O terraplanismo da mídia e o preço da gasolina, por Luis Nassif

Se todos seguirem os preços internacionais, jamais haverá competição, pois o preço estará dado.

Divulgação

A falta de lógica do debate econômico chegou às raias do absurdo. A total falta de senso crítico por parte do jornalismo econômico permitiu a proliferação de teses fantasiosas sobre temas de segurança nacional, como a energia.

Tome-se a reportagem de O Globo, ‘Barril de petróleo vai ultrapassar US$ 100. E a tendência é de alta’, diz consultor.

O repórter Bruno Rosa age como jornalista. Indaga do consultor porque a privatização do refino e da distribuição não reduziu os preços dos combustíveis como apregoado. A resposta é óbvia: porque substituiu-se um monopólio estatal por um monopólio privado. Esse era o argumento mais óbvio contra o desmonte da Petrobras, mas foi escondido pela mídia durante todo o processo.

Mais que isso. A maneira de aumentar a competitividade no setor seria trazer capital privado para construir novas refinarias, não para comprar as refinarias existentes. 

Foi um dos maiores assaltos contra o interesse nacional, articulado pelo governo Bolsonaro, Supremo Tribunal Federal e até o ato abusivo do CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico) “condenando” a Petrobras a vender as refinarias, por excesso de controle do mercado. Ou seja, um burocrata do CADE passando por cima da Constituição e impondo uma privatização à Petrobras. E a direção da Petrobras aceitando a marmelada.

Na entrevista, o tal consultor defende que a melhor maneira da Petrobras reduzir o preço do combustível é aumentar o preço do combustível para acompanhar o mercado internacional. Note que o petróleo se tornou um ativo financeiro. As oscilações nas cotações respondem muito mais a jogadas especulativas de fundos de investimento do que às condições reais de consumo.

A lógica do consultor é fantástica. Embora não tenha explicado em detalhes, segue o seguinte raciocínio.

  1. Como a Petrobras tem parte relevante da produção de petróleo nacional, em tese poderia reduzir o custo na bomba. Bastaria fazer um mix de preços entre o petróleo importado e o produzido internamente. É o que bastaria para poupar o consumidor brasileiro e impedir o aumento da inflação.
  2. Fazendo isso, porém, prejudicaria os players estrangeiros, que trabalham exclusivamente com petróleo importado.
  3. Mantendo a cotação internacional, os players estrangeiros não seriam prejudicados e haveria mais competição, reduzindo o preço futuro do combustível.

É de um fantástico contra-senso. Se todos seguirem os preços internacionais, jamais haverá competição, pois o preço estará dado. A única maneira de melhorar os preços seria um mix entre o custo do petróleo importado e o produzido internamente. É o que preservaria a economia e faria a Petrobras cumprir com sua responsabilidade como empresa pública.

Mas essa lógica é complexa demais para uma imprensa que aprendeu a comprar gato por lebre — e apreciou a troca.

Luis Nassif

12 Comentários

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    1. Hoje da pra ver claramente que o que sustenta o álcool e os Usineiros é a gasolina, que eles obrigaram a misturar até mais de 25%, garantindo o mercado deles e com o preço que eles formam. As distribuidoras e postos fazem o resto, atrelando ao preço da gasolina com os famigerados 70% e o dólar. É preciso rever isso urgente! Reduzir drasticamente o álcool da gasolina e até mesmo misturar gasolina no álcool, talvez pelo menos 15%. Bom também seria se o biodiesel ficasse fora do diesel.

  1. No gráfico da campanha milionária de justificativa do esfolamento do povo(preços)e do lucro selvagem,colocaram muito desproporcional a porcentagem do icms representada naquelas barras do gráfico,olhando têm a impressão q é quase metade do preço e não mencionam a porcentagem cobrada o povão olhando pensa q é muito.
    Obs:LUCRAM ABSURDAMENTE E NEM IMPOSTO QUEREM PAGAR,ISSO SIM É CAPITALISMO EXTREMAMENTE SELVAGEM E ESCRAVISTA(PONTE PARA A ERA MEDIEVAL ONDE RICAÇOS FICAM EM SEUS CASTELOS E O ENTORNO SÓ MISÉRIA E FOME,HAAA É CULPA DA COVID NÃO DOS BANCOS OU MELHOR A MODA AGORA É DO CLIMA)

  2. O Brasil destes 91 anos de Elites do Estado Ditatorial Caudilhista Absolutista Assassino Esquerdopata Fascista. Gigantesca Discussão !!! Gigantesco Argumento !!! Mas está atrasado apenas uns 70 anos !!!! E o mais calhorda, negligenciado pela Bandidolatria que desembarca nesta farsante Redemocracia. Nada mais que a mesmo Nepotismo da Cleptocracia de 1930 e Satélites comparsas e lacaios. Estes não eram os argumentos que deveriam ter sido apresentados nas Privatarias de PSDB e PT? O que foi feito nestes 40 anos, diferente de Dolarização e Equiparação a Preços Internacionais? Qual foi a vantagem e salto qualitativo de 70% da Petrobrás jogado no Cassino de Bolsa de Valores de NY entre S/A’s e Off-Shore’s? Um tal Projeto Progressista e Socialista !! Sabemos. Uma Existência Nababesca entre Residências, Carrões, Fortunas, High School’s, Harvard’s, Sorbonne’s, Cidadanias Estrangeiras. Salários Estratosféricos retirados dos Cofres Públicos Brasileiros e a Garantia de AÇÕES irrastreáveis espalhadas pelo Exterior. Contra o Imperialismo? Contra o Capitalismo? Contra o Colonialismo? E 220 milhões de “Iludidos” acreditaram na farsa?!! Somos o Espetáculo do Revisionismo Histórico pós Ditadura Esquerdopata Fascista de 1930. Basta estudar os relatos históricos a respeito de Monteiro Lobato chutando a bunda do Assassino Fascista para assegurar o Petróleo Brasileiro (O Petróleo é Nosso) como Garantia, Soberania, Liberdade, Industrialização, Tecnologia, Desenvolvimento, Pujança, Enriquecimento, Empregos Nacionais. Só que a Nação Brasileira não construiu o Projeto deste Gênio Mundial nascido no Brasil. Construiu o Projeto do Pária Fascista. 2021. Vocês queriam que resultado, diferente do lixo destes 91 anos? Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação. (P.S. Muito tardiamente, mas finalmente a Liberdade depois de 91 anos de Latrina TerceiroMundista, junto a volta de um Paulista no comando da Nação. Coincidência?)

  3. Nassif é muito bonzinho, trata a imprensa como inocente e como algo íntegro, diríamos, inocência integra, com se essas pessoas não entendessem o que estão fazendo.

  4. Não sei se a resposta é tão simples. Via de regra a Petrobras concorre com suas primas estrangeiras, que são potências e que usam da mesma política de preços (a diferença é que na maioria das vezes o ambiente deles também é de moeda forte). E esta forma de balizar os preços, acredito eu, interfere diretamente na capacidade de investimento e preservação dos ativos existentes. Mal comparando, vejam o caso extremo da PDVSA, sucateada e sem competitividade, embora tenha a sorte de estar sobre uma das maiores fontes de cru do planeta. Então vejamos, se a Petrobras abrir mão de sua robustez financeira, no futuro, sabe se lá com qual espectro político no poder, ela pode ser atacada de tal forma e ser vendida por um valor muito abaixo por estar atrasada tecnologicamente em relação às suas concorrentes. Hoje a Petrobras goza de prestígio internacional, que se reflete no valor dos seus ativos. Outro argumento, embora eu pessoalmente ache muitíssimo caro o valor dos combustíveis: combustível barato estimula muitos carros rodando. Isto é bom? Aí alguém pode rebater, dizendo que o diesel interfere diretamente no valor da logística. Concordo. A saber se isto não acaba se acomodando, ou se alguém finalmente não institui uma política pública visando alterar nossa extrema dependência de caminhões para transporte. Não sou a favor de acabar com os caminhões (que são muito eficientes sob o ponto de vista de permeabilidade), mas é necessário que haja equilíbrio com outros modais, por exemplo, férreo, cabotagem, etc. Não sou especialista, é apenas minha opinião.

  5. A Petrobras se tornou a 2° maior petroleira do mundo (hoje, posição perdida) com a política anterior de preços e não essa.
    Se desfazer de parte do parque de refino tanto prejudica o país em termos de controle de estoque de capital, uma vez que a receita se tornará investimento e poupança no exterior e não mais aqui. Como também pelos preços, que contaminarão toda a economia, desequilibrando a cadeia de formação de preços. Só desvantagem no que vem sendo feito.

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