Só a derrota de Macri salva a indústria brasileira, por Luis Nassif

Se bem-sucedida, a proposta de Guedes irá desarticular o setor calçadista, o siderúrgico e o que resta das manufaturas brasileiras.

Numa ponta, o governo Jair Bolsonaro, propondo contas em dólar no país e uma abertura unilateral das exportações, justamente em setores mais sensíveis à competição externa.

Segundo reportagem do Valor,  há estudos propondo a redução da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul para os seguintes produtos:

  • calçados (31,8% para 12%),
  • equipamentos médico-hospitalares (11,2% para 3,8%),
  • móveis (17,6% para 8,8%),
  • produtos plásticos (10,8% para 4,8%),
  • siderúrgicos (10,4% para 3,7%),
  • máquinas, material e aparelhos elétricos (12% para 4,2%).

No único setor em que o país é efetivamente competitivo, o da agroindústria fica mantida a TEC de 20%. Em áreas de interesse eleitoral do Ministro Onyx Lorenzonni, a região de vinhos da serra gaúcha, a TEC foi mantida também em 20%. Tudo sem planejamento, sem análise setoriais, sem consulta aos especialistas e órgãos de classe.

Em outubro de 2013, a indústria têxtil  se reuniu em uma ampla manifestação em uma feira de produtos chineses no Anhembi, batizado de “grito de alerta”. Foi organizado pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Sinditêxtil-SP, pelo Sindivestuário, pela Conaccovest (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados) e pela Força Sindical. Denunciava a demissão de 55 mil funcionários do setor têxtil e de vestuário desde janeiro. E, agora, o silêncio.

Confira os números. De acordo com a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) o setor faturou US$ 51,58 bilhões em 2017 (última apuração) e importou US$ 5 bilhões, ou quase 10%.

Se se for desagregar o setor de vestuário (de maior valor agregado), onde se concentra o grosso da competição com os importados, o impacto será maior ainda. E se for desagregar pelo tamanho das empresas, se verá que a maior parcela, e os maiores empregadores, são as pequenas confecções, menos automatizadas.

Esse setor responde por 1,5 milhão de empregos diretos e 8 milhões de indiretos, sendo o segundo maior empregador da indústria de transformação, representando 16,7% dos empregos e 5,7% do faturamento da indústria de transformação.

Depois do impeachment de Dilma Rousseff e da eleição de Bolsonaro, o setor caiu como um pato no canto da sereia, da retirada do Estado da economia para “não atrapalhar” os empresários. Foi o que aconteceu em recente visita de Bolsonaro à FIESP, acompanhado do Ministro da Economia Paulo Guedes, Bolsonaro foi aplaudido com entusiasmo, quando colocou a máxima de seu governo: não atrapalhar os empresários. O que significa, não interferir na economia, nem em defesa dos legítimos interesses da produção e do emprego nacionais.

E não se fica nisso. Se bem-sucedida, a proposta de Guedes irá desarticular o setor calçadista, o siderúrgico e o que resta das manufaturas brasileiras.

Essa é a tragédia brasileira. Numa ponta, uma política de abertura indiscriminada da economia, sem contrapartida para a produção nacional. Na outra, o desmanche dos instrumentos de apoio aos empresários internos, com a tentativa de minimizar o papel do BNDES, da Caixa Econômica Federal, cortes de recursos para tecnologia e inovação. A assinatura de acordos comerciais por dois Ministros sem noção, Guedes e o incrível Ernesto, das Relações Exteriores.  E, no meio, uma geração de líderes sindicais sem nenhuma noção da relevância das políticas racionais de defesa da produção interna.

Esse estudo vinha sendo compartilhado com o presidente argentino Maurício Macri, para empurrar goela abaixo do Mercosul.

A única coisa que poderá deter será a vitória do kirchnerista Alberto Fernandez.

Luis Nassif

15 Comentários

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  1. Trump é doido de jogar pedra na Lua mas uma coisa é certa : defende com unhas e dentes seu pirão, quer dizer, dos americanos : já o Bozó e Cia também defendem os interesses : dos americanos : ele mesmo já disse que o Brasil é um lixo, não é.

  2. A mistura de besteirol ideológico e fanatismo religioso, com carradas de mentiragem tosca, ainda vai grassar e desgraçar a vida dos brasileiros bastante, até que advenha o conflito aberto e generalizado… É este o projeto desta turma de boçais. Aí, eles vão poder brincar de guerra, pra torturarem e matarem inimigos, e, no limite, verem repartir o país em dois ou três, que é o plano que vem de fora, a secessão.

  3. Bolsonaro está programado para destruir empregos para brasileiros…
    assim como foi a lava jato que só se preocupou com a renda dos velhinhos(as) americanos

    com relação aos aplausos dos nossos empresários, fica mais que provado que não existe oposição entre otários

  4. A unica coisa que deteria BOZO e MILICIANOS seria o Congresso, o Judiciário, e os militares ..e eles querem ? De novo:
    O GOLPE esta em andamento, as portas, como em 64, vão se fechando lenta e gradualmente ..doses de repressão são lançadas diariamente pra dar tempo do povo de se acostumar e não se assustar..
    ..os EUA estão novamente nos sufocando e COLONIZANDO, pior, deixando agora os BOZO no comando..
    ..quem desenhou o golpe, não fez pra devolver em tão pouco tempo (com STF e tudo), muito menos por vias normais.
    Fato, somos um país de povo lento, alienado, gente ignorante pra todo lado, covardes ..é de desanimar
    E a imprensa desinformando !!!
    ..dum lado os porcos dizendo que esta tudo bem, ou que todos os males são culpa do PT ..doutro, os tais progressistas que a cada dia lançam esperanças vans pro seu público não definhar: LULA será solto dizem, e tudo mudará ..sei sei, e já tem VAGABUNDO dizendo que FAKE NEWS não é coisa pra se apenar.
    Enfim, quando LULA vai sair, se o próprio STF sentencia e modula a todo momento pra que valha a todos, MENOS PRA LUIZ INACIO ?
    Sinceramente, esperar um “pacto com laranjas” ainda é desejo inalcançável ..em verdade verdade, se olharmos bem, nada muda, pois tudo me parece parte dum roteiro antecipado por poucos e desacreditado por milhões, o de que o golpe continua.
    nota – ainda aposto que a prisão em SEGUNDA instância cairá, MENOS pros sentenciados pelo STJ, que é o caso de LULA ..aliás, tal como praqueles que não tiveram o amplo direito de defesa que, provavelmente valerá só pra quem reclamar DAQUI pra frente (ou tiver reclamado lá pra trás), menos, evidente, pros que tiverem da SILVA como nome de família.

  5. Realmente para o bloco de países do Mercosul é de suma importância a derrota de Macri. Porém, mesmo que ele perca, eu modestamente imagino que se não acontecer a tão esperada queda de Bolsonaro & Cia, a tendência natural é a situação se agravar ainda mais. Também imagino que, de modo oposto, a indústria brasileira conseguiria sobreviver em um cenário mais tenebroso ainda, desde que tivesse um presidente cuja linha e orientação do pensamento e da governança fosse semelhante a que Lula implantou e semeou no Brasil. Ainda que fossemos cercado por Strossners, Macris e Fujimoris da vida, ainda assim, eu creio, que se tivéssemos como presidente um Lula oficial ou um bastante similar, a nossa indústria encontraria um modo de sobreviver até o cenário se tornar mais favorável, com mais união e muita parceria entre todos os países que compõe o bloco de Mercosul. Mais que nunca, a queda de Bolsonaro & Cia não apenas salva a indústria nacional, como salva o Mercosul da influência e interferência de países rapinadores da América do Norte e Europa.

  6. Prezados Nassif e camaradas

    Não pode ser só ideologia, nem tosquice (você e alguns colaboradores do blog não se cansam de comentar a respeito das limitações intelectuais e operacionais de paulo guedes.
    Deve estar rolando grana grossa nestas tacadas (tanto que aquela figura sinistra e maligna de jp lehmann ronda a Eletrobrás como um lobo)

  7. Vocês precisam entender que Guedes é um AGENTE EXTERNO. A função dele é exatamente abrir completamente o país para exploração externa, não importando as consequências.

    1. Isto mesmo, Guedes é parte de uma guerra híbrida contra o Brasil, realidade de uma clareza absoluta; idiota, farsante, pau mandado seja lá de quem for, tenta acabar com as melhores e mais lucrativas empresas estatais, desvalorizando-as cinicamente, como se fosse melhor negócio para o país. Só um milagre político vai nos salvar.

  8. Com relação ao setor siderúrgico, o Guedes está certíssimo, deveria ainda criar um imposto de exportação até a fase de laminação a quente, pois somente assim as siderúrgicas deixariam de escravisar e explorar as industrias de transformação que delas dependem.
    Inviabilizam a concorrência desalinhado os preços ao longo da cadeia, para depois escraviza-los transformando-os em meros prestadores de serviços.

  9. As tarifas são importantes, assim como o câmbio. Mas serão consequências das incapacidades das “elites” brasileiras (políticas, empresariais e intelectuais).
    Desde a crise dos anos oitenta, o Brasil não conseguiu pensar e, consequentemente, formular uma estratégia de desenvolvimento. Ao contrário: esmerou-se em destruir o que havia (p. ex. setor produtivo estatal) e consolidar a base de uma política macroeconômica (o famoso tripé) neoliberal, com o apoio entusiasmado das “liderança empresariais”.
    FHC foi o grande arquiteto desse edifício hoje em ruínas. Compreendeu mal a nova fase do capitalismo e do imperialismo. Achou que a “nova ordem mundial” seria definitiva e a ela deveríamos nos submeter. Já a esquerda simplesmente não soube o que fazer.
    Bresser tem razão. Há décadas vivemos uma semiestagnação, que foi mascarada na fase ascendente do ciclo das commodities. O que nos leva ao famoso pacto. Se o entendermos como uma conciliação entre políticas sociais e os interesses das elites predominantemente rentistas, é ele possível no novo quadro econômico (i. e., sem o boom das commodities, etc.)? Ou será apenas uma farsa? O descarte absolutamente necessário da aberração bolsonarista, mas também uma conciliação em torno de um modelo sem futuro. Lembremos que os pilares do incipiente estado de bem-estar social petista (políticas sociais e, principalmente, sistema previdenciário solidário) já foram destruídos. O que exatamente estaremos pactuando?

  10. A cupidez e cegueira do empresariado nacional são tão grandes, que ele bate palmas para gente maluca, que vai enterra-lo mais à frente. E o trabalhador brasileiro de cabeça baixa, sem saber o que “pensar”. Sem educação e instrução o Brasil continuara sendo o pais do “futuro”. Como sempre dissseram para entorpecer a população, tal qual gas lacrimôgeneo.

  11. Os protestos de rua, iniciados em 2013, foram todos financiados. Muita gente aderiu, pensando que seria melhor, dada a propaganda da mídia. E aumentou vertiginosamente, apoiado, renita-se, pela mídia, e fake news, até a derrubada ilegítima de Dilma. Depois, os protestos sumiram, mesmo com o aumento do desemprego em índices inacreditáveis e o aumento do trabalho do trabalho informal, tentando a sobrevivência. Agora, ainda não estão enxergando o que irá acontecer. Há ignorância em todos os cantos, inclusive no empresariado. Só irão abrir os olhos quando a vaca for para o brejo, o que irá acontecer em curto prazo

    1. Não, não irão abrir os olhos nem mesmo quando a vaca for pro brejo!
      Eles irão dizer que a vaca foi pro brejo por culpa da esquerda que “atrapalhou” o governo.

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