo”, sentencia ela.”

      Desculpe discordar de sua critica abaixo, ao que Maria da Conceição escreveu:

      “Existem tantas melhorias ainda por se fazer… Carros mais econômicos, racionalização dos transportes urbanos, cidades mais sustentáveis, energias alternativas, construção de estradas mais seguras, expansão do transporte ferroviário, abastecimento de água, etc. Enfim, existe um vastíssimo campo para inovações industriais ainda a ser explorado.”

      Ao meu modo de ver, quando ela diz “o único espaço para crescer é o dos serviços”. ela encara a questão mais profunda do padrão normal de desenvolvimento histórico  do capitalismo, ou seja: “Se aumentou os serviços, foi à custa de outro setor.” = qualquer setor investido (invertido) pelo dinheiro eletrônico dos bancos. 

      O padrão histórico do capitalismo nos oferece essas duas opções de crescimentos alienados: investimentos externos e serviços dos bancos.

       

      1. Sua crítica é bem vinda.

        E se entendi sua colocação, está observando que a Conceição está certa uma vez que a expansão de um setor a custas de outro é um processo natural ao capital. Isto é, se vinha investindo certo montante de recursos do PIB no setor industrial e esse entra em estagnação, a alternativa para não ficar imobilizado é desviar o capital para outro setor que o absorva.

        Porém, e aqui está minha crítca, é que a estagnação não é necessariamente irremediável nem fato concreto. Mas a partir do momento que por uma ideologia acreditar nisso como fato consumado e escolher a estratégia de desviar o oxigênio, certamente a estagnação se auto-realizará.

         

        1. Concordo com os seus pontos

          Concordo com os seus pontos em relação a escala industrial. Isso é uma questão de industria madura, ou seja, o mesmo nível de capital para produção e renda, o que caracteriza a Democracia Social no domínio dos “cultores dos serviços bancários”; eles respondem pelo investimento direto, conduzindo as suas afinidades com os gastos do consumo interno. 

          “Quanto ao segundo tópico, creio que se enquadra no que ela falou sobre o destravamento das infraestruturas e o aperfeiçoamento de setores débeis, procurando desenvolver dentro do modelo atual, sem tentar pular para outro modelo, o que equivaleria a pular para trás.”

          Isto seria voltar ao desenvolvimentísmo, segundo ela, ao meu modo de pensar, voltar com endividadamento externo contracionista de Estado. Mas, o país descobriu o pré-sal e possui muitas riquezas como commodities para o mercado fazer transfusão dos seus valores para eles. 

          Considero que a facção capitalista do investimento externo que está chiando por seus fundamentos contracionistas, por mais educação, infraestrutura, saúde, será atendidada com a aspiração comum da Democracia Social sobre a realidade; e não com a crise de inflação e aumento de juros, desestabilizando o governo e o mercado interno.

    2. Sem tentar tirar suas razões,

      Sem tentar tirar suas razões, que são verdadeiras, mas sobre o primeiro tópico criticado é preciso atentar que Conceição não falou que a indústria do país vai desaparecer, ou que não possa crescer em alguns segmentos. Trata-se aí de uma questão de escala – não se pode pretender que a indústria cresça até contrastar em importância global com a asiática, investindo esforços prioritários nesse sentido – não, pelo menos no cenário histórico que presenciamos. Quanto ao segundo tópico, creio que se enquadra no que ela falou sobre o destravamento das infraestruturas e o aperfeiçoamento de setores débeis, procurando desenvolver dentro do modelo atual, sem tentar pular para outro modelo, o que equivaleria a pular para trás.

      1. Agradeço sua colocação.

        é preciso atentar que Conceição não falou que a indústria do país vai desaparecer, ou que não possa crescer em alguns segmentos. Trata-se aí de uma questão de escala – não se pode pretender que a indústria cresça até contrastar em importância global com a asiática, investindo esforços prioritários nesse sentido

        Mas discordo de que não podemos contrastar em escala. Claro, seria ilusão competir em tudo. Mas podemos ganhar, inclusive no mercado externo, quando tivermos uma inovação tecnológica vantajosa.

        Repare, o objetivo do discurso acadêmico é influir na gerência governamental. O que implicitamente assume ao dizer “[não devemos ficar] investindo esforços prioritários nesse sentido [da indústria nacional contrastar com a China]”.

        Então pergunto, qual a essência e qual a influência possível do diagnóstico da Conceição?

        A essência, na minha leitura, é de que a desindustrialização não seria culpa de má gerência do governo, mas um fenômeno global irreversível sendo a saída compensar com o setor de serviços e o agronegócio. Só que no momento que essa idéia prevalecer qual a influência que podemos esperar dos atores políticos? Que eles se preocuparão em proteger o setor industrial ao mesmo tempo que procurarão trabalhar as oportunidades nos setores alternativos?

        Dificil esperar isso deles. O caso é que havendo campo para expansão no setor serviços, os agentes econômicos aproveitarão as oportunidades sem muita dificuldade de forma que a gerência governamental será menos importante. Mas prevalecendo a idéia fatalista com certeza o setor industrial será deixado a própria sorte.

        Ou seja, concordo que a Conceição não deseja ou acredita que a indústria nacional vá desaparecer, mas uma coisa é a intenção outra é a leitura e seu efeito ideológico.

  26. Se fosse possível fisicamente

    Se fosse possível fisicamente lidar com isso, sob condições normais de pressão, volume e temperatura, as coisas caminhariam rápidamente para o que diz Dª Tavares. Ocorre que o atual governo tem metas sociais a cumprir.  Boa parte das inclusões ainda não foram realizadas por fatores políticamente anormais. Fatores oriundos principalmente de uma oposição que só sabe pressionar contra, e muito. Uma oposição de  baixíssimo volume participativo a nível de propostas oposicionistas positivas e criativas, bem como com elevado grau de  frieza em relação aos problemas do país no geral. Então, cronológicamente falando, sob as condições de hoje, sendo otimistas estaremos vivendo esse quadro daqui 12 anos; se realistas 18 e se retrógrados 30 ou, na média 20 anos.

  27. “O momento não recomenda

    “O momento não recomenda nenhuma política fiscal contracionista. Os gastos públicos são incomprimíveis. O único gasto comprimível são os juros da dívida pública.”

    A lógica da era da ortodoxia – da política fiscal contracionista – significa a entrada de capital estrangeiro – por em conta de déficits públicos – para a chamada economia industrial, sem ter exportações suficientes para cobrir o rombo na dívida pública.

    Os gastos públicos eram incomprimíveis porque o chamado crescimento econômico desenvolvimentista se baseia em investimentos privados, embora os juros se constitui numa política fiscal contracionista da compra dos dólares pelo governo. 

    O país cresceu com Lula e: “Como em toda economia industrial madura, o único espaço para crescer é o dos serviços. Se aumentou os serviços, foi à custa de outro setor. Se não foi do agrobusiness e do investimento público, foi a partir da indústria.”

    Trocando em miudos, o gasto comprimível (fora da entrada de investimentos) demonstra que o investimento público mesmo com a crise internacional, contração a partir de 2008, passa o país para a lógica da era dos “serviços”, baseda no tripé do BB, CEF e BNDES, complementando o investimento público com autonomia e juros a 7%, “como em toda maturidade industrial.”

    “O único gasto comprimível são os juros da dívida pública.”

    Isto feito, o mercado financeiro, através da mídia, quer porque quer a cabeça da Dilma por causa da “Democracia Social”.

    Mas a Conceição recomenda não fazer nenhuma política fiscal contracionista.

  28. Nossa ! Quantos gênios da economia aqui no blog !

    Não somos apenas 200 milhões de técnicos de futebol, parece que também de economistas.

    1. Economistas só falam a

      Economistas só falam a verdade sobre a maldade paralela entre eles e o estelionato científico com o Estado, quando têm 1% de vida e 0% de chance de redimir a sociedade.

  29. O sétimo anjo do sétimo céu

    Apoc 16:17-21: O sétimo anjo derramou a sua taça no ar; e saiu uma grande voz do santuário, da parte do trono, dizendo: Está feito. E houve relâmpagos e vozes e trovões; houve também um grande terremoto, qual nunca houvera desde que há homens sobre a terra, terremoto tão forte quão grande; e a grande cidade fendeu-se em três partes, e as cidades das nações caíram; e Deus lembrou-se da grande Babilônia, para lhe dar o cálice do vinho do furor da sua ira. Todas ilhas fugiram, e os montes não mais se acharam. E sobre os homens caiu do céu uma grande saraivada, pedras quase do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraivada; porque a sua praga era mui grande.

     

    Em suma, tem economista apelando até pra profecias de Nostradamus….

  30. Os sábios de plantão

    Fico impressionado com a quantidade de autoridades financeiras colocando seus pensamentos e sugestões para resolver a economia combalida em que nos encontramos, quanta sapiência. se todos têem a formula mágica, porque então os senhores que comandam a economia não conseguem resolver, será que são tão incompetentes ou fator  política estão a frente de qualquer ação. Vejo alguns comentários voltados em defesa do atual governo, são factóides.

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