O segundo tempo do jogo econômico

Os nós da economia são da seguinte ordem:

  1. Houve uma melhoria substancial de renda, que gerou um mercado interno robusto. Mas provocou também um encarecimento da produção interna, devido ao aumento de insumos e de salários.
  2. O câmbio defasado não compensou o aumento de custos das empresas nem permitiu a geração de renda na indústria. Resultou em um aumento expressivo das importações, pressionando as contas externas, e um freio no crescimento da renda interna. E também dificuldades que deverão se acentuar nos próximos meses, especialmente na indústria e no varejo.

A política econômica terá que administrar três objetivos conflitantes: equilibrar as contas externas, a perda do dinamismo econômico e a inflação. Adicionalmente terá que destravar os investimentos.

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No curto prazo, o governo Dilma dispõe de dois trunfos e de muitas dúvidas.

Os trunfos são a provável queda da inflação anual a partir de julho e o provável sucesso nos leilões de concessão e da bacia de Libra – apesar da pressa e das imperfeições do processo.

A principal dúvida é sobre a condução da política econômica e a gestão das políticas públicas. A primeira tem no centro do tiroteio o Ministro da Fazenda Guido Mantega e o Secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. O segundo, o modelo de gestão de Dilma, com as decisões excessivamente centralizadas e a pouca liberdade de ação de seus ministros.

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A melhor estratégia para Dilma seria preparar, agora, as mudanças internas., planejando o novo Ministério, dando prioridade para a articulação política e com a sociedade, recriando instrumentos de participação externa e novo modelo de gestão, com a nomeação de ministros-âncoras.

O anúncio desse conjunto de medidas – se bem planejado – soaria como a freada de arrumação, zerando o jogo. Ocorrendo na sequência os dois fatos positivos – inflação e concessões – haveria condições de recuperar a credibilidade para enfrentar os problemas concretos da economia.

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Por mais que doa a Dilma, não haverá como manter o ministro da Fazenda e o secretário do Tesouro. Nem se trata de avaliar sua responsabilidade ou não nos problemas da economia, mas na sua credibilidade junto ao mercado.

Na quinta-feira, o calado Arno esmerou-se em entrevistas verborrágicas para justificar suas últimas decisões. Tem razão em muitas colocações, consegue explicações convincentes em outras. Mas o resultado final é a constatação de que todas as medidas que vier a tomar – se permanecer no cargo – produzirão curto-circuitos e exigirão explicações detalhadas.

Do lado de Guido, nos últimos tempos, sua única atitude proativa – obsessiva, reiterada – consistiu em sacar do coldre uma nova isenção e uma projeção otimista (e furada) a cada indicador negativo da economia.

Se as medidas de política econômica saíram de sua cabeça, ruim; se apenas obedeceu ordens, pior. O quadro atual não comporta um ministro que não sabe dizer não.

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Dilma tem estoque de credibilidade para usar no segundo tempo do jogo. Conseguiu – pela primeira vez em vinte anos – inverter o ambiente econômico, trazendo os juros para níveis civilizados. É reconhecidamente uma governante empenhada em construir o futuro.

Falta dar os passos corretos.

Luis Nassif

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