Os prós e contras do Ministro Luiz Mandetta, por Luis Nassif

No tiroteio de segunda-feira, no demite-não-demite de Bolsonaro, muitos jornalistas tiveram a impressão de recuo de Mandetta em relação a dois pontos fundamentais: o isolamento social e a cloroquina, duas bandeiras de Bolsonaro.  Chegaram a acusa-lo de promover um futuro genocídio para acalmar o chefe.

Vamos aos fatos.

Luiz Henrique Mandetta, Ministro da Saúde, tem um histórico dos deputados de baixo clero, surfando nas ondas do momento. Nunca teve papel destacado na Câmara. E, sob sua gestão ,no Ministério da Saúde, desde o primeiro dia do governo Bolsonaro, foi responsável direto pelo fim do + Médicos e de mais um conjunto de medidas que fragilizaram ainda mais o SUS (Sistema Único de Saúde), os programas de fabricação interna de equipamentos, o programa de fabricação de medicamentos.

Como salientei em outros momentos – evocando até o general Della Rovere, do clássico ˆDe crápula a herói”, de Rosselini, com Vitório de Sica -, um homem é ele e suas circunstância. E as circunstâncias transformaram Mandetta em um condutor impecável da guerra contra o coronavirus.

No tiroteio de segunda-feira, no demite-não-demite de Bolsonaro, muitos jornalistas tiveram a impressão de recuo de Mandetta em relação a dois pontos fundamentais: o isolamento social e a cloroquina, duas bandeiras de Bolsonaro.  Chegaram a acusa-lo de promover um futuro genocídio para acalmar o chefe.

Não é nada disso.

É evidente que tem que se definir regras futuras para um relaxamento gradativo do isolamento. Mas as regras definidas pela Saúde não se aplicam a nenhum município brasileiro. O ponto central é que só deverão sair do isolamento (o Ministério recomenda, mas não tem poder de obrigar) municípios que tenham 50% de folga nas UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo). 90% dos municípios não possuem sequer um leito de UTI. E, nos municípios restantes, não vai se encontrar um município sequer com folga de UTIs, ainda mais depois que o coronavirus chegar por lá. Além disso porque, o governo poderá requisitar UTIs disponíveis para atender cidades necessitadas. O que torna a pré-condição impossível de ser atendida por qualquer município.

A recomendação é absolutamente inócua e visou apenas livrar a cara de Bolsonaro.

No outro ponto, o uso da cloroquina, o Ministério limitou-se a enfatizar o que tem dito desde o começo: só deve-se utilizar a cloroquina em tratamento sob supervisão e responsabilidade de um médico.

Ou seja, nenhuma das duas posições significou qualquer recuo em relação às recomendações anteriores.

Motivos de preocupação existem no relaxamento do confinamento. O tiroteio de informações, as sucessivas declarações irresponsáveis de pessoas como Bolsonaro, Osmar Trevas e outros influenciaram a parte menos informada da população. Ontem à noite, telejornais mostravam aumento do número de passageiros em ônibus, concentração de pessoas em locais públicos, como mercados.

A responsabilidade final é do Ministério da Cidadania, de Onyx Lorenzoni, e da área econômica que, quase um mês após o início do alarme, não foram capazes de entregar dinheiro nas mãos dos mais necessitados, obrigando-os a escolher entre morrer de coronavirus ou de fome.

Do mesmo modo, as ações do Banco Central são extraordinariamente inócuas. Em sua apresentação, na coletiva de ontem, o presidente Roberto Campos Neto, celebrou valores recordes de liberação de recursos, prazos recordes, em medidas que não terão a mínima eficácia.

A linha para financiar folha de salários de pequenas e microempresas não terá nem 1% de interessados. O compulsório liberado, para supostamente estimular operações de crédito dos bancos, não resultará em uma operação nova, devido ao risco de crédito, em uma situação em que não se sabe o futuro sequer de grandes corporações.

O aumento da circulação de pessoas terá consequências graves no número de infectados e mortos. É o preço alto de um país que cometeu a rematada loucura de eleger um governante do nível de Bolsonaro.

Luis Nassif

17 Comentários

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  1. Ora……e o papel da mídia???? Na segunda maior emissora do país, a mais tosca de todas, um Zé ruela gritava a manhã inteira que os governadores queriam derrubar o “presidente”……já na rede golpe, batem no celerado sem dó, enquanto exaltam o tchutchuka e sua gangue de abutres carniceiros……… numa rádio, a tal “primeira”, que deveria tocar apenas música, outro tosco vocifera a madrugada toda contra a esquerda, a china, tão insana é a figura, que defende o inominável e o isolamento ao mesmo tempo, totalmente perdido em sua sanha alucinada……o povo está nas ruas? A mídia-lixo desse país é culpada, porque só defende seus interesses inconfessáveis……. dá vergonha assistir esses canalhas mostrando o rego da bunda diariamente……. aliás, ainda estou esperando esses médicos, que basta ligar a luz da geladeira, desandam a darem entrevistas, defenderem o SUS, farinha do mesmo saco que são dos políticos que os ombreia…..e o cidadão tomou ou não a tal cloroquina?????

  2. Nassif: parodiando Millôr — “Povo de memória curta, esse é o Mandetta”! Por isto vou reprisar nosso papo cabeça de ontem:

    “quem manda no Mandetta? Astro pequeno e sem luz própria, sempre orbitou no escuro mais profundo do universo político e social. Seu lobby, do “MenosMédicos” e outros inexpressivos não lhe forneceria energia e luz suficiente para brilhar como tem feito. Começou apoiando as ações do MessiasDoBras. Depois, mudou radicalmente, Depois amenizou. Tem mudado mais que mulher de moda. Mais parece pau mandado. E como tatu não sobe em árvore, quem manda, agora, no Mandetta?”

  3. Nassif, desculpe, mas você está passando pano pro Mandetta. O problema das posições do cara é que elas não “enganam” apenas, nem principalmente, o bostonaro. Elas enganam, sim, terrivelmente, a população brasileira como um todo. O que é que o cidadão comum lê nessas declarações enviesadas do Mandetta? “Ah, já tá liberado, já pode sair de casa todo o mundo porque tem um remédio que cura o vírus. O Ministro da Saúde ‘agarante’!”
    Veja que mesmo aqui na Europa, onde há maior cultura de atenção ao bem comum e fortíssimas recomendações de confinamento por parte das autoridades, não falta gente disposta a quebrar a quarentena; afinal, o vírus é invisível, e as mortes de desconhecidos também são.
    Agora pense no caso brasileiro. Quando as recomendações de confinamento são abrandadas por senões e talvezes, o povão interpreta como “ah, não é tão sério assim não”. Duvida? Então verifique pessoalmente os efeitos disso no aumento da circulação e aglomeração de pessoas nas ruas brasileiras a partir de hoje.
    Estou com o Rogério Maestri. A menos que ocorra algum milagre, já temos encomendada a morte de milhões de brasileiros pelo vírus, pela fome, por doenças que ficarão sem tratamento, por colapso da segurança pública. Nada mais poderá deter esse apocalipse. O tempo disponível para abrandá-lo estará esgotado em dez, quinze dias.
    Prepare-se para o pior.

  4. É verdade que o Mandetta quer afrouxar o distanciamento social onde há pelo menos 50% da capacidade do sistema de saúde (público e privado) ocioso?
    Ora, ao se fazer isso, o crescimento da infecção vai se exponencializar, sobrecarregando o sistema, levando a óbitos que poderiam ter sido evitados com manutenção do isolamento social.
    Ora, não se mexe em time que tá ganhando, Sr. Mandetta.

    Ontem eu constatei que muitas pessoas ainda não sabem que é necessário também lavar com água e sabão, além das mãos, o antebraço, a fim de ter maior segurança contra o coronavirus. Perguntei a 4 pessoas sobre como se preveniam do corona. 3 dessas pessoas não sabiam que é preciso lavar o antebraço. Ainda há muita ignorância. Nada obstante, uma dessas pessoas passa o dia todo vendo vídeos frivolos no Facebook. Ou seja, em vez de saturar o usuário com tantos conteúdos inúteis/prejudiciais, o Facebook poderia ajudar a informar melhor as pessoas e, dessa forma, contribuir enormemente para que a curva de infecção não se exponencialize.

  5. Impecável????????
    Quantos equipamentos, pessoal e recursos estão prontos caso a “curva” dispare e se espalhe norte acima do país???????
    O cara ficou de boneco de posto enquanto secretários de saúde de estados e municípios carregaram o piano.

    É Nassif. Vai mal. Vai muito mal. Daqui a pouco você vai acabar se candidatando a escrever uma biografia do moço do menos médicos.

    Triste essa sina de centrista. Arf.

    1. O tal do Nender tocou no ponto que eu entendo crucial: antes de cair na enquete de boteco do “sai ou não sai”, cabe a pergunta: quais medidas foram tomadas pelo tal ministro que justificam essa alavancagem a novo herói nacional?

  6. Bom lembrar que desde qdo deputado Mandetta já se opunha a criação do MAIS MEDICO (e sem oferecer nada no lugar), isso lá em 2013, nos tempos em que BOZO ia pescar com o Queiroz e dava churrasco com Elcio, ou qdo Inflavio ainda empregava despreocupadamente Adriano e família.

  7. Nassif, discordo ainda.

    Lembre-se de ADIB JATENE e a diferença marcante de atitudes

    PRINCÍPIOS E CONVICÇÃO

    Não se esqueça que POR MUITO MENOS

    – ADIB JATENE pegou o “chapéu” e foi para casa

    – A diferença entre ele e MANDETTTA – em duas palavras: princípios e convicção !!!

    – “Teve relação direta. Eu disse ao presidente Fernando Henrique que precisava de recursos. Ele pediu para falar com o Pedro Malan [ministro da Fazenda]. O Malan me disse que, em dois ou três anos, daria o dinheiro que eu precisava. Não podia esperar tanto tempo. Propus a volta do imposto sobre o cheque, que se chamava IPMF e havia sido extinto em 94. O presidente disse: ‘Você não vai conseguir aprovar isso.’ Respondi: Posso tentar? Ele autorizou. Pedi o compromisso dele de que o orçamento da Saúde não seria reduzido. A CPMF entraria como o adicional. E ele: ‘Isso eu posso te garantir’. Depois da aprovação, a Fazenda reduziu o meu orçamento. Voltei ao presidente. Disse: no Congresso, me diziam que isso ia acontecer. Eu respondia que não, porque tinha a sua palavra. Se o senhor não consegue manter a sua palavra, entendo a sua dificuldade. Mas me faça um favor. Ponha outro no meu lugar. Foi assim que eu saí, em novembro de 1996.” – Adib Jatene

    Wikipédia

    Mandetta não atua por princípios ou convicção mas sim surfa na onda anti-bolsonarista e do isolamento

  8. Bato na mesma tecla= Bolsonaro é uma desgraça, óbvio ululante. Mas ele só chegou aonde chegou porque temos a elite mais miserável do mundo. Uma elite que, mesmo no seu melhor, nunca conseguiu criar um país para todos, que mesmo em bons momentos econômicos nunca se interessou em dar habitação e saúde decente ao povo – e esses são os dois fatores que vão mais contar pra mortandade em escala industrial nas periferias pelo coronavírus. No seu melhor, essa elite foi sempre série B, que nunca chegou a sonhar de verdade em entrar na série A. Ela bancou o boçal, mesmo sabendo muitíssimo bem quem era a figura. A elite financeira apoiou esse idiotassassino porque ele tinha Paulo Guedes, talvez pensando que este Chi-Cago Old era um Schacht caboclo (sic). É uma constante dessa elite miserável = em 60 foi Jânio, em 90 foi Collor e em 2018 foi Bolsonaro. Sempre num intervalo de quase 30 anos e sempre cada vez de pior qualidade (Jânio é um Churchill comparado a Bolsonaro; e Collor, um Lula. ). Nem quero imaginar quem será a peça em 2050 – isso se houver Brasil. A raiz do problema é gente de bem(s), de sobrenome Aguiar, Setubal, Salles, Marinho, Saad, Frias, Mesquita,Civvita, (in memoriam). A história mostra dois países que tiveram que passar fogo em sua elite miserável pra tomarem um rumo diferente do que vinham = A França e a Rússia. Chega de acreditar que essa elite miserável fará um pacto de Moncloa. O pacto dela é sempre de mon-Cloaca, em que até admite alguém progressista, desde que não mexa num centavo e num privilégio deles (vide JK e Lula ). Lula não mexeu com nenhum privilégio da elite, apenas deu uma fatia mais grossa do que a habitual das sobras de um momento econômico muito bom pro andar de baixo. E mesmo assim, essa elite miserável não pensou duas vezes em prendê-lo e fazê-lo passar por todo tipo de humilhação. Imagina se durante o governo Lula ele tivesse bancado uma lei de mídia, como Cristina Kirchner. Provavelmente ele já teria sido assassinado.

  9. A última frase do último parágrafo do texto é um primor do senso comum: ” É o preço alto de um país que cometeu a rematada loucura de eleger um governante do nível de Bolsonaro.”

    Quando a pandemia atual sair das manchetes, favor o Jornal GGN entrevistar o professor Jessé Souza sobre seu recente livro, “Guerra contra o Brasil”.

    Lá, os interessados podem ver, além das aparências e do senso comum, os grandes responsáveis pela “rematada loucura de eleger Bolsonaro.”

    Somente com a correta consciência das responsabilidades por estre desastre social, os interessados podem atuar para evitar sua recorrência.

  10. Ele venceu porque no segundo turno a outra opção era o PT.
    Votei no Geraldo Alckmin e depois no Fernando Haddad, mas não perdi a noção do que estava acontecendo.

  11. Sobre a pressão para o uso da cloroquina: portadores da G6PD(nome comum Favismo), doença hereditária diagnosticada no teste do pezinho ampliado, morrem se tomarem cloroquina porque sua ingestão provoca rompimento dos globulos vermelhos e paralisia dos rins. A G6PD não é dignosticada no teste do pezinho básico gratuito gratuito do SUS , só no pago, é de diagnostico recente e assintomática. Meu neto tem essa doença e é diagnosticada em negros, descendente de meditarraneos e sefarditas.
    As autoridades médicas estão sendo irresponsáveis com essa indicação porque imagino a quantidade de pessoas que tem essa deficiência sem saber. Mandeta deveria tornar essa informação pública.

  12. Acho que a permanência de Mandeta tá muito mais ligada a disputa do DEM pelo cargo, hoje vitrine que o partido nunca teve. Com as presidências da câmara e do senado (os dois do DEM) chantageando e dando sustentação ao seu ministro, que segue se achando.

  13. A culpa não é só do povo que elegeu o atual presidente, a culpa é principalmente de pessoas iguais a você que que tem informação, tem meios e tem conhecidos que possam fomentar ideias de valor para o povo, mas só ficam no blá blá blá.
    O que eu mais vejo no Brasil é isso.
    Um monte de gente falando, analisando, comentando e dizendo que fomentam a informação para “outros” levarem para o povo. É exatamente como diz o ditado: falar é fácil, Fazer é que é dificil”.

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