Uma das grandes espertezas da análise econômica convencional é a maneira como busca a racionalidade do mercado em cima dos fundamentos macro-econômicos de médio prazo. É o velho truque do “ad terrorem”, muito empregado nos debates econômicos. Tipo, se não fizerem o que eu digo, haverá um cataclisma. Se a Lei do Teto for desrespeitada acaba o mundo; se houver aumento na ajuda emergencial, explode a inflação – embora a inflação seja consequência exclusiva da desvalorização do câmbio.
A leitura do mercado é que a queda do dólar se deveu ao aumento da fé do mercado no equilíbrio fiscal. Houve um aumento na arrecadação, fruto da inflação e de alguma recuperação. E toca o mercado a atribuir ao aumento da fé no equilíbrio fiscal, tendo enormes incertezas pela frente, como a possível terceira onda, crises políticas, problemas com inflação.
A lógica do mercado é muito mais chão. Consiste em promover o chamado overshooting do câmbio para cima ou para baixo – ou seja, impulsionar a tendência do momento do câmbio – ganhando na arbitragem.
Entendendo:
1. Suponha um dólar a R$ 4,00 e uma taxa de juros de 2% ao ano.
2. Com taxa de juros mais baixa, há menos dólares entrando. Como o Banco Central não quer utilizar as reservas cambiais, o dólar sobe para até, digamos R$ 5,50, mesmo com o aumento do saldo comercial.
3. A desvalorização do câmbio pressiona a inflação. E o BC aumenta a taxa Selic. E aí, a roda da fortuna volta a girar.
4. O investidor entra e adquire dólar a R$ 5,50. Com US$ 1 milhão, adquire R$ 5,5 milhões. E aplica em uma Selic a 4,25%.
5. Suponha que o câmbio volte a R$ 4,50. Apenas nesse movimento, o investidor ganhará 22,22%. Ou seja, com os R$ 5,5 milhões conseguirá adquirir US$ 1,22 milhão.
Essa roda de saques contra o país existe desde a flexibilização do câmbio em 1999. Em outros tempos, aliás, a taxa Selic, muito mais elevada, permitia ganhos mais expressivos.
O jogo se dava sobre o aperto nas contas externas. Permitia-se a apreciação do câmbio até que as contas externas estivessem estranguladas. Aí, havia o estouro da boiada, com os investidores mais espertos vendendo seus dólares no pico.
A desvalorização cambial permitia enormes ganhos. Quando a desvalorização batia no pico, presionava a inflação levando o BC a aumentar os juros. Aì o dólares voltavam comprando reais baratos, aplicando-os em títulos públicos. Á medida em que os dólares voltavam, havia um novo movimento de apreciação até o estouro seguinte.
Agora, há fatores adicionais, como as incertezas em relação ao comportamento do FED (o Banco Central norte-americano). É isso que leva à volatilidade do mercado. Imaginar que os operadores estejam pensando no futuro das contas externas, é dar uma racionalidade que não se aplica ao efeito-manada do mercado.
Ministério da Defesa e BNDES fecham convênio para otimizar imóveis das Forças Armadas, com foco…
“Ele [homem branco] reflete o repertório dele, mesmo tendo empatia, mas não traz a visão…
Enquanto Milei diz que manifestos tem "causa nobre, motivos obscuros", milhares de estudantes tomam as…
Em feira comercial, visitantes se dizem otimistas com exportações e destacam vantagem competitiva em meio…
Uma questão que necessita de um olhar mais profundo é a correlação entre o crescimento…
A pedido da deputada federal Célia Xakriabá, o maior evento de articulação indígena no país…
View Comments
"4. O investidor entra e adquire dólar a R$ 5,50. Com US$ 1 milhão, adquire R$ 5,5 milhões. E aplica em uma Selic a 4,25%."
Com a cotação do dólar a 5,5 reais o investidor externo entra com 1 milhão de dólares e adquire 5,5 milhões de reais.