Lava Jato e dois destinos, o juiz e o jornalista, Asmodeus e Gabriel

Mefistófeles ouviu as queixas do jornalista. Era o mais talentoso da sua geração e nunca tivera oportunidades no ambiente burocrático das redações. Era o mais inteligente da escola, mas nunca tivera a habilidade para ser sociável e reconhecido apenas pelos seus méritos.

Ele queria o poder e Mefistófeles concedeu. Você será o primeiro, se aceitar comandar as forças das trevas, ser o arauto do ódio e da intolerância, o chefe dos templários, o espírito de Átila e a voz dos hunos, o verdugo incumbido de executar os inimigos feridos no campo de batalha. Em troca eu lhe darei séquitos de bárbaros, legiões de criaturas das sombras, o comando do mercado da intolerância, que revistas, jornais, rádios e TVs ambicionam.

E assim foi feito. Mergulhou no mais profundo do esgoto humano, armou-se da retórica mais tenebrosa, espalhou ódio, intolerância, executou inimigos e foi compensado. Seu discurso foi agasalhado pelo segundo maior partido político, a mídia se abriu para o seu reinado e ele foi transportado para os píncaros do jornalismo, como o porta-voz máximo da intolerância.

Chegando ao topo, sentiu que faltava algo. As chamas do ódio espalhavam-se por todos os poros da nação e as fogueiras da inquisição passaram a queimar os seus. E, aos seus pés, via como seguidores o populacho mais selvagem, babando ódio, dividindo suas atenções com artistas pornôs, youtubers de terceira, uma turba vociferante e desqualificada.

Olhou então para o juiz que construíra sua reputação colocando tijolos de jurisprudência no edifício da civilização, o trabalho lento e pertinaz de trazer a luz. E o invejou.

Procurou então Mefistófeles e lhe propôs: agora que tenho o poder, eu quero o respeito. Não quero mais ser o capanga: quero ser o conselheiro.

Mefistófeles refugou: isso não estava no combinado. E o jornalista decidiu percorrer o novo caminho por conta própria. Por algum tempo revestiu-se de dignidade, combateu o ódio que ele próprio disseminara, as fogueiras que ele espalhara, com um senso de lealdade para com os seus e de coragem raros entre os súditos de Mefistofeles.

Porém, quando se despiu da capa vermelha flamejante da ambição e colocou o manto corajoso dos princípios, Mefisto considerou o trato desfeito e o jogou do alto do penhasco.

Enquanto caía, cruzou com o juiz que subia, com beca de Ministro do Supremo.

O juiz nascera tímido. Faltava-lhe coragem e destemor para as grandes batalhas. Por isso, fez carreira semeando o bem e tentando a unanimidade, conquistando o respeito, sendo o pai dos desassistidos, o jurista dos vulneráveis, a alma boa dividida entre grandes questões morais e o escritório de advocacia das causas menores, que também não era de ferro.

Reconhecido, entrou para o Olimpo do direito. E de lá contemplava com olhos úmidos o gozo de prazer dos poderosos. Via o jornalista espirrando ódio por todos os poros, cavalgando a intolerância, e infundindo temor. E o invejou.

Procurou Mefistófeles e lhe propôs: eu tenho o respeito, agora quero o poder. Não quero mais o papel do bonzinho que, no colégio, se intimidava com o grupo dos valentões, cuja timidez encobria o gozo pela violência. Quero comandar os valentões, ser aceito por eles. Além disso, sem a aliança com as legiões das sombras, corria o risco de ter sua vida devassada, sua reputação colocada em dúvida, o sucesso do escritório ameaçado.

E Mefistófeles topou na hora. Imediatamente, o juiz trocou o manto da sobriedade pela capa flamejante do poder e fechou um pacto de sangue com as sombras. Com os olhos rútilos de sangue, passou a autorizar todos os esbirros do poder, todos os desrespeitos aos direitos. Tornou-se temido e poderoso.

Até o dia em que liberou 2.040 gravações de conversas sem interesse jornalístico e deu o empurrão final no poder do jornalista, vazando uma conversa irrelevante com uma fonte.

Foi quando Mefistófeles surgiu na sua frente:

– Imprudente! Não se contentou com todo o poder que lhe dei? Como ousa afrontar um dos tabus do centro do meu poder, a mídia, vazando a conversa de um jornalista com a fonte?        

E o sacrifício do jornalista, que por um momento se fez digno, ajudou a conter as ameaças contra o jornalismo e a abrir os olhos da mídia e do país para o Asmodeus que fugiu ao controle.

Luis Nassif

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Já contei,conto

    Já contei,conto novamente.Convidaram Mino Carta,um dos responsaveis pela minha formação,a comparecer ao sepultamento de um amigo comum.Quando o corpo se dirigia ao seu ultimo refugio,danou-se a ler as lapides sobre os tumulos:Pai insubistituivel.Mãe extremosa e inigualavel.Irmão inseparavel.Irmã santa e bondosa.Amigo indestrutivel.Virou-se para o outro amigo,mais vivo do que nunca,e deblaterou:Saberia informa-me em que parte deste cemiterio se enterram os canalhas de alto coturno?O amigo balançou a cabeça negativamente.De parabens o Moreno de Poços pelo texto,mais ainda para o Frei Boff.Rola bosta é muito pouco,pouquissimo,quase nada.

  2.  Vi com esses olhos que a

     Vi com esses olhos que a terra há de comer.Nenhum outro jornalista brasileiro, sofreu nas unhas do Rola Bosta e do Veneziano,o que Luis Nassif sofreu.Tão logo instalaram seus canhões no detriro solido de maré baixa,ajustaram suas miras para Nassif.Toda sorte de calunias,difamações,baixarias,capadoçagens,molecagens,safadezas,cretinices,o esgoto mais fétido,praticaram contra o editor do blog.Tenho para mim,que a dupla de canalhas travestidos de jornalistas,inspiraram a Nassif escrever,O Caso de Veja,o maior trabalho já produzido por um jornalista,aos meus olhos.Deus escreve certo por linhas tortas,reza a lenda.As digitais dos dois,com a mais absoluta certeza,estão consignadas no apodrecimento do Pais.Mais ainda,de quem os financiaram.Pagarão caro,aliás já começaram.

  3.  Vi com esses olhos que a

     Vi com esses olhos que a terra há de comer.Nenhum outro jornalista brasileiro, sofreu nas unhas do Rola Bosta e do Veneziano,o que Luis Nassif sofreu.Tão logo instalaram seus canhões no detriro solido de maré baixa,ajustaram suas miras para Nassif.Toda sorte de calunias,difamações,baixarias,capadoçagens,molecagens,safadezas,cretinices,o esgoto mais fétido,praticaram contra o editor do blog.Tenho para mim,que a dupla de canalhas travestidos de jornalistas,inspiraram a Nassif escrever,O Caso de Veja,o maior trabalho já produzido por um jornalista,aos meus olhos.Deus escreve certo por linhas tortas,reza a lenda.As digitais dos dois,com a mais absoluta certeza,estão consignadas no apodrecimento do Pais.Mais ainda,de quem os financiaram.Pagarão caro,aliás já começaram.

  4. ele x ele

    Os abusos, as trapalhadas, a incompetência, o autodeslumbramento, o desequilíbrio e principalmente as más companhias tornam Amosdeus o seu próprio pior inimigo.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador