Porque os EUA vão aumentar os juros, por Luis Nassif

Os líricos dos anos 50 diziam que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Houve um certo tipo de crítica nos anos 70 a 90 que justificava a variação para “os críticos têm razões que o próprio autor desconhece”.

No Plano Real, o presidente do Banco Central, Pérsio Arida, elevou a taxa Selic a 45% ao ano, para enfrentar uma corrida contra a moeda. Em qualquer país minimamente racional, passada a corrida, se trariam as taxas rapidamente para o patamar anterior, para evitar o comprometimento das contas públicas.

Pérsio caiu e seu sucessor, Gustavo Loyolla, arrebentou com as contas públicas por décadas, reduzindo lentamente as taxas sob o argumento de que, se houvesse nova corrida, a taxa não precisaria dar saltos, pois já estaria alta. Terminou o ano com taxa over de 25% ao ano. 

Nos Estados Unidos, as discussões sobre a elevação da taxa de juros não chegam ao nível de irracionalidade suicida que marcou o país nas últimas décadas. Mas, ainda assim, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed) está em dificuldades para explicar a alta dos juros em uma economia que vê no horizonte sinais de recessão.

Nas três últimas rodadas, o Fed cortou a taxa dos títulos públicos em respectivamente 5 pontos percentuais, 4,8 pontos percentuais e 5,3 pontos percentuais. 

O problema é que por trás de todas as formulações matemáticas dos cabeças de planilha, há um componente não mensurável – a maneira de influenciar as expectativas futuras do mercado – que cada economista utiliza como quiser.

No Brasil, jogaram todas as expectativas de retomada do crescimento em cima da reforma da Previdência. A reforma é necessária por razões de longo prazo, mas não terá a menor influência nas decisões de investimento, que dependem majoritariamente da demanda. Por aqui, se tomam medidas que deprimem a demanda mais ainda, e joga-se a esperança de crescimento em reformas.

São três as explicações para a elevação dos juros pelo FOMC, segundo Martin Feldstein, que serviu a inúmeros governos republicanos e democratas.

Fator 1 – os problemas decorrentes de taxas de juros baixas por longo período:

  • indução das empresas ao superendividamento;
  • pela ampla liquidez, empréstimos a tomadores de baixa qualidade e com garantias frágeis;
  • aumento dos preços das ações para níveis insustentáveis;
  • governos incorrendo em grandes déficits devido ao custo baixo de rolagem da dívida.

Fator 2 – subir agora para baixar depois

Aqui é a antítese de lógica suicida do Banco Central do Brasil no Real. Desde que começou a política de flexibilização monetária do FED, a economia norte-americana experimentou uma expansão de 114 meses. Agora há sinais de esgotamento, na queda dos preços das ações, fraqueza no mercado imobiliário, desaceleração da economia dos países europeus, e as incertezas sobre as exportações norte-americanas. Com as taxas já historicamente baixas, não haveria nenhum efeito em reduzi-las mais ainda. Portanto, segundo Feldstein, aumenta-se agora para poder reduzir mais à frente.

Fator 3 – trazer as taxas de juros para níveis “neutros”.

Isto é, que não influenciem a demanda.

Nos anos 2.000, Arida teimava que a taxa de juros real (isto é, acima da inflação) neutra no Brasil seria de 7% ao ano – um absurdo, sem nenhuma comprovação empírica.

De qualquer modo, nota-se, lá como cá, a carência de visão sistêmica por parte das autoridades monetárias. Mais juros significa dólar mais apreciado, e mais dificuldades nas exportações norte-americanas ampliando as medidas de retaliação comercial da administração Trump.

 
Luis Nassif

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Uma perspectiva diferente

    “…
    First and foremost, we should be grateful for being able to witness the final death throes of the evilest evil imperialism ever: Western imperialism. Its final reincarnation—the United States—is pulling out of Syria and is attempting to make peace with the Taliban in Afghanistan. It will probably pull out of Afghanistan too after failing to defeat the Taliban for the past 17 years. Iraq—as undemocratic as ever but now aligned with Iran—is next. After that comes the useless NATO, whose schizophrenic leadership simultaneously thinks that Russia is so weak that it is about to collapse, yet so strong and “aggressive” that it could invade Europe any moment, and are in fact ineffectually preparing to attack Russia in some sort of ridiculous suicide mission.

    Also, it is very important that the Pentagon dismantles all of its overseas military bases and repatriates all of the troops before the money runs out—which it will. The troops will be needed to defend US borders and to keep separatist movements in check. At its height empires are able to control other countries, and other countries’ borders, but once they are brought low by failure and defeat they lose the ability to control even their own borders. Currently the imperial government in Washington is in partial shutdown over its inability to allocate funds toward building a Great Wall of America along the southern border. (By the way, how did that Great Wall work out for the Chinese? Answer: they ended up being ruled by the Mongols for 89 years. ¿Hablan mongol, gringos?) Meanwhile, the empire’s overseas possession known as the European Union is facing internal rebellion over its own inability to control its borders. Perhaps Brussels needs a shutdown too… before the money runs out.

    Because the next thing we can be grateful for is that the ridiculous pyramid scheme which the empire erected after the financial collapse of 2008, and which destroyed many people’s livelihoods and retirements while further enriching a small group of ultra-rich psychopaths, is pancaking before our eyes. The US Federal Reserve, which, if you know your financial history, was a very bad idea from its inception, is now cornered. It is left with three bad options: raise interest rates, lower them, or keep them the same. This must be a frustrating choice, and Donald Trump, who frustrates easily, might fire the Federal Reserve chairman and start setting the rates himself, using Twitter. That would be a fourth bad option—significantly worse than the other three, but more fun to watch. Remember to be grateful for the free entertainment!
    ….”

    Texto completo aqui: https://cluborlov.blogspot.com/2018/12/a-seasonal-homily-gratitude-and-joy.html

    Ciao,
    Wasp
     

  2. Se não tem visão sistêmica, como terão visão complexa?

    Bom texto Nassif. Gosto muito dos seus artigos, pois trás uma visão equilibrada em assuntos onde cada um puxa para um lado.

    Permita-me discordar apenas sobre o presidente do banco central que aumentou a taxa de juros para 45% durante o plano real. Não foi o Pérsio Arida, foi o Gustavo Franco. Para defender a moeda jogou o Brasil numa enorme crise fiscal.

  3. O preconceito bobo com
    O preconceito bobo com conceitos mais que demonstrados dá nisso, questionamento ocioso. É óbvio que tem malandrinho se dando bem.

    Os mercadistas, os financistas seguem em frente, ora, ora.

    Agora, quem tem alguma pretensão cientifica DEVERIA ser chamado de abestado pra baixo por causa dessas e de outras superstiçoes. Mas, …cadê?

  4. o que pega

    No meu sentimento caiçara, Os EUA (e depois o Brasil) vão aumentar os juros com a finalidade de distribuir riqueza.

    O objetivo é avançar sobre os rendimentos dos trabalhadores. Como é mais dificil diminuir salário nominal, aumenta-se o preço de tudo que esse salário consome. O mercado na falta de paciência para esperar os ovos de ouro avança na galinha.

    Tirar dos pobres (classe mérdia é pobre! pohaaaa), dos salários, da saúde, da educação, dos empregos, da máquina estatal, etc. para dar aos ricos! (ricos nacionais e importados, distinta frequesiaaaaa).

    1. Argentina

      Na Arrentina o bolçalnato deles já começou a fazer a lição (arghh!) de casa:

      …”O Governo de Maurício Macri, seguindo as ordens do Fundo Monetário Internacional, anunciou, para 2019, aumentos cavalares nas tarifas de serviços públicos: 55%, em média, na conta de luz, 40% no transporte público e 35% no gás.

      http://www.tijolaco.net/blog/neoliberais-argentinos-anunciam-tarifaco-luz-gas-e-transportes-disparam/

  5. As “autoridades monetárias”,

    As “autoridades monetárias”, ao fim e ao cabo, refletem os interesses do núcleo de poder, no caso, o sistema financeiro, que, como a história recente demonstra, privatiza o lucro e socializa os prejuízos. Assim, a fator técnico fica em segundo plano.

  6. Persio Arida  ..me refresque

    Persio Arida  ..me refresque a memória  ..seria aquele que VIROU BANQUEIRO e hoje esta BILIONÁRIO ??!!!

    ..e o Gustavo Franco seria o outro que, demitido por absoluta incompetência, FINGIU que seria consultor de THC e hoje vive dando pitacos e escrevendo livros pros outros acharem que ele era mais, como economista, do que um jogador de 7 1/2 que só conta com a sorte pra vencer  ?

    Ahhh sim, só faltou você falar do americano Arminio Fraga  ..pois ele esta de volta ao Planalto  ..e se bobear, com o risco de HULK suceder BOZO, talvez de Brasilia ele não saia tão cedo

     

     

     

  7. A manutenção da política de
    A manutenção da política de juros baixos e até negativos depois de passar a crise de 2008 foi a principal razão da explosão das cotações na bolsa norteamericana, estouro que não tem absolutamente nenhum embasamento. Isso sem contar a subida enorme dos preços de todos os ativos, tanto imóveis como obras de arte.
    O endividamento das empresas americanas também estourou, atingindo níveis jamais vistos antes: nunca houve tantas operações de recompra de ações na história da bolsa americana; essas operações só foram possíveis graças à possibilidade por parte das empresas de pegar dinheiro emprestado quase de graça.
    Outra consequência foi o aumento dos volumes e também das operações de fusão e aquisição mundo inteiro, financiadas muitas vezes pelo dinheiro barato decorrente da política de juros negativos nos EUA, na Europa e no Japão.

    O efeito entre outros foi uma concentração ainda maior da riqueza, uma vez que só quem tinha dinheiro para investir em ações ou que tinha imóveis ganhou com o aumento dos preços dos ativos.

    Faz muito tempo que os juros americanos deveriam ter voltado para um patamar mais normal, já que a economia está crescendo há anos, para evitar todas as bolhas especulativas que apareceram nos últimos tempos. Sem contar que mesmo depois dos últimos aumentos, os juros reais ainda estão baixíssimos, apenas acima do zero.

    Essa comparação entre a política de juros dos EUA e do Brasil não se sustenta. Faz décadas que os juros nos EUA são baixíssimos, mesmo antes da crise financeira de 2008. Tanto Alan Greenspan quanto Ben Bernanke e Janet Yellen mantiveram juros abaixo do aceitável, por medo da reação negativa dos mercados financeiros e do possível impacto sobre a bolsa de valores norteamericana.
    Enquanto isso no Brasil, salvo raras exceções, faz 25 anos que praticamos uma política de juros reais escorchantes, sob o pretexto do combate à inflação.
    O único ponto em comum é a pressão dos mercados financeiros, que acabam influenciando em demasia a política monetária e de juros do Banco Central.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador