Os centros comerciais mortos da América

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Jornal GGN – No sábado, o Estadão Economia publicou um artido de James Greiff sobre os “dead malls”, centros comerciais mortos. Unidades que a América coleciona aos milhares, com destaque para os Estados Unidos. O autor lembra que 2007 foi o primeiro ano em quatro décadas em que o país de Barack Obama não ergueu nenhum centro comercial de grande porte. Desde lá, só em 2012 um shopping center foi construído na região. O GGN reproduz abaixo a tese de Greiff.

Do Estadão

O desinteresse americano por shopping

Na semana passada o Slate publicou fotos de enormes shopping centers decadentes, vazios, que fazem parte de um novo livro, Autópsia da América.

As imagens são impressionantes e o momento não podia ser melhor. Os grandes centros comerciais erigidos nas áreas suburbanas e hoje abandonados estão na moda. Um grupo do Facebook, The Dead Malls Enthusiasts (Os entusiastas dos centros comerciais defuntos) conta com 14.000 membros. Uma pesquisa no Google sobre os “dead malls” (centros comerciais mortos) produz 5,7 milhões de resultados. E os interiores desolados dessas mecas do varejo continuam a aparecer nos thrillers e filmes de terror.

As fotos chamam a atenção para algumas mudanças fundamentais da América suburbana e da experiência do varejo, embora os urbanistas que esperam que esses shoppings esvaziados contribuam para a revitalização do centro da cidade possam se decepcionar. A realidade é mais complexa.

Alguns aspectos devem ser levados em consideração. Uma raça em extinção: o que alguns escritores costumam chamar de “centro comercial” acabou. Tente encontrar alguém pensando em abrir um novo shopping center regional, esses edifícios com mais de 100 lojas circundados por uma enorme área de estacionamento. Desde 1990, quando um espaço de compras de 1,489 milhão de metros quadrados foi aberto, os centros vêm decaindo e 2007 foi o primeiro ano em mais de quatro décadas em que nenhum shopping foi inaugurado nos EUA. Apenas um foi aberto desde então, em 2012.

As modalidades de desenvolvimento urbano menos sustentáveis do passado – centros comerciais, parques empresariais e avenidas de comércio – vêm sendo cada vez mais reformuladas dando lugar a espaços mais urbanos e sustentáveis, com prédios e espaços que fomentam a colaboração comunitária, a diversidade e reduzem o tráfego.

Há apenas um problema. Os shoppings em decadência estão localizados em áreas onde toda a economia local está em frangalhos, o que torna difícil ver como o varejo urbano se beneficiará. Na verdade, alguns desses shoppings defuntos estão no centro de cidades que adotaram o modelo de shopping suburbano tentando em vão trazer as pessoas de volta para o centro.

Não é coincidência o fato de que 5 das 10 áreas metropolitanas com crescimento mais lento, citadas num recente estudo encomendado pela Conference of Mayors dos Estados Unidos, estão ao norte do Estado de Nova York. A Pensilvânia é a próxima na lista de centros em extinção, com 28. Illinois e Ohio empatam, com Compras online. Um fator óbvio.

A internet está fazendo com os shoppings o que eles fizeram com os centros das cidades. Tudo o que a J.C.Penney – clássica rede de lojas – vende, a Amazon.com oferece por um preço menor. A Amazon também se dá ao luxo de ter acionistas muito pacientes que não exigem lucros imediatos.

Compra online é uma força que poucas lojas convencionais conseguiram vencer. Desde 1999, quando as vendas pela internet eram insignificantes, o comércio eletrônico disparou. No primeiro trimestre de 2014, elas alcançaram US$ 71 bilhões, uma taxa anual de quase US$ 300 bilhões por ano, o equivalente a mais de 6% do total das despesas do varejo nos Estados Unidos.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

15 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Há um fator cultural. Na

    Há um fator cultural. Na cultura imobiliaria americana cidades, predios, terrenos são ABANDONADOS porque imovel não tem lá o sentido de “”valor” permanente que tem no Brasil por causa do ideia imerredoura de inflação. Aqui barracos em favelas tem  valor, qualquer metro quadrado de terra tem sempre valor, o imovel era uma defesa segura contra a inflação

    e isso ficou no imaginario do brasileiro. O preço dos apartamentos e casas em SP são tres a quatro vezes maior pela mesma metragem do que em Dallas..

    Lá não há essa consciencia, se o imovel perde o valor utilitario ele é abandonado. Sempre me impressionaou o abandono das siderurgicas ao redor de Puttsburgh, a usina Jones and Laughlin, uma das maiores dos EUA está lá milhões de metros quadrados simplesmente abandonados, como se nunca tivessem tido dono ou valor.

    Nos EUA s construiram 13.500 shoppings, muitos deles não compensam o movimento e são abandonados, aqui isso é quase impossivel de acontecer. O capitalismo nos EUA é em estado puro, quando há uma crise imobiliaria os imoveis caem para um terço do preço, acontece em ciclos em cidades, em Miami já ocorreu esse processo nos anos 90, apartamentos de um milhão de dolares vendidos por 300 mil dolares. No Brasil isso não acontece. Nos Jardins há casas a venda com placa há 10 anos mas o preço não baixa. No centro de comercio de luxo da Rua Oscar Freira há 46 lojas vazias mas os donos não baixam o aluguel, só em um trecho da Oscar Freire à Rua Estados Unidos, um quarteirão há 23 lojas vazias, algumas há 4 anos, os alugueis não baixam e os donos não aceitam oferta abaixo do piso absurdo que eles estipulam, é algo impressionante, o capitalismo é lusitano porque não tem logica economica..

    Na Rua Haddock Lobo há uma loja que foi de uma famosa grife italiana de jeans, estava alugada por 100 mil reais por mês, a loja não conseguia ter lucro com esse aluguel e o devolveu, isso há mais de um amo. O dono do imovel recebeu uma oferta de 80 mil por mês, não aceitou, seu preço agora é 130 mil por mês, a loja está com a calçada e o frontal imundos, fechada e suja mas o alguel não baixa, é o nosso capitalismo à moda da casa.

    1. “Na Rua Haddock Lobo há uma

      “Na Rua Haddock Lobo há uma loja que foi de uma famosa grife italiana de jeans, estava alugada por 100 mil reais por mês, a loja não conseguia ter lucro com esse aluguel e o devolveu, isso há mais de um amo. O dono do imovel recebeu uma oferta de 80 mil por mês, não aceitou, seu preço agora é 130 mil por mês, a loja está com a calçada e o frontal imundos, fechada e suja mas o alguel não baixa, é o nosso capitalismo à moda da casa.”

        Esse tipo de coisa também não entra na minha cabeça, xará. Afinal uma redução de 10% no valor de um aluguel durante 3 anos é mais vantajosa que deixar o imóvel fechado por meros 4 meses…

        Agora quanto ao valor de imóveis em uma cidade como Dallas, não dá pra comparar. A mobilidade nas cidades americanas em geral é MUITO maior que no Brasil. Uma área ficou decadente, o pessoal simplesmente pega seu carrinho e dirige pra outros lugares, às vezes dezenas de milhas adiante, sem problema – especialmente no Texas, como eu e você sabemos.

    2. Na verdade não é um fator

      Na verdade não é um fator cultural norte americano, mas um fator tributário.

      Lá após a morte do dono de um imóvel, os herdeiros do mesmo tem de pagar 50% do valor do imóvel para transferirem a escritura, enquanto que aqui no Brasil esta taxa é de apenas 4% (SP) ou 8% ( alguns outros estados)

      No fundo, lá o país inteiro pertence ao governo e a população tem de pagar aluguel de 50% a cada geração. Parou a economia, os imóveis são abandonados ou vendidos rapidamente.

      Sorte nossa, porque aqui com a nossa lei este abandono de imóveis dificilmente acontecerá. Ou no dizer de uma autoridade portuguesa que extinguiu em Portugal o imposto de transferência causa mortis, ” este é um dos impostos mais absurdos que já inventaram”.

      1. Essa sua informação está 

        Essa sua informação está  defasada.

        1.O imposto de herança nos EUA de até 70% era real até os anos 50, hoje é muito menor mas sempre foi para frandes heranças, não para uma casa. Na dacada de 50 o imposto causa mortis no Brasil era ínfimo, hoje é altissimo, 6% em São Paulo é muito mais alto que na maioria dos paises do mundo.

        2.O imposto causa mortis nos EUA é sobre o equity do imovel, valor liquido descontado o financiamento, 90% dos imoveis tem parte do valor financiado, o que é deduzido do valor total para fins fiscais. O imposto de transmissão causa mortis no Texas hoje é menor que em SP.

        3.No Brasil há outro custo pesado, a burocracia dos cartorios, passa ou transferir escritura tem alto custo, alem do imposto causa mortis, nos EUA não há cartorio, a transmissão se faz na prefeitura e não custa nada.

  2. a economia está em frangalhos

    Pelo título somos induzidos a imaginar que os estudinidenses não têm mais interesse em frequentar shoppings. Ao ler os primeiros parágrafos a sensação é de que isso ocorre porque eles são muito preocupados com a sustentabilidade! Mas no sexto parágrafo há três palavras que explicam tudo e que o título e todo o texto buscam esconder: a economia está em frangalhos (na verdade com o fim o estado de bem estar social, boa parte da população perde o poder de compra). Ao final ainda tentam desviar o leitor do problema real ao induzir que a culpa é da internet com seus fabulosos 6% do total das vendas (traduzido como total de despesas!).

    Poderiam ter feito uma excelente matéria com este assunto tivessem se dedicado ao problema real e não em manipular a opinião dos coitados dos leitores do jornal e também deste blog, pois replica tal insanidade.

  3. Como o Brasil está muito

    Como o Brasil está muito atrás, creio que por ainda uns 20 anos esse será o projeto comercial por aqui, sem contar a quantidade de novos consumistas introduzidos pelos governos trabalhistas. De outro lado, ninguém se habilita a projetar o futuro norte-americano de consumo, apenas, batem na tecla do comércio eletrônico…

  4. IPTU é parte da explicação

    A pouca progressividade do IPTU, seu peso menor no Brasil do que nos EUA e a dificuldade política das prefeituras promoverem execuções fiscais e tomada de imóveis ajudam a explicar essa diferença “cultural”.

  5. “Na Rua Haddock Lobo há uma

    “Na Rua Haddock Lobo há uma loja que foi de uma famosa grife italiana de jeans, estava alugada por 100 mil reais por mês, a loja não conseguia ter lucro com esse aluguel e o devolveu, isso há mais de um amo. O dono do imovel recebeu uma oferta de 80 mil por mês, não aceitou, seu preço agora é 130 mil por mês, a loja está com a calçada e o frontal imundos, fechada e suja mas o alguel não baixa, é o nosso capitalismo à moda da casa.”

      Esse tipo de coisa também não entra na minha cabeça, xará. Afinal uma redução de 10% no valor de um aluguel durante 3 anos é mais vantajosa que deixar o imóvel fechado por meros 4 meses…

      Agora quanto ao valor de imóveis em uma cidade como Dallas, não dá pra comparar. A mobilidade nas cidades americanas em geral é MUITO maior que no Brasil. Uma área ficou decadente, o pessoal simplesmente pega seu carrinho e dirige pra outros lugares, às vezes dezenas de milhas adiante, sem problema – especialmente no Texas, como eu e você sabemos.

  6. Se abandonaram Detroit uma

    Se abandonaram Detroit uma cidade inteira, abandonar shopping, é mais fácil, o espaço fisico dos bancos tb estão sumindo, urbanisticamente é um grande desafio, pois o USA já deixou a muito tempo de produzir produtos industrializados,e tem uma ocupação territorial muito espalhada, o pessoal mora no suburbio e trabalha no centro, mas com toda infraestrutura pronta.Uma cidade só fica em pé se houver trabalho, atrativos túristicos, ou comércio intenso, incluindo o principal energia, água potavel e alimentos.Vamos ter que repensar e muito os espaços urbanos estamos em um momento de transição .

    1. É, no tal Império Romano…

      … isso aconteceu também, ressalvadas as tecnologias disponíveis na época: as cidades acabaram se esvaziando a favor do campo. 

  7. Com shoppings no Brasil, eu tive uma experiência

    rara e curiosa, que me fez pensar um pouco a respeito dessas construções: um carro velho meu entrou no estacionamento  ao ar livre de um Shopping famoso de BH, com uma chama saindo do compartimento do motor, no horário de almoço.

    Quase que imediatamente alguns funcionários do shopping, lotados no estacionamento redirigiram o carro para uma área sem automóveis, e pediram para abrir a tampa do motor. Uns dois ou três extintores de incêndio se materializaram junto ao meu carro e os funcionários descarregaram os mesmos dentro do motor do carro, apagando o incêndio.

    Aí me dei conta de que na realidade o local mais vulnerável de um Shopping me parece ser o estacionamento e não necessariamente o corredor das lojas, a alimentação elétrica ou mesmo o ar condicionado. Pois, se meu carro tivesse sido estacionado junto a outros veículos, provavelmente ele teria provocado um incêndio bem aterrador neste Shopping e ele poderia ser fechado por falta de segurança.  

    O incêndio foi causado por um duto furado de álccol do tanque ao motor, e deste furo o combustível caía sobre o tubo de escapamento quente, provocando a chama. 

    Pela atuação rápida destes funcionários, meu prejuízo maior foi rebocar o veículo para uma oficina e aí consertar esses vazamentos. 

    Um outro detalhe sobre as construções destes centros de compras, que se pode deduzir desse texto: essas construções não servem para absolutamente nada diferente – não é possível instalar indústrias, escritórios, hospitais, escolas, nada, nada, nada no lugar dos shoppings.

    Ou seja, o shopping não deu certo, ele morre.

    Daí, se algum grande investidor em Shoppings procura se desfazer deles, isto poderia ser encarado como um sinal claro de que se chegou ao topo da curva de investimentos nessas construções. 

  8. O grande George Romero,

    O grande George Romero, mestre dos filmes de zumbis, e uma suas alegorias de terror sobre o declínio do império americano, de 1978: Dawn of the dead (O despertar dos mortos). Muitas sequências se passam num shopping abandonado, ocupado pelos mortos-vivos que não perdem o hábito e por sobreviventes que se aproveitam… Ironia profética!

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=slz-HLP0JJE%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=dyucU5rtIu8%5D

     

  9. Fico lembrando daqueles

    Fico lembrando daqueles filmes americanos que já mostravam a decadência dos centros comerciais das cidades e a valorização dos subúrbios que davam grande status ao americano de classe média. Lugar de trabalho não era mais  um lugar apropriado para morar bem.  Aqui, no Brasil, foram valorizadas as áreas longe dos centros das cidades, nas orlas litorâneas e em estados sem acesso ao mar, foram criados bairros para as altas classes média e rica. Embora em São Paulo e Rio de Janeiro, em especial, algumas áreas centrais eram muito valorizadas. BAsta olhar a arquitetura dos prédios dessas épocas.  No RJ, a Av, Beira Mar  perto do MAM era uma dessas áreas. Não sei se foi pela proximidade com o Catete, onde ficava o Palácio presidencial, o Hotel Novo Mundo, o fato é que era a capital da República. Estou estou tentando lembrar do cenário que é anterior à chegada dos shoppings. Esses sim, mudaram bastante o espaço urbano e as relações com o comércio tradicional, que tinha suas lojas importantes e que foram pouco a pouco desaparecendo.Atualmente, o centro do Rio está irreconhecível, algumas áreas lembra a já decadente AV. Brasil. Parece, é uma impressão minha que o antigo centro está de mudança para a Barra da Tijuca, a MIami carioca. O que acontece agora nos EUA nos remete ao livro da canadense  Naomy Klein No Logo onde essas mudanças em função dos interesses neoliberais são abordadas. Questões que são mais aprofundadas no último livro dela, que eu tenho, mas ainda li. Essa é a cara do mercado ultracapitalista que o mundo experimenta. E tudo sai do lugar, o trabalho, os bairros, o valor, as pessoas, num trânsito cada vez mais rápido e frio. Tudo é descartável.Com esses elefantes brancos, onde é que fica mesmo a sustentabilidade?

  10. Gozado, brasileiro que sou,

    Gozado, brasileiro que sou, tinha a ligeira impressão de que morava no continente americano. Acho que me enganei.

  11. Os economistas do século XIX
    Os economistas do século XIX diziam que a saúde de uma economia poderia ser medido pelo vigor do seu comércio interno e externo. A morte dos centros de comércio nos EUA é um fato.  Os economistas do século XIX estavam errados ou a economia norte-americana está realmente morrendo junto com os malls?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador